Sob o CEL 20
Demanda Reprimida por Oasis
por Carlos Eduardo Lima
Há momentos em que a música morre. Acho que todos conhecem algum pedaço da enorme letra de “American Pie”, de Don McLean, na qual ele encaminha a canção para o refrão ao mencionar certo “dia em que a música morreu”. Ele se referia ao fatídico 3 de fevereiro de 1959, quando um acidente aéreo no Estado norte-americano de Iowa vitimou Richie Valens, Big Bopper e Buddy Holly, além do piloto Roger Peterson. Se resolvermos nos aventurar pela história do rock, veremos seu nascimento lá pela metade da década de 1950, através da fusão de r&b, blues e country, tudo reempacotado pela necessidade de pensar em algo para distrair uma juventude que surgia com potencial comercial na primeira década do pós-guerra. Eram os primeiros felizardos que experimentavam a tranquilidade de não ir pra guerra, de não ver sua casa destruída por um bombardeio qualquer.
Os primeiros astros do rock foram traídos por uma implacável censura imposta pela América racista e seletiva, na qual era necessário astros brancos ou embranquecidos socialmente, para fazer sucesso. Valens e Holly eram tripulantes desse navio em que viajavam Elvis, Bill Halley, Little Richard, Chuck Berry, entre outros. Ao contrário do que parece, o próprio rock era algo absolutamente underground, tendo em Elvis o seu primeiro momento de glória comercial, aquele sujeito branco que cantava e dançava como negro. Que podia ser religioso e profano ao mesmo tempo. Em meio a isso, o acidente aéreo mata o promissor Buddy Holly, favorito de um jovem Paul McCartney, que o imitava na sua Liverpool cinquentista. O rock retrocedeu, só foi estourar devidamente a partir dos Beatles. E, o tal “dia em que a música morreu” passou a ser um indicativo – forçado ou não – de troca de pele, de mudança, de renovação.
O dia 26 de agosto de 1997 é outro exemplo desses momentos de transformação. Claro que a mudança não ocorre naquele dia exato, há suas consequências naturais que se fazem notar mais tarde ou mais cedo. Mas, ao olharmos para trás em busca de explicações, quase sempre seremos capazes de notar o dia que marca aquele processo. Neste dia em especial, houve o lançamento do terceiro disco do Oasis, “Be Here Now”, devidamente massacrado pelo senso comum da época, que dizia que o rock não podia mais ser como as canções do disco insinuavam. Não podia ser grandiloquente, não podia ser megalomaníaco, não podia ser junkie, muito menos um produto de uma tensão permanente entre irmãos compositores, cantores e donos de uma banda que podia responder como a maior do planeta. Não, “Be Here Now” estava fora de tempo e de espaço.
De fato, houve críticas negativas, fofocas sobre quantidades enormes de cocaína nos estúdios, toda sorte de desavença entre os irmãos Liam e Noel Gallagher, todo um bafafá bem típico da pior imprensa do planeta, a britânica. O fato inegável é que “Be Here Now” era um puta disco de rock. Os Gallagher, sobretudo Noel, queriam fazer história com ele. Já vinham fazendo, desde o lançamento de sua estreia, “Definitely Maybe”, três anos antes, a bordo do estouro da boiada britpop. É bom lembrar que o Oasis não era uma das bandas capitãs do movimento, talvez esse posto coubesse melhor ao Blur. Inegável observar que o britpop só foi mais plural e forte após a chegada dos Gallagher, que eram mais versados na linguagem do rock internacional, por assim dizer.
Esqueçam a briguinha entre Oasis e Blur, obra da imprensa britânica, tentando reeditar rusgas (que nunca tiveram lugar, diga-se de passagem) entre Beatles e Stones. De um lado ficavam os meninos certinhos, cultos e de classe média do Blur, antagonizando com os broncos, beberrões e toscos operários de Manchester. Apesar de gostar de ambas e ter certeza que o terceiro disco do Blur, “Parklife”, é um dos melhores de todos os tempos, eu preferia Oasis na época. O som deles era o único que parecia não ligar para os downsizings impostos pelo punk e pelo rock alternativo das décadas anteriores, mas, de alguma forma, carregava em seu genoma esses elementos. O Oasis não era uma banda qualquer, não foi planejado para ser uma banda qualquer, foi erguida após alguém dizer que queria governar o mundo. “Be Here Now” é esse desejo revelado.
Senão vejamos. Outro dia estava eu no Facebook e decidi postar o clipe de “Stand By Me”, quarta faixa de “Be Here Now”. A quantidade imediata de manifestações positivas, seja em “curtir”, seja em comentários, me surpreendeu. Longe de ser uma unanimidade, o terceiro disco do Oasis mostrava ali uma plateia fiel, de gente que era fã ou não da banda e que apontava pelos motivos certos ou plausíveis, seus motivos para o entendimento e aceitação das intenções de Noel e Liam ao parir um disco tão descaradamente grandioso. Vieram comentários sobre o primeiro single, “D’You Know What I Mean”, cujo clipe é uma superprodução apocalíptica, rivalizando em imagens com o rocambole musical que os irmãos engendraram, cheio de efeitos, samplers, vozes em off, gravações ao contrário. Ainda é a minha predileta do disco, seguida de perto por “All Around The World” e da própria “Stand By Me”, com “Don’t Go Away” correndo por fora.
Foi o último disco de rock dos anos 90. Talvez tenha sido o último disco de rock a ser feito no mundo, na minha humilde opinião. Lançado em 21 de agosto de 1997, o disco marca um desses dias em que a música morre. Pouco tempo antes, mais precisamente em 1º de julho do mesmo ano, o Radiohead lançava a semente que acabaria com o já decadente britpop, seu terceiro disco, “OK Computer”. Outros dois discos lançados nesse ano ainda mostram o poder de fogo das bandas da época: o quinto disco do Blur, com o sucesso de “Song 2”, e a viagem espacial do Spiritualized, em “Ladies And Gentlemen, We Are Floating In Space”. Ambos seguiam a proposta de sair do marasmo e adentrar novos territórios.
O Blur flertava com o rock alternativo norte-americano através do interesse do guitarrista Graham Coxon enquanto Jason Pierce, do Spiritualized, erguia uma ópera cósmica, na qual drogas lícitas ou não, podiam conviver com os fantasmas das diferentes fases de Elvis com tijolos arrematados dos walls of sound de Phil Spector. Das quatro possibilidades, apenas uma permaneceu. O Radiohead trouxe a certeza do fim do mundo, ou melhor, da esterilização do mundo, através de seu disco. Tudo se transformou num terreno árido e frio, como uma espécie de pós-mundo. Modificou a música feita na Inglaterra e abriu espaço para algo ainda mais distante e plástico, que se materializaria nos dois discos seguintes, “Kid A” e “Amnesiac”. A chegada de “Is This It”, o primeiro disco dos Strokes, em 2001, acabou de ferir de morte aquele rock que está em “Be Here Now”. Sai a música maior que a vida e entram pequenas polaroides de uma Nova York do século XXI – com os cornos de 1979/80 – para consumo de uma juventude com processador pentium em lugar do cérebro. Deu no que deu.
É fato que o Oasis deve voltar em alguns anos. Mesmo que a carreira solo de Noel Gallagher seja consistente e interessante e que o Beady Eye de Liam não seja lá o horror que todos pensam. O lugar dos irmãos é numa porrada de estúdio, decidindo quem faz o que melhor que o outro. Desta tensão e desejo de ganhar o mundo vieram algumas das melhores e últimas canções de rock feitas neste mundo. Você pode argumentar que o próprio Oasis lançaria discos legais depois e eu vou concordar, dizendo que todos os álbuns da banda têm, pelo menos, três canções perfeitas em seus respectivos tracklists. Também vou refutar qualquer opinião que diga que o Oasis copiava os Beatles ou que reclame da voz anasalada de Liam ou que tenha o topete de dizer que suas músicas eram todas parecidas. Oasis é banda de amigos, de confort music, de rock de macho. Dá pena de ver hordas de jovens, com processadores pentium cada vez mais rápidos na cabeça, indo atrás de bandas mais e mais coxinhas, num mundo em que o Coldplay e o Maroon 5 são exemplos de gente “que chegou lá” e o Foo Fighters é a epítome do rock energético de guitarras. O Oasis, mesmo com todo o marketing, era uma porrada na porta desse olimpo de falso rock politicamente correto e feito em laboratório para agradar gente com cada vez menos noção das coisas.
Dessa forma, aponto o dia 26 de agosto de 1997 como sendo, oficialmente, um dia em que a música morreu. E, infelizmente, o que nasceu lá em 25 de setembro de 2001 me é muito, muito estranho e indigesto.
CEL é Carlos Eduardo Lima (siga @celeolimite), historiador, jornalista, fã de música e responsável pela coluna Sob o CEL no Scream & Yell e pelo podcast Atemporal.
