por Marcelo Costa
“Slam: Tutto Per Una Ragazza”, de Andrea Molaioli (2016)
Após uma sequencia inicial arrebatadora com “Alta Fidelidade” (1995), “Um Grande Garoto” (1998) e “Como Ser Legal” (2002), o escritor britânico Nick Hornby mostrou leves sinais de rachadura em sua narrativa com“Uma Longa Queda” (2005), o que foi confirmado com o fraco “Slam”, seu quinto livro, lançado em 2008, e que seguia mostrando ao mundo os traumas em se tornar adulto. Dos quatro primeiros, três foram adaptados ao cinema (o não ficcional “Febre da Bola” ganhou duas versões), e agora é a vez de “Slam” ser transposto para a telona numa adaptação italiana que foi comprada pelo Netflix e distribuída mundialmente (Brasil incluso). A trama é óbvia – um jovem casal de 16 anos engravida e precisa lidar com as responsabilidades – e já foi retratada de maneira definitiva em filmes como “Mais ou Menos Grávida” (1988) e “Juno” (2008), mas cativa numa história que troca Londres por Roma. O problema, porém, é o mesmo que atrapalha o espanhol “8 Sobrenomes Bascos”: o elenco é novamente competente (ainda que Ludovico Tersigni, como personagem principal, canse um pouco em sua recriação de um jovem de 16 anos lacônico e sonhador – que fica apagado diante da altivez da namorada Alice, interpretada por Barbara Ramella) mas direção, roteiro e principalmente edição jogam contra matando a agilidade e leveza da prosa de Nick Hornby. Mesmo as referencias de cultura pop, um clássico em se tratando de Hornby, ficam em segundo plano num filme que funciona apenas como passatempo e faz ter vontade de reler o livro (que nem é tão bom) 10 anos depois.
Nota: 3
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“As Confissões”, de Roberto Andó (2016)
Elevado ao posto de Ricardo Dárin do novo cinema italiano após o maravilhoso “A Grande Beleza” (2013), o ator Tony Servilo (58 anos e mais de 40 filmes no currículo, seis deles de Paolo Sorrentino) reedita aqui uma colaboração com Roberto Andó, que havia sido iniciada no bom “Viva a Liberdade” (2013), vivendo o papel de um monge italiano que é convidado pelo presidente do Banco Mundial a participar de uma reunião em um hotel de luxo na Alemanha, com os ministros de economia do G8, que discutirá a crise financeira global. Visando humanizar o evento, o presidente ainda convoca um astro do rock (notadamente inspirado em Bono Vox) e uma escritora de livros infantis (quase um clone de J.K. Rowling). O clima amistoso desse grupo incomum é abalado logo na primeira noite, quando o presidente do Banco Mundial convida o monge italiano para uma conversa em seu quarto, se confessa e, na manhã seguinte, aparece morto. Temendo que, antes da morte, o presidente tenha revelado ao monge o motivo polêmico daquela reunião do G8, inicia-se um processo em que os economistas pressionam o monge tentando descobrir o teor da confissão, o que acrescenta suspense a trama, o que se converte muito mais em curiosidade do que tensão. Tony Servilo, mais uma vez, brilha em uma atuação contida, mas o filme se mantém numa linha reta que nunca atinge um clímax. Em muitos momentos, “As Confissões” remete ao cinema de Paolo Sorrentino, mas lhe falta vivacidade, impacto e um pouco de loucura. Vale como curiosidade.
Nota: 5
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“O Fantasma da Sicília”, de Antonio Piazza e Fabio Grassadonia (2017)
Logo na abertura do filme, vencedor do prêmio de melhor roteiro do Festival de Sundance em 2016, o espectador é “convidado” a um passeio dramático por antigas tubulações de água que desaguam em uma assustadora caverna escura. A imagem – carregada de fobia e goteiras – demora a se revelar, e o intuito da dupla italiana de diretores irá se revelar apenas no final, ainda mais dramático que essa abertura forte, que no caminho de volta encontrará os adolescentes Luna (Julia Jedlikowska) e seu colega de classe Giuseppe (Gaetano Fernandez), ambos com 13 anos, cortando caminho em uma floresta para voltar para suas casas em uma pequena vila da Sicília, na Itália. As peças são reveladas manipuladamente com calma pelo bom roteiro, que larga migalhas de pão pelos cantos da tela, fora do centro da ação, revelando aos poucos a história real e trágica de um jovem garoto sequestrado por mafiosos em 1993. A aposta pelo cinema fantástico distancia o espectador da tragicidade crudelíssima da trama, como que o protegendo de algo que inevitavelmente ele terá que enfrentar. Essa opção faz com que o filme ganhe força em suspense e lirismo, mas perca em impacto e emoção. Com tema semelhante e tendo a água também como símbolo, o chileno “O Botão de Pérola” (2015) soa mais interessante em chocar o espectador com os atos cruéis da ditadura chilena. “O Fantasma da Sicília”, porém, merece atenção por não glorificar a máfia como nos filmes de Martin Scorsese, mostrando que o lado podre da humanidade não tem limites.
Nota: 7
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– Marcelo Costa (@screamyell) edita o Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne