entrevista por João Paulo Barreto
Primeira de uma série de 9 entrevistas sobre o Mercado Cinéfilo de Mídia Física n Brasil
Dentro de um mercado de que se encontrava combalido, no qual lançamentos em blu-ray se tornavam raros e 2020 se iniciava como um ano que parecia ser derradeiro para o consumo de filmes em mídia física no Brasil, um relançamento em blu-ray de um filme como “A Bruxa” se tornou um marco. O já clássico terror dirigido por Robert Eggers em 2015, ao reaparecer disponível para compra com exclusividade no primeiro semestre de 2020, acendeu a chama de um novo horizonte dentro do colecionismo cinéfilo brasileiro. A obra havia sido lançada há alguns anos, mas com uma tiragem que dividia-se entre varejo e locação, logo se esgotou.
O responsável por essa visão de mercado, o diretor comercial e fundador da FAMDvd, Fabio Martins, aprofunda nessa entrevista exclusiva ao Scream & Yell, a primeira de nove entrevistas dentro de um Panorama Retrospectivo do Mercado Cinéfilo de Mídia Física em 2020 no Brasil, essa mudança no mercado com o lançamento exclusivo de “A Bruxa” e de outros filmes exclusivos, um pouco da história de 12 anos da sua loja virtual, bem como outras experiências na busca de manter viva a ideia do colecionismo de filmes para algo mais concreto que a insegurança da perenidade e da baixa qualidade de som e imagem do streaming. Confira o papo!
https://www.famdvd.com.br/
Fabio, temos hoje um variado leque de serviços em streaming de filmes que têm determinado (e nivelado por baixo, friso) muito do gosto da audiência. São serviços que não são perenes, dependem de boas conexões de internet para entregar qualidade mediana de imagens e, ainda, delimitam o tempo de permanência de diversos filmes no catálogo. Na contra mão disso, o mercado de mídia física em 2020 vê um crescimento significativo de vendas, com a FAMDvD, por exemplo, trazendo um giftset exclusivo de um filme nacional. Você poderia falar um pouco sobre esse momento a partir da óptica da sua loja?
Sim. Sobre o streaming, também acredito nisso que você falou. Nos digitais, a pessoa pode até ficar feliz por ter um filme disponibilizado ali, ao alcance. Mas, aí, passam seis meses, um ano, esse filme some, e talvez nunca mais volte. Por isso, creio que nada substitui a mídia física. Sobre o giftset, para mim, se trata de um projeto que tenho muito orgulho de estar envolvido, um filme nacional. Quem dá destaque ao mercado nacional hoje dia? E o projeto teve um investimento alto, equivalente a um investimento em três títulos importados exclusivos. Faço esse comparativo pois é necessário. O mercado nacional é muito desvalorizado. Só que acho o seguinte: alguém tem que fazer alguma coisa. (N.E. A divulgação do belíssimo gifset do excelente documentário “Cinemagia” em blu-ray aconteceu em 13/09/2020, sendo detalhado em uma bela live do Blog do Jotacê, no dia 25/09/2020). Do mesmo jeito que a gente fez com “A Bruxa” lá no primeiro semestre, quando trouxemos de volta ao mercado. Muita gente falava que a mídia física estava acabando, que o fim do mundo estava chegando para a mídia física. Nós não acreditamos nisso. Sabe aquela frase do Kennedy sobre o que você pode fazer para o seu país? Se nós trouxermos essa ideia para uma comparação no mercado da mídia física, o que eu, Fábio, dono da FAMDvD, posso fazer pelo mercado? Não adianta ficar se lamentando. Tem que botar a mão na massa. Ninguém está investindo em cinema nacional. Você pode perceber. Há uma excelente versão em bluray de “Bacurau”. Uma edição formidável. Fico orgulhoso de ser brasileiro quando vejo uma edição como aquela. Você vê que a busca por “Cidade de Deus” foi tão difícil. Juntamente com o Valmir (Fernandes), da Obras Primas do Cinema, fomos atrás e, infelizmente, não conseguimos. Mas apareceu essa oportunidade de lançar o documentário “Cinemagia” em um gifset, em blu-ray, e eu não poderia deixar passar. Vou lhe ser sincero: daqui pra frente, teremos um carinho especial para investir no cinema brasileiro. Acho que é necessário. Porque, no Brasil, temos esse complexo de vira-lata em que achamos que o que é de fora é sempre melhor. E eu acho que isso não é o correto. Temos muita coisa boa no cinema nacional. E que vai desde curtas até longas metragens. Quem sabe, com a gente investindo, outras empresas vão atrás e começam a olhar para esse mercado. Acho que precisamos cada vez mais valorizarmos o que temos. É engraçado que, lá fora, eles valorizam muitas vezes mais a nossa Cultura do que nós, que estamos aqui. É impressionante.
Como surgiu a FMDvD? Você poderia falar um pouco da trajetória da loja até aqui?
Há 12 anos (2008) nasceu a FAMDvD. Mas eu já era colecionador antes disso. Cheguei a colecionar muito VHS. Sempre fui um fã de cinema. Gosto muito de documentários. Meu pai sempre me falou que eu devia ler muito, porque isso seria uma riqueza que ninguém tiraria de mim. Desde que eu era pequeno, meu pai me dava um livro para eu ler. Ao mesmo tempo, ele lia, também. Em certo momento, ele começou a me dar livros de grandes pensadores. E ele falou: “entenda esses homens que um dia você vai ter sucesso”. E eu era moleque. Meu pai, hoje, cuida de uma biblioteca comunitária. Sempre falou que, infelizmente, o brasileiro não dá valor aos livros e infelizmente o brasileiro lê pouco mesmo. O que é uma pena, pois dali sai tudo. Desde pequenas fantasias, grandes aventuras que podem um dia se concretizar ou não. Então, voltando à sua pergunta, sempre gostei muito deste mundo. Sempre fui um cara que não saia da locadora. Eu chegava à locadora e me realizava. Esquecia-se do mundo lá fora, de qualquer problema que eu tinha, e me perdia nas escolhas de qual filme ia assistir. Depois, as locadoras começaram a vender as fitas que já estavam lá há um tempo. Eu comecei a colecionar ali. Eu morava em uma cidadezinha no sul de Minas Gerais. Quando voltei para São Paulo, aos 16 anos (eu nasci aqui, mas minha mãe é de Minas Gerais, aquela que me criou), eu comecei a comprar VHSs novas. E comecei a aumentar a minha coleção. Depois surgiu o DVD. Aí comecei, na medida do possível, a ir trocando as mídias. Só que chegou uma hora que comecei a cansar de comprar e receber caixinha quebrada, a edição danificada. Tem uma grande empresa hoje, a B2W, que é dona das Americanas, ShopTime, Submarino, e que me trazia muito esse desprazer. Eu gostava muito de comprar com eles, mas, ao mesmo tempo, passava raiva toda semana. Porque chegavam embalagens com problemas. Aí você ia reclamar, era disque 1 para tal, e você não era atendido de jeito nenhum. Chegou certo dia, em 2008, que eu cheguei e falei: “Quer saber de uma coisa? Basta! Vou ter a minha loja”. Lembro que a minha esposa falou que eu estava doido (risos). Eu falei: “Vou ter a minha loja porque eu não aguento mais isso”. E eu não tinha capital. Sou de origem humilde. Fiquei me perguntando como poderia concretizar isso. Eu já era um colecionador que tinha muita coisa na coleção. Para nascer a FAMDvD, eu tive que sacrificar alguns itens. Os giftsets maravilhosos que eu tinha, precisei vender todos. Assim, fui conseguindo capital, fui comprando mercadoria. Fomos atrás de investimento em bancos e em certo momento, foi ganhando volume e, hoje, após 12 anos, podemos dizer que a FAMDVD está no caminho certo. Hoje estamos entre as cinco maiores lojas do Brasil. Eu tenho dois filhos, e o terceiro é a FAMDvD, que, por coincidência, nasceu no mesmo ano do meu filho mais velho. Com os 3 eu “tenho trabalho”, mas é um trabalho gostoso.
