HQs: John Constantine tenta sobreviver à era do cancelamento em novas histórias de “Hellblazer”

por Leonardo Tissot

Ele voltou. Anos após o fim da revista mensal “Hellblazer”, que teve 300 números e alavancou John Constantine para um dos patamares mais elevados de popularidade do selo Vertigo, da DC Comics, o mago britânico retorna à sua essência pelas mãos do escritor Simon Spurrier.

A nova série de histórias do anti-herói — criado por Alan Moore, Steve Bissette, John Totleben, Jamie Delano e John Ridgway no gibi do Monstro do Pântano, ainda nos anos 1980 — começou a ser publicada em dezembro de 2019 em “The Sandman Universe Presents: Hellblazer” (edição única), e em 12 volumes mensais da revista “John Constantine: Hellblazer”, a partir de janeiro de 2020. Isso lá fora. As primeiras aventuras deste Constantine revivido chegaram ao Brasil apenas em dezembro deste ano, pela editora Panini, com o título “O Universo de Sandman: John Constantine, Hellblazer Vol. 1 – Marcas da Desgraça”.

Em uma edição com oito histórias (que ainda inclui a participação de JC em um conto de “Os Livros da Magia”, relacionado à trama principal), Spurrier e os artistas que levaram suas ideias para o papel — Aaron Campbell, Matías Bergara e o brasileiro Marcio Takara — trazem o detetive do oculto para 2019, em meio a uma Inglaterra enfiada no Brexit e a um mundo onde os cigarros eletrônicos e as cervejas de “lúpulo colhido de forma ética” são a regra.

Como se não bastassem os desafios da comunicação via smartphones, a má aceitação ao seu senso de humor boomer, a compreensão de um novo cenário de empoderamento feminino e um discípulo hipster, John ainda precisa lidar com a ausência do amigo Chas e, como não poderia deixar de ser, com as desventuras sobrenaturais que insistem em persegui-lo — incluindo um Constantine de idade mais avançada.

Sem spoilers, o que dá para dizer é que Spurrier conseguiu resgatar o personagem — que andava perdido no Universo DC Renascimento e em séries de TV pouco inspiradas nos últimos anos — e trazê-lo a algo mais próximo da sua forma original, ainda que em um contexto contemporâneo.

A qualidade pode ainda não ser aquela da era de ouro de Hellblazer (especialmente das fases iniciais, escritas por Jamie Delano e Garth Ennis), mas os novos quadrinhos são merecedores da atenção dos antigos leitores. No entanto, a série, premiada como a melhor do ano pela IGN, não foi renovada — apesar das críticas favoráveis e da boa recepção do público. A decisão foi criticada por Spurrier.

Ainda restam pelo menos seis histórias de “John Constantine: Hellblazer” que permanecem inéditas no país, cuja publicação deve ficar para um segundo volume a ser lançado pela Panini. Se mantiverem o nível da primeira metade, certamente farão o tempo de espera valer a pena. “Marcas da Desgraça” tem tradução de Érico Assis.

  

– Leonardo Tissot (www.leonardotissot.com) é jornalista e produtor de conteúdo

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