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Leia também:
– “Kid A”, o Radiohead no topo do mundo, por Luis Henrique Pellanda (aqui)
– “Amnesiac”, o Radiohead na vanguarda do rock, por Marco Tomazzoni (aqui)
– Uma pequena obra prima chamada “Ladies and Gentlemen We Are Floating in Space” (aqui)
– Noel Gallagher ao vivo em São Paulo, por Leonardo Vinhas (aqui)
– Oasis ao vivo em São Paulo e Curitiba, por Marcelo Costa e Murilo Basso (aqui)
– “Definitely Maybe”, do Oasis, Faixa a Faixa por Ricardo Moscarelli (aqui)
– “Dig Out Your Soul”, o 7º álbum de estúdio dos Gallagher faz bonito, por Mac (aqui)
– Oasis ao vivo no Rock In Rio III, por Marcelo Costa (aqui)
– “Don’t Believe The Truth”: Nenhuma banda envelheceu tanto quanto o Oasis (aqui)
– “Heathen Chemistry”: o bom e velho Oasis, para o bem e para o mal (aqui)
– “Familiar To Millions”: “Não tem nenhum Simple Minds aqui em cima não” (aqui)
– Livro: “Ascensão e Queda do Britpop”, de John Harris, por Mateus Ribeirete (aqui)
Gosto do Oasis (bastante dos dois primeiros discos, nem tanto assim de “Be Here Now”) e concordo com boa parte do que foi escrito. Entretanto, não consigo assimilar com tanta facilidade sua argumentação… Se o Blur é referência, lamento, o Coldplay não é tão “coxinha” assim, O Foo Fighters é legal pra cacete, houve muita coisa boa no rock dos anos 2000 (Queens Of The Stone Age, White Stripes, Arcade Fire e Franz Ferdinand, por exemplo, não devem em nada aos “meninos certinhos, cultos e de classe média do Blur”) e há muitas razões para estar otimista com as bandas que surgirão inspiradas por Strokes e afins…
Adoro o disco também, e o texto ficou excelente
Concordo com quase tudo, porém, mesmo não curtindo o Strokes, acho que muita coisa boa foi lançada nos anos 00. O primeiro álbum do The Killers, Queens of The Stone Age (“Era Vulgaris” e “Songs for The Deaf”), Arcade Fire (os três álbuns de estúdio), etc. E até bandas cascudas lançaram coisa boa. O Radiohead mesmo com “In Rainbows”, Nine Inch Nails com “With Teeth”, Green Day com “American Idiot”, e por aí vai…
Enfim alguém fez justiça ao (na minha opinião) melhor disco do Oasis! “Be Here Now” talvez seja um dos álbuns mais injustiçados da história do Rock. Além de três singles espetaculares (a adoravelmente arrogante “D’You Know What I Mean?”, a belíssima “Stand By Me” e a épica “All Around the World”), o disco tem outras pérolas, como “The Girl In The Dirty Shirt”, “Don’t Go Away” e “It’s Getting Better (Man!!!)”.
Quando lançado, em 1997, este disco foi visto como “a morte do britpop”. 15 anos se passaram, e o que se pode dizer é o contrário: a incompreensão e a saraivada de críticas a “Be Here Now” (p.ex., a suas megalomaníacas músicas de 7, 8 minutos) é que revelam o fim daquele fértil período do rock britânico, cujas origens remontam aos Stone Roses, mas que foi detonado pra valer em 93/94, com Blur, Suede, Oasis e cia. Restou-nos o Radiohead, mas ainda assim fazendo algo idiossincrático, sem ter um movimento/cena por trás.
De fato o rock da década de 2000 é uma decadência em relação ao dos anos 90, mas assim como o Lucas, não sou tão pessimista. Tudo bem que muitas bandas fizeram um ou dois ótimos discos e depois caíram de qualidade (Interpol e Strokes, p.ex.), mas há quem se salve: Franz Ferdinand, Gorillaz, Arcade Fire, Arctic Monkeys, Muse (pelo menos até o “Black Holes”), White Stripes…
Não poderia concordar mais com esse texto. Para mim, Be Here Now também foi o divisor de águas entre o bom rock e a lambança que fizeram dele depois. Aquela coisa do “rock fácil”, mais comercial do que nunca, guitarras barulhentas e estridentes para enganar bobo (ou os “cabeça de pentium” mencionados por você).
Be Here Now é o melhor álbum de todos os tempos, de todas as bandas.
Parabéns pelo texto, ficou excelente!
Belo texto sobre um belo disco. Só discordei dessa implicância com o Foo Fighters hehe
Só para registrar, Coldplay e Strokes foram as piores bandas de “rock” que surgiram, pelamor…
O autor foi esperto ao mencionar apenas as cinco grandes canções do disco. As demais são tão chatas que acabaram colocando o valor do disco em questionamento. Se boa parte das canções tivesse uns três minutos a menos, esse disco seria histórico.
Gente, o QOTSA tem origem na década de 1990, a partir do fim do Kyuss, banda da qual ele se originou. É outra via, por assim dizer. Tem importância, sim, mas é uma banda sem a mesma projeção que Oasis, Strokes ou Radiohead.
E Renato: que disco tem as “cinco melhores canções” do Be Here Now hoje? Ou há dez anos?
É um bom disco sim. Aliás, muito bom. Mas esse negócio de afirmar que foi o último disco de rock é muito subjetivo. As gerações anteriores ao “Be here now” podem afirmar que o último disco de rock foi o “Nevermind” ou o “Rocket to Russia” ou o “Fun House” ou até o último album do Elvis antes dele ir para o exército. Estão sempre matando o rock, mas acho que sempre continuarão sendo lançados bons discos.
O Be Here Now é meu disco favorito do oasis. Porém ele foi muito mal produzido e mixado. Deveriam fazer uma edição remasterizada e com novos arranjos.
Baita texto. Bem escrito e boas referências. Sou dessa época. Curto demais Oasis. Bom, por isso, não vou na onda do concordo/discordo. Afinal, quem escreveu entende bem mais que eu do riscado.
Só gostaria de acrescentar a existência do Black Keys. Pra mim, essa é a banda de rock de “nosso” tempo.
Abraço a todos!
Ao ler seu texto, entendi seu ponto de vista e de certa forma concordo. Esse dito indie rock muitas vezes me soa estranho também, apesar de não ter preconceito e gostar de algumas bandas. Mas tivemos grandes discos após esse, ao meu ver, Toxicity, Songs for the Deaf, Brothers, The Hunter são grandes discos de rock. E não acho o Foo Fighters superficial ou coxinha, o último disco foi gravado na casa do Grohl, de forma singela e outra, as composições do cara são foda e ele canta com o coração (falei como fã agora, não me contive…kkkkkk).
Parabéns pelo texto.
Abraço!
Ótimo, texto, CEL. Be Here Now é meu favorito, exatamente com todos os exageros e pirações, pois sem eles, o disco perderia sua essência. Falo mais dele aqui: http://bit.ly/PxG7fo
Eu lembro bem de alguns álbuns que tem cinco canções tão boas quanto neste álbum (só o Wilco tem 3 álbuns hehehe), mas concordo que dentre os álbuns ROCK, a lista emagrece muito.. E claro, não cito os últimos dois álbuns do Oasis, que também entrariam…
Eu incluiria, para sua birra (rs) o terceiro e/ou o segundo do Foo Fighters. O “Songs for the Deaf” do QOTSA e polemizando mais um pouco rs, o álbum “Pearl Jam” (de 2006).
Mas gostei muito do texto e deste desencantamento pós-1997. Nesse rol, que você citou bem o Radiohead e o Blur, eu incluiria o próprio Pearl Jam (que depois do “Yield” perdeu o rumo, pra mim só se reencontrando em 2006) e o Smashing Pumpkins, que em 1998 já estava em outro planeta com o “Adore” e nunca mais foi o mesmo… Abração.
se por rock estiver sendo considerado rock puro, sem outras influências, aí realmente são poucos álbums relevantes nessa década. mas acho que o último do arctic monkeys, os dois do girls, o pains of being pure at heart, pra citar alguns mais recentes são álbums de rock relevantes, enfim.. acho um exagero falar em último álbum de rock.
quanto a algum álbum com 5 melhores músicas que as 5 melhores desse álbum eu acho que tem um monte nos anos 00, mas aí vai da opinião de cada um. só pra não ficar sem citar nenhum: yankee hotel foxtrot, sky blue sky, in rainbows, father son holy ghost, efêmera, vagarosa, ventura e por aí vai
“I Hope, I Think, I Know”, minha favorita do Be Here Now. Ótima letra, riff marcante, melodia perfeita e o Liam cantando a letra com toda a revolta que a mesma pede. Belo texto, CEL.
minha opinião sobre o disco: péssimo.
minha opinião sobre as músicas: individualmente são ótimas. obviamente, umas mais que clássicas que outras.
agora, não tenho certeza se essa é uma discussão sobre a vida e a morte do rock. existe a possibilidade dele nunca ter existido. o comportamento sempre foi o que definiu o rock. entenda a provocação. dito isso, não acho mesmo que, apesar da grandiosidade das músicas, o be here now possa ser o marco do fim, ou seja o que for, de alguma coisa.
e coxinha seria um termo muito pejorativo se fizesse algum sentido. os tempos, ainda bem, são outros. viva o coxinha que existe em todos nós!
