Entrevista: Gruff Rhys

por Marcelo Costa
colaborou: Diego Medina e Pedro Bonifrate
Foto: Liliane Callegari

Entre 1996, quando lançou seu álbum de estreia, “Fuzzy Logic”, e 2009, quando saiu “Dark Days/Light Years”, seu nono álbum, o Super Furry Animals foi uma das bandas mais geniais do planeta. De mansinho, o grupo galês veio parindo grandes álbuns (os quatro primeiros – a estreia mais “Radiator”, “Guerrilla” e “Mwng” – são obrigatórios) e, quando o público brasileiro se deu conta, lá estavam eles no palco do Tim Festival com a Taça Jules Rimet tirando o posto de show da noite das mãos do White Stripes (relembre).

Em 2005, paralelo ao seu trabalho com o Super Furry Animals, o guitarrista e vocalista Gruff Rhys lançou-se em carreira solo com “Yr Atal Genhedlaeth”, um disco inteiro cantando em galês, a língua pátria que tanto presa e defende. Em 2007 foi a vez de “Candylion”, um disco de arranjos inusitados e inteligentes que se apoiam no folk (ou folksploitation, como diz Gruff) para carregar a melodia por territórios deliciosamente inesperados. 2011 foi o ano de “Hotel Shampoo”, que apareceu em várias listas de melhores do ano.

Gruff Rhys baixa na América do Sul mais uma vez (ele voltou com os Furries em 2009 e já passou com outro projeto seu pelo país, o Neon Neon), agora para se apresentar solo duas vezes em São Paulo (uma delas com o casal Pato Fu, John Ulhoa e Fernanda Takai), outra em Curitiba e, ainda, em Buenos Aires. Sobre o show em São Paulo com John e Fernanda, no Studio SP, ele adianta ao Scream & Yell: “Será uma mistura de músicas deles, minhas, alguns covers e, se der tudo certo, algumas surpresas”. Ele ainda toca sozinho no mesmo espaço no dia seguinte.

O Scream & Yell enviou algumas perguntas por email e ainda convidou os músicos Diego Medina (ex-Video Hits, atual Zombieoper, e outros projetos – veja tudo aqui) e Pedro Bonifrate (em carreira solo e do Supercordas – mais aqui) para também formularem algumas questões. Gruff fala um pouco sobre o documentário “Separado”, a pedido de Medina, e relembra a cena galesa de 2001 fazendo uma ponte interessante com a cena atual, a pedido de Bonifrate. O bom papo segue abaixo.

Marcelo Costa (Scream & Yell)
Você está voltando ao Brasil para se apresentar ao lado do John Ulhoa e da Fernanda Takai, do Pato Fu, no projeto Tetê-a-Tetê. Você conhece o trabalho deles?
Sim. Os conheci há 10 anos em Londres e foi assim que descobri o trabalho deles. Desde então temos uma conexão.

Você já veio ao Brasil com o Super Furry Animals, com o Neon Neon e também solo. O que te faz voltar ao Brasil para tocar?
É uma grande surpresa pra mim ter vindo ao Brasil tantas vezes. É sempre uma experiência inspiradora (voltar), e uma cultura musical tão interessante!

Como será o repertório destes shows no Brasil? Apenas canções do “Candylion” e do “Hotel Shampoo”, ou os fãs podem esperar coisas do Furries e do Neon também?
Sim, principalmente músicas dos meus três discos solo, mas também algumas surpresas e talvez algumas faixas obscuras do SFA – eu não gosto muito de tocar músicas do SFA sem os meus irmãos da banda.

E para o projeto Tête-à-Tête, com o John e a Fernanda, o que vocês estão preparando?
É uma mistura de músicas deles, minhas, alguns covers e, se der tudo certo, algumas surpresas…

Você chegou a gravar uma música com o Zombieoper, projeto do Diego Medina. Como foi a gravação? O que você achou do resultado?
Eu amei a faixa em que eu cantei. A ideia de gravar uma faixa em língua galesa para uma ópera rock brasileira sobre zumbis é das coisas que faz a minha vida valer a pena!

Perguntas de Diego Medina (Video Hits, Senador Medinha, Zombieoper)
Quais foram os momentos mais legais nas filmagens do documentário “Separado”?
Bem, houve alguns grandes momentos, talvez o pior tenha sido entregar as minhas economias de uma vida (não muito), em dinheiro, para um dublê, para que ele pudesse cair de seu cavalo sem seguro.

Dylan Goch é um parceiro de longa data sempre filmando várias turnês / gravações em estúdio / documentários da maioria dos projetos do qual você já fez parte. Já chegou a compor / gravar músicas com ele em alguma vez?
Sim, exatamente quando estávamos fazendo a trilha sonora para “Separado”! A gente fez uma sequência no estilo John Carpenter com dois sintetizadores lado a lado! Foi um momento lindo!

