Beirut ao vivo em São Paulo

Texto e fotos por Marcelo Costa

A primeira vez que o nome Beirut veio à tona por estes lados foi quando Carlos Freitas, do Impop, relacionou a banda de Zach Condon com os bombardeios que a cidade que leva o mesmo nome dado à banda estava sofrendo naquele momento. Era segundo semestre de 2006, e apesar do maravilhoso “Gulag Orkestar” pipocar em diversos blogs, a banda ainda era um segredo muito bem guardado.

De lá para cá se passaram três anos e muita coisa mudou. O grupo lançou um segundo disco (“The Flying Club Cup”) tão bom quanto o primeiro em 2007, e cancelou sua vinda ao Brasil em 2008 (que nem chegou a ser anunciada) assim como toda perna européia de sua turnê. Ninguém esperava o que viria a seguir: um EP duplo fraco (“March of The Zapotec”) e uma música em minissérie da Globo que fez da banda o quindim do público brasileiro.

As expectativas não eram boas: Zach, o dono da bola, encheu a cara em Salvador, cantou “Leãozinho”, de Caetano, e a banda decepcionou. As coisas melhoraram um pouco no Rio, mas tudo parecia indicar o pior para São Paulo, local em que os ingressos evaporaram, mais pela displicência da produção, que colocou mesas no meio de um salão de dança cigana fazendo com que o espaço útil para o público diminuísse, o preço do ingresso subisse e o território para dança simplesmente não existisse.

Tudo levava a crer que a noite seria um desperdício (acrescente na lista a cerveja Itaipava à R$ 6 a latinha – 600% de aumento em relação ao supermercado), mas Zach Condon conseguiu driblar todas as adversidades e entregou ao público paulistano um bom show. Claro, faltou proximidade da banda com o público, o que em se tratando da musicalidade do Beirut é um grande pecado (da produção), mas musicalmente a noite atingiu vários momentos de emoção.

A festa começou com “Nantes”, e em poucos segundos grande parte do público já estava de pé abandonando as mesas e bailando ao som de uma quase orquestra de rua. São apenas seis músicos no palco em uma formação de troca de instrumentos (a maioria de sopro) a quase todo o momento. A introdução de “Aquarela do Brasil” serviu para a banda antecipar o hit “Elephant Gun”, canção que fez parte da minissérie “Capitu”, e que foi cantada e dançada por todos os presentes.

Daí em diante, com o público nas mãos urrando a cada nova introdução, o Beirut intercalou faixas do primeiro álbum (“Scenic World”, “Postcards from Italy”, “Mount Wroclai”), do segundo (“A Sunday Smile”, “Cherbourg”) e do último EP (“The Shrew”, “My Wife”, “The Akara” e “My Night With The Prostitute From Marseille”) com covers de Serge Gainsbourg (“La Javanaise”), Ary Barroso (“Aquarela Brasil” desta vez inteira) e do grupo iugoslavo Kocani Orkestar (“Siki Siki Baba”) além de um número inédito (“Cozak”) que passou despercebido pelo público.

Já no terceiro bis, enrolado de forma clichê em uma bandeira do Brasil, veio “Gulag Orkestar”, faixa título do primeiro álbum, tocada de forma desleixada e cansada para baixar as cortinas e encerrar uma noite que poderia ter sido inesquecível, e que ficou sendo apenas bonita. Para quem tinha as piores expectativas possíveis para o show, o Beirut fez valer a pena o ágio da cerveja, a fila do banheiro e o risco de ouvir “Leãozinho”, o que para muitos seria um desagravo, que felizmente acabou não acontecendo. Mas o show esteve longe de ser uma festa cigana. No máximo, uma festa para global ver e apaixonados por música ouvirem. No máximo.

Leia também:
– “Gulag Orkestar”, do Beirut, por Carlos Freitas (aqui)
– “The Flying Club Cup”, do Beirut, por Marcelo Costa (aqui)
– Mais fotos do show do Beirut em São Paulo, por Marcelo Costa (aqui)

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