por Adriano Costa
“Quem só fala a verdade nem vale a pena escutar”. É assim que o jornalista e escritor sueco Jonas Jonasson introduz o seu livro “O Ancião Que Saiu Pela Janela e Desapareceu”, lançado este ano por aqui pela editora Record. Com 364 páginas e tradução de Bodil Margareta Svensson, o livro originalmente foi publicado em 2009 na Suécia e posteriormente foi traduzido para 35 países alçando o patamar de best-seller com mais de 4 milhões de cópias vendidas no mundo todo.
A história é construída em torno do centenário Allan Karlsson, um homem que justamente no dia em que completa 100 anos – em 2005 – resolve fugir do asilo em que mora, porque não estava muito a fim de comemoração, o que causa um desespero geral na diretora do local e no prefeito, que estava doido para se promover a custa do fato na pacata cidade em que governa. O fato envolve a polícia local e a imprensa e acaba ganhando proporções bem maiores do que somente um sumiço.
Por um daqueles acasos inexplicáveis do destino, o ancião se vê de posse de uma mala contando alguns milhões de coroas suecas e, meio sem pretensão, meio sem pensar direito, embarca em um trem que vai lhe levar para a grande aventura de sua vida. Porém, como descobrimos depois, enquanto o autor mescla a atualidade com o passado, a existência de Allan Karlsson foi repleta de outras peripécias e de casos difíceis de serem assimilados como verdadeiros.
Da juventude, onde sobreviveu através da empresa de explosivos que criou nas décadas iniciais do século XX, o personagem principal desembarcou justamente dentro do local onde os EUA estavam desenvolvendo a bomba atômica, e isso leva a repensar tudo que sabemos sobre esse acontecimento. Foi novamente meio sem querer, meio sem pensar direito, que Allan Karlsson deu a dica necessária para a construção da arma nuclear. E isso o leva a muitas coisas mais.
Os fatos narrados no passado são muito superiores aos da atualidade, pois o autor cruza momentos históricos e personalidades como Joseph Stalin, Mao Tsé-Tung, Winston Churchill e Richard Nixon (entre outros) com participações implausíveis e inimagináveis do nosso simpático velhinho. E aproveita para desfilar uma boa zombaria sobre os egos das nações e da humanidade em geral, que levam a decisões estapafúrdias, ainda mais quando envolvem política e religião.
Nos acontecimentos recentes, a destreza da narração sucumbe um pouco, mesmo que essa zombaria com a política acabe ainda sendo jorrada em bom volume enquanto o longevo protagonista vai formando uma equipe de amigos e inimigos tão improvável quanto os causos que conta sem muita displicência. O passeio com tons de fábula é comandado por uma espécie de Forrest Gump, se esse não fosse tão bom moço e se permitisse tomar umas vodcas diariamente.
Em seu livro de estreia, Jonas Jonasson alcança uma saudável união de aventura com ironia, de crítica política rasteira com bom humor, de sarcasmo com contemplações sobre a vida. Além de Allan Karlsson e o grupo de coadjuvantes que lhe circundam, a verdade (ou a dúvida em relação a ela) é uma das grandes personagens da trama. “O Ancião Que Saiu Pela Janela e Desapareceu” usa isso com sabedoria e agrada bastante, afinal o verdadeiro pode às vezes não ser verosímil e ainda assim render uma boa história.
– Adriano Mello Costa (siga @coisapop no Twitter) e assina o blog de cultura Coisa Pop
A Editora Record cdisponibiliza o primeiro capítulo do livro aqui.
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