Cite três coisas que mais gosta e três coisas que menos gosta sobre sua terra natal, Gales.
Bem, é ótimo estar vivo, então não quero ficar reclamando muito. Eu ficaria feliz por estar vivo em qualquer lugar deste planeta, mas aqui vão três coisas muito legais do País de Gales – sem uma ordem de importância…

* Tratamento de saúde gratuito com medicamentos prescritos e educação universitária subsidiada e, mais recentemente, o ecstasy legalizado.
* Algumas montanhas legais e bonitas, e nenhuma falha sísmica importante.
* Manutenção de uma língua indígena (galês) apesar de séculos de colonização.

E algumas coisas ruins:

* Pessoas/organizações em áreas que falam galês que não valorizam a necessidade do ensino da língua galesa.
* Defensores de usinas nucleares costeiras que poderiam destruir toda a cultura galesa com um pequeno vazamento, apesar de termos recursos naturais / marítimos incríveis.
* É tão fodidamente frio!

Perguntas de Pedro Bonifrate (carreira solo e Supercordas)

Me lembro de estar no Cardiff Backpacker em julho de 2001, quando te conheci, e numa noite particularmente agitada no bar do hostel (se não me engano era seu aniversário), um cara (cujo nome não me lembro) me disse que dirigiu o primeiro vídeo dos Furries, “Pam V”. Ele foi muito simpático, conversamos um bocado e, vendo que eu era um grande entusiasta da música local, me apontou pros caras jogando sinuca e falou “ali está o guitarrista do Catatonia, com os caras do Big Leaves”, e pouco tempo depois o Euros Childs entrou e pediu algo no bar. Eu, como um turista musical do Brasil, me senti num lugar meio lendário e fantástico. Esse tipo de “hanging out” ainda existe? A galera dessas bandas dos anos 90 ainda se encontra em algum “pico” de Cardiff pra beber uma cerveja, jogar sinuca, fazer um som, mesmo algumas delas não existindo mais?
Bem, claro que essa geração está mais velha agora, por exemplo, eu vejo Mark (Roberts), do Catatonia, toda manhã quando levamos nossos filhos para a escola! Ligo o rádio e Cerys (Matthews, ex-vocalista do Catatonia) tem o seu show; Iorweth, o cineasta que você conheceu, infelizmente morreu muito jovem e o hostel hoje é uma clínica de recuperação para viciados em drogas – o que demonstra um quadro bem desolador! Mas o mais interessante é que tem uma nova geração de músicos em Cardiff fazendo músicas incrivelmente criativas agora, bandas como Islet, Los Campesinos, Race Horses e caras em carreira solo como Cate Le Bom, Sweet Baboo, H Hawkline e R Seiliog, e também ótimos selos novos como Shape e Turnstile. É uma cidade pequena, então cada um está conectado com o outro. Então acho que é uma época mágica musicalmente.

Você já teve vontade de morar em algum outro lugar do mundo nos últimos anos, fora de Gales?
Bem, sim, tenho muita sorte de conseguir viajar graças à música, e de ter conseguido passar longos períodos em Londres e Los Angeles nos últimos anos. Eu tenho filhos agora, então viver no País de Gales faz sentido porque minha família está aqui. Além do mais, agora nós temos um governo meio socialista, o que (de certa forma) é melhor para uma família de músicos.

Quando os Furries vão gravar outro disco?
Nosso próximo álbum será o décimo, mas primeiro o disco solo do Cian and Bunf’s precisa ser lançado e a banda do Guto, Gulp, irá lançar um disco. Então vai demorar um pouco!

– Marcelo Costa é editor do Scream & Yell e assina o blog Calmantes com Champagne. Foto de Liliane Callegari do show do Neon Neon, no Tim Festival (mais aqui). Agradecimentos a Pedro Bonifrate e Diego Medina pelas perguntas especiais.

Leia também:
– Guto Pryce fala do Super Furry Animals com o Scream & Yell, por Jonas Lopes (aqui)
– Super Furry Animals bate White Stripes no Tim Festival, por Marcelo Costa (aqui)
– “Rings Around The World”, do Super Furry Animals, é leve, melódico e… soul (aqui)
– Super Furry Animals no Festival Indie Rock 2009, em São Paulo, por Marcelo Costa (aqui)
– “Candylion”, de Gruff Rhys, um disco surreal e desencanado, por Marcelo Costa (aqui)
– Neon Neon no Tim Festival: uma viagem estranha aos anos 80, por Marcelo Costa (aqui)
– “Zombieoper”, uma impagável ópera rock sanguinária, por Marcelo Costa (aqui)

2 thoughts on “Entrevista: Gruff Rhys

  1. Que demais essa entrevista. Só faltou perguntar o que ele achou do show do SFA em São Paulo em 2009. Estava lá e adorei o show (ver uma das bandas favoritas tão de perto é algo difícil), mas ao mesmo tempo fiquei constrangido com a presença – falta dela, na verdade – do público, ainda que São Paulo estivesse às escuras. Não li uma resenha desse show e fico realmente curioso.

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