Entrevista: Vince Clarke, do Erasure

por Daniel Tavares

O Erasure é um duo inglês formado por Andy Bell (voz) e Vince Clarke (todo o resto) que foi responsável por grandes hits nos anos 80 como “Always”, “Love to Hate You”, “Oh L’Amour”, “Blue Savannah” e o maior deles, “A Little Respect”, uma verdadeira playlist para animar qualquer tertúlia (como eram chamadas as baladas naquela época). Em 19 de maio, a dupla adicionará mais um álbum à sua discografia, “World Be Gone”, o 17º álbum de estúdio da dupla.

Dois singles, “Still It’s Not Over” e “Love You To The Sky”, precedem o lançamento do novo trabalho, que trará 10 faixas e dá a impressão de soar um tanto mais obscuro que dançante, percepção corroborada por Vince Clarke, que confirmou a nossa observação no bate papo abaixo: “A maioria das canções do novo álbum são bem mais lentas Tem muita coisa bizarra acontecendo no mundo e nós queríamos refletir isso no disco, em termos de letras e canções”.

Vince, que também integrou o Depeche Mode e o Yazoo, aproveitou a conversa para prometer um show no Brasil (mas só em 2019, provavelmente), declarar o seu amor pelo Human League, contar que, morando no Brooklyn, em Nova York, tem composto muitas colaborações em seu estúdio particular, e revelar o método de trabalho com Andy Bell: “Nossos caminhos normais às vezes se cruzam, mas, na maioria das vezes, ele é o cara das letras e eu sou o cara da música”. Confira a entrevista abaixo!

Vamos começar falando do “World Be Gone”, seu novo álbum, que está prestes a ser lançado. Eu já o ouvi, mas a maioria dos nossos leitores ainda não. Então, o que você diria para eles, como você descreveria esse seu novo trabalho?
Ele se distancia um pouco dos três últimos discos do Erasure. Nós decidimos, desde o início, que quando fôssemos fazer um novo álbum ele não seria um álbum para dançar. Então, a maioria das canções deste novo álbum são bem mais lentas, minimalistas. Quisemos fazer de “World Be Gone” um disco bem atmosférico. Passamos um monte de tempo trabalhando nos arranjos e queríamos falar algo mais que canções de amor porque tem muita coisa bizarra acontecendo no mundo e nos interessou refletir isso nas letras e nas canções desse disco.

Eu percebi isso, um pouco. E dessas canções, além do single, que vocês já lançaram, “Love You To The Sky”, o que você mais gosta?
Minha favorita no álbum é “World Be Gone”. Penso nela como uma canção muito emotiva, gosto muito do sentimento da letra e acho que a performance vocal do Andy é surpreendente. É minha canção favorita.

Ok, vocês têm três noites na Inglaterra em sequência e que já estão esgotadas, Glasgow, Londres, Manchester, isso tudo faltando mais de um mês para a data dos shows. O que é que isso quer dizer para vocês? Como você encara esse amor e entusiasmo dos fãs tão antecipadamente?
É, é, é um pouco… bem, nós temos fãs maravilhosos, pessoas que tem sido leais e nos seguido por anos e anos e anos. Nós não temos feito shows faz um bom tempo, então quero muito ver os rostos destes fãs outra vez. E quando terminarmos esses três shows, nós vamos sair em turnê abrindo para o Robbie Williams até setembro. Só em janeiro do próximo ano vamos começar nossa própria turnê e ter a oportunidade de encontrar com todos os fãs. Nós vamos sair pela Europa, Escandinávia, e então para a América do Norte e América do Sul. Então, esperançosamente, estaremos no Brasil em 2019.

Bem, isso é muito interessante. Seria a minha próxima questão.
Nós vamos definitivamente tocar no Brasil e na Argentina. E possivelmente no Chile. E isso eu acho que seria na primavera de 2019. [N.R. no Hemisfério Norte, tem início na data 20 de março e termina em 21 de junho]. Queria aproveitar e dizer muito obrigado a todos os fãs do Brasil, muito obrigado por seu dedicado apoio. Existe um jeito de cantar que só existe no Brasil: vocês cantam muito alto! Se vocês estiverem interessados, comprem o disco “World Be Gone”. É um álbum bem legal.

Oh, isso é muito bom. E uma vez que já estamos falando do Brasil, tem uma pergunta que eu sempre faço para todos os meus entrevistados. Existe alguma banda ou artista brasileiro que você goste, que você escute em sua casa ou mesmo que tenha tido alguma influência no seu som.
Eu não conheço nenhuma música brasileira. [Risos]

Ok, sem problema. Mudando de assunto: você acha que o Synth Pop voltará a fazer tanto sucesso quanto fez nos anos 80?
Não acho que o Synth Pop irá fazer tanto sucesso assim, mas a música eletrônica em geral está muito mais popular do que nunca. Especialmente com toda a dance music que existe por aí. Há 10, 15 anos atrás, a cena estava morta na Inglaterra. Você não pensaria em coisas assim. Mas parece agora que esta cena está mais forte do que nunca, sabe, especialmente com esses festivais de dance maciços que existem nos Estados Unidos e na Europa. Ela parece mais popular agora que nunca em relação ao pop dos anos 80. Não sei a razão pra isso. Existem muitas bandas dos anos 80 que estão fazendo tipo de turnê de reunião. E nós somos umas das poucas bandas que nunca se separaram, então só retomamos (a carreira).