A FAMDvD arriscou investir no mercado trazendo para seu acervo de lançamentos um blu-ray exclusivo, que foi o do filme “A Bruxa”, esgotado até então em mídia física no Brasil. Como funcionou esse processo que viria, inclusive, se repetir com “O Barco”, filme que esgotou em 3 meses.
Para falar de “A Bruxa”, precisamos falar do Projeto Top Gun. Quando a gente começou com o projeto do blu-ray do filme “Top Gun”, pensamos muito sobre essa possibilidade de trazer um lançamento em blu-ray de um filme que estava esgotado. Pensamos muito sobre ser ou não viável. A pergunta era: “por que não pode ser feito? Alguém já tentou?” Porque, nas conversas que eu tinha com distribuidoras e outros lojistas, eles falavam o seguinte: “Olha, blu-ray acabou. Isso não dá dinheiro. Aqui no Brasil não vingou”. Só que isso me incomodava muito. Eu olhava para o Mercado Livre, o pessoal pedindo altos valores por filmes esgotados. Eu pensava: “A conta não está fechando. Como pode um produto ser tão valorizado por alguns, e quem está vendendo diz que não vinga, que não vende blu-ray? Procurei a representante da Sony. Ela meio que se surpreendeu quando eu falei. Eu estava acostumado a comprar volumes bem legais. Não chega a ser como era as Lojas Americanas nos tempos áureos. Mas, por exemplo, a FAMDvD é um dos maiores compradores de steelbooks (embalagem de mídia física mais prestigiada em todo o mundo). Acreditamos muito no formato. Procurei, então, a representante da Sony e falei que queria fazer um exclusivo com eles. A resposta foi de surpresa: “Como?? Um título só para a FAMDvD??” Confirmei e perguntei o mínimo de peças, que são mil. Ela achou estranho, porque somos uma loja pequena. Eram poucas pessoas que conheciam. Acabou sendo uma surpresa para eles. Naquele momento, até a própria Sony não estava acreditando no mercado brasileiro. Você pode verificar que, naquele momento (N.E. Começo de 2020), eram poucas coisas que estavam sendo lançadas. Com o “Top Gun” foi uma caso de erros e acertos. Aprendemos muito com ele. Ele não foi um sucesso de vendas, mas não desistimos. Com mais experiência resolvemos investir no filme “A Bruxa”. Esse, sim, foi um sucesso tão grande e que deu um pontapé na festa que virou 2020. Até aquele momento nenhuma loja ou distribuidora tinha lançado ou relançado nada em Blu-ray. Depois, fiquei sabendo que o sucesso foi tão grande que chegou até a ter uma reunião na Sony sobe o case “A Bruxa”. Eu fiquei sabendo não de forma oficial, mas nos bastidores, que discutiram sobre isso. E que foi algo muito legal. “A Bruxa” foi o filme que mostrou que nosso mercado está vivo. Isso abriu uma janela que, em seguida, permitiu a Versátil lançar uma coleção. Depois, trouxemos mais títulos. A The Originals também trouxe mais. Foi um momento pioneiro, difícil, mas que chamou muito a atenção para a nossa loja. Foi uma decisão arriscada, mas, ao mesmo tempo, nos trouxe um ganho muito maior do que o financeiro. Trouxe um ganho de fazer o colecionador conhecer a marca, de divulgação. Nós apostamos no produto e, ainda bem, acertamos. Acho que é exatamente isso. Porque, o colecionador, ele fica ali esperando como se fosse um tabuleiro de xadrez. Ele fica vendo qual quer vai ser a próxima jogada. Então, por exemplo, hoje (N.E. Entrevista realizada em 07/09/2020) anunciamos um giftset de um filme nacional que ainda não divulgamos o nome (N.E. O gifset do documentário “Cinemagia” foi anunciado em 13/09/2020). De repente, começou a ter um movimento maior na nossa loja. Muita gente acabou vendo essa notícia e entrou no site da FAMDvD para ver se achava alguma coisa sobre esse assunto. Nessa visita, acabou comprando outras coisas, outros produtos nossos. Acaba sendo uma estratégia de Marketing. Não deixa de ser.
Após esse lançamento de “A Bruxa”, em qual contexto veio a ideia de trazer “O Barco”, filme do Wolfgang Petersen, também há anos esgotado no Brasil? Você poderia trazer uma fala oficial da FAMDvD acerca de todo o imbróglio que surgiu nas redes sociais a partir de um problema que teria sido resolvido facilmente se, inicialmente, tivesse sido feito um contato com o SAC da loja?
Quando surgiu a ideia de trazer o blu-ray de “O Barco”, ficamos um bom tempo na busca para lançar. É um produto que custou muito mais caro que um exclusivo tradicional da FAMDvD, pois se trata de um blu-ray duplo. Sabíamos que no Mercado Livre estava sendo vendido por um preço altíssimo. Sempre falo para o colecionador. “Não compre. Não façam loucuras. É só um filme. Não é para trazer dívidas, mas, sim, diversão”. E aí confirmamos que íamos trazer esse relançamento. Tivemos o orgulho de anunciar como sendo o filme mais raro do Brasil. Só que foi impressionante por conta do peso todo que trouxe entre os colecionadores. A questão toda é que, quando foi lançando, não teve uma nova autoração. É a mesma master da primeira vez que foi lançado no Brasil, há anos. A master não tinha mais aqui no país, inclusive. A Sony, detentora dos direitos, não localizou a master aqui no Brasil. Mas indicamos para eles que na Sony da Coréia do Sul tinha a master com a opção de português. Eles informaram que haviam conseguido na Europa um master com opções de idioma em português. Isso para você ver a dificuldade. E o master é idêntico ao que havia sido lançado aqui. No disco 1, tem uma espécie de codec, um aplicativo chamado BD Live. Era muito comum nos primeiros blu-rays do mercado vir o BD Live. Esse codec se conectava à internet automaticamente e você acabava tendo alguns extras, algumas coisas a mais. Mas por que eu falei sobre o BD Live? Bom, quando começamos a enviar o produto para quem comprou, ficamos felizes por poder antecipar a entrega e tudo mais. Aí estava indo tudo bem. Até que uma pessoa postou no Facebook que estava desesperado, pois o aparelho dela tinha travado e que, supostamente, o disco de “O Barco” que havia causado isso. Só que, pelo nosso SAC, não tinha chegado nada ainda. Ficamos sabendo depois. No mesmo dia, mas depois. Nisso, se eu não me engano, em um post de alguém no grupo público do Blog do Jotacê, começaram os haters de plantão. Nós, então, colocamos na nossa rede social um aviso orientando às pessoas procurarem o SAC da nossa loja para que pudéssemos resolver. Pedimos para não ir em grupos de redes sociais, porque não é a via oficial para resolver. O canal oficial para reclamar de alguma coisa da loja é o número do WhatsApp que está na página e no email do SAC. Orientamos a fazer isso. E nada chegava para a gente. Quase 24h e nada chegava para a gente. Enquanto isso, lá nos grupos do Facebook, era uma coisa assustadora. Começou a ter milhares de reclamações. E eu observando isso e pensando: “Meu Deus, a tiragem é de 1000, mas eu estou vendo quinze mil reclamações lá”. E cada vez mais pessoas falando, falando e falando. Quando a pessoa usa Facebook, tem o nome da pessoa ali, a não ser que seja um fake ou um codinome, geralmente dá pra identificar. Então, eu fui checar os nomes de quem estava reclamando nos posts dos grupos e olhar o cadastro dessas pessoas na FAMDvD. A ideia era ver o número das pessoas que compraram e que foram nos grupos falar de defeitos no disco para que nós mesmos pudéssemos entrar em contato com elas e verificar qual foi o problema. Encontramos diversas pessoas que estavam ali reclamando e que nem tinham comprado o produto! Alguns que nem eram clientes da FAMDvD. Uma coisa bizarra! Aí entramos em contato com dois clientes que tinham falado que tinha travado e os orientamos. Explicamos que era improvável que tenha sido o disco, mas que não somos técnicos. Orientamos esses clientes a procurar uma autorizada da sua marca e conseguir um laudo. Esse laudo era necessário para que pudéssemos provar para a Sony que era o disco que estava travando o aparelho. A pessoa foi muito gentil. Foi procurar a assistência. O feedback que tivemos desse próprio cliente depois foi que a assistência técnica autorizada da marca do aparelho falou que não tinha como dizer que teria sido o disco que causou aquilo. Não havia como provar isso. Primeiro porque nunca aconteceu de disco algum queimar um aparelho. Nunca nenhum disco causou um travamento tão grande em um aparelho que chegaria a apaga-lo como se fosse um vírus. Nunca teve isso. Naquela primeira semana, foram seis pessoas que nos procuraram alegando que tinha tido algum problema e que queriam devolver o blu-ray. Testou e devolveu. Depois de um tempo, uma dessas seis pessoas nos procurou perguntando se nós poderíamos devolver novamente para ela o disco. Explicamos que ela já havia nos devolvido lacrado, que não era o procedimento. Ela explicou que não, que o que ela queria era o próprio disco que havia nos enviado na devolução. Isso porque ela havia visto comentários de clientes sobre o blu-ray estar normal. Quando falamos que rede social não é SAC de loja é no sentido de resolvermos o problema. Não queremos censurar o colecionador, jamais. Ele deve postar aonde ele desejar, mas se quer o problema resolvido precisa nos procurar. Como vamos resolver senão sabemos do problema?