Achei interessante tudo isso, mas, me parece com alguém superchapado que acabou de comer uma guloseima tipo, sucrilhos com leite condensado – é bom, ok! Mas muito melhor quando esta chapado…
Gostei muito do lance do Strokes. Também olho o disco deles como o marco inicial do tal do “novo rock”. Algo que pra mim é exatamente isso: “muito, muito estranho e indigesto”.
Tudo parece que passou demais no “noise reduction”, é um barulho calculado, equilibrado demais…as vezes tem uns lance legal… mas de um modo geral tudo é muito chato depois dos anos 90.
E é aí que eu discordo… acho que esse disco do Oasis, assim como outros tantos desse período, cada um com sua peculiaridade, fazem parte de um pacote. Um lance todo que foi naturalmente se desintegrando, mais ou menos em 97 mesmo… e foi deixando o espaço para o que vinha… gostemos ou não 😉
Dennix, vc não está errado. Uma série de fatores culturais, econômicos, políticos e sociais causaram essa desintegração de uma ordem existente em 1997 e o erguimento do que temos hoje. Há prós e contras por toda a parte, é só ficar atento.
Durante o período áureo da britpop, os Oasis foram sempre a banda que mais me interessou. Agradava-me o topete dos irmãos Gallagher e, principalmente, a música desbocada e marcadamente rock n´roll que produziam. Descobri-os numa discoteca de música indie em Lisboa. “Supersonic” foi a primeira paixão, mas depois veio o álbum “Definitely Maybe” na íntegra. E a história provou que a minha escolha foi acertada. “Be Here Now” pega o Oasis numa fase mais institucional e se é verdade que a receção não foi a melhor, poucos poderão contrariar o punch de “D’You Know What I Mean?” ou “It’s Gettin’ Better (Man!!)”, para citar algumas faixas. É ainda um disco em que a banda revela confiança, saca algumas influências de Zep e Beatles (as always) e até invereda pela pop em “The Girl in the Dirty Shirt”. Há também uma produção mais arrojada, mas a voz de Liam dá cor a mais uma vitória do Oasis.
CEL, eu não tava falando das cinco melhores mas das seis piores. se um disco tem 11 musica, metade é nota 10 e metade é 0, a gente poderia dizer que ele é nota 5. entao não consigo considerar um disco nota 5 um classico. Quanto ao rock atual, eu só voltei a acompanhar com o black keys, que lançou um discao. strokes eu nem considero
Vou aproveitar pra colocar lenha na fogueira (sempre – risos). Pensando no comentário do Renato, selecionei alguns discos com várias músicas candidatas à clássicos nos anos 00. Detalhe: o CEL cita os 4 clássicos do álbum e não 5 como o Renato contou (embora eu, pessoalmente, adore “The Girl in the Dirty Shirt”). E alguns desses discos abaixo também renderam quatro singles (alguns até mais)…
– “Up the Bracket”, Libertines
– “The Libertines”, Libertines
– “White Blood Cells”, White Stripes
– “B.R.M.C.”, Black Rebel Motorcycle Club
– “Hot Fuss”, The Killers
– “Franz Ferdinand”, Franz Ferdinand
– “Funeral”, Arcade Fire
– “Favourite Worst Nightmare”, Arctic Monkeys
– “Neon Bible”, Arcade Fire
– “Return To Cookie Mountain”, TV On The Radio
– “You Could Have It So Much Better”, Franz Ferdinand
– “Howl”, Black Rebel Motorcycle Club
– “Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not”, Arctic Monkeys
– “Brothers”, The Black Keys
– “The King Is Dead”, The Decemberists
– “El Camino”, The Black Keys
Essa listinha aí do Mac ficou boa, hein?! Só a nata dos anos 2000.
E sim, o Be Here Now tem músicas memoráveis, mas não acho que como álbum faça frente ao Definitely Maybe e ao Morning Glory.
Resenha fantástica!!! O Oasis foi, na minha opinião, a última banda de Rock em seu estado bruto, aquele que gera ícones (estudadamente arrogante, pretensioso, auto-suficiente, hedonista e principalmente, com grandes canções para serem cantadas em coro por estádios e arenas lotadas, tanto por fãs do estilo como pelo público habitual de festivais). Outra característica importante: a banda costumava não ter fãs, e sim uma apaixonada e fanática torcida, funcionando para os seus admiradores como um time de futebol, onde seus fãs eram parte integrante do espetáculo. Qual banda formada depois de 2000 seria capaz de tal feito??? ‘Be Here Now’ é a cereja do bolo Gallagheriano deste período…
Só o B.R.M.C. do Black Rebel põe qualquer disco do Oasis no chinelo…
CEL, mandou bem!
Eu considero este o melhor CD do OASIS, pois eles sempre me bateram com uma constância absurda em fazer clássicos e perfeições. Sempre. A opinião é pessoal sempre, mas acho estranho falar que o álbum é um “8-80” com 5 músicas notas 10 e 6 músicas notas 0. Porra, o Noel é tão mágico que OU faz perfeições OU faz lixo tipo “Michel Telo”?!
Também estou longe de considerar o último álbum de rock… Talvez o CEL tenha considerado isto pela temática e pelo “poder” que eles tinham em mãos, algo que vai ser impossível acontecer novamente (mesmo que eles voltem a tocar juntos em um futuro inexistente…). Mas tenho a certeza que depois disso muita coisa boa foi lançada. De Green Day até Arcade Fire, de Killers até Franz… E indo para outros “lados” do rock temos bandas grandiosas que lançaram coisas absurdas também…
Mas na real, o que eu mais discordo foi colocar “Don’t Go Away” como “correndo por fora”. Esta, além de épica, está em um hall difícil de chegar na minha opinião! hahahahaha…
Houve bons discos de rock nos anos 2000 alguns até melhores que o Be Here Now,mas não consigo imaginar nenhuma banda de rock que tenha surgido depois do Oasis que tenha sido tão grande quanto eles, digo isso no sentido de sucesso comercial e impacto. Qualquer um conhece ou já ouviu alguma música da banda mesmo não sendo um fã de rock.
Anos após do lançamento Be Here Now parece que ainda permanece vivo aquele espirito herdado do punk de que é feio uma banda querer tocar um som pra encher estádio.
O grande problema é que Be Here Now não foi nada do que se esperava dele. A expectativa era por canções pop, pra tocar na rádio (ainda os anos 90…). E os Gallagher fizeram exatamente o contrário: eletrificaram tudo, colocaram no volume máximo e esticaram as músicas da maneira mais anti-comercial possível. O álbum é uma porrada, com alguns momentos de descanso. Nenhuma das músicas poderia entrar nos dois primeiros álbuns (se duvida, tente fazer o teste: onde entraria My Big Mouth? ou It´s Getting Better? ou mesmo Don´t Go Away?). A decepção vem daí: se esperava um novo Morning Glory, ou talvez até um Sgt. Pepper´s. Mas o que veio foi um álbum de rock, pesado, super-produzido (seu maior erro). E realmente encerrou um ciclo, tanto do Oasis como do britpop. A festa acabou ali. O próprio Noel, numa entrevista pra Rolling Stone, declarou algo assim: “o primeiro álbum foi uma ida pra festa; o segundo, a volta”. Be Here Now, sem dúvida, foi a ressaca.
Eu gosto muito do BHN tbm, apesar de não ser o meu preferido da banda, ele talvez seja mesmo o ultimo disco de “rock” de fato, rock no sentido de ser aquele sem frescuras como os do Coldplay, sem a frieza pretensiosa de um Radiohead ou da sujeira milimetricamente produzida como os do Strokes, isso claro apesar dessas bandas serem otimas.
BHN é um album de rock com o foda-se ligado, feitos por caras que não estavam nem ae pro que iam pensar deles, vc escuta o album e eles soa bem natura e honesto, e ainda fizeram um puta disco com aquela sensibilidade pop que so o Noel tinha, diferente dessas bandas atuais coxinhas pseudo intelectuais que fazem discos mais pra ganharem notas boas no metacritic.
Valeu CEL, tomei muita cerveja eu e meus amigos escutando OASIS, a dobradinha era com o AC/DC, ainda sinto saudades daqueles tempos, pena que agora tudo ande uma bosta musicalmente falando, obrigado pelo post sensacional, reavivou velhas lembranças
Muito bom o texto…especialmente por não ser coxinha e não ficar em cima do muro … mas o legal da liberdade de expressão é gostar mesmo tendo várias restrições ao que foi escrito, por exemplo:
Não concordo com nenhuma virgula sobre o que foi escrito sobre o rock pós 97 … também acho exagerado desqualificar toda uma juventude só por ter o gosto diferente do seu … sobre o Foo Fighters…realmente acho supervalorizado…. banda nota 6 – 7 (boa banda) nada mais que isso … Concordamos quanto ao Oasis…baita banda…demorei pra perceber isso … mas antes tarde do que nunca…
Grande abraço pra vc e continue mandando bem assim nos textos
Don’t go away correndo por pora?
oloco.