Você tem estado há muitos anos no Erasure, mas também fez parte do Yazoo e do Depeche Mode, e é considerado um dos pioneiros do que a gente chama de Electronic Dance Music. Como você se sente a respeito disso e como você vê esse tipo de música em geral?
Não acho que sejamos os pioneiros, realmente. Havia outras bandas que começaram muito antes da gente, como o Human League. Os dois primeiros álbuns deles eu ouvi quando tinha apenas 17 anos [N. Na verdade com 19 e 20 anos, já que Vince é de 1960 e os dois primeiros discos do Human League saíram, respectivamente, em 1979 e 1980]. Nos anos 70 havia música eletrônica acontecendo em todo lugar e acho que o Human League me influenciou muito mais do que influenciei qualquer outra pessoa. Quando você vem fazendo música por tanto tempo, você acaba sendo o cara velho [risos], vira a pessoa mais velha. Eu sou a pessoa mais velha fazendo esses discos agora.

Uma vez que falamos do Yazoo, tenho que confessar para você que eu amava “Situation” quando era um garoto. Gostava daquele som, havia algo como umas gotas de água caindo numa lata, eu não sei. E a canção fez parte da trilha sonora de uma novela que foi muito popular no Brasil [N. “Sol de Verão”, Rede Globo, 1982-1983]. Bem, deixa para lá. Que novidades você tem sobre essa banda que você formou com Alison Moyet? Existe alguma chance de vocês se reagruparem para uma turnê, como fizeram em 2008, ou mesmo gravar algumas canções, agora com Andy, talvez gravar uma versão de “Situation”, por exemplo?
Bem, não acho que vamos fazer outra turnê novamente, mas não posso dizer nunca. Pode rolar uma oportunidade ou uma canção que o Andy e a Alison cantem juntos, então sempre há a possibilidade, mas não temos nada especificamente planejado agora.

Isso seria incrível, vocês três em um palco. E de volta à música eletrônica, os mashups estão bastante em voga atualmente. Sendo que “A Little Respect” é um dos maiores hits do Erasure, vocês nunca pensaram em fazer um mashup dela com “Respect”, da Aretha Franklin? Você acha que estas duas canções têm alguma relação de alguma forma, além dos seus títulos?
Não sei. Nunca considerei nisso, mas é uma ideia interessante. Não sei se faria esse mashup eu mesmo, mas conheço pessoas que talvez estejam interessados em fazer isso. Vou dar um jeito. Definitivamente.

Você tem sido parte de duos por muito tempo. Com o Yazoo no começo dos anos 80, depois com o Erasure, teve também o The Assembly. Você não se sente solitário ou sente falta de alguma coisa por ser responsável por toda a parte instrumental da banda? Você gostaria de ter um guitarrista, ou baterista, porque eu não acho que tenha visto mais que backing vocais além de você e Andy em suas apresentações ao vivo?
Sim, mas não sei se teríamos outras pessoas no palco. Como você disse, é solitário fazer música sozinho tanto que por isso recentemente tenho feito um monte de colaborações com pessoas diferentes para diferentes projetos. E estou realmente gostando. Agora, você sabe, eu moro no Brooklyn, em Nova York, e tem uma cena de música eletrônica bem grande aqui. Dai acabo encontrando algumas pessoas realmente interessantes, que fazem música realmente interessante e eu me vejo fazendo cada vez mais coisas (em colaboração) agora, porque meu estúdio é na minha casa, no porão, o que facilita porque em grandes estúdios você acaba não interagindo tanto com as pessoas. Estou realmente gostando de fazer essas colaborações no estúdio de casa. Tem sido muito divertido.

Como é o processo de composição de vocês? Quando você está fazendo uma canção para o Erasure, você sempre faz toda a parte instrumental e o Andy colabora com alguma parte instrumental?
O que usualmente acontece é que quando nos sentamos juntos para compor, normalmente sentamos no piano no porão e trabalhamos na canção. E talvez eu trabalhe em alguns acordes, e o Andy trabalhe em algum tipo de melodia. E então o Andy sai e começa a trabalhar nas letras. E eu fico trabalhando nos arranjos. Mas, frequentemente, se eu fico bloqueado, preso, sem uma ideia para alguma base ou algo assim, o Andy vem com alguma ideia. O mesmo acontece com as letras. Se o Andy se sente travado para expressar o que ele quer dizer, então posso sugerir alguma coisa. Nossos caminhos normais às vezes se cruzam, mas, na maioria das vezes, ele é o cara das letras e eu sou o cara da música.

Andy tem vivido com HIV por quase 20 anos e, felizmente, ele parece estar bem. Como está a saúde dele?
De verdade, ele está em ótima forma agora. E está soando fantástico no momento. Sua voz está simplesmente soando cada vez melhor com o passar do tempo. Ele fez um trabalho fascinante cantando no álbum “World Be Gone” e está aproveitando o momento e indo malhar todos os dias para se preparar para as turnês, porque isso também é um trabalho muito físico.

– Daniel Tavares (Facebook) é jornalista e mora em Fortaleza.

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