Texto por Renan Guerra
Fotos por Natália Arjones
A Dingo Bells não é uma banda gigante, nem dona dos novos hits do pop rock, nada disso, mas eles possuem um séquito de fãs apaixonados. No hall do teatro do Sesc 24 de Maio se via inúmeras pessoas a comentar a complicação que foi para conseguir comprar o seu ingresso para o show que veríamos naquela noite (13/08). Com ingressos esgotados, a banda lotou o teatro no centro de São Paulo em plena terça-feira fria. Esse show era uma celebração do lançamento do álbum “Todo Mundo Vai Mudar” (2018) em vinil.
A passionalidade dos fãs marcou a noite, com uma plateia a gritar e celebrar cada atitude vista no palco, que cantava cada canção a plenos pulmões. O quarteto gaúcho apresentou tanto faixas do disco “Todo Mundo Vai Mudar” quanto de sua estreia, “Maravilhas da Vida Moderna” (2015). Acompanhados de um trio de sopros, o show foi alto, com força suficiente para quase não suportar a formatação de teatro, com público precisando se conter em suas cadeiras.
Em conversa com o Scream & Yell em 2018, a banda já falava que uma das vontades era poder conjugar o universo do teatro com a resposta física do público, a dançar e pular, porém essa impossibilidade se mostrou mais uma vez presente nesse show. Com luz certeira para o espaço do teatro, é inegável que a energia do público só se viu inteiramente canalziada quando nas últimas canções se viram livres para levantar e dançar ao som de “Eu Vim Passear” e “Sinta-se em Casa”. Impossibilidades à parte, é bonito ver essa troca apaixonada entre público e artista, que parecem buscar essa catarse ampla e irrestrita através das canções.
Faixas como “Todo Mundo Vai Mudar”, “Meias Palavras” e “Bahia” ganham intensidade e ritmo ao vivo, mostrando a qualidade técnica da banda, com um domínio certeiro das transições e das trocas de instrumentos entre os membros. Os momentos mais melancólicos, como na bela “Maria Certeza” ou na triste “Anéis de Saturno”, são de uma beleza que beira o doloroso, ainda mais quando acompanhadas de um coro amplo por parte da plateia. O público, inclusive, acertou todos os versos de “Maria Certeza”, canção que tem sinuosa narrativa.
As experiências catárticas se mostraram mais fortes ainda quando a Dingo Bells chamou ao palco a banda curitibana Tuyo. As vocalistas da banda relembraram o quanto a Dingo Bells foi fundamental em suas formações musicais e como era uma honra estar naquele palco. Os músicos fizeram galhofas e ainda falaram do nascimento de um novo encontro: a Dinguyo, uma mistura das duas bandas. Juntos, eles cantaram “Vidaloca”, da Tuyo, e também a icônica “Dinossauros”, um dos maiores sucessos da Dingo Bells.
O show da Dingo Bells segue sendo um dos mais bem amarrados do cenário alternativo nacional, pois há uma segurança e uma estrutura muito bem construída em torno dos quesitos técnicos. Essa cama sonora é o trampolim para que as qualidades e virtuoses dos quatro músicos se expanda, em um espetáculo que transparece ser extremamente prazeroso para eles e, por consequência, um deleite para o público, que busca essa descarga energética através das canções. Ver a Dingo Bells ao vivo é sempre diversão garantida e certeza de energias renovadas!
– Renan Guerra é jornalista e escreve para o Scream & Yell desde 2014. Também colabora com o Monkeybuzz