entrevista por Marcela Güther
Romance de estreia da psicóloga e professora Ana Paula Moreira, “Respire o instante de uma linha” é uma história que, a partir da linguagem poética, fala de amor, de descoberta e de travessia, em um tom que pede pausa e sensibilidade às miudezas da linguagem, dos afetos e do cotidiano. Publicado de maneira independente em 2021, o livro se encontra em sua segunda edição e está sendo distribuído pela Marisco Edições.
O livro tem prefácio assinado por Lorena Portela, jornalista e autora do sucesso independente “Primeiro tive que morrer”, e texto de orelha da editora Raquel Lima. “Respire o instante de uma linha” se constrói falando de afetos, usando referências musicais como David Bowie e Caetano Veloso e enumerando sabores e sensações a partir de comidas e temperos, como pão, café, mousse de manjericão e alecrim.
Doutora em Psicologia, Ana Paula já lecionou no Curso de Pedagogia da UMC e no Curso de Psicologia da Unesp-Assis. Atualmente é professora no curso de pós-graduação em Psicologia Escolar na PUC de Campinas e trabalha como psicóloga clínica. Antes de “Respire o instante de uma linha”, a autora publicou dois livros infantis. Em breve, publicará um novo livro pela editora Claraboia. Abaixo, ela conta um pouco de suas motivações, influências, rituais e outras coisas!
O que motivou a escrita do livro? Como foi o processo de escrita?
Aconteceu como escreveu Rilke nas cartas ao jovem poeta: se não escrever eu morro. Essa é uma história como todas as histórias que existem no mundo: ela come pedaços da minha própria vida e teima em saltar para fora do peito em busca de ar, em busca daquilo que ela foi fora, primeiro, antes de ser em mim.
Se você pudesse resumir os temas centrais de “Respire o instante de uma linha”, quais seriam?
Rupturas e nascimentos, esse fluxo tão afeito ao amor. O encanto de apaixonar-se e a consequência inevitável: um salto nas entranhas da própria vida, um desfazer-se e refazer-se na própria carne.
Por que escolher esses temas?
Porque todos somos feitos dessa mesma substância.
Como você definiria seu estilo de escrita?
Uma poética que não alcanço, uma prosa que me desobedece e cumpre os desejos de um tempo revolucionário, nunca cronológico, me apresso ao lado dela, descanso no passo que ela consome.
Quais são as suas principais influências literárias? Que livros influenciaram diretamente a obra?
Minhas principais referências são Clarice Lispector, Ana Martins Marques, Matilde Campilho, Doris Lessing, Guimarães Rosa, Gabriel García Márquez, Aline Bei, Mariana Carrara e essa vasta literatura contemporânea, especialmente escrita por mulheres. Para escrever “Respire o instante de uma linha”, foram essenciais os livros “As avós”, da Doris Lessing, “Primeiras Estórias”, de Guimarães Rosa, “O livro das semelhanças”, da Ana Martins Marques, “Peso do pássaro morto”, da Aline Bei, e “Isso”, do Juan Gelman.
Escreve desde quando? Como começou a escrever?
Desde criança, a infância é quase sempre esse território, eu costumo dizer que via as coisas por escrito, um cheiro, uma forma, um gesto, eu queria montar um relicário das coisas, porque existindo elas passavam muito rápidas por mim.
Como é o seu processo de escrita?
Eu existo por escrito, mesmo, vejo tudo invadido por palavras. Tenho vários cadernos de notas, de coisas pra esquecer, de coisas impossíveis de dizer, anoto muito e todos os dias, escrevo fragmentos das pessoas, amarro a ideias antigas e quando noto uma flecha, como queria Matilde, entre uma coisa e outra, entendo a chegada de um livro. Prefiro escrever de manhã, como ofício. Mas os entardeceres, lusco-fusco, são férteis, eles acendem meus olhos, revelando os encontros entre as ideias, o rumo onde ainda não havia.
Você tem algum ritual de preparação para a escrita? Tem alguma meta diária de escrita?
Não tenho metas diárias e não acredito muito nelas. Acredito na entrega absoluta e na dedicação perene. Defendo o rito e fico. Permaneço diante das folhas em branco, das páginas abertas, das telas gritando.
Quais são os seus projetos atuais de escrita? O que vem por aí?
Um livro inusitado, menos a flecha e mais o vento que fica quando ela passa, uma coleção desses ventos. Um livro antigo, no mesmo corpo que tem sido meu projeto desde sempre: as infâncias envelhecidas. O livro novo se chama “Pedra antiga da tristeza” e será lançado em abril pela editora Claraboia.
– Marcela Güther é jornalista, produtora de conteúdo, assessora de imprensa e mediadora do Leia Mulheres.