Eu vou citar também o último do Pearl Jam. Um ótimo disco de rock, como há muito tempo eles não faziam.
O disco é bom, muito bom, mas é claro que outros discos bons foram lançados depois de 97. Concordo com vários citados nos comentários.
Mas acho que esse não é o ponto. Acho que o que faz falta de verdade é a ambição do Oasis, a raiva, certeza de que eles eram maiores que a vida (isso é rock!).
Eles eram a ‘working class’ chutando a porta, sendo beberrona e desbocada, sendo ela mesma e não se adaptando, e não dando a mínima. Os Gallagher são herdeiros dos irmão Reid, do Ian Brown, parceiros do Richard Ashcroft…
Em 63 os Beatles tocaram em um baile de fim de ano da rainha. Na plateia em um teatro os plebeus estavam nas cadeiras, enquanto os nobres estavam nos balcões. Antes de Twist and Shout o Lennon foi ao microfone e disse que essa era pra todo mundo dançar, mas que o pessoal dos balcões podia só balançar as jóias. Era o pobretão de Liverpool olhando a nobreza londrina de igual pra igual, com o nariz em pé, e sem se adaptar.
Nada lançado depois de 97 tem essa força, e o Oasis tinha.
Adoro no disco a sequência Stand By Me, I Think I Hope I Know, The Girl in the Dirty Shirt e Fade In-Out
P.S.: Que ano 97! Além dos citados, o Verve lançou o Urban Hymes!
Leonardo matou a charada. Não só ele, muitos outros aí em cima foram no ponto. Não importa muito o que veio depois do BHN, não por qualidade mas por esse ar de torcida organizada, de união, de “sei lá o quê” vindo do Oasis. Era a recuperação do sentimento dos anos 70 em relação aos gigantes do rock e isso era absolutamente intencional por parte dos irmãos. Eles queriam isso, enxergavam – e enxergam – o rock desse jeito: grandioso, furioso, capaz de juntar multidões. É o extremo oposto do que veio depois. O pós-97 na música pop é o esvaziamento desse pneu, com lampejos aqui e ali. Após 2001 tudo ficou realmente pior e foi assim até chegar nos dias de hoje. Não vou entrar no mérito do gosto pessoal, cada um tem o seu, cada um pensa o que quiser, mas esse espírito tipicamente rock’n’roll sumiu depois do Oasis. Sobre o Foo Fighters, é até covardia comparar um compositor como o Noel com um sujeito como o Dave Grohl.
Noel é provavelmente o compositor pop com mais mão pra coisa nos últimos 20 anos, o melhor dos melhores, mas Dave Grohl tem lá seus méritos e acertos. E em termos de canções ícones, sou (eu e Dylan nesse caso) muito mais “Everlong” do que “Wonderwall’ (que é a preferida do Paul, o que já diz muita coisa). No geral, porém, o Oasis é mais consistente, só que – adaptando Tom Jobim -, o Foo Fighters é uma pessoa só e o Oasis eram duas (pro bem e pro mal). De resto, a sociedade sempre esteve em constante mudança. Dylan disse certa vez que os anos 60 só foram começar realmente em 66, que até 65 ainda eram anos 50 a respeito de comportamento, atitude. O final do milênio foi um baque danado pra sociedade (com o ser-humano médio apelando pra religião e auto-ajuda perto do possível juízo final – sic), algo que o 11 de setembro elevou aos píncaros. E isso tudo reflete na molecada, que acabou crescendo bundona (e explica a popularização do emo, embora o estilo exista desde os anos 80). O Libertines tinha um pouco dessa pegada irresponsável do Oasis (na verdade, dos Stones, a fonte de tudo), e as transformou em método de vida, o que pra música foi uma merda. Talvez a Amy tenha ocupado esse espaço rebelde do Oasis (afinal ela era mais rock and roll que 90% das bandas atuais). Mas não acho que as coisas tenham ficado piores desde 2001. Se fatiarmos o assunto, no caso do Brasil as coisas só melhoraram pós 2001.
“Último disco de rock” é um pouco demais, caro CEL. Entendo o sentido de grandiloquência que você colocou, e talvez o rock não tenha tido mais esse tipo de aspiração desde então. Mas rock não é só isso, e a lista de grandes discos dos últimos 15 anos é tão grande que me canso só de pensar em escrever. Tem muito lixo hoje? Tem, mas até aí, sempre teve. As exceções é que sempre dignificaram a coisa, e apareceu muito disco de rock bacana nesses anos tortos.
Vocês so escutam musica feita nos EUA e no Reino Unido?
Haja dominação cultural…
Enquanto eu escrevia até pensei no Libertines, Mac. Mas acho eles artsy e chapados demais. Falta aquela coisa ‘arquibancada de estadio’. Os discos são bons, algumas músicas são fantásticas, mas sei lá… Acho que eles são meio Stones, como você disse, mas um Stones/72 (chapados na França, exilo…).
Lembro de um episodio de uma série chamada Men Behaving Badly (série inglesa, passava no Eurochannel no fim dos anos 90, e era absurda de tão engraçada) em que os dois protagonistas ficam meio que dançando e bebendo cerveja no meio da rua, ao som de Rock´n Roll Star. Eles eram uns fracassados, feios, toscos, beberrôes, frequentavam um pub imundo e enchiam a cara sempre. E ainda assim aquilo era um tipo de celebração. O Oasis era isso. Era rock, pop, reverente, barulhento, feito pra estadio, grandioso. Era extremamente ambicioso, mesmo vindo de um lugar que não permitia muita ambição. E era bom. Essa época acabou com o Ok Computer, a virada do milênio, a internet para todos e o 9/11. Acho que a tese do CEL é que o Be Here Now foi a última tentativa deliberada de dominar o mundo. Concordo com ele. O disco é especial por isso, e porque as músicas são muito boas mesmo.
Acho Foo Fighters legal. A maioria dos discos é médio para ruim, mas existem três legais: o primeiro, o the colour and the shape e o último. Everlong é foda, Dave Grohl é bacana, mas eles são um animal completamente diferente. Eles não representam tanto o ambiente de onde vieram. O Grohl já era famoso quando montou a banda, e ela é um dos vários veiculos que ele usa pra tocar a carreira sem esquentar muito a cabeça. E eu concordo com você, o Noel é mais talentoso que ele.
Para mim, o único cara que rivaliza com o Noel nos últimos 20 anos é o Damon Albarn (Blur, Gorillaz e The Good, The Bad and The Queen!)
Mas eu tenho a impressão que o próprio Noel não gosta muito desse disco. Na coletânea Stop the Clocks não tem nenhuma música do BHN, e nas últimas turnês eles não tocavam nada do disco…
Ele acha as letras desse álbum uma porcaria…
Eu gosto de muitas bandas ao longo do tempo. Pequenas, médias e grandes. Tenho em mente que o sujeito sobe num palco pra ficar numa posição superior ao resto do povo que ocupa aquele lugar, seja um estádio, um boteco, um ginásio…Eu acho que o rock foi melhor e mais sincero à sua gênese enquanto achou que podia conquistar o mundo e a mulherada. Quando nos tornamos distópicos, irremediavelmente neoliberais e pragmáticos, o rock produzido por esse mundo (pós-97), também ficou assim. Eu gosto dos caras que pensam que vão dominar o mundo, seja pela megalomania (Noel, Corgan, Beatles, Stones, Who), seja pela habilidade de ser confessional (Cohen, Wilco, Nick Drake), seja pela poesia (Dylan, Cohen) ou pela absoluta falta de pudor em mudar (Neil Young, Bowie). Quando vem uma geração de bancários que sobe no palco e não tenta dominar o mundo, eu perco o interesse. Entendem? Eu posso estar errado e lamentando uma época que passou – aliás, meus textos são sempre assim, não posso evitar – mas não custa cutucar o estabilishment.
Mac, sobre melhoras pós-2001, desculpa, acho que não, amigo. Sei que não estou tão a par da produção nacional pós-Hermanos como tu, mas acho que muito se perdeu. Sinto falta de algo de valor no mainstream, sinto falta de songwriters pop como um Lulu Santos, um Guilherme Arantes…sinto falta de bandas grandes sem que sejam necessariamente ruins. Me revolto discretamente em achar que a única opção que restou foi o aperto no bolso dos Hermanos que gera sua perene “volta aos palcos”. Acho que falta chancela de produtor, uso de estúdio, músicos hábeis, bons cantores, captação melhor de influências, informação, falta muita coisa, na minha maneira de ver.
Por essas e outras, cada vez ouço menos rock. Atualmente, o pop bem feito dos anos 70 é minha menina dos olhos.
Mac, só pra te provocar, vc escreveu num post sobre o fim do Oasis que eles não fariam falta alguma. Pode confessar, eles fazem falta, não????
