entrevista por Ananda Zambi
Após 10 anos sem lançar um álbum de inéditas, Zélia Duncan apresenta “Tudo é Um”, disco que conta com direção da própria cantora e do seu grande parceiro musical, Christiaan Oyens, com quem fez músicas consagradas como “Enquanto Durmo”, “Sentidos”, “Não Vá Ainda” e o mega sucesso “Catedral”, versão de uma música alemã que projetou a artista para todo o Brasil. Pode-se dizer que “Tudo é Um” retoma um lado folk de Zélia, mas sem se limitar a apenas um estilo musical – no álbum também nota-se a presença do pop, do rock, da MPB e até de elementos que lembram ritmos regionais como a guitarrada e o carimbó.
Lançado pela Duncan Discos (selo da artista) e pela Biscoito Fino, o CD apresenta 11 faixas e várias parcerias. O instrumentista Jaques Morelenbaum está presente em “Sempre os Mesmo Erros”; Moska musicou a letra de Zélia em “Feliz Caminhar”; “Só pra Lembrar” é parceria com Dani Black que, assim como Moska, também fez voz e violão nas gravações; Zeca Baleiro (que também está com disco novo) pincela sua participação em duas músicas: “Me Faz Uma Surpresa” e “Medusa”; e Chico César marca presença com a canção que dá nome ao novo trabalho de Zélia. Além dessas, “Canção de Amigo” e “Olhos Perfeitos” são parcerias com Oyens.
“Tudo é Um” apresenta algumas curiosidades. Uma delas é que ele foi quase todo gravado ao vivo, ou seja, com quase todos os instrumentos tocados ao mesmo tempo – o que remete à ideia de uma unidade fortalecedora que o disco quer passar. Outra é a presença de uma nova versão de “Breve Canção de Sonho”, música que fez parte da trilha sonora da novela global “Cheias de Charme” (2012), numa versão voz e violão. Agora, a canção ganhou bateria e baixo, dando mais consistência e emoção à singela, mas bonita música. Mas uma das grandes canções do disco se chama “O Que Mereço”, do cantor e compositor revelação Juliano Holanda – única faixa que Zélia não assina.
Na rápida conversa abaixo travada por e-mail, a artista nega que esteja voltando só agora ao folk (“Basta ver meu caminho pra saber que decididamente não”), reforça a ideia de que o sucesso que a autoralidade lhe trouxe foi uma surpresa (“Foi justamente meu lado autoral que trouxe a um público maior”) e revela que sente necessidade de se posicionar politicamente (“Não saberia viver sem me colocar”), algo que quem a acompanha no Twitter conhece muito bem. A estreia nacional da turnê Tudo é um acontece nos dias 5, 6 e 7 de julho no Sesc Pinheiros, em São Paulo. Depois, ela segue para Três Rios (RJ), Teresópolis (RJ) e Rio de Janeiro, no Circo Voador. Confira a entrevista com a cantora:
Como é lançar um álbum autoral depois de 10 anos?
Prazeroso. Comecei minha vida artística muito cedo e só pensava em cantar. O prazer da autoria foi chegando depois e me dando muitas alegrias.
Eu li críticas que dizem que, nesse novo disco, você voltou ao folk. Você concorda? E acha necessário um artista ter um estilo ou uma identidade musical definida?
Basta ver meu caminho pra saber que decididamente não. O artista precisa ser livre e saber o que fazer com a liberdade. Achar a maneira de se expressar e entender que você aprende em qualquer momento da sua vida. O caminho é misterioso, você constrói todo dia.
O álbum “Tudo é Um” – e vários outros discos seus – apresenta várias e sólidas parcerias. Qual a importância dos parceiros musicais no teu trabalho?
Muito grande, eu sempre fiz mais as letras e a chegada dos parceiros traz um outro universo pra conversar com o seu. É rico, eu gosto muito de dividir essa experiência e me somar às parcerias.
Por que regravar “Breve Canção de Sonho”?
Ela não fazia parte de nenhum álbum, estava solta e eu quis dar um peso pra ela, bateria, baixo, acho que ficou linda e agora tem endereço.
Você disse, em entrevista ao Drauzio Varella, que não imaginava que se tornaria conhecida pelas próprias músicas. Por quê?
Porque, como disse no começo, só pensava em cantar, mas foi justamente meu lado autoral, que trouxe a um público maior.
Você já fez um espetáculo músico-teatral, o “Totatiando”, e recentemente voltou a estudar teatro. Você pretende fazer outras performances ligadas às artes cênicas?
Sim, é desafiador e uma arte que me encanta demais.
Você tem se manifestado muito sobre a caótica situação política do país nas suas redes sociais. Pra você, o artista e sua arte devem se posicionar sobre política?
Não vou ficar dizendo o que meus colegas devem ou não fazer, eu sinto necessidade, não saberia viver sem me colocar. Mas é pessoal, cada um tem direito de viver como quiser.
Você tem quase 40 anos de estrada, sempre com muita versatilidade. Tem algum tipo de trabalho que queira fazer e ainda não fez?
Um monte!
– Ananda Zambi (@anandazambi) é jornalista e editora do Nonada – jornalismo travessia. Nas horas vagas, também brinca de fazer música.”