por Renan Guerra
Fairy Goat é um duo formado por Alex Girardi e Lucas Nadal, cada um com sua porção fada e sua porção bode. As referências primordiais da dupla são Spice Girls e Nirvana. Aparentemente, nada faz nenhum sentido, não é? Porém os dois primeiros singles lançados pelo Fairy Goat mostram uma verve cativantemente pop, que reflete certo humor autodrepeciativo em canções que falam sobre amor, medo, desilusão e dúvidas.
O background dos dois músicos já explica um pouco dessa aparente confusão que deu vida ao Fairy Goat. Nadal teve carreira solo no rock alternativo, trabalhando como cantor, compositor e guitarrista durante quase uma década. Alex foi vocalista da banda Aurora Snow, sendo que atualmente assina clipes como “Indigno Kid”, para nomes como Noporn, Jup do Bairro, Mia Badyal, Violet Soda, entre outros.
Histórias distintas, referências diversas e um universo imagético digitalmente caótico formam um combo coeso, já demonstrado nas faixas “Underwater” e “Bruise”. O Fairy Goat planeja outros dois singles inéditos ainda esse ano e um disco completo em 2020. Alex e Lucas responderam as nossas três perguntas que explicam um pouco do que esperar da dupla, confira:
Fada e bode. Spice Girls e Nirvana. Muitos contrastes fazem parte dessa formação do Fairy Goat, porém a questão é como foi esse encontro e esse nascimento do projeto? Como vocês conseguiram conciliar esses contrastes a favor de um universo coeso?
Alex Girardi: Eu conheci o Lucas quando conversamos por Instagram, sobre eu fazer um vídeo para uma música dele. Acabei dirigindo três clipes dele. Mas acho que além de a gente ter trabalhado juntos, começamos a nos identificar justamente por esses gostos em comum. É muito difícil encontrar alguém que seja tão apaixonado pelos gritos do Kurt Cobain, como é apaixonado pelas plataformas da Emma Bunton! No ano passado, a gente começou a trabalhar nesse projeto, acho que foi num ponto onde o Lucas percebeu que não queria mais trabalhar sozinho e eu já estava há alguns anos sem lançar nada como Indigno Kid. No começo, a banda tinha outros integrantes, mas acho que só nós dois estávamos na mesma vibe e com a mesma vontade. Sobre conciliar… tem sido um aprendizado. Desde que minha banda se separou, em 2013, eu faço música sozinho, mas num esquema apenas digital, tudo no computador. E minha pesquisa ultimamente tem sido muito mais para o lado do eurodance, PC Music, house, umas coisas distantes do universo que o Lucas sempre criou. Juntar isso com toda a bagagem do Lucas, de banda de rock e composição com um violão… tem sido um aprendizado. Quando ele me viu fazendo uma música toda usando só um programa no PC ele ficou passado (risos). Mas acho que é muito sobre esses contrastes, mesmo, dos nossos processos, dos nossos maiores ídolos, em que a gente acha esses pontos de encontro e consegue traduzir a mesma coisa na música. Dosar essa coisa bubblegum e descompromissada do pop, com a melancolia e o mais pesado do grunge. Diz muito sobre a nossa personalidade também, acredito: bem satanáries os dois.
Lucas Nadal: Na real a gente se conheceu um pouco antes, quando um menino que a gente pegou ao mesmo tempo achou que seria uma boa ideia nos apresentar, porque tínhamos um gosto musical similar. O Alex estava montando um projeto relacionado as Spice, que nunca aconteceu. Aí depois de muito tempo falando de tocar junto, e nunca rolar, eu insisti com um pouco mais de afinco – após o fim do meu projeto solo – e tudo começou a andar aos poucos. Inicialmente, a ideia era montar uma banda completa, mas, o restante dos membros foi pulando fora e a gente falou: “ah, vamos só os dois mesmo”, e fomos.
Os primeiros singles foram produzidos ao lado do Pedrowl, que tem um histórico de trabalhos bastante pop, porém com vocês há uma exploração distinta de um mix de sonoridades. Como foi esse trabalho em trio? Vocês ouviram coisas juntos e trocaram referências sonoras?
Alex: O Pedro, na verdade, era pra ser um integrante da nossa banda, mas não acabou rolando. Na época em que começamos a produzir ele tava gravando o álbum da Lia Clark e da Mc Tha. Foi bem fácil e natural compor e gravar com ele. Acho que a gente já estava no mesmo universo de música pop que ele, tem muitas referências iguais, e como ele é um pequeno gênio e muito versátil, ele entregou o que a gente queria (e até mais) muito rapidamente.
Lucas: Não me lembro de termos trocado tantas referências. A gente conhecia e curtia o trabalho do Pedrowl, além de já estarmos em contato por conta de que queríamos ele como um membro da, até então, banda, então foi natural. Ele super pegou a nossa vibe e não tivemos muitas dificuldades nessa parte.
A preocupação estética é um ponto crucial para essa unidade do que é o Fairy Goat, tanto que há explorações de DIY, glitch e uma forte presença da experiência digital como construção visual. O Alex já tem um background de audiovisual, mas para além disso, como vocês trabalham, em conjunto, para essa estética da banda?
Alex: Acho que muito é “olha amiga, eu vi isso, gostei, vamo?”. É a mesma coisa com a música: a gente tenta encontrar esse ponto entre o grunge e o pop. É claro que a gente quer que seja vendável, que a gente esteja bonita, que seja divertido, mas que seja com um estranhamento e uma sujeira sempre. Acho que chegamos nesse ponto em comum que é: explorar a estética grunge que encontra boyband na virada do milênio. Se for meio bizarro, causar estranheza, mas, ainda assim, for pop e estiver alinhado com esse movimento incrível, tá valendo. Acho que o timing é perfeito pra essa nostalgia cibernética anos 90/2000, e acredito que isso sempre esteve na nossa música e estética antes mesmo da banda acontecer.
Lucas: Essa parte da estética por algum motivo doido os dois tinham a mesma ideia desde o início. Antes mesmo de ser discutido, era o mesmo conceito pros dois: essa coisa boyband e virada do milênio. Acho que talvez porque dê pra juntar de uma forma legal o que os dois gostam individualmente. Sempre pareceu meio óbvio que seria essa direção.
– Renan Guerra é jornalista e escreve para o Scream & Yell desde 2014. Também colabora com o Monkeybuzz.