Qual foi o posicionamento da Sony em relação a tudo isso?
Vale frisar que a Sony nos deu todo o suporte. A responsabilidade da venda, a responsabilidade junto ao cliente, é da FAMDvD. A responsabilidade da Sony é com o produto com relação à FAMDvD. Então, a gente faz um meio de campo. O produto é da Sony. Eu comprei deles e era a Sony que iria me dar esse feedback. E a Sony, em todos os momentos, me deu todo o suporte. Quem produziu o disco foi a Solutions. A representante da Solutions entrou em contato, se colocou à disposição, mandou retirar daqui as duas mídias que já tinham sido devolvidas. Foi para a Solution. Lá, fizeram testes em diversos aparelhos, videogames, e, depois de uns 10 dias, eles me deram um feedback dizendo que a mídia estava perfeita. Mas se tratava de um filme antigo e que não havia sido feita uma nova autoração. A autoração é a mesma. E tem o BD Live, que eu comentei antes. Então, em alguns aparelhos da LG, o Playstation 3 e 4, quando vai rodar esse disco, pode travar porque não reconhece o BD Live. Oficialmente, acontece uma incompatibilidade com alguns aparelhos. A orientação que a Solution passou foi essa. Era essa a informação que deveria ser passada para os clientes. Nesse meio tempo, a gente já estava entrando em contato com estes clientes. Quem entrava em contato conosco, nós informamos que não ia ter troca porque a mídia é a mesma. Que não ia ter recall porque era um número muito pequeno de pessoas. Informamos que íamos mandar uma etiqueta de devolução e, em seguida, faríamos o reembolso. Outras opções que deixamos disponível foi a dos clientes receberem um vale compras ou de fazermos um depósito ou de fazer o estorno no cartão de crédito. A FAMDvD se colocou à disposição para a ajudar aqueles clientes. Algumas pessoas perguntaram se poderia ser feito uma troca pelo mesmo filme. Explicamos que o produto era o mesmo. Que não era uma nova prensagem, um novo disco. Era o mesmo tipo de mídia. Alguns deles, então, optaram em ficar com o filme. “O Barco” é um filme tão desejado que eles acabaram indo atrás de um outro aparelho. Buscaram no mercado para comprar, para não deixar de rodar o filme. Então, é assustador como esse filme era tão desejado pelos colecionadores.
E vale frisar que já se encontra esgotado, isso após apenas três meses. Realmente, um fenômeno.
Sim. Inclusive, algumas pessoas me perguntam sobre o porquê de aparecer alguma edição de “O Barco” no estoque da FAMDvD. Isso vai acontecer. É normal. Estamos falando de 1000 peças que foram vendidas e que foram enviadas via Correios. No meio disso tem uma pandemia e, além da pandemia, uma greve dos funcionários dos Correios. Então, por conta do terrorismo que foi causado lá por aquele post inicial, teve clientes que ficaram com medo de comprar o blu-ray de “O Barco” e recusaram o produto. Nem chegaram a abrir e devolveram lacrado para a FAMDvD. Então, todos os produtos usados que serão devolvidos, vamos mandar de volta para a Sony. Os que devolverem lacrados, voltaremos a vender na loja. Por isso, às vezes vai aparecer uma ou duas peças à venda no estoque. Isso é por conta das devoluções de pedidos lacrados. As pessoas que tiveram esse receio inicial e não quiseram o produto. Foi um filme muito desejado, muito polêmico. E vou te falar algo. O que aconteceu com aquela postagem nos grupos do Facebook, e o que veio depois, foi algo que traumatizou a Sony. Os tons das críticas foram muito agressivos. Não só com a FAMDvD, mas muito mais com a Sony. Após isso, a empresa me falou que pretendia dar um tempo de lançamentos de filmes muito antigos. Isso porque eles precisam pedir aprovação a uma matriz, e essa repercussão chegou lá. Ele me falaram que isso ficou ruim. Então, ficou decidido que filmes antigos eles iriam pensar título a título. Haverá, pela Sony, uma avaliação para não correr riscos de acontecer de novo. Isso porque a marca Sony foi muito massacrada nessa polêmica gerada nos grupos das redes sociais. Para mim, é legal ter uma crítica construtiva. Eu acho que quando um problema acontece, a loja não pode se furtar de resolver esse problema. Se ela vendeu, ela tem a obrigação, pelo Código de Defesa do Consumidor, de dar o atendimento, atender a melhor forma possível e resolver o problema. Mas daí, ter um linchamento público, é algo muito complicado. Você deve conhecer a Classicline, uma loja super respeitada do Nordeste. O senhor Alexandre (Arrais), da Classicline, me procurou perguntando sobre o lançamento de “O Barco”. Ele disse que se tratava de um filme que era a cara dos clientes dele. E disse que queria umas peças para vender na Classicline. Eu achei perfeito! Ele sugeriu fazermos uma troca, na qual eu receberia alguns blu-rays da Classicline para vender na FAMDvD e enviaria algumas cópias do blu-ray de “O Barco” para ele anunciar no site da Classicline. Isso sem envolver dinheiro. Uma troca, mesmo. Observe, então, o que aconteceu e veja como é difícil esse mercado. Vejo como são os riscos que podem acontecer e levar a queimar o nome de uma marca. Observe as dificuldades atreladas a este mercado. O colecionador, lá no fundo, quer ser um roteirista. Então, existem muitas teorias de conspiração. No Facebook, logo após ser anunciado, apareceu um post de alguém falando que o blu-ray de “O Barco” estava sendo vendido na Classicline por R$54,90. Logo começaram a comentar: “Mas não é exclusivo da FAMDvD? Mas porque está mais barato que na FAMDvD?” Chegaram ao cúmulo de achar que o sr. Alexandre, da Classicline, que é um cara super respeitado, tinha comprado estes que eu falei que tinham sido devolvidos abertos. Espalharam no Facebook que ele tinha relacrado e vendido. Olha que absurdo! O filme “O Barco” é polêmico em todos os sentidos. É um excelente filme e que mexe com as emoções de todo mundo. Lembrei agora que o Juliano, do Blog do JC, falou em uma Live que o Facebook não é o melhor canal. Eu estava presente na live, também. Ele explicou que o algoritmo do Facebook acaba promovendo assuntos polêmicos e muito comentados de uma forma que fica cada vez maior. O próprio Juliano disse, e eu concordo com ele, que às vezes é melhor o Instagram, às vezes é melhor o Twitter. Porque o Facebook facilita a vida do hater.
