por Marcelo Costa
Minha sétima dinamarquesa da To Øl, produzida na fábrica belga da De Proefbrouwerij, é uma receita feita com exclusividade para a loja online brasileira WBeer: To Øl WBeer Witbier, cuja receita une água, malte, trigo, aveia, lúpulo, levedura mais raspas de casca de laranja e manga. De cor dourada com leve turbidez e creme branco de ótima formação e média alta retenção, a To Øl WBeer Witbier apresenta um aroma bastante perfumado, com caprichadas notas cítricas (laranja e manga em destaque) em destaque e leve percepção de acidez. Há ainda suave floral. Na boca, textura frisante, rebelde. O primeiro toque traz rápida doçura atropelada por frutado cítrico e amargor médio e eficiente. Dai pra frente, um conjunto bastante cítrico, com amargor presente e leve acidez acompanhando (fica no meio do caminho entre uma wit e uma Saison). O final traz frutado cítrico delicioso. No retrogosto, laranja, manga e refrescancia. Ótima!
Abrindo a linha especial brasileira da To Øl, a Braziller Weisse é uma Berliner que passa por fermentação láctica e recebe adição de melancia visando amaciar o ataque tradicionalmente ácido do estilo. De coloração dourada com leve turbidez e creme branco de ótima formação e média alta retenção, a To Øl Braziller Weisse apresenta um aroma notadamente maltado, com sugestão de trigo à frente e leve azedinho na base. Ainda é possível perceber frutado cítrico (maracujá), suave herbal e condimentação. Há pouca percepção de acidez no aroma. Na boca, por sua vez, a textura é bastante frisante e picante. O primeiro toque traz leve acidez seguida de cítrico e azedinho. O amargor é baixo, mas ganha auxílio da acidez, que mesmo não sendo acentuada, consegue se destacar. Dai pra frente, um conjunto refrescante com trigo e cítrico à frente. O final é azedinho e salgado. No retrogosto, adstringência, salgado, cítrico e azedinho.
Continua na linha brasileira da cervejaria dinamarquesa (produzida na Bélgica) com a To Øl Amazaison, uma Saison que homenageia a Amazônia. Assim como as duas anteriores, uma cerveja de coloração dourada com leve turbidez e creme branco de ótima formação e média alta retenção. No nariz, aquele cheiro de roça e curral que toda Saison deveria carregar em seu DNA. Há ainda um excelente frutado cítrico (laranja, manga e pêssego), herbal e percepção assertiva de acidez. Na boca, a textura é levemente frisante. No primeiro toque, cítrico seguido de acidez suave e amargor eficiente. Dai pra frente, uma cerveja bastante agradável com notas cítricas (laranja, maracujá e manga) predominando-se sob uma base de malte e acidez, até um pouco comportada para o estilo. No final, doçura cítrica e acidez. No retrogosto, adstringência, mais cítrico, acidez e muita refrescancia. Gostosa!
Mais uma da linha especial para o Brasil, a To Øl IPA(Nema) é uma American IPA potente, cuja receita une os maltes Pilsner, Pale, Munich, Cara Crystal com aveia em flocos e três famosos lúpulos norte-americanos: Citra, Amarillo e Simcoe. O resultado é uma cerveja de coloração âmbar alaranjada com creme levemente bege de ótima formação e media alta permanência. No nariz, muito frutado cítrico (laranja, maracujá e pêssego) seguido de herbal (grama) com doçura caramelada na base, tentando equilibrar o conjunto. Na boca, a textura é picante. O primeiro toque traz de cara amargor e acidez seguidos de cítrico (laranja e maracujá). Há mais amargor pela frente, e ele é longo e persistente trazendo consigo leve resina e muito cítrico (novamente maracujá e laranja). Ainda é possível perceber a doçura dos maltes, que suavizam um pouco o impacto. O final é amarguinho enquanto o retrogosto traz cítrico, herbal, doçura e leve adstringência.
Indo para o alto da tabela da To Øl com a Black Malts and Body Salts, uma receita de Black IPA dinamarquesa produzida na Bélgica com lúpulos made in USA (Simcoe, Centennial) e britânicos (Tettnanger), café francês e maltes Pilsner, Cara Crystal, Black, Chocolate, Melanoidin, aveia e açúcar mascavo. O resultado é uma cerveja de coloração preta intensa com creme bege escuro de boa formação e alta retenção. No nariz, uma deliciosa junção de derivados de malte torrado com derivados de lúpulo cítrico, que apaixona. O café surge em destaque com leve base de chocolate amargo e de cítrico. Na boca, a textura é sedosa e levemente picante. O primeiro toque propõe doçura logo atropelada por amargor potente, cítrico e torrado, que deixam o bebedor inebriado. Dai pra frente, só alegria: são 9,9% de álcool que parecem quase nada num conjunto que honra o intento da receita: juntar o melhor da IPA com o melhor da Stout. O final é amargor, torrado e levemente cítrico. No retrogosto, mais amargor, mais café, mais cítrico e muito amor. Demais.
