por Herbert Moura
“Voando Baixo”, novo álbum do MV Bill, é uma crônica sobre o cotidiano caótico de um país desestabilizado, que soa como um despertar coletivo. O disco foi gravado em formato híbrido no Rio de Janeiro em fevereiro de 2021, seguindo os protocolos de saúde pública sugeridos pela OMS. “Mesmo de forma isolada eu quis estar mais próximo do dia a dia das pessoas comuns, e quando você dá um voo rasante, você fica conectado com a realidade delas”, declara o rapper.
O conceito que norteia o álbum é estruturado na solidariedade. “As pessoas em casa precisam de alento, que também pode vir da música. Talvez o conforto esteja no meu trabalho. Quero entregar uma experiência musical que possa mobilizar as pessoas para uma vida melhor”.
Trata-se de uma produção executiva e fonográfica da MV Bill Produções Artísticas Ltda com distribuição ONErpm, produção musical, mixagem e masterização do DJ Caique (exceto a faixa 5 por Tibery) e capa da Pomo Estúdio. Entre as participações especiais estão os rappers Kmila CDD (RJ), Nocivo Shomon (SP), ADL (RJ), Stefanie (SP), Bob do Contra (RJ) e DJ Luciano Rocha (SP). Abaixo, MV Bill comenta o novo disco faixa a faixa.
01. Esgrima
Esporte que simboliza a luta, o espírito do disco. A faixa é um apanhado de entrevistas importantes que concedi, com samples de Marília Gabriela, Faustão e Pedro Bial. Refresco a memória de quem não se lembra ou não sabe da minha trajetória midiática. Termina com o rapper Ligado, que saiu de Fortaleza para o Rio de Janeiro em 1990, para divulgar o trabalho dele no meu programa de rádio.
02. Bocejo
Descrevo uma pessoa num barco rodeado por lama ao invés do mar azul, para conclamar o grande despertar coletivo. É a única salvação possível para uma nação que só afunda.
03. Nóiz Mermo (participação ADL)
A letra expressa a indignação coletiva com a gestão pública e as consequências na política social do Brasil. Quem está ao lado do povo, fazendo por ele, é o próprio povo. Uma gíria familiar que define essa auto-representação nomeia a faixa.
04. Nossa Lei (part. Kmila CDD e Stefanie)
Nessa eu divido os vocais com dois talentos femininos do rap – minha irmã Kmila CDD que já participou de vários trabalhos meus e tem uma voz muito marcante, e a outra é a rapper Stefanie, de Santo André (SP), que tem um flow único e forte. As nossas três vozes juntas mostram o poder e o tamanho da nossa força, da Nossa Lei.
05. Milicítico (part. Bob do Contra)
Indignação coletiva perante a atual governabilidade brasileira, que traz à tona injustiças sociais, violências, apatias e desigualdades. Uma das músicas com discurso mais forte, força instrumental, suavidade no refrão e agressividade na letra.
06. Essência
Trago quatro mulheres da Cidade de Deus, que exaltam a sagacidade de suas origens e potência vocal. Três delas me carregaram no colo e uma estudou comigo.
07. Sintonia Real (part. Filiph Neo)
Explora a sintonia física, carnal e picante, importante para uma relação entre casais, sem se prender a clichês.
08. Última Forma
Fala justamente quando o casal só tem sintonia sexual e não tem a objetividade de construir um futuro. Cristina, minha vizinha na Cidade de Deus, mostra a indignação feminina em uma atuação.
09. No Calor da Emoção (part. Marrom)
Quando a pessoa recebe a notícia de que ela não faz mais parte dos planos do seu parceiro e cai na dor de cotovelo. Chamei o Marrom, ex vocalista da banda RZO, para uma pegada rap com elementos de jazz e blues.
10. Rasante (part. DJ Luciano Rocha)
Uma alusão ao título do disco. É como se eu tivesse passando de carro com microfone e alto-falantes atrás vendo as mazelas do Brasil na paisagem das favelas. No refrão, fui nos primórdios do hip hop. O DJ Luciano faz scratches com colagens de outras músicas minhas ao mesmo tempo dialogando com o que canto.
11. Voz de Cria (part. Kmila CDD e Nocivo Shomon)
Como pessoas de dentro, temos nossos protocolos para não cair na vacilação. Nosso vacilômetro está sempre alerta para não dar mole, porque a gente é cria. Conto com os vocais poderosos da Kmila e a lírica do Nocivo Shomon”.
12. Muito obrigado – RIP
Última faixa do disco e a última que escrevi dentro do próprio estúdio. Deixei a batida rolando, enquanto me lembrei das pessoas que se foram e acabaram esquecidas. Queria agradecer a todos que me ajudaram e não estão mais aqui. Listo alguns nomes que vieram na minha cabeça do Brasil e dos Estados Unidos, nossa referência no rap.
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