Em meio a um 2020 de lançamentos com tiragens esgotadas, diversas lojas trazendo boxes de coleções de diversos(as) cineastas em blu-ray e DVD, um movimento considerável diante de um período que tinha tudo para ser ainda mais desolador para o mercado, vemos a Disney anunciar que vai parar de lançar títulos em mídia física no Brasil. Como varejista e um dos responsáveis por esse levante do mercado nesse ano, como você analisa essa decisão da Disney?
O problema da Disney é um caso único. Uma comparação pode ser feita assim. Imagina um gigante. E você ali embaixo. Ele não te enxerga. A Disney é assim. É tão grande, mas tão grande, que ela ignora a presença dos colecionadores no geral. Para ela, o que fatura a Disney no Brasil é tão irrisório, que não faz a diferença para eles. Para eles é muito mais fácil parar. Eles estão tão lá em cima, que eles olham para baixo e não conseguem enxergar o mercado brasileiro. Para eles, é um mercado que não existe. E isso é um erro por parte da empresa. Por exemplo, a gente estava fechando um lançamento com uma tiragem de três mil peças do blu-ray de “Uma Linda Mulher”. Um exclusivo com três mil peças. Seria outro pioneirismo nosso que ninguém pegou, ninguém quis arriscar trazer um exclusivo da Disney. João, não quero parecer arrogante dizendo isso. Sou uma pessoa humilde, mas nas estratégias de mercado, eu gosto de ser agressivo. Na ocasião, a ideia era divulgar a minha marca ainda mais e trazer um clássico como “Uma Linda Mulher”. Por que não pode ter a chance deles aqui? Cara, foi bizarro. A representante da Disney entrou em contato lá com os Estados Unidos e eles falaram que não tinha essa master em português. Quando ela me trouxe isso, eu falei que tanto tem em português, que eu tenho em minhas mãos aqui uma edição que é dos Estados Unidos com áudio e legenda em português do Brasil. Nem ela acreditou! A Disney é tão gigante que não teve nem o trabalho de se certificar realmente se tem ou não. Simplesmente achou melhor dizer não. Então, quando teve esse sim, a gente começou a negociar. Ia sair em dezembro esse título. Mas, infelizmente, a Disney tomou essa decisão de sair do mercado de mídia física aqui. É isso. Eles são tão gigantes, que o mercado brasileiro é irrisório. Mas, para você ter uma ideia, eu procurei o representante da Disney e perguntei se não havia como eles pararem para observar que, três mil peças, é uma tiragem muito grande para o Brasil. Fazem tiragem de três mil peças de um título e elas ficam com boa parte paradas no estoque. Isso inibe a você trazer outros títulos. Não tem condições de você subir para R$49,90 e fazer uma tiragem de mil peças? Aí ela falou que o dono da Cinecolor, que fabrica os filmes da Disney aqui, tem orgulho de vender o blu-ray mais barato do Brasil. João, observe, no meu ponto de vista, isso é um conceito básico da administração. Você não pode ficar fazendo muito estoque. Você tem que vender rápido o que você tem, porque, senão, você tem que pagar aluguel de depósito e sua mercadoria fica lá parada. Isso é dinheiro parado. Então, é muito melhor pegar três tiragens de três filmes diferente com mil peças cada um e vender por um valor um pouco maior. R$49,90 é o preço que eu vejo como um ponto de equilíbrio entre os grandes preços. Assim, dá para conseguir um giro maior de títulos. Dessa forma, podemos chamar a atenção da Disney. Eles iam constatar: “Olha, até que não vira tanto de dinheiro lá, mas o Brasil está a toda hora produzindo títulos diferentes”. Se você analisar bem, é só estudar um pouco o mercado. Pega o mercado da Disney. A Disney, com exceção dos filmes pipoca da Marvel, Pixar e do Star Wars, que sai um por ano, não tem mais nenhum. Mas quando parou a série Marvel, a Disney, com a Cinecolor aqui do Brasil, congelou. Aí trouxeram um relançamento de clássicos depois, mas ficou um tempão sem. Agora, trouxeram uns filmes da Fox que o pessoal queria tanto. E parou. Não teve mais nada. Uma estratégia do mercado é aquela que diz: “Só é lembrado quem é visto”. Se tivessem feito tiragens menores, poderia ter, por exemplo, o “Herbie – Se meu fusca falasse”, poderia ter o “Uma Linda Mulher”. Poderia ter “O Caldeirão Mágico”, um clássico da Disney que sumiu do mercado. E tantos outros. “Mas, por que pararam? Ah, porque o esquema de 3000 mil peças. Ah, porque ‘John Wick3’ , por exemplo, não vendeu”. Mas não vendeu porque são três mil peças. Quando lançaram “Vingadores 4” e “Capitã Marvel” em steelbook, aconteceu uma coisa que acho feia para com o colecionador. Chamaram de edição limitada. Aí correu todo mundo para comprar. Depois eles viram que vendeu bastante, e lançaram outra tiragem no mercado. Um erro. O colecionador quer sinceridade. Ele quer transparência. É uma edição limitada, mesmo? Então, ela é limitada. Esse giftset que eu vou trazer (N.E. Entrevista feita em 07/09/2020) tem tiragem de mil peças. Ele vai de 1 a 1000. Ponto. Não vai ter mais que isso. Pela primeira vez, eu vou colocar uma edição limitada. Por que? A pessoa comprou agora e, lá na frente, eu não vou lançar de novo esse título. Então, eu acho que é isso, João. A Disney errou por diversos motivos. No meu ponto de vista, errou no preço e errou nas tiragens gigantescas. Com isso, não teve um giro de capital, um giro de títulos, que acabou não chamando a atenção da Disney nos Estados Unidos. Ficou aqui isolado. Concorda comigo? Imagina você ligar para a Disney três vez em um ano para ficar pedindo títulos? É muito pouco. Você tem ficar esperando eles mandarem os filmes blockbuster que saem lá for. Pedir mesmo, daqui do Brasil, são muito poucos. Você pode verificar. O que lançaram por conta própria aqui são poucos. Não são muitos. Isso, também, eu acho um erro. Mas os principais erros foram preço e tiragem de três mil peças.
Sobre as redes sociais, aplicativos de mensagens como o WhatsApp, grupos de colecionadores que têm entre os participantes os próprios donos de lojas e distribuidoras em um estreitar do diálogo e do contato entre estes e seus cliente. É um nova maneira de se construir um comércio saudável. Eu não vejo, por exemplo, um representante de uma Amazon da vida fazendo o mesmo. Isso é algo que nutre bastante o mercado, inclusive.