Amaury, não fazem falta nenhum pouco. Não sou saudosista. Compro discos velhos e novos. Hoje estava ouvindo o deste ano do Wedding Present, discão. O do Frank Ocean tá bacana também. A lista é grande, e é uma pena eu não ter tanto tempo pra escrever como tinha antigamente, mas não fico pensando que essa ou aquela banda deviam voltar. Me atento nas que estão ai. Se voltarem, ótimo. Se não voltarem, ótimo. A música irá continuar existindo.
CEL, acho que já tivemos essa discussão aqui. Você se apega a um modelo de cenário que não existe mais, o qual alguns aqui no Scream & Yell (e em muitos outros sites independentes) lutam pra mudar: o mundo mudou, e a mídia brasileira não acompanhou. Há um leque variado de grandes artistas fazendo discos fodas no que pode ser chamado hoje em dia de underground, alguns destes melhores (em termos técnicos tanto quanto de composição) que os das décadas anteriores, mas não tem espaço.
Do jeito que você coloca a coisa, parece que o artista só é relevante se tocar muito, se vender muito, se fizer parte do establishment – e o fato de você citar o Los Hermanos (a banda que a Abril investiu tanto que inflacionou o mercado de jabá no Brasil ao ponto de ferrar tudo) demonstra que a referência é fazer sucesso, mas sucesso hoje é relativo por um montante de coisas que, provavelmente, teria dificultado o trabalho de Lulu Santos, de Guilherme Arantes e qualquer outro grande hitmaker dos anos 80 se eles tivessem nascendo agora. Voltando ao que eu disse pro Amaury, a música continua existindo. Só que antes ela era enfiada goela abaixo do público via rádios e TVs. Agora não: nós temos que ir atrás dela. É uma mudança radical de conceito, mas a Tulipa esgotou os ingressos de dois shows no Ibirapuera sem o disco estar nas lojas. As pessoas, de certa forma, foram atrás.
A massa de manobra vai continuar fazendo o que sempre fez: ouvindo o que outros (rádios e tvs) dizem que ele deve ouvir. Nos anos 80 era rock. Nos 90 era axé. Hoje é sertanejo universitário. A gente tenta mudar isso, sabe lá até quando, mas o problema não é a música que vem sendo feita (que, como disse alguém, continuará tendo grandes canções e lixos – sempre foi assim), mas a relação das pessoas com ela. Dai, vai de cada um. Boas músicas surgem todos os dias. E continuam e continuaram surgindo.
Tô mais com o Mac nessa, meu caro CEL.
E olha que, como diria o Travis, i´m tied to the nineties, é o meu tempo caramba. Por isso curti muito a parte do texto que revalida o “Be Here Now”.
Mas também gosto muito da geração 2001. Revigorou o rock pra mim. Eu, que já estava me bandoleando pras paragens da MPB, jazz e etceteras, fui fisgado novamente pelo mundinho rockenroll. Me afundei no Napster e Audiogalaxy, retornei às noites de rock, aos Tim Festivals, voltei a gravar minhas fitinhas, só que agora em CDs Maxwell.
É outra vibe, é claro. É outra época oras. Concordo também que, pós 2005, a coisa ficou Electropop demais, as guitarras sumiram além da conta. Mas ficar só lamentando o presente e acendendo velas ao passado é arriscar começar a ouvir KISS FM. Aí é só fechar a lojinha.
Entrevista do Noel Gallagher hj, antes do show no iTunes Festival: “vou tirar um ano de férias, pra evitar fazer um novo Be Here Now…”
Mac, te digo uma coisa: eu penso na música como uma forma de arte. Há algum tempo eu ainda a via da maneira errada: como informação. Claro que há que se informar para construir gosto pessoal e adquirir noção das coisas. Saiba que você tem minha admiração por conseguir ouvir um disco como o do Frank Ocean e achar legal, sem pensar em como a música negra já foi extremamente melhor, mais importante, mais musical, por assim dizer. Também invejo a visão não-saudosista e digo que não sou capaz de ter interesse pela produção atual como tenho pela produção que vai até meados dos anos 90, guardadas as exceções de boas bandas e artistas, que surgem sempre, mas cada vez em menor número, segundo minha visão. Eu me emociono com a música bem gravada, com os músicos virtuosos esbanjando talento, com boas letras e melodias pop ganchudas. Quando cito Los Hermanos, o faço ciente de que a banda demorou muito para ter o número de fãs que tem hoje, mas cito também porque os caras surgiram com algo realmente novo lá no fim da década de 90. Imagina, misturar hardcore e carnaval. Imagina fazer uma canção como “Anna Julia”, que parecia saída da trilha sonora de American Graffitti? Enfim, opiniões divergentes mas que convivem em harmonia, como tem que ser. Imagina como seria o S&Y 100% saudosista? Imagina como eu soaria se fosse defender a autenticidade de gente como GAby Amarantos, por exemplo, catapultada à novela das sete global? Enfim, seguimos juntos, concordando o suficiente, discordando o necessário.
Eu sempre a vi como arte. Isso explica a existência do Scream & Yell, que eu sempre quis que fosse um lugar para analisar e discutir… arte. Ou seja, música. E tamos aqui discutindo.
Los Hermanos pegou o bonde do Raimundos. Não era novidade. Como revitalização e aceitação do samba, a coisa pegou no segundo disco, que não vendeu nada, mas influenciou todo mundo. Porém, repito, não fosse o dinheiro investido pela Abril no álbum de estreia, eles seriam mais uma banda genial no underground, que estaria concedendo entrevista para sites independentes (como o Scream) e colocando o disco para download gratuito.
O fato da música negra ter sido melhor não invalida a produção atual. Não é porque comi em um restaurante maravilhoso em Paris no ano passado, que o bife com fritas aqui da esquina de casa passe a ser ruim. Às vezes, inclusive, o bife de fritas é até melhor, porque estou comendo ele aqui e agora, e não me alimentando de uma memória. Tudo é comida pra alma 🙂
É inegável a grandiosidade de Marvin Gaye, de Sam Cooke, de Fats Domino. Ouço quando sinto vontade. Eles falam de um tempo bonito, que não é o meu, mas ainda assim é bonito. Vou ali na estante, pego um, ele me consola, me acalanta e muitos deles conseguem traduzir o que acontece comigo assim que saio pela porta e enfrento o mundo. Muitos deles são clássicos.
Por outro lado, me interessa acompanhar como aquilo que eles fizeram lá atrás soa hoje. Por isso prefiro ir a shows a ficar em casa. Quero ouvir a música numa espaço aberto, sendo criada, sendo tocada. Poucos daqueles caras podem fazer isso, e uma molecada, talvez mais apaixonada que eu (talvez menos) está ai fazendo música. Isso me interessa mais do que qualquer coisa.
Gosto quando Jay-Z diz: “10 número 1 em seguida, quem pode ser melhor do que eu? Só os Beatles. Eu esmago Elvis Presley em seu sapato de camurça azul”. Isso quer dizer que vou gostar mais de Jay-Z do que de Elvis? De maneira alguma. Mas curto a provocação e curto a roubalheira de melodias do mesmo jeito que curto Banksy. O passado é um retrato na parede amarelado pelo tempo. Adoro ele, e não estaria aqui se não o tivesse vivido, se ele não estivesse existido, mas o que me mantém em pé, literalmente, é acordar respirando todos os dias.
É como ja disseram ae, falta no cenario atual uns caras tipo os Gallaghers, vindos do nada, da classe operaria, desbocados, beberrões, caras que tem aquele tino pra fazer rock com gosto, com aquela certa ambição, que não deixa ninguem indiferente.
BHN não foi o ultimo grande disco do rock, sem duvidas, mas concordo que foi o ultimo disco de rock com aquela “pegada”, aquela virilidade na musica que se perdeu desde então.
Mac, acho que não me fiz compreender. Vamos lá: minha opção pela música de outro tempo é estética. Isso não a invalida – claro – e não invalida a produção de qualquer época. Do contrário, qualquer admirador de música erudita estaria fadado a ter que se explicar perante um grupo de amigos. O que aconteceu com a música – e com o mundo – é que me fez optar por ouvir bandas e artistas “antigos” porque eles ainda são absolutamente novos, no sentido que suas fusões, composições, atitude e genialidade, via de regra, ainda não foram completamente entendidas/apreciadas. Isso não significa viver no passado e apenas do passado.
Todos temos que acordar cedo e batalhar o ar pra se respirar. Todos comemos trivial simples e só pisamos em restaurantes caros uma vez ou outra, às vezes nunca, só restando a alguns a admiração à distância ou via telefone sem fio. O que acontece é que cada um que leva a música pop mais a sério estabelece suas preferências e entende como vai agir. Um show de um velhote como o Roger Waters é capaz de me emocionar, algo que jamais aconteceria num show do Criolo, até porque, a relação que me restou com a música foi a da emoção, vinda da apreciação da arte. Por isso que disse que há a distinção entre vê-la como arte de vê-la como informação.
