entrevista por Marcelo Costa
Jovem importadora que em pouco mais de dois anos de atividades já trouxe ao país um vasto portfólio de três cervejarias (europeias) e se prepara para receber a quarta (e a primeira norte-americana), a Suds Insanity, de Curitiba, começou 2019 renovando parcerias e anunciando novidades: em abril chegaram ao país reposições da sueca Nils Oscar (incluindo a Södermalmspilsner, que esgotou rapidamente na primeira vinda) e da inglesa Thornbridge (destacando a Jai JAI, uma colaborativa com a badalada Cigar City Brewing).
Entre as novidades, já estão disponíveis nas prateleiras e nas torneiras brasileiras as cervejas da catalã Edge Brewing, de Barcelona, cervejaria fundada no coração de Barceloneta em 2013 pelos americanos Scott Vanover e Alan Sheppard, que focaram em um cardápio de cervejas bastante tropicais do qual se destaca o trio (Sour/Berliner) Gose Margarita, Apassionata e Piña Colada, as IPAs Hoptimista e Accidental Jedi além da incrível Triple Virgin Cherries, uma Belgian Tripel que recebe adição de cerejas (conheça todas as cervejas aqui).
Prestes a debutar no Brasil, a Great Divide é o próximo lançamento da importadora, que deve distribuir mais de 10 cervejas desta mítica cervejaria fundada em Denver, Colorado, em 1994. “Tivemos um trabalho duríssimo de convencimento, e deu certo”, comemora Ricardo Magno Quadros, um dos sócios da Suds, que no papo abaixo antecipa que o Pé Grande logo estará no Brasil (a Yeti, lendária Russian Imperial Stout da Great Divide) e avisa que o cervejeiro da Thornbridge visitará o país em julho para produzir colaborativas. Confira o papo!
Como vocês chegaram na Nils Oscar? Como foi esse processo de aproximação e de confiança deles em ter vocês como representantes no Brasil, já que a Nils Oscar foi a primeira cervejaria do portfolio da Suds Insanity – com lote novo, fresco, chegando?
Todo europeu quando vê um brasileiro, ele é cheio de amarras e traz consigo um pouco de um pré-conceito. A principal dificuldade foi, justamente, nos convencermos o fornecedor de que valia a pena vir para o Brasil e que nós, como importadores, tínhamos credibilidade para conseguir fazer a marca dele vender no país. Hoje, o CEO da Nils Oscar não mantém apenas uma relação comercial conosco, ele é um amigo pessoal nosso. Isso porque ele apostou na Suds Insanity assim como nós apostamos na Nils Oscar, que é uma cervejaria sueca que vem se firmando no país, mas ainda não está consolidada. São cervejas de qualidade cuja revenda está sendo muito boa e que conseguem ter uma boa competitividade de preços. Nós ainda acreditamos muito na Nils Oscar justamente porque há pedido do público cervejeiro, eles querem saber quando vai chegar um novo carregamento.
E nesta nova importação retornaram dois rótulos que esgotaram rapidamente quando vieram da primeira vez, a Södermalmspilsner e a India Ale…
A Södermalmspilsner tem um Ratebeer muito alto, 100, e por isso ela se auto vende. Nós chegamos com ela praticamente totalmente vendida. A India Ale teve uma venda bastante interessante (da primeira vez), mas agora nós mudamos um pouco a nossa estratégia: ao invés de trazermos grandes quantidades, decidimos fracionar a compra e a operação em pequenas quantidades para termos Nils Oscar sempre fresca no Brasil. Por isso, o comprador irá beber uma cerveja que foi feita a menos de um mês na Europa. Essa é a nossa ideia.
Como vocês conheceram a cervejaria?
A Nils Oscar foi em uma de nossas viagens para visitar diferentes cervejarias (eu e meu sócio já visitamos in loco mais de 60 fábricas). Estávamos na Suécia, conhecemos a cerveja e decidimos ir conhecer a cervejaria. Lá conhecemos o Matias, CEO da marca, e conseguimos firmar essa parceria.
Da Suécia para a Inglaterra: a Thornbridge foi a segunda cervejaria importada pela Suds Insanity que, exatamente um ano depois, renova a parceria com os britânicos e traz um novo lote de cervejas deles para o Brasil, incluindo algumas que não vieram da primeira vez…
Isso, a Crackendale é uma American Pale Ale que está com uma pegada muito boa, bastante cítrica. Tem a Jai JAI, colaborativa com a Cigar City Brewing, que já esgotou nos nossos estoques, ela chegou praticamente com o lote todo vendido (nota do editor: além das duas, a outra novidade da importação é a Melba, uma Peach IPA, pois combina os lupulos Citra e Mosaic com adição de pêssego, que se destaca). Conhecemos a Thornbridge de uma maneira semelhante que a Nils Oscar, nessas peregrinações e conversas. Um detalhe que me salta em nosso portfolio é que as cervejarias com quem trabalhamos são cervejarias muito jovens, com pessoas novas que querem fazer coisas diferentes. O CEO da Nils Oscar tem 36 anos. A Thronbridge está em 42 países e o responsável por vendas, não sei se chega a ter 30 anos. São pessoas novas querendo fazer coisas diferentes. Esse é o perfil da Suds Insanity, trazer coisas diferentes.