Modéstia à parte, João, eu fui um dos primeiros a participar desses grupos. Comecei a participar dos grupos do WhatsApp e do Facebook, e, muitas vezes, eu me deparava com alguma dúvida de um colecionador. E ficava observando. Às vezes, era uma dúvida simples, mas que poderia gerar algo maior. Aí eu pensei: “vou mostrar ao colecionador que eu quero ouvi-lo”. Costumava perguntar qual título aquela pessoa achava que ia ser legal ver na loja. E começava um diálogo. Aí, no whatsapp, eu passei a atuar mais nos grupos. Depois veio o Déco (André) Melo, da Versátil. Acho que o primeiro grupo que eu entrei foi o A Hora do Filme, e em seguida o André participou do mesmo. Hoje, tem o Cult, que é pra mim o melhor grupo de WhatsApp por conseguir concentrar empresas, lojistas e fabricantes junto com o colecionador. O que é formidável. Lá atrás, o que percebi, e que foi algo que também percebeu o André Melo, é que você estar próximo aos colecionadores lhe traz uma grande vantagem: sentir, exatamente naquele momento, o que o colecionador quer. E, às vezes, o título que você está querendo lançar pode ser não o melhor título. Ele pode ser aquele que fica em terceiro, quarto lugar. Por exemplo, “Zumbilândia 2”, eu não ia trazer. Tinha outros títulos mais importantes para trazer. Mas o que aconteceu? Eu vi que, de quatro enquetes que tiveram no Facebook, ele venceu em três em primeiro lugar. Eu pensei o seguinte: “Vamos mudar um pouco a estratégia. O colecionador é que manda. Vamos colocar o ‘Zumbilândia 2’”. Quem faz a curadoria dos nossos títulos, além de mim, é o próprio colecionador. “Spartacus”, por exemplo, foi ideia minha. Eu quis trazer não somente por ser Kubrick, por estar esgotado, mas porque ia encaixar com o lançamento da Versátil (N.E. Na ocasião, a Versátil anunciou lançar “Doutor Fantástico” em blu-ray e novas tiragens do “Essencial Kubrick”). Eles lançam lá, eu lanço esse aqui. Ponto. Já “As Patricinha de Beverly Hills” foi o colecionador que escolheu. Ele teve essa voz. Íamos trazer “As Patricinhas de Beverly Hills” agora? Não, a gente não ia trazer. Mas, você não tem noção de como eles pedem para nós. Então, essa proximidade com o colecionador é vantajosa para nós, lojistas, distribuidoras, que vamos lançar algo que vai vender. E, também, para o próprio colecionador, pois permite que ele se aproxime de quem decide. Eu recebo dezenas de mensagens via WhatsApp e por e-mail todos os dias com sugestões de títulos. Filmes que eu nem sabia que existem com legendas e áudio em português. Mas o colecionador sabe. Saber dizer até o país onde saiu aquele filme com a legenda em português. Então, como é que eu não vou respeitar o poder do colecionador? Eu costumo dizer o seguinte: a FAMDvD é apenas a ferramenta. Quem decide é o colecionador. Sem ele, a gente não é nada. Pode parecer demagogia, mas é verdade. Dependemos do colecionador para comprar. É uma questão de humildade, também. De perceber o quanto essa escuta é importante. Eu tenho que ter sempre a humildade de ouvir quem paga as minhas contas. Porque se eu perder essa humildade, acabou! Eu acho que vai ser o primeiro passo para o fracasso. Porque quem paga a minha conta é o colecionador. Então, tenho que respeitar isso. Nada mais justo. Já que é ele que compra, por que ele não pode participar na decisão de qual título trazer? Lembrando que numa ação inédita no país deixamos um grupo de colecionadores do Facebook anunciarem um título inédito. Até aquele momento loja nenhuma tinha feito isso. Foi o “Halloween” anunciado pelo grupo Fora de Catálogo.
Nesta proximidade, eu vejo surgir exatamente isso que comentei entre as lojas que, podemos dizer, são concorrentes. O diálogo entre as empresas cria uma maneira de fazer negócio na qual ganha o colecionador e o varejista.
Há uma questão de estudo do mercado, também. Lançamentos que você precisa analisar. O Valmir, da Obras Primas do Cinema, é um grande parceiro. O Fernando, da The Originals, é um cara de quem eu me aproximei ultimamente muito. Eu liguei para ele e falei que tínhamos que nos alinhar. Salientei que, por sermos menores, temos que unificar forças. Não é combater ninguém, como algumas gigantes da vida. A gente tem que unir forças para continuarmos fortes. Porque, uma hora dessas, a gente pode sentar na mesma mesa, chegar junto, sentar com a distribuidora. Conversar se ela pode fazer um preço melhor caso a gente compre em conjunto, ou algo do tipo. O que acontece é o seguinte: eu não sei se o Valmir pensou nisso, mas, eu lancei o “Halloween”, filme de 2018. É válido imaginar que a Obras Primas do Cinema viu a vibe desse lançamento pela FAMDvD e isso pesou na escolha de lançar o box com os filmes originais. Nesse lançamento, eu fiz algo que nunca tinha feito com ninguém, com nenhuma loja: assim que o Valmir falou para mim que ia lançar o pack do “Halloween”, eu fui na rede social da FAMDvD e postei: “Gente, todo mundo que comprou o ‘Halloween’ na FAMDvD, aproveite e complete sua coleção. Compre na Obras Primas o lançamento”. E coloquei um link de uma loja concorrente, mostrando o produto dele, incentivando a comprar. Porque não tem problema nenhum. O mercado é o mesmo. Eu acredito que, quanto mais lojas existirem no mercado, melhor. O “Spartacus”, por exemplo, era um desejo meu lançar. É um excelente filme. Mas quando eu vi que a Versátil ia lançar o “Doutor Fantástico”, e ainda anunciar o relançamento do “Essencial Kubrick”, eu vi uma oportunidade. Complementar o que eles iam lançar. Você tem que estudar o mercado. Nada na vida, se você lançar ao acaso, a chance de dar certo é 100%. Não! Agora, se você fizer um estudo, começar a ler nas entrelinhas, ouvir o colecionador, ver o que os concorrentes indiretos e diretos estão lançando, começar a observar ao seu redor, a chance de dar certo é muito maior. Muitas vezes você tem uma chance apenas. Não dá pra desperdiçar. Você tem que acertar no alvo. Calcular as chances. Não pode atirar de qualquer jeito. Tem que calcular, ver qual será a estratégia para acertar esse alvo. Recentemente conheci o Sr. Alexandre da Classicline e traçamos uma estratégia de lançarmos em parceria alguns exclusivos. Virou um parceirão, considero um grande amigo! Vai ter muita novidade boa em 2021 devido a essa parceria.
Hoje temos uma média de preços que varia entre R$29,90 e R$69,90 para lançamentos simples. Há uma frase bem marcante que aborda essa questão dos valores dos filmes em mídia física: “R$29,90 é o novo R$9,90”, referindo-se à incapacidade de se manter uma margem de lucro para as lojas menores competirem com uma gigante tal qual a Amazon. Dentro da sua perspectiva de mercado, qual a faixa de preço saudável visando a perenidade deste varejo?