Eu, ao contrário de ti, prefiro pensar em como os sujeitos faziam discos daquele jeito, sem tecnologia, apenas no peito e na raça. É uma questão mais estética, até libertadora da “necessidade” de estar tão a par do que a molecada está fazendo. Deixou de me interessar em quase sua totalidade.
Sobre os Hermanos, insisto: em 1999 a situação ainda permitia, ainda que tenha havido investimento da gravadora (o que, me desculpe, era o normal e não deve ser reprovado), a banda tinha seu quinhão de originalidade. Só pode partir para o segundo disco com liberdade artística total porque fez sucesso no primeiro CD. Fico imaginando a porcentagem de bandas em atividade hoje – e nem precisa ser da linha de montagem de clones dos Hermanos – que gostaria de emplacar música em novela ou ter uma versão de um single seu com colo de um ex-Beatle. Essas coisas ainda são importântes, mesmo sendo de outra época e mesmo ela sendo tão recente.
Há um filósofo romeno chamado Emil Cioran, que diz que o passado não existe, o que existe é a interpretação que temos dele. Ou seja, Beatles, Elvis, entre outros, nunca existiram. Só “existem” porque as pessoas “lembram” deles, seja do jeito que mais lhes aprouver: como gênios, como obsolescência ou qualquer coisa.
Então, pra você, o que Criolo faz não é arte? E o que Roger Waters faz é?
Se você estivesse em 1969, Pink Floyd não seria arte. As Big Bands sim.
E eu me emociono mais em um show do Criolo…
Quanto aos Los Hermanos, me desculpe, reprovo sim a forma como a Abril quebrou o mercado pagando quatro vezes mais o que se pagava na época. Se você aprova isso também deve aprovar a especulação imobiliária, bem semelhante ao que o presidente da Abril na época fez. A bolha estourou, e as rádios nunca mais foram as mesmas. Me desculpa, eu não aprovo.
Nesse pensamento do Emil é preciso acrescentar algo: o passado é a interpretação que fazemos dele muitas vezes movido por terceiros (principalmente no mundo capitalista moderno). Beatles, Elvis e outros nunca deixaram de existir. Nunca foi nos dada a chance de viver sem eles. O que é memória real e o que é memória provocada? Nós gostávamos das músicas que tocavam 700 vezes por dia nas rádios por que elas eram boas ou por que elas tocavam 700 vezes por dia e nós aprendemos a assimila-las?
A questão que sempre tiro quando chegamos nesse ponto é que o importante não é a música, mas o valor que é dado a ela. Ou seja, as pessoas não gostam de música, gostam de valores.
Eu gosto de música. De 1625 a 2012. Ela me emociona e me faz entender o mundo. Recusar Frank Ocean, Vaccines, Katy Perry é recusar o agora (o que uma grande parte da sociedade já vem fazendo, conscientemente e inconscientemente). Eles são elementos de arte que servem para entender o que está acontecendo no mundo aqui e agora da mesma forma como Beatles explica os anos 60. Nessa análise entram todos os valores (Katy Perry é isso, Vaccines é aquilo) que nos mantém atentos. Entendo as pessoas que, como personagens de Woody Allen em “Meia Noite em Paris”, queiram viver na Belle Époque. No entanto, tal qual Allen, prefiro viver aqui.
VictorB, Songs For The Deaf é muito mais viril que Be Here Now.
O único “problema” (pra mim, virtude) dele é que é… focado.
Não, o que o Criolo faz é arte. Arte do século XXI. Eu prefiro a arte de meados do século XX, incluindo aí as big bands, orquestras de jazz…
Cara, o que eu quero dizer é que uma coisa não exclui a outra. Minha visão da música é parecida com a sua, ou seja, entendo plenamente que ela é o reflexo da sociedade, é produto da vida do nosso tempo. Eu prefiro o resultado desse mecanismo – que é constante – quando ele atuava em outra época. Aliás, nem tão distante de hoje, coisa de 20, 30 anos. Acho que o produto dessa relação sociedade-arte teve mais qualidade, mesmo usando os referenciais de hoje.
Eu não sei se o Pink Floyd de 1969, ano que eles fizeram o Ummagumma – um disco que eu não gosto muito – não seria visto por gente como você, na vanguarda das coisas, como arte. Seria, sim. Certamente haveria um monte de empedernidos para defender o passado, mas mesmo eles não seriam desqualificados por essa postura. O x da questão é apreciar o que mais te agrada, mantendo o ouvido aberto, até porque a sociedade muda, a produção da década de 2020 pode ser completamente diferente do que se vê hoje. E não se trata de viver no passado, cara. A sociedade não nos permite uma vida fora dos horários e compromissos do cotidiano apertado desse nosso tempo. Para atenuar seus efeitos, temos a música, aquela que mais gostamos, fruto de escolhas, experiências, juízos de valores etc. Recusar Katy Perry, Frank Ocean e, sei lá, Nicky Minaj, é fazer uma escolha estética, que não vai impedir de dar de cara com eles nas manchetes, nas resenhas da imprensa, nos clipes do Multishow, nos line-ups dos festivais e seguimos numa boa desse jeito.
Outro toque: se o presente não influenciasse nas nossas observações sobre a arte através do tempo, nunca seríamos capazes de reavaliar criticamente artistas e bandas. Desse jeito, jamais seriam observados o valor de gente como Abba, Carpenters, ELO, Ronnie Von, Erasmo Carlos e do próprio Pink Floyd ou do próprio Velvet Underground. Essa é a maior prova de que uma visão não exclui a outra e que elas são concomitantes. Talvez os críticos do Criolo acordem daqui a dez anos e compreendam o valor do seu trabalho e os entusiastas dele hoje, achem que as músicas ficaram datadas demais. Tá tudo em movimento, os tempos estão sempre mudando, o novo sempre vem, como disseram nossos amigos Dylan e Belchior. E mais: não precisamos viver na Belle Epoque, o mundo está em movimento e, pra muitos, a Belle Epoque é agora, é sempre ou nunca virá. Depende da visão personalíssima de cada um, o que gera papos legais como esse.
Sinceramente? Me deu uma puta vontade de bife com fritas agora!
Lembrei disso daqui -> http://www.youtube.com/watch?v=m-vkHXy6FF4
Hehehehe, meu episódio favorito de Friends – e olha que eu nem gostava tanto assim da série – é o do Joey aprendendo francês.
E essa converseira toda seria muito mais eficaz ao vivo, sob a luz de comilanças de beberagens.
Mac, longe da cabotinagem, mas seu texto no post 53 podia ser uma crônica à parte na primeira página do S&Y.
Eu, por muito tempo, fiquei insistindo comigo mesmo que, depois da primeira metade dos anos 90, a qualidade da música pop caiu. Aí, eu fui ver meus discos e vi que meu próprio acervo contradizia minha postura. Pra não falar que me incomodou perceber que eu estava falando como os “tiozões metal” que tanto me incomodavam na adolescência.
Pesquisando a discografia do Nick Cave para atualizar o texto do SY (calma, logo pinta aí), eu vi que o Dig, Lazarus, Dig!! e o Abbatoir Blues, tão desprezados na época, são tão bons (se não melhores) que muita coisa do Cave dos anos 1980. Aliás, definitivamente melhores.
E isso não invalida os velhos nem nada. Só diz que a música continua. Amém.
Sinceramente, se o rock morreu com esse disquinho do oasis… tinha era que morrer mesmo…
E, nesta discussão toda, tô muito mais com o Mac, que parece demonstrar muito mais “visão” de ontem, hoje e do futuro… O senhor CEL, como sempre, parece caminhar no rumo de um “fascismo” com os tempos atuais… Que tem um monte de bosta hoje, tem; que o público muitas vezes é débio mental, é; mas me diga, quando não foi assim???
Se coldplay e marron 5 são exemplos de imbecilidades que se criam, posso pensar em dezenas de outros exemplos da época de Be Here Now….
Se tu te emociona com Waters e não com Criolo, acho que isso diz mais sobre vc do que sobre qualquer um dos artistas em questão…
É muito fácil exaltar o passado (abundante, cheio de pérolas e porcos em diferentes proporções, bastando colocar a memória para funcionar e encontrar dezenas de clássicos e dezenas de micos) do que detectar o presente (ainda incerto, em construção, sem soma definida) e projetar o futuro…
Não sejamos tão apocalípticos, nem tão integrados, ora pois…
PS.: Be here now é fracote, nada muito melhor que os foo fighters que vc adora pegar pra cristo…
Acho que o Oasis tentou agradar a “geração cabeça de pentium” (isso foi ótimo) com o último disco, “Dig Out Your Soul”, uma bobagem sem tamanho, sem alma, vazio. Fez muito bem em acabar. Primeiro porque o Liam não aguenta mais cantar ao vivo, segundo porque o Noel também já não compõe como antes. O Be Here Now é mesmo tudo isso que você falou, e acho que outro disco do Oasis foi injustiçado na mesma proporção : “Don’t Belive The Truth”, de 2005, uma pérola esquecida, até ignorada.
Ah, o Blur pra mim só é relevante por causa do disco Think Tank. O resto é a coisa mais sem sal do mundo.