Indo para o setor das IPAs tradicionais da casa com a To Øl First Frontier, uma American IPA com lúpulos norte-americanos: Warrior, Centennial e Simcoe. De coloração âmbar alaranjada com creme branco (e leves traços alaranjados) espesso de excelente formação é alta retenção, a To Øl First Frontier apresenta um aroma intensamente cítrico, sugerindo maracujá, laranja e acerola. Há ainda nítida presença herbal (grama) e uma suave sugestão de resina. Na boca, a textura é levemente picante. O primeiro toque traz doçura maltada junto a frutado cítrico, que poucos segundos depois domina a atenção do bebedor (com maracujá e acerola). O amargor é potente, mas não agressivo, abrindo caminho para um conjunto que pende para o lado cítrico e herbal, mas permite percepção tanto de doçura quanto de resina. O final é maltado e cítrico. No retrogosto, amargor suave, resina distante e um agradável cítrico. Boa.
Da primeira fronteira para fronteira final: To Øl Final Frontier, uma American Double IPA com o dobro de lúpulos norte-americanos da anterior (desta vez, Columbus, Centennial e Simcoe). De coloração âmbar alaranjada turva com creme branco (e leves traços alaranjados) espesso de excelente formação é alta retenção, a To Øl Final Frontier apresenta um aroma com cítrico e herbal ainda mais intensos do que na First Frontier sugerindo maracujá, acerola e limão mais resina suave e boa base de malte de caramelo. Na boca, a textura ainda é levemente picante. O primeiro toque traz rápida doçura maltada atropelada na sequencia por frutado cítrico e amargor potentes, mas, ainda assim, não exagerados. O conjunto que surge a seguir carrega bem nos sabores: cítrico (maracujá), herbal (grama), doçura de caramelo e resina ainda suave. O final é maltado e amarguinho. No retrogosto, doçura de caramelo, cítrico e herbal. Delicia.
Aumentando a pegada, a To Øl Dangerously Close To Stupid é uma American Double IPA com uma combinação de lúpulos norte-americanos diferentes dos usados na Final Frontier: aqui a escolha recai sobre Citra e Centennial. De coloração dourada levemente turva e creme branco de ótima formação e média alta retenção, a Dangerously Close To Stupid é notadamente mais cítrica que as anteriores, com o lúpulo Citra sugerindo abacaxi, lichia e limão enquanto maltes oferecem doçura de caramelo na base. Na boca, a textura é seca e levemente frisante. Doçura marca o primeiro toque seguida de cítrico caprichado e amargor impressionantemente baixo para o estilo, o que aumenta o drinkability. Dai pra frente, um suco de frutas cítricas (abacaxi, limão e lichia) com leve doçura maltada e pouca percepção dos 9.3% de álcool. O final traz um pouco de cítrico e leve amargor. No retrogosto, abacaxi, suave caramelo, trigo e amor. Bela!
Nona da lista, a Ov-ral Wild Yeast IPA é uma colaborativa da To Øl com a Mikkeller: outra Double IPA com lúpulos norte-americanos (Simcoe, Centennial e Amarillo), só que esta com leveduras selvagens (incluindo Brett). O nome homenageia um clássico trapista belga: Orval. De coloração âmbar alaranjada com creme branco (de leves traços alaranjados) espesso de excelente formação é alta permanência, a Ov-ral Wild Yeast IPA apresenta um aroma intenso distribuindo sugestões de resina, caramelo, terroso e frutado cítrico (grapefruit) e percepção de picancia e condimentação (canela e pimenta). Na boca, textura melosa e picante (álcool). O primeiro toque traz forte cítrico (grapefruit) seguido de terroso, resina e amargor potente, que deixa transparecer levemente os 10.5% de álcool da receita, sem incomodar, afinal boa parte das atenções estão voltadas para o traço de resina e terroso que o amargor deixa para trás. O final é amargo e caramelado. No retrogosto, resina, terroso, cítrico e caramelo. Provocante.
Fechando o passeio com a To Øl Black Maria, mais uma Black IPA da casa (e, pelo jeito, os caras manjam do riscado). Na receita, um blend de lúpulos (Columbus, Centennial, Galaxy e Cascade) sobre uma base de malte Carafa com pequenas porções de maltes Caramel e Chocolate, opção que vista valorizar a lupulagem sem adoçar tanto o conjunto. O resultado é uma cerveja de coloração preta intensa com creme bege escuro de boa formação e alta retenção. No nariz, uma sensação bem próxima da Black Malts and Body Salts, mas mais delicada, com sugestão de café e notas cítricas bastante equilibradas e não tão profundas quanto na “companheira”. Na boca, a textura é cremosa com leve picância (dos 8,1% de álcool). No primeiro toque, uma impressionante junção de café, chocolate e cítrico mostra logo as qualidades desta cerveja. O amargor é potente, mas não exagerado, abrindo caminho para café, chocolate e cítrico numa proposta de drinkability maior do que na Black Malts and Body Salts (mais completa). O final traz café, cítrico e amargor. No retrogosto, mais café, cítrico e amargor. Outra delícia.