Essa frase “R$29,90 é o novo R$9,90”, inclusive, é minha. Falei em uma live do Blog do Jotacê durante uma conversa com a economista Andrea Fil, que participava, também. Ela trouxe reflexões excelentes. Eu falei: “Gente, vocês têm que tomar cuidado porque o R$29,90 de hoje é o R$9,90 de ontem”. Ele é o novo R$9,90. Até o Juliano (Vasconcelos, editor do Blog do Jotacê) já confirmou isso. Ele reconheceu que, lá atrás, quando ele promovia o R$9,90, fez mal para o mercado. Loja nenhuma consegue sobreviver vendendo produtos abaixo do preço de custo ou ao preço de custo. E a gente vê o caso de Cultura e Saraiva para mostrar que isso são fatos.Tem um preço. Como pode uma loja vender a R$26,00 (R$29,90 com o desconto), quando esse é quase o preço de custo? Não tem lógica. Quando vai uma loja e vende assim, ela quer canibalizar o mercado. E isso não é nenhum discurso nacionalista, porque acho que comércio não se mistura com política. Mas o que não dá é para uma empresa dos Estados Unidos, multinacional, canibalizar o mercado brasileiro, destruir lojas menores, e a gente achar que está tudo certo. Lembro de um link que o André Melo me enviou no qual tinha um dono de uma editora contando, super emocionado, a história dele. A tiragem dele era comprada em sua totalidade e, depois, era vendida mais barato que a própria loja da editora. E isso acabou com a loja. Para sobreviver no mercado, eu acredito que exista um preço de equilíbrio. Esse preço, na minha opinião, para um disco de blu-ray simples, ele vai ficar em torno de R$49,90. Quando uma loja vende a R$39,90, tem a ver com tiragem. Por exemplo, quando é a Cinecolor, é pelo fato da tiragem ter 3000 peças. Quando a gente faz 1000, o valor é diferente. Por exemplo, o meu colega, o Fernando Alves, da The Originals, ele fala assim: “Fabio, mas a pré-venda já foi a R$39,90”. Mas diversas vezes nós já conversamos. A margem é tão minúscula, mas tão minúscula, que se ele tiver qualquer coisa errada, ele tem prejuízo. Por exemplo, uma pessoa liga para a gente agora e fala que a caixa não chegou. Nós podemos até explicar que o atraso é devido à pandemia, à greve dos Correios, mas muitas vezes, o colecionador pode falar que não quer saber. Ele quer receber o produto dele. Ou quer o reembolso. Muitas vezes, não somente eu, mas também o Fernando, da The Originals, o Valmir, da Obras Primas, a gente manda uma outra caixa, ou tem o reembolso. E isso tem um custo. Envolve envio. Quando a pessoa receber o produto lá, eu vou ter que pagar a etiqueta de devolução. Muitas vezes, por exemplo, o frete para Manaus custa R$60, R$50. A gente tem que pagar o frete para ida, o frete para a volta. “Ah, mas aqui a gente trabalha com Carta Registrada”. Sim, para enviar, tanto a FAMDvD, quanto a The Originals, a Obras Primas e a Versátil tem essa opção. A gente consegue enviar via Carta Registrada. Mas, não sei se você sabe, a maioria das agências dos Correios pelo Brasil a fora não aceita que você poste essas encomendas via Carta Registrada. Um cliente de Manaus me falou que não podia enviar por Carta Registrada, pois a agência lá não aceitava. Eu sugeri mandar para ele uma etiqueta de PAC. Isso custa R$30,00 ou R$40,00. Muitas vezes, o pedido dele custou R$50,00. Você entende? Temos um custo fixo da empresa, além desse prejuízo a mais todo mês com os envios. Se você fizer essa mesma pergunta para outras lojas, eles dirão a mesma coisa. Porque a gente tem uma despesa que os Correios nos dão, devido ao mau serviço prestado, que é gigantesco. Todo mês tem. Infelizmente. E se você consegue vender muito abaixo, você não tem margem para pagar isso. O que acontece? As pessoas fecham! As pessoas fecham as lojas. Não dá! Por isso que o preço de equilíbrio que eu achei não é para ganhar muito dinheiro, não. É para você conseguir ter uma margem de lucro e ter receita para pagar as despesas que todo mês tem. Uma delas, por exemplo, é essa em relação aos Correios.
Em relação a outras opções de envios, como transportadoras, como isso se adéqua ao mercado?
A transportadora trouxe um alívio para nós, no meu ponto de vista. Por que muitas vezes o cliente vê que para receber uma encomenda pelos Correios, leva às vezes 20, 30 dias úteis. E a transportadora, não. Cinco a sete dias, o produto é entregue. O cliente prefere a transportadora. Há 15 dias (N.E. Entrevista em 07/09/2020), fizemos um acordo com a JadLog. Ela está de forma oficial na nossa loja. Então, o que acontece. A JadLog vai lá, o pessoal calcula o frete, chega a um valor aceitável, e o cliente paga. O valor do frete que está ali já é um frete menor. Se ele fosse contratar à parte, às vezes poderia sair mais caro. Ajudamos ao cliente e o cliente nos ajuda. Como? Quando ele compra com a JadLog, ele acaba tendo um prazo certo para chegar. A transportadora, hoje, é mais confiável que os próprios Correios. A transportadora veio para ficar. Ela agrega valor ao negócio. O cliente até queria pagar um frete mais barato, ele queria um frete gratuito, mas ele acaba aceitando pagar R$10 ou R$15 de transportadora para conseguir receber o filme no prazo certo ou no mais próximo do prazo desejado. Porque a transportadora segue em outro esquema. Quer um exemplo? Às vezes, eu vou mandar uma encomenda para Sorocaba, que é perto daqui, e o Sedex demora três a quatro dias. Com a transportadora, eu mando às 20h, e, no dia seguinte, ao meio dia, está lá. É uma diferença muito grande.
A FAMDvD é uma das poucas lojas a oferecer opções de parcelamento em mais vezes, chegando a 10 ou 12 parcelas. Como funciona mercadologicamente para a loja esse processo, evitando prejuízos e mantendo um capital de giro? A loja tem de volta os valores das financeiras mês a mês, ou logo no primeiro vencimento, com o pagamento de alguma alíquota?
A FAMDvD foi a primeira loja a oferecer a opção de 12x sem juros. Por que, assim, eu penso como um colecionador. Nos grupos do WhatsApp, eu via que várias pessoas comentavam que queriam alguns títulos, mas estava puxado para eles naquele mês. E víamos que os parcelamentos nas outras lojas era de 3 a, no máximo, 5 vezes sem juros. Realmente, se eu parcelar em 12x sem juros, eu só recebo a primeira parcela daqui a 30 dias, e o restante daqui a um ano. Então, demora. Uma coisa que eu vendo hoje (N.E. Entrevista captada em 07/09/2020), só vou receber totalmente em agosto/setembro do ano que vem. Só que, João, tudo que é combinado não é caro, como dizia meu avô. Então, é o seguinte: eu planejei isso. Esse valor que eu vou receber durante um ano, eu já estou trabalhando com o dinheiro de vendas que eu fiz o ano passado. Então, é uma roda. Difícil é o início. Depois que começou, você já vai no automático. Eu jamais vou deixar de oferecer o pagamento em 12x sem juros, porque eu acho que isso ajuda muito ao cliente. São tantas despesas que o cliente já tem no dia a dia que, para comprar um supérfluo como um filme, tem que ter algum incentivo. Não pode pesar. É como eu costumo dizer. É só um filme. Ele precisa trazer prazer para a pessoa que coleciona, para o dia a dia dela. Ele não pode trazer apreensão e arrependimentos por conta de uma compra precipitada para o orçamento. Na nossa loja, fazemos questão de manter a opção de 12x sem juros. Volto a dizer: não vou tirar essa opção nunca. Pode me cobrar! É uma facilidade que você dá para o cliente. E ele fica agradecido. Isso acaba atraindo clientes que vão comprar mais na nossa loja justamente por isso. Quando saiu esse pacotão da Disney agora, diversos clientes nos procuraram e compraram com a gente. E isso justamente porque o valor era mais elevado e ele pôde parcelar em 12x sem juros. Maravilha. Isso é uma vantagem.
