Texto por Marcelo Costa
Criada em março de 2017 pelo cervejeiro Rodrigo Nogueira com seu sócio (e cunhado) venezuelano Hector Aguilera, a Croma Beer rapidamente caiu no gosto dos exigentes beergeeks devido a uma sequencia matadora de New England IPAs: Pipeline, Sunshine, Full Moon e Ponkan mantém notas acima dos 4 pontos (em cinco) no aplicativo Untappd, que contabiliza outros 34 rótulos lançados pela casa, que ainda abrange os estilos Sour, APA, Russian Imperial Stout, Barleywine e Brown Ale.
A lista, porém, deverá aumentar bastante. No meio de março de 2019, a Croma abriu um enorme taproom na rua Harmonia, 472, na Vila Madalena, em São Paulo, com sete tanques de 500 litros, dois de mil litros e ainda oito barricas de madeira para futuros experimentos (duas delas antes usadas para maturar Bourbon). Com 15 torneiras de cerveja, a Croma pretende replicar “em casa” alguns rótulos conhecidos que produz, como cigana, em outras cervejarias, mas, principalmente, testar novas receitas no espaço.
Ponto diferencial, o Croma Taproom tem cozinha própria com a chef Ana Soares à frente e pratos de influência latina no cardápio, desde agradáveis entradas a tapas e arepas até sanduiches, massas, picadinho e cortes especiais de carne. Durante a visita, entre as cervejas, excelentes, Red Strike (sour com framboesa e maracujá), Thunder (Double NE) e 3 Little Birds (RIS) ficaram no podium. Já no prato, destaque para a tosta de guaca com queijo feta, para o fish and chips e para os cortes de carne, tudo de alto nível.
Abaixo, três perguntas para o cervejeiro Rodrigo Nogueira:
Como você entrou nessa história de cerveja artesanal? Qual foi a cerveja a primeira cerveja que te impactou e que fez você parar e pensar, “opa, aqui tem algo diferente”?
Comecei uns seis anos atrás. Eu gostava muito de cerveja artesanal, e fui atrás de métodos e cursos. Dei um presente para um amigo meu que também gostava, um curso de produção de cerveja, e fizemos esse curso e começamos a produzir juntos. Fiquei uns quatro, cinco meses fazendo receitas, e busquei me aprimorar indo atrás de cursos mais avançados, mais complexos. E isso fez com que cada vez mais eu melhorasse as minhas receitas. Na época, a cerveja que me chamou mais a atenção foi a Ballast Point Sculpin, que era radicalíssima em termos de lúpulo, de aroma, chegava fresca aqui no Brasil e com preço bom. Me inspirou muito… a beber cerveja, a fazer IPAs, a procurar melhorar minhas IPAs. Um universo novo se abriu. Na panela, a grande maioria do que fiz inicialmente foi IPA, depois me arrisquei em algumas sours, o que é bastante difícil de fazer quando é caseiro por ter que manter a temperatura, e também Russian Imperial Stout. Sempre produzia na panela e levava para os amigos provarem, sempre tive um apelo de nunca vender o que eu produzia em casa. Eram lotes muito pequenos e eu tinha muita paixão em dar pra eles provarem em eventos e confraternizações. Não deu muito tempo para fazer muita cerveja na panela porque entramos no mercado muito rápido.
Como a Croma surge e qual foi a primeira receita comercial?
A Croma surge quando eu conheço o Hector, que é meu cunhado – o conheci através da minha irmã. Ele também tinha um sonho de empreender e foi uma junção do amor e da qualidade pelo que eu fazia com as minhas cervejas com a paixão dele em empreender. A Croma nasce em março de 2017, quando produzimos o nosso primeiro lote comercial. A primeira foi uma American IPA que fizemos para um amigo secreto, num final de ano. O pessoal gostou muito. Se chamava Hop Quintet, que era uma banda de jazz, e era numa garrafinha. Mudamos toda a comunicação visual da cerveja e a forma como as pessoas enxergavam a Croma a partir da segunda, que foi a Sunshine. Queremos refazer a Hop Quintet em breve, mas trazendo algo especial.
Com esse espaço aqui, fica mais fácil. Fale de como surgiu a ideia de abrir o Croma Taproom num bairro bem bacana de São Paulo, que é a Vila Madalena, e com uma grande estrutura que conta com sete tanques de 500 litros e dois de mil litros e ainda traz como diferencial a cozinha. Temos vários taprooms em São Paulo que apostaram na ideia de parcerias com food trucks, e vocês surgem com uma cozinha própria e personal como foco latino. Conte um pouco sobre a nossa casa!
Nós apostamos em uma estrutura um pouco maior para um taproom e, até pelo tamanho da nossa casa, percebemos que seria importante ter um cardápio bem elaborado para que pudéssemos atrair também pessoas que não são do meio cervejeiro. Nós fazemos produtos com uma qualidade muito boa e somos conhecidos por muitos beergeeks, mas queremos fazer cerveja para todo mundo. Que todo mundo goste. Achamos então que a comida acaba trazendo um público mais amplo. A pessoa pode vir com a família e, com calma, sentar e degustar, sem, de repente, não encontrar algo para comer. O público pode ter certeza que encontrará aqui uma comida no nosso padrão de qualidade para acompanhar com a cerveja que eles gostam. Já as cervejas, ter esse espaço (com sete tanques de 500 litros e dois de mil litros, certo) é como ter um laboratório para fazer experimentos. A gente nasceu terceirizando a produção em diversas fábricas do Brasil, e o custo para ousar nos barris dessas fábricas torna tudo muito arriscado devido a possíveis erros. Aqui como está tudo perto, conseguimos provar o caminho da cerveja diariamente e é muito mais difícil a gente errar – se a gente erra, leva o aprendizado desse erro para as outras cervejarias que continuamos trabalhando. É uma escola. Uma panela mais ampla com mais controle e com mais qualidade, que é o que buscamos.
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne. As fotos 1 e 2 são reprodução do Facebook da Croma Beer. As demais fotos são de Marcelo Costa / Scream & Yell.
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