E uma coisa interessante é que a Nils Oscar tem um padrão de produzir receitas bem próximas da escola clássica (e a arte do rótulo entrega isso) enquanto a Thornbridge é uma cervejaria inglesa de olho nas novidades da América…
Exatamente. E isso acontece porque a Thornbridge quer fazer coisas novas, apesar de manter características da escola clássica inglesa. Ela tem a inspiração no estilo americano, e produz isso de uma maneira inglesa. Por isso, as cervejas da Thornbridge são bastante equilibradas, os insumos não costumam se sobressair. E eles veem o mercado brasileiro com muito bons olhos. Entre os 42 países para os quais eles vendem, nós somos o único na América da Sul. Ou seja, eles apostam em nós da mesma maneira que apostamos neles. E já te adianto: logo logo iremos ter uma cerveja colaborativa da Thornbridge feita aqui com uma cervejaria brasileira – e talvez não só uma, mas duas colaborativas – porque a partir de julho, o mestre cervejeiro deles vem pra cá para produzir receitas com brasileiros. Isso demonstra o quanto a Thornbridge está apostando no Brasil.
Da Suécia para a Inglaterra e, agora, para a Espanha. Hoje conhecemos a catalã Edge Brewing. Chegaram 11 rótulos, e um deles esgotou-se rapidamente, certo?
A Accidental Jedi Triple IPA não foi possível degustar hoje, porque o lote esgotou assim que chegou, mas com certeza o público cervejeiro poderá encontra-la em várias localidades: São Paulo, Curitiba, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Salvador.
E como vocês conheceram a Edge Brewing?
Foi de uma maneira bem pitoresca porque nós, a empresa, não tínhamos ido a trabalho para a Europa. Nós fomos jogar futebol! Participamos de um campeonato que acontecia em Barcelona e, na tradicional peregrinação cervejeira, fomos conhecer algumas cervejarias e conhecemos a Edge, e gostamos muito. A fábrica fica no coração de Barceloneta, bem próxima a praia, e é uma fábrica bem descolada que vale muito a pena conhecer. Conversamos com o headbrewer e pedimos para conhecermos o dono. Começamos a conversar e ter um pouquinho mais de afinidade. Quando chegamos nesse ponto dissemos: ‘Esse é o momento de trazer a Edge Brewing para o Brasil’. Eles toparam e aqui estamos.
No seu gosto pessoal, o que você destaca desse lote deles que acabou de chegar?
Nós estamos vivendo uma onda de Sours e Berliners, e destaco as três da Edge Brewing: Gose Margarita, que é difícil encontrar uma cerveja parecida no Brasil (não estou dizendo que não tenha, mas que é difícil encontrar), uma colab com a Põhjala, da Estônia, que recebe adição de limão Kaffir, coentro e sal marinho da Catalunha; Apassionada, uma Berliner Weisse com hibisco e maracujá que tem um aroma fantástico e é muito bem equilibrada; e a Piña Colada, que é perfeita para nós que vivemos em um país tropical. Vai muito de gosto, mas foge um pouco do que temos aqui no Brasil hoje.
Durante a apresentação, os jornalistas na mesa chegaram a um consenso que a Edge Brewing tem uma linha de cervejas bem refrescante que casa bastante com o Brasil…
Até porque Barcelona é uma cidade que é muito parecida com as cidades brasileiras. São pessoas muito positivas, pra cima, pessoas que aproveitam a praia, aproveitam o dia. Então essa ideia de pegar esse frescor e produzir cervejas que não são tão alcoólicas, e são bem mais equilibradas, casam perfeitamente com o gosto do brasileiro. Por mais que a nossa cultura cervejaria esteja evoluindo, e está, é preciso considerar que vivemos em um país tropical e nós precisamos nos adequar. Não é toda cidade que é como Curitiba e Porto Alegre, que você pode beber uma Porter ou uma Barley Wine com mais facilidade, porque as temperaturas em grande parte do país são mais elevadas. Precisamos ter cervejas com maior drinkability no portfólio para podermos oferecer mais.
E, juntando as três cervejarias, o leque é bem vasto para várias ocasiões…
Você comentou bem antes: para aqueles que gostam da escola clássica, nós temos a Nils Oscar. Para quem gosta de escola britânica, nós temos a Thornbridge, claro, com os olhos voltados para a América, mas com uma pegada tradicional britânica. E agora temos mais uma europeia, a Edge Brewing, que traz essa jovialidade e receitas novas que não existem no mercado brasileiro.
E agora acrescentando a Great Divide no pacote. Como foi fechar com eles?
Essa foi uma vitória. A Suds Insanity está muito feliz por fechar essa parceria com a Great Divide, pois ela é uma cervejaria que tem um grande nome não só nos Estados Unidos, mas em diversos outros países. Consideramos uma vitória conseguir traze-los para o Brasil. É preciso ter em mente que as cervejarias clássicas norte-americanas não estão no Brasil não porque acreditam que o brasileiro não tem paladar, mas porque sequer eles conseguem atender o mercado interno. Os Estados Unidos são um país muito grande, e muitas vezes você não encontra uma cerveja produzida numa costa na outra. Tivemos um trabalho duríssimo de convencimento com o pessoal da Great Divide, e deu certo. Igual as outras cervejarias que trabalhamos, estamos trazendo uma grande variedade, são mais de 10 rótulos. A principio estaremos com a Great Divide liberada na primeira quinzena de maio. E com certeza as clássicas: os Yetis estarão aqui também. O Pé Grande virá pra cá!
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne. A fotos 2 e de Raphael Rodrigues, do All Beers. As demais fotos são de Marcelo Costa / Scream & Yell.
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– Top 2001 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
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