Você citou a Disney agora, acerca dos produtos que ainda estão no mercado, e eu queria voltar a abordar a saída dela. Como ficou os estoques de filmes dos estúdios Disney para compra pelas lojas? Já vi que tem muitas gente especulando no Mercado Livre. Como isso impacta para as lojas?
Assim que fiquei sabendo da saída da Disney, ao invés de me lamentar como colecionador, meu tino comercial falou mais alto. Peguei o telefone, liguei para o representante, e pedi a planilha. Disse a ele que o que eu pudesse pegar naquele momento, eu pegaria. Porque, é aquele negócio. Se eu não compro, vem uma Amazon da vida e compra. E não temos condições de concorrer com o capital que ela tem. Então, assim, todas as lojas correram para a Cinecolor. Eu posso dizer a você que, literalmente, vai chegar aqui uns dois caminhões de mercadoria. Mas isso é pensando a longo prazo. Eu posso lhe garantir aqui, João, que os preços que pratico hoje, vou continuar praticando amanhã e vou continuar praticando daqui a um mês, vou continuar praticando daqui a um ano. Pode entrar no meu site agora, tirar o print e me cobrar. Porque é o que eu falei para todo mundo. E na live do Blog do Jotacê eu disse isso. Não pague caro em sites como Mercado Livre. Compre, mas não pague caro. Porque não precisa. Se você tiver paciência, as coisas saem. É só você pegar e refletir sobre o que vai ter urgência. Disney está saindo agora. Então, o cliente pode procurar as lojas e comprar o que pode agora. Pode comprar aos poucos, pode parcelar, também. Sem depender do Mercado Livre. O Mercado Livre não é um amigo do colecionador. Pelo contrario. Ele é o inimigo. Aqui na minha loja, tem filmes que são exclusivos e que já estão sendo vendidos no Mercado Livre há um tempo. E eu não posso limitar o número de compras por pessoa. Eu até já falei isso em uma live que eu acredito que, no Brasil, as pessoas que compram mesmo no mercado de blu-rays, é algo em torno de 700 a 800 pessoas. Eu dependo de vender, para, assim, conseguir verba e trazer outros lançamentos. É o que eu falo para todo mundo. O filme está anunciado lá por R49,90. Pode ficar à vontade para parcelar. Depois que sai do estoque e acaba, as pessoas vão encontrar no Mercado Livre por aqueles valores absurdos. Por isso que eu tento conscientizar. Eu não ligo de ser aquele cara chato que, às vezes, vai lá e fica batendo na mesma tecla. Orientando a comprar na pré-venda, orientando a ajudar as lojas menores. Sabe aquele barato que sai caro? A Amazon, por exemplo, ela vende, mas ela não parcela na pré venda. A gente parcela. A FAMDvD, The Originals, Obras Primas do Cinema, Versátil. Todas essa parcelam na pré-venda. A Amazon não parcela na pré venda. Então, porque não privilegiar as lojas que estão aqui no Brasil, lutando pelo colecionador, do que uma loja que, durante um ano, lançou o que? Eu te pergunto: durante um ano, quais foram os lançamentos da Amazon? Ela lançou um steelbook do “Homem-Aranha” e quatro steelbooks dos “Vingadores”. Estes dos “Vingadores” por R$500, inclusive. Isso aí não ajudou em nada o mercado. O que eu posso dizer é que, efetivamente, FAMDvD, Versátil, The Originals, Obras Primas fizeram muito mais pelo mercado do que a Amazon. Se você pensar friamente, o mercado foi esse. Eu acho que o colecionador pode até comprar produtos exclusivos deles, mas, no dia a dia, volto a te perguntar: por que não privilegiar as lojas nacionais que estão lutando a tanto tempo no mercado? Outra coisa importante: há lojas, que não são nenhuma dessas quatro que eu citei, que possuem subsídios. Famosa Taxa de Vitrine. Sabe a sua pergunta sobre os preços? Em relação a variações de valores entre lojas? Tem uma coisa muito importante que precisa ser dita. Um representante soltou essa informação sem querer, falando que tal loja recebe subsidio. Ela compra os produtos e recebe todo mês uma verba. Como se uma empresa X desse para a loja um retorno como verba de campanha. Mas nós estamos falando de nove a quinze mil reais por mês. É um valor alto. E isso entra pra eles como subsidio. Eu não vou citar qual loja que recebe, mas posso lhe garantir que não é nenhuma dessas quatro que eu citei. Isso é uma concorrência desleal. Essa mesma loja, por exemplo, possui um desconto maior. Ela pode pagar parcelado ao fornecedor. Você está entendendo isso? As outras lojas têm que pagar à vista. Nós da FAMDvD, a Versátil, The Originals, Obras Primas, nós pagamos à vista. É complicado. Temos que dar uma boa entrada. Então, assim, é tudo muito difícil. Em relação a preço, eu acho que é isso que o consumidor tem que entender. Que há uma concorrência desleal.
Desde sempre, a FAMDvD é uma loja virtual. Qual foi o impacto para você na ocasião em que as livrarias Saraiva e Cultura, grandes varejistas de filmes, entraram em recuperação judicial?
Por coincidência, o representante da Disney à época comentou comigo sobre o que estava acontecendo com as Livrarias Cultura e Saraiva. Lembro que ele falou: “Agora, se você for esperto, é a grande sacada”. O que ele quis dizer com isso? O público da Saraiva e da Cultura, de uma certa forma, ficou carente. É um público super tradicional que comprava direto com eles, mas que, de repente, ficou sem onde poder comprar. Os lançamentos não estavam mais chegando ao alcance desse público. O que fizemos foi trabalhar, então, o marketing. Fizemos diversas parcerias com YouTubers, parcerias com grupos do Facebook. Não damos filmes para a pessoa. Damos filmes para o grupo sortear. Sugerimos essas parcerias de sorteios com o apoio da FAMDvD, divulgando a loja. E teve uma estratégia antes que nos ajudou muito. Hoje em dia, tem a Amazon Prime, né? Que dá frete grátis. Quando começou esse burburinho da Livraria Cultura e da Saraiva, a FAMDvD ficou durante um ano oferecendo frete grátis para qualquer valor. Se você comprasse um filme que custava R$9,90, a gente mandava com frete grátis. Então, diversas pessoas nas redes sociais começaram a comentar perguntando sobre essas vendas com frete grátis em qualquer valor. Sim, nós fizemos isso por um ano. Lembrei de um amigo meu que mora no Nordeste e que elogiou essa iniciativa, pois, para ele, o Sul e o Sudeste esquecem que o Norte e o Nordeste existem. Eu falei que ele tinha razão. Eu não havia pensado nisso. Eu tenho um carinho imenso pelo Nordeste. Gosto muito de Maceió e do Recife. Já fui lá várias vezes. Eu falei para ele que tenho vários amigos que moram no Nordeste, e me propus a transformar a FAMDvD na loja mais nordestina que tem no Brasil. Comecei a trabalhar isso. Divulgar lá com o pessoal que mora no Nordeste, que mora no Norte do país que a FAMDvD estava com entrega grátis para eles em qualquer valor de compra. E isso começou a se espalhar entre os colecionadores do Norte e Nordeste. E, hoje em dia, para você ter uma ideia, o Norte e o Nordeste correspondem a 34% das compras feitas na FAMDvD. Então, é um carinho muito grande. O povo nordestino é bem generoso. Ele reconheceu o que a gente fez, e retribui comprando. É impressionante. Diversos clientes que poderiam comprar em qualquer outra loja, compram todo mês com a FAMDvD. A fidelidade e lealdade deles é gigantesca. Isso no Norte e no Nordeste. É que no Nordeste, o volume de colecionadores é maior. Mas é impressionante. Hoje, para você ter uma ideia, a cidade que mais compra da gente no Nordeste é Recife e, depois, Fortaleza. Fica atrás de quem? De São Paulo, Rio de Janeiro. Depois vem Recife, Fortaleza e Porto Alegre. Olha só a importância que o Nordeste tem na nossa vida. É necessário enxergar as dificuldades do colecionador. Temos que entender o que ele precisa. E lá atrás, estendemos a mão para esses clientes. Eles foram gratos e continuaram com a gente até hoje. E tem uma coisa importante a salientar. Depois de um ano, colocamos o valor para frete grátis a partir de R$79,99. Agora vai mudar pra R$99,99 por conta de todos os transtornos dos Correios. Mas, para o cliente, não muda nada. O nosso ticket médio de compras tem sido em torno de R$147. Então, o cliente sempre acaba tendo frete grátis de qualquer jeito. Mas, quando a gente mudou para R$79,99, ninguém reclamou. Porque ele enxergou o nosso esforço lá atrás, e continuou com a gente. Aumentou o número de clientes, inclusive. Isso que é importante.
