Cinema: The Runaways, Garotas do Rock

por André Fiori

Com classificação etária (exagerada) para maiores de 16 anos, que afasta parte do público adolescente fã da série “Crepúsculo” (e da atriz Kristen Stewart), e subtitulo “As Garotas do Rock”, chega ao Brasil “The Runaways”, filme que conta a trajetória de uma banda formada só por garotas nos anos 70, que se não foi a primeira da história, com certeza foi a primeira “all-girl band” a ganhar maior notoriedade.

“The Runaways” tem uma reconstituição de época primorosa, e a trilha sonora é uma das melhores que você vai ouvir neste ano, com Suzi Quatro (“The Wild One”), David Bowie (“Rebel Rebel”), Sex Pistols (“Pretty Vacant”), Gary Glitter, Stooges (“I Wanna Be Your Dog”), além das músicas delas próprias, claro.

O ator Michael Shannon está sensacional como o produtor/mentor/empresário Kim Fowley, e protagoniza algumas das melhores cenas do filme. Por exemplo, quando eles compõem “Cherry Bomb”, ou a lição de como se defender de objetos jogados no palco. As atrizes estão bem, Kristen Stewart como Joan Jett e Dakota Fanning como a vocalista Cherie Currie, e até cantam direitinho.

Seguindo o exemplo de “The Doors”, de Olive Stone (com Val Kilmer encarnando o Rei Lagarto Jim Morrison) e “Johnny and June”, de James Mangold, com Joaquim Phoenix cantando as canções de Johnny Cash, Kristen e Dakota assumem o microfone no filme e na trilha sonora (Dakota canta “California Paradise” e “Cherry Bomb” e divide os vocais com Kristen em “Queens Of Noise” e  “Dead End Justice”)

O grande problema do filme, porém, é ter sido baseado em “Neon Angels”, biografia de Cherrie Currie, que dá mais destaque a vocalista. Descrita por uma revista norte-americana à época como a filha perdida de Iggy Pop com Brigitte Bardot, Cherrie entrou na banda quando tinha 16 anos (mesma idade de Joan Jett, Sandy West e Jackie Fox. Lita Ford tinha 17), em 1975, e saiu deixando três álbuns com as Runaways (“The Runaways”, de 1976 e “Queens of Noise” e “Live in Japan”, ambos de 1977).

Quando Cherry sai da banda para seguir carreira solo, pelo filme se pensa que o grupo acabou, e as outra integrantes mal abrem a boca, mas sob o comando de Lita Ford e Joan Jett, as Runaways ainda lançaram “Waitin’ for the Night” (1977) e “And Now… The Runaways” (1978) (este último relançado em 1981 nos Estados Unidos com o nome de “Little Lost Girls”).

Um quinto álbum, “Flaming Schoolgirls”, com sobras das sessões de “Queens of Noise” e do ao vivo no Japão, foi lançado em 1980 com duas covers dos Beatles, “Here Comes the Sun” e “Strawberry Fields Forever”. O filme, no entanto, para em 1977, concentrando-se apenas nos dois primeiros – e melhores – discos do grupo.

Nos créditos finais, quando se conta o que cada um fez depois, nenhuma palavra sobre o trabalho solo de Lita Ford, e o pior: nenhuma pequena homenagem à baterista Sandy West, que morreu de câncer em 2006. Como a banda teve várias baixistas, simplesmente se inventou uma fictícia. Outro erro. O certo seria se considerar Jackie Fox, que durou mais tempo e foi da formação clássica.

A história cai um pouco na segunda metade, e apesar de querer agradar o público adolescente, não foram abafados detalhes sobre drogas, nem o pequeno envolvimento entre as duas protagonistas. Ponto a favor. Se faltou chocar as fontes da história verdadeira das Runaways (a verdade sempre tem várias faces, e esta aqui é a de Cherry), “Garotas do Rock” é uma boa introdução para uma das primeiras bandas de rock totalmente femininas, formada em uma época machista e roqueira – os anos 70. Tem suas falhas, mas merece voto de confiança.

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André Fiori colabora com a revista Rolling Stone e é capo da loja Velvet CDs

4 thoughts on “Cinema: The Runaways, Garotas do Rock

  1. Eu achei a atuação da K.Stewart terrivel, as cenas homosexuais não convencem e Dakota não tem um pingo de sensualidade, pode até ter cantado e atuado bem mas, como papel de uma mulher gostosa e provocante, deveu muito.

  2. Na trilha ainda tem “It’s a Man’s Man’s Man’s World”, de James Brown. Eu já gostei bastante da Kristen e da Dakota. O maior defeito foi o roteiro baseado no livro da Cherie, e claro, as tretas pessoais entre as ex-Runaways que mudaram a versão contada nas telas. Lita Ford (que é brigada com o empresário de Jett, Kenny Laguna) é uma mera coadjuvante. Sandy West, fundadora da banda, junto com a Joan Jett, nem recebeu uma homenagem digna, uma vez que era mais entusiastas para uma reunião da banda, até sua morte por câncer em 2006. Problemas judiciais envolvendo a baixista Jackie Fox e Joan Jett também devem ter contribuído para a criação da “baixista fantasma”.

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