Balanço
Produzida com exclusividade para o mercado brasileiro, a To Øl WBeer Witbier é uma delícia refrescante, com leve aridez típica de Saison, e muito sabor (cítrico). Gostei bastante. Já a Braziller Weisse me decepcionou um tiquinho por domar em excesso a radicalização do estilo Berliner e pouco acrescentar da fruta adicionada, melancia. Ela é boa, mas eu esperava algo no nível da Evil Twin Brazil Ich Bin Ein Berliner Maracujá, e ela ficou bem abaixo. A Amazaison é uma Saison bem básica, com o toque de rural que o estilo pede, ainda que ele apareça mais no aroma do que no sabor. Mesmo assim, cumpre bem o papel do estilo. Na linha da Amazaison, a IPA (Nema) é uma American IPA que não arreda o pé um centímetro do estilo proposto. Pontos na recriação, mas um pouco de decepção para quem espera novidade. Já no posto de minha cerveja favorita da To Øl, a Black Malts and Body Salts foi paixão ao primeiro gole. Um baita equilíbrio (difícil de ser alcançado) entre malte torrado e notas cítricas. Quero mais!
A To Øl First Frontier deseja recriar o American Way of Life micro cervejeiro com uma dose caprichada de lúpulos Made in USA, e convence, ainda que não acrescente novidades. A Final Frontier eleva o conjunto da anterior, e ainda que mantenha o mesmo padrão básico do estilo (ou seja, nada de novidades), soa mais interessante e saborosa. A To Øl Dangerously Close To Stupid vai um pouco além porque consegue aliar sabor, álcool e drinkability com eficiência surpreendente. Refrescante e alcoólica, ela é uma delícia cítrica. Indo ainda mais longe do que as IPAs anteriores, a Ov-ral Wild Yeast IPA é uma Imperial American IPA com levedura Brett e 10,5% de álcool. Abaixo da temperatura ideal (entre 6 e 8 graus), muito terroso e resina. No ponto certo, a doçura caramelada consegue marcar presença tentando equilibrar o impossível, mas conseguindo um bom resultado. Fechando as 10 com mais uma Black IPA, a Black Maria, não à toa a segunda melhor (para mim) de toda sequencia, perdendo exatamente para a outra Black IPA, Black Malts and Body Salts, que me pareceu mais profunda e completa do que ela, que me soou mais simples, mas não menos maravilhosa.
To Øl WBeer Witbier
– Estilo: Witbier
– Nacionalidade: Dinamarca
– Graduação alcoólica: 4,5%
– Nota: 3,48/5
To Øl Braziller Weisse
– Estilo: Berliner Weisse
– Nacionalidade: Dinamarca
– Graduação alcoólica: 4%
– Nota: 2,98/5
To Øl Amazaison
– Estilo: Saison
– Nacionalidade: Dinamarca
– Graduação alcoólica: 5,5%
– Nota: 3,39/5
To Øl IPA(Nema)
– Estilo: American IPA
– Nacionalidade: Dinamarca
– Graduação alcoólica: 7%
– Nota: 3,39/5
To Øl Black Malts and Body Salts
– Estilo: Black IPA
– Nacionalidade: Dinamarca
– Graduação alcoólica: 9,9%
– Nota: 4,24/5
To Øl First Frontier
– Estilo: American IPA
– Nacionalidade: Dinamarca
– Graduação alcoólica: 7,1%
– Nota: 3,52/5
To Øl Final Frontier
– Estilo: American Double IPA
– Nacionalidade: Dinamarca
– Graduação alcoólica: 9%
– Nota: 3,59/5
To Øl Dangerously Close To Stupid
– Estilo: American Double IPA
– Nacionalidade: Dinamarca
– Graduação alcoólica: 9,3%
– Nota: 3,63/5
To Øl Ov-ral Wild Yeast IPA
– Estilo: American Double IPA
– Nacionalidade: Dinamarca
– Graduação alcoólica: 10,5%
– Nota: 3,69/5
To Øl Black Maria
– Estilo: Black IPA
– Nacionalidade: Dinamarca
– Graduação alcoólica: 8,1%
– Nota: 3,92/5
Ranking Pessoal: To Øl
4,29/5 – To Øl Black Malts and Body Salts
3,92/5 – To Øl Black Maria
3,75/5 – To Øl Brown Paper Bag
3,74/5 – To Øl Garden of Eden
3,69/5 – To Øl Ov-ral Wild Yeast IPA
3,63/5 – To Øl Dangerously Close To Stupid
3,59/5 – To Øl Cloud 9 Wit
3,59/5 – To Øl Final Frontier
3,58/5 – To Øl WBeer Witbier
3,54/5 – To Øl Gluten Free Pale Ale: Reparationsbajer
3,52/5 – To Øl First Frontier
3,51/5 – To Øl Fuck Art – This is Architecture
3,41/5 – To ØL Yeastus Christus
3,39/5 – To Øl IPA(Nema)
3,39/5 – To ØL Amazaison
2.98/5 – To Øl Braziller Weisse
Leia também
– Top 1001 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
– Leia sobre outras cervejas da To Øl neste blog (aqui)
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