O mais importante é que o Be Here Now foi o último disco de rock de verdade, com intrigas, drogas, inspiração. O que veio depois não acrescentou nada à alma de ninguém. Lembro dos anos 90 com uma frase publicada na showbizz, que dizia que era uma década ótima quando você podia sair com discos completamente diferentes numa mochila e escutá-los no cd player portátil.
Alguém lembra disso? O mp3 liquidificou tudo, homegeneizou. Mesmo as novidades do Radiohead acabaram depois do Amnesiac, ficaram óbvias. Você ainda pode descobrir a melhor banda do mundo, pode fuçar nos blogs de rock alternativo, falar com pessoas do outro lado do mundo, mas parece que é cada vez mais difícil encontrar uma banda que dure mais do que um ano, um disco, uma faixa numa trilha sonora. O pop pode ser muito eficiente, mas o rock das grandes bandas realmente morreu nos anos 90.
Paulo Diógenes, eu não sou fascista, creia. Fascismo é quando a gente impõe o gosto, eu sou uma voz meio dissonante hoje em dia, note.
Gente, o texto é – como todos os outros que escrevo aqui no S&Y – uma visão pessoal sobre as coisas, quase sempre, sobre a música. Eu respeito todos os pontos de vista, desde os fãs do Bach aos do Criolo, apenas expresso aqui minha visão. Há quem concorde, ótimo. Há quem discorde, melhor ainda, porque, desse jeito, a gente evolui, não cria limo, nem perde o bonde da História. Apenas estou defendendo que a escolha estética pela produção musical e artística de uma época, não invalida absolutamente nada. Do contrário, a visão voltada apenas para o presente estaria igualmente errada. Apenas é impossível para qualquer pessoa deixar de estabelecer juízos de valor sobre o que gosta e o que não gosta.
Seu amigo McLuhan também não gosta muito do passado, entendo ele também, mas acho que ele preferiria o BHN a qualquer coisa que os Foo tenham feito após … 1998.
Bom, não vou nem entrar no mérito da ideia (esdruxula, na minha opinião) de que depois de 2007 não tivemos rock, afinal com os anos 2000 extremamente pulverizados pelo Mp3 fica fácil para os retrogados dizerem certas coisas mesmo sem terem escutado nem 1 decimo do que foi feito de relevante nos últimos 12 anos.
Agora, opinião de fã, daqueles que gravou Live Forever (o clipe) em VHS), tem todos os CDs da banda (na verdade estou comprando os discos de vinil agora, só falta o Standing) e acha o Noel um mestre jedai na arte da composição: Be Here Now é um disco fraco, muito fraco. Começa muito bem, é verdade, mas depois da terceira música, fica tudo muito ruim. A própria Stand By Me foi pessimamente recebida pelos fãs na época, e, se escutarmos bem, não é nada roqueira.
Se o rock realmente tivesse acabado nas mãos do Oasis, teria sido na transição do sujíssimo primeiro disco para o popular e clinicamente projetado What´s The Story, mas a ideia é estapafúrdia de qualquer jeito.
Quanto a reação dos habitantes do facebook a música, esses dias postei uma performance ao vivo do Sopundgarden tocando Spoonman, a galera foi ao delírio. Superunknow foi o último grande disco de rock, de forma alguma.
*1997, não 2007
Errei feio, Stand By Me é linda de morrer. A que eu me refiro como fraca e nada roqueira é Don’t Go Away.
Acho engraçado esse jeito de desenhar a História com um tempo linear, com Grandes Marcos. O problema é que esses marcos e essa lineariedade se exibem como advindas de Uma Verdade, com pretensa objetivdade, mas se apoiam em uma subjetividade escancarada: o “gosto individual” ou o “gosto de um grupo”.
Nem frases como “na minha opinião” conseguem disfarçar a pretensão e o engodo.
CEL, muito bom o teu texto!!!
A prova de que você acertou e da relevância do disco (para o bem e para o mal) é a quantidade de comentários publicados aqui embaixo. Prova de que é sim possível discutir música e que há gente interessada nisso.
Concordo com a ideia de último disco de rock, mas no sentido do rock com “R” maiúsculo, como elemento hegemônico da cultura juvenil e do mercado. Rock pretensioso, em todos os sentidos. O que não ocorre hoje, em que talvez o rap ocupe este espaço na mente e nos bolsos dos donos de gravadoras.
Abraço!!!
Gosto demais de OASIS, comprei BHN no lançamento, esperei ansioso pelo disco. É um excelente disco na minha opinião. Mas pra mim não é Rock.
Depois dos anos 80 pra mim Rock mesmo, no sentido estrito de tudo que o Rock representa, só mesmo Pearl Jam e Nirvana mais ainda o Pearl Jam. Assistam ao PJ20!
Vejam o clipe de Amongst Waves do cd backspacer do PJ. Eu acho que Rock é se importar com as situações pelas quais o mundo passa, não se conformar com o status quo e claro tocar esse tipo de música.
Qotsa faz música Rock mas não tem atitude é uma banda que se reune para tocar Rock.
Foo Figthers eu tenho vários discos, é uma boa banda mas é pop rock, por mais que o Dave seja respeitado, Foo é pop rock. Tem bons discos de pop rock.
Rock pra mim por tudo que ele representa mesmo praticamente morreu com o fim do Led, Who etc. Aquilo sim era rock’n roll.
Bom essa é minha opinião.
Ah, gostei do texto, muito bom como sempre. Gosto muito dos textos do CEL e do MAC.
vendo a lista dos melhores do MAC percebo o quanto a gente foi descendo ladeira abaixo no rock…
Pois é. Ladeira abaixo mesmo. Claro que há coisas boas aqui e ali, mas passaram a ser exceção.
Já eu não conheço sequer mais de uma música das bandas que o Mac listou.
É que não deu vontade de conhecer mais. rsrssrs
Acho que dos anos 90 pra cá os artistas surgidos no Brasil, não no mainstream, claro, são MUITO melhor.
PS: Gostei do comentário do Cel de número 55.
O que não entendo é por que as pessoas continuam se dando ao trabalho de ler sobre coisas que elas acham que acabaram 20, 30 anos atrás? Eu sei porque eu tenho um site. Sei porque tenho vontade de escrever 20 mil toques sobre um disco do Franz, do Arcade Fire, do Decemberists e do Bruce: porque esses discos me tocam de uma maneira especial, me fazem sentir muito mais vivo que ouvir um disco do Echo & The Bunnymen dos anos 80, que é uma banda que amo. Curto demais museus, mas não conseguiria viver dentro de um. Acho que ninguém tem que aceitar esse meu ponto de vista, mas dai tem tanto lugar melhor pra se reunir e falar sobre os áureos tempos. Não sei, sinceramente, o que acontece. Só sei que é o tipo de coisas que me faz perder total vontade de fazer o que faço. Bom, foda-se. Cada um, cada um. O mundo está uma grande merda e as coisas só vão piorar.
Bem, dessa vez sou eu quem digo: Fale por vc, Mac.
Eu não leio sobre essas bandinhas gringas, nem a pau!
Seu site, embora trate muito de tais bandas, é diverso e é por isso que o frequento.
No mais, sem estresse, man.
A vida é cíclica.
PS: Echo & The Bunnymen é um som pra lá de datado. Mas, veja só, um Hendrix não faz sua alma se sentir livre e viva?
Se não faz há algo de errado em vc tanto quanto no Cel – que se emociona mais com o, hoje em dia, fake Waters do que com o Criolo.
Acho que o tempo é o menos importante nisso tudo. São escolhas estéticas. O pulo do gato está no detalhe que há muita coisa, toneladas de coisas NOVAS nos anos 60, 70, 80, 90 que ainda não foram exploradas devidamente. O novo no sentido de inédito, de novidadeiro. Não me interessa ouvir uma banda de moleques de 17 anos refazendo o som dos anos 80 em 2012.
Eu, pessoalmente, tenho a maior felicidade em poder escrever sobre música aqui. Acho que é um espeço precioso e eu arrumo um tempo dedicado para fazer meu texto quinzenal. Penso no que vai ser escrito, pondero temas mas sempre caio na armadilha de escrever sobre coisas “velhas”, questionando o gosto atual. Ainda bem que o Mac segue editando essas baboseiras. 🙂
Desculpem, mas, sinceramente, não entendo a necessidade de declarar-se “velha” ou “nova” guarda, de ter que excluir uma coisa ou outra. De dizer: só ouço som de 70. Ou então: só ouço som de hoje. Nâo funciona assim.
Qual o problema de ouvir um flying lotus e, em seguida, um miles davis??? Um Led e depois um arcade fire?? Um tom zé e depois um radiohead??? Uma Céu e depois, sei lá, um Leonard Cohen??? Qual o problema?????
“O que não entendo é por que as pessoas continuam se dando ao trabalho de ler sobre coisas que elas acham que acabaram 20, 30 anos atrás?”. Concordo contigo, Mac.