Há colecionadores, inclusive, que se reúnem para comprar juntos e aproveitar o mesmo frete. Chega até você esses relatos de compras em conjunto?
Sim. (risos) Gostamos de ser pioneiros, João. Temos um grupo de colecionadores em Pernambuco que, praticamente, é uma sede da FAMDvD em Recife. É um grupo de oito ou nove colecionadores que se juntam e compram. Uma vez por mês, vai a caixa para eles. E a gente promove ainda. Quando eles fazem uma compra maior, a FAMDvD manda um filme surpresa a mais para sortear entre eles.
Em relação à petição criada pela volta da fabricação de aparelhos leitores de blu-rays e DVDs, qual sua avaliação acerca dessa possibilidade desse movimento chegar aos fabricantes e fazê-los perceber esse potencial? Afinal, estamos vendo tiragens de filmes sendo esgotadas em três meses.
Há um tempo, a FAMDvD fez um abaixo assinado com o Jotacê para trazer o seriado “Chernobyl”. Se eu não me engano, alcançou 700 ou 800 assinaturas. Agora, foi feita essa petição de blu-ray player e, com muita dificuldade, chegando a quase 4000 assinaturas. O grande questionamento que o pessoal comenta é a verdade. O pessoal comenta a respeito, quer muito a volta da fabricação, mas não é unido. Você já imaginou ter uma linha de produção baseada em uma petição de 4000 assinaturas? Não existe. Em um primeiro momento, eu fiquei muito feliz. Lembro que falei: “Legal, vai ser diferente. Várias empresas envolvidas. Lojas, distribuidoras, colecionadores”. Mas é aquele velho problema. Você tem aquele gás no início. Agora, você pode perceber que ninguém fala mais nada. É uma hora ou outra que alguém sobe o assunto. O pessoal parece que já esqueceu. E tem o problema de continuidade do projeto. Tinha que ter o negócio maciçamente todo dia. Tinha que alguém tentar entrar em contato com algum veículo de imprensa, botar isso na mídia. Você, como jornalista, pode observar. Às vezes é uma pauta que não vai interessar pra tudo quanto é jornalista. Os jornalistas de hoje em dia, como qualquer cidadão comum brasileiro, ele vai desconhecer e se perguntar: “mídia física? Vocês ainda assistem o disco?” Muitas vezes não sabem nem a diferença entre um BD e um DVD. Então, vou ser bem sincero. Sou um idealista, sou muito esperançoso, otimista, mas acho que não vai vingar, infelizmente. Isso porque três, quatro mil assinaturas não possuem o apelo para você mexer em uma linha de produção. É triste, mas é verdade. Se você pegar “O Barco”, por exemplo, que teve tiragem de mil peças e esgotou, ele continua sendo mil peças. Mil peças para o mercado internacional, não é nada. É irrisório. Para você ter uma ideia, a própria Cinecolor já tinha dito no passado que, quando a matriz lá fora perguntava quantas peças eles iam querer de um título aqui no Brasil, eles não valorizavam tanto. Então, para eles, até 3000 mil peças já é muito pouco. Imagine mil peças. Agora, o que eu acho que é legal, por exemplo, a Sony, aqui no Brasil, em um setor que não tem nada a ver com a linha de eletrônicos, está animada com a gente porque melhorou a situação da Sony (de fora). Os funcionários estão animados. A Sony, no Brasil, hoje, é composta de quatro funcionários. Às vezes, na sua casa, você tem mais pessoas. Então, assim, deu um up ali para eles. Do nada, começou a surgir trinta títulos diferentes. Uma coisa que não ia sair só por eles tudo isso. Mas, ainda assim, você que olha de fora, é irrisório. “Ah, levantei um milhão de reais.” Nós estamos falando de 180 mil dólares. Essa quantia para essa indústria não é nada.
* * *
Após a entrevista realizada no começo de setembro, Fabio Martins gentilmente voltou a conversar com o Scream & Yell para falar acerca do lançamento do giftset do filme Cinemagia.
Fabio, voltamos, então, a conversar três semanas após o anúncio do giftset do documentário “Cinemagia”, um belo filme dirigido por Alan Oliveira, que delineia muito bem o que nós, colecionadores, passamos no esforço de manter viva a mídia física. Existe uma ligação muito perceptível deste lançamento com o atual cenário, que pode ser uma coincidência ou não, uma vez que o contato com Alan surgiu depois dessa nova onda de lançamentos em blu-ray. Fiz esse preâmbulo para podermos acrescentar a esse papo todo o processo relacionado ao lançamento. Você poderia explanar como se deu esse passo a passo junto ao Alan e ao Guilherme Midler, do selo Relevant, desde a gênese da criação até a entrega do produto?
João, numa noite dessas, o Alan, diretor do “Cinemagia”, me ligou. Eu não o conhecia. Hoje, eu o considero um amigo. Ele e o Guilherme (Midler, produtor do documentário) são pessoas sensacionais e muito profissionais. Praticamente, eles me entrevistaram por uma meia hora ou mais. Queriam saber quem era o Fabio e quem era a FAMDvD. Já era nosso cliente, mas queria outros detalhes. Depois fiquei sabendo que estava concorrendo com a Amazon. Depois de uns 40 dias, quando ele pediu uma reunião virtual, eu consegui saber que o projeto era da FAMDvD. Hoje, já estamos conversando novos projetos da Relevant (N.E. Produtora do Guilherme Midler) e eu estou na disputa. Tomara que a FAMDvD sai vitoriosa novamente. Mas o que posso dizer é que a Relevant não vai ser só com títulos nacionais.
– João Paulo Barreto é jornalista, crítico de cinema e curador do Festival Panorama Internacional Coisa de Cinema. Membro da Abraccine, colabora para o Jornal A Tarde e assina o blog Película Virtual.
Panorama do Mercado Cinéfilo de Mídia Física em 2020 no Brasil
01) Fábio Martins – Loja FAMDv
02) Fernando Luiz Alves – Loja The Originals
03) Classicline, 1Films e Vídeo Pérola
04) Valmir Fernandes (Obras Primas do Cinema)
05) Igor Oliveira (CPC UMES Filmes)
06) Daniel Herculano (Clube Box)
07) Gleisson Dias (Rosebud Club)
08) André Melo e Fernando Brito (Versátil)
09) Juliano Vasconcellos e Celso Menezes (Blog do Jotacê)
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