Ao vivo: Astro da cena K-Pop e ex-jogador das categorias de base do Corinthians, Woodz faz show inesquecível em SP

texto por Ana Clara Matta
fotos de Fernando Yokota

Praticamente ninguém abre uma crítica de uma obra de cultura pop esperando, ansioso, por análises de detalhes técnicos. Detalhes técnicos não são necessariamente conhecidos pelo seu poder de encantar, emocionar, potencializar músicas, arrancar aplausos em sessões de cinema, trazer sensações que foram sentidas em um show ao vivo.

Em defesa de tecnicalidades, elas são sim capazes de tudo isso.

Alguns dias antes do show do solista de rock sul coreano Woodz em São Paulo, um amigo ouviu sob a minha recomendação a versão ao vivo da canção “Journey”, um dos principais singles do disco de trabalho do artista. Após ouvir, levantou a similaridade dos efeitos e pedais utilizados pelo guitarrista na performance com os usados em grande parte do chamado “rock cristão contemporâneo” do século XXI. Um conjunto de escolhas técnicas feitas por um guitarrista engatilhou uma série de lembranças, símbolos, imagens na mente deste amigo.

Esta opinião, parte de uma conversa casual, retornou para a minha mente a caminho da casa de shows Terra SP na noite do dia 14 de julho. Quando a guitarra soou pela primeira vez no espaço largo e fechado da casa, não foi o conjunto de escolhas técnicas esperado que atingiu meus ouvidos e ativou minhas memórias. Com timbres mais sujos ao vivo do que em estúdio, a guitarra levava para outros lugares, indo do garage rock britânico em “Chaser”, passando pelo loop hipnótico de guitarra e baixo remetente ao trabalho de Morello e Commerford no RATM em “Who Knows”, e se encontrando em uma zona de conforto mais próxima de um indie de inspirações blues rock (timbres que percorreram diversas faixas ao vivo como “Trigger”, “Feel Like”, “Busted” e “Ready to Fight”). Os aspectos técnicos aqui mais uma vez funcionando para ativar memórias – nesse caso, as memórias de uma casa de shows indie em 2012, com um chão grudento de vinil e o cheiro forte de Heineken.

Se não fosse pelo agitar ritmado dos Lightsticks na plateia e pela voz onipresente da tradutora simultânea a cada pausa, uma pessoa com conhecimento limitado das possibilidades da cena K-Pop não diria, de maneira alguma, que aquele era um show do gênero.

Inesperado, na verdade, era a palavra de ordem na noite.

Woodz não é o único nome pelo qual Cho Seungyoun também atende. A plateia brasileira fazia, a cada instante, questão de relembrar o passado do artista gritando em uníssono “Luizinho”, nome que Seungyoun adotou quando veio ao Brasil ainda criança para treinar futebol nas categorias de base do Corinthians. O show teve todas as características de uma volta para casa, com Woodz cantando em português canções de Luan Santana e Michel Teló entre risos, falando frases em português e vestindo a camisa da seleção. A apoteose desse retorno ao lar veio na forma do pré-refrão de “Who Knows”: “Quem imaginaria isso, eu era um jogador de futebol”, o artista cantava, agora craque em outro campo.

 

“Who Knows” foi um de três momentos de catarse coletiva da apresentação. Em uma versão levemente estendida de “Trigger”, o vocalista provocou a plateia dizendo “Vocês já filmaram o suficiente, agora vamos nos divertir mais” e entregando um último refrão explosivo, que fez todo o público presente pular. Introduzindo “Drowning”, seu último single, como sua música favorita, Seungyeon não esperava a resposta do público, que cantou a música inteira e sustentou um refrão até mesmo a capella.

Aspectos técnicos podem criar sentidos novos e ativar nossas memórias e nossa nostalgia, mas também podem atrapalhar uma experiência e nos tirar do momento. O sistema de som do espaço Terra SP, com uma mixagem focada em agudos, e a acústica sofrível do espaço se tornaram os únicos pontos negativos de uma noite inesquecível. Mas isso são apenas tecnicalidades, e quem gosta de tecnicalidades, não é mesmo?

– Ana Clara Matta (@_ana_c) é editora do  Ovo de Fantasma e escreve para o Scream & Yell desde 2016.
– Fernando Yokota é fotógrafo de shows e de rua. Conheça seu trabalho: instagram.com/fernandoyokota/

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