Não há trabalho nenhum nisso. É como ler sobre algo que passou. Mas que não passou, porque modifica as pessoas e a compreensão se modifica continuamente. Desse jeito, ainda permanece novo. Entende?
Ah… eu também gosto do “Be Here Now” muito pelas características que você apontou, de ser um disco drogadaço e tal. Mas, pera aí, último disco de rock? No ano seguinte já teve o selft-titled do Queens… e mesmo na década de 2000 algumas coisas boas surgiram. Existem algumas cabeças dispostas a correr riscos ainda, mesmo que seja muito pouco comparado ao que o rock merece. O que faz falta é a tal “atitude rock’n’roll”, que o Oasis e outras bandas tinham. Mas calmaê, não morreu nada, não…
Concordo com o Paulo Diógenes
Acho que a gente tem que ouvir o que te toca…se foi feito em 1800 ou no ano 3000 pouco importa …
O mais importante pra mim é ter boa vontade e cabeça aberta…coisas que percebo que são cada vez mais raras em ouvintes de música… ainda mais eu que tive a formação mais calcada no heavy metal setentista e oitentista leio cada coisa…bom…com certeza vcs devem saber ao que estou me referindo… a banda do post aqui é non-grata nesse mundo…coisa que acho o mais completo absurdo … no mais acho que não formamos bons ouvintes…as pessoas tem uma mania muito grande em segmentar a música e achar que o bom, o bacana, o válido só pertencem aquele nicho…nossa..acho que me perdi totalmente no texto ..hehehhe
Abraços a todos
Que discussão sem sentido. Pelo pensamento do CEL então deveríamos todos nos aposentar. Para quê escrever sobre música se nunca seremos melhores que, sei lá, um Pepe Escobar. Ser escritor se nunca vamos superar Shakespere e Wilde, ser músico, montar banda? Pra quê se tem discos de Beatles e Rolling Stones? Por exemplo: Gosto muito de uma banda chamada The Thrills, de Dublin, Irlanda. Formada em 2001. Sei que o som deles é devirado de uma caminhão de coisas do passado, mas eles não me soam datados. É o tipo de música que eles gostam, oras. Vão salvar o mundo? Quem se importa? Eles me salvam umas boas tardes de verão, uma viagem na estrada e isso já deveria ser suficiente. (E me é). Não é porque já existiram Beach Boys, Birds, Beatles ou mesmo um Teenage Fanclub que invalida o que eles fazem. E eles são da minha época e fazem discos novos.
Fato :
1) Nenhum roqueiro ortodoxo considera o Oasis uma banda de rock.
2) O Oasis só fez sucesso e agradou com suas baladas. Os rocks nunca foram ouvidos.
3) O Oasis foi a melhor banda de rock dos anos 90. Mas não a mais importante.
Achismo :
1) Be Here Now é melhor do que todos os discos que o Radiohead lançou ou venha lançar.
2) Música por música, comparando, o Oasis tem os 3 melhores primeiros discos da história do rock.
3) O Oasis acabou quando Liam compôs a primeira (Little James, excelente diga-se) para discos do Oasis.
Samuel, assino embaixo sobre o que vc escreveu. E sobre o The Thrills, que banda excepcional, nada de novo, mas garante o sorriso no rosto. Escutei até gastar os 3 discos deles, principalmente o primeiro. Big Sur e Deckchairs and Cigarrettes são maravilhosas… Bom paro por aqui sobre o The Thrillls, isso é trabalho para os caras aqui do S&Y.
Concordo com o Mac, não há razão de se montar um site sobre música pra só ficar exaltando o passado, o importante é agora, goste você ou não.
Como admirador de Neil Young que sou, gosto muito do BHN, pois ele tem guitarras, muitas guitarras! Acho D’You Know What I Mean e All Around The World as mais fodonas. Hoje vejo essas bandocas coloridas e ironicamente sinto falta dos emos: pelo menos a camiseta era preta!
Abraço
Vive Le Rock!
Ah não, agora virou zona já. Com saudosistas dos ano 90 falando que não querem nem escutar o que foi feito depois, já virou piada esse texto.
Não é pra esse público que existem bons sites como este, saudosistas ignorantes são uma praga sem remédio, perder o interesse pelo Zeitgeist, pela música do tempo que vc vive agora, tudo bem, pode até ser. Mas dizer que não escuta e não quer nem saber, em um site como esse, não, por favor.
E por que esse saudosismo com um disco tão… ruim? A única diferença era a empáfia dos irmãos Oasis e o investimento massivo de uma multinacional, duas coisas que não fazem falta alguma.
Hoje podemos não ter essas jogadas, esses ídolos comercializados, mas temos música de qualidade de graça e um número cada vez maior de bandas consegue viver da própria música, ou vcs acham que sem o Mp3, Kurt Ville, Naked and Famous, Yeti and Lane e Primal Scream teriam vindo tocar aqui no Brasil?
É outra época, outros tempos, a música mudou, falar que não quer nem saber é ser igualzinho aquele cara que veste a mesma camiseta do Slayer desde 1988.
Acho “Be Here Now” um grande disco. E acho que seu maior defeito foi justamente esse: ser grande. Grande demais. Grande no tamanho e na ambição. O que era para ser (e tinha tudo para ser) épico e emocionante, acabou ficando over. Músicas maravilhosas como “Stand By Me” e “All Around The World” ficaram rançosas por que tiveram duração ridiculamente extensas. Mesmo caso da faixa de abertura (essa, até perdoável) e de “Magic Pie” (essa, imperdoável: música linda e singela, mas que acharam melhor extendê-la a absurdos e incompreensíveis 7:20 min.). Mas aí ouço “Don´t Go Away”, esqueço tudo isso e me lembro do quanto os caras são bons. Grande guitarra de Noel. Desde 1997 não ouço uma balada de amor mais simples, óbvia, direta e memorável que essa. Música inspiradora e com status de clássico, sem exagero.
Nessas situações, sempre lembro de algo que o Mac disse uma vez, que se não me engano, era citando alguém. Algo como “Só existem dois tipos de música: boa e ruim.”
É rock, é arte, é música. O grande disco dos anos 90, para mim, foi Ok Computer, sem dúvida. Talvez seja rock progressivo (quase não tem refrões), talvez rock mesmo (?), talvez algo novo (me surpreende até hoje). Mas é música, é arte.
E Be Here Now é bem lindão, apesar dos óbvios exageros.
Whatever, nevermind…
Sendo simples e direto, os problemas em Be Here Now são: músicas longas demais – sete das 12 faixas têm seis minutos ou mais e há um trecho em “Stand By Me” que poderia perfeitamente ser o final dela, mas continua depois –; Noel Gallagher menos inspirado do que nos álbuns anteriores – as canções não tinham o mesmo apelo, já que os refrões não eram tão marcantes e as letras tinham menos qualidade –; e algumas faixas fraquíssimas, como “My Big Mouth” e “Fade In-Out”.
Enfim, Be Here Now frustrou as expectativas. E para completar, a morte da princesa Diana, dez dias depois, enterrou de vez o hype do disco, já que as atenções se voltaram para a tragédia. Resultado: “Candle in the Wind”, do Elton John, bateu “Stand By Me”.
Vou ser sucinta. É um puta disco de rock, e ponto final.
e pensar que BHN é meu disco favorito deles, mesmo com todos os exageros…
o mais interessante é que sempre achei o oasis uma banda mediana. vou dar uma 2 chançe aos rapazes. agora falo realmente ´já não ouço radiohead com tanto entusiasmo. e tudo muito frio. com thom york e sua gang se cumpriu a porfeçia bowiana ” do deserto futurista congelado por sintetizadores” se aplica perfeitamente a musica do Radiohead. triste mundo……
Be Here Now foi o primeiro disco q eu comprei na vida, com 16 anos, e hj eu vejo o qto ele ainda é significativo pra mim, pro q eu me tornei, musicalmente falando. Através do Oasis eu cheguei nos Beatles, no Floyd, Led, Stone Roses, Smiths, Bowie, etc. Faz parte de uma cultura. Me sinto de muita sorte de ainda ter vivido um pouco dessa época onde o rock despertava grandes interesses e grandes paixões, tinha Oasis, Blur, Smashing Pumpkins, Silverchair, eram bandas q estavam no topo, nos holofotes, e não tinham medo de tocar pesado, colocavam distorção, estouravam pratos, etc. Eram bandas com músicos q gostavam de rock, q haviam se criado ouvindo o melhor das bandas das décadas passadas, e q focavam em pessoas q viam a música não como uma grife ou música ambiente, toque de celular. Hoje, tirando o QOTSA, o paradigma do q se chama rock parece apontar pra algo q o Daft Punk faz há décadas, um som de boate, frio, domesticado, e pior: sem a mesma competência dos homens-robôs. Coldplay, Arctic Monkeys, Franz, até o Arcade Fire mesmo, q começaram tão bem, hj se veem compartilhando timbres qualquer artista ordinário do pop e do hip hop americano q toca nessas rádios desgraçadas.
Se o rock morreu no BHN, seu fim foi com All Around The World, que bela morte.