Entrevista: Viper

por Marcos Paulino

Andre Matos (vocal), Felipe Machado e Hugo Mariutti (guitarras), Pit Passarell (baixo) e Guilherme Martin (bateria) subiram ao palco do Carioca Club, em São Paulo, no dia 6 de dezembro, para o show de lançamento do DVD “To Live Again – Live in São Paulo”. No repertório, músicas de todas as fases da banda e algumas surpresas, como versões inéditas na voz de Andre, um dos fundadores da banda.

O DVD é o registro da turnê comemorativa dos 25 anos de “Soldiers of Sunrise”, disco que colocou o quinteto paulistano, então formado por adolescentes, em evidência no heavy metal mundial. Além do DVD, o Viper, que completa 30 anos, entre idas e vindas, também está lançando aquele clássico álbum em versão remasterizada e com bônus especiais: as seis músicas da “The Killera Sword”, primeira demo da banda, um material inédito para os fãs.

São seis álbuns de estúdio (“Soldiers of Sunrise”, 1987; “Theatre of Fate”, 1989; “Evolution”, 1992; “Coma Rage”, 1994; “Tem Pra Todo Mundo”, 1996; e “All My Life”, 2007) e dois a vivo no currículo (“Maniacs in Japan”, 1993; “ To Live Again”, 2015), e o guitarrista Felipe Machado, em conversa com o PLUG, parceiro do Scream & Yell, relembra o começo da banda, fala sobre o disco em português e o momento atual.

Se o Viper nunca tivesse parado, seria hoje uma das maiores bandas do heavy metal mundial?
Difícil saber. Mas acho que aquela formação com o Andre, no “Theatre of Fate”, era realmente muito boa. Acho que a banda estava muito afiada, infelizmente o Andre optou por sair para fazer a faculdade de música e pouco depois formou o Angra. Mas o Viper seguiu bem também com o Pit, fizemos um de nossos melhores discos, “Evolution”… Enfim, é impossível saber.

O sucesso chegou muito cedo, quando vocês ainda eram bastante jovens. Uma eventual dificuldade pra lidar com isso pode ter contribuído para o fim precoce da banda?
Não, porque o Viper nunca acabou. Interrompemos a carreira por volta de 1996, após um problema com uma gravadora, mas sempre seguimos tocando juntos. O fato de ter formado a banda quando ainda éramos adolescentes sempre foi algo do qual nos orgulhamos, nunca chegou a ser um problema.

Como foi para uma banda brasileira conseguir tanto destaque no exterior, sobretudo no Japão, naquele final dos anos 80, quando o heavy metal vivia uma fase áurea?
Foi muito legal, porque era a prova de que nosso som poderia ser algo global. É motivo de orgulho saber que tinha gente do outro lado do mundo que curtia nossas músicas, ainda mais porque isso foi muito antes da internet, quando o mundo ainda não era tão conectado como é hoje.

O “Tem Pra Todo Mundo”, com a mudança radical no estilo da banda, foi uma última tentativa de manter o Viper em atividade?
Não foi a última tentativa, foi apenas uma vontade de cantar em português e fazer um rock mais brasileiro. Antes tínhamos lançado o “Coma Rage”, que gravamos em Los Angeles, e depois passamos muito tempo fazendo shows no Brasil. Aliás, foi nossa maior turnê brasileira. Como estávamos passando muito tempo no Brasil e o “Coma Rage” não teve turnê no exterior, quisemos fazer um disco mais brasileiro. O disco é muito legal, mas não é Viper. Deveríamos ter feito, talvez, sob outro nome, como um projeto independente da banda. Mas não temos problema com esse disco, acabamos não tocando músicas dele no show porque o estilo é muito diferente de heavy metal.

Nos anos 2000, quando vocês se reuniram novamente, o que impediu a continuidade do trabalho após alguns anos?
Nunca deixamos de tocar e sempre nos reunimos quando tinha alguma data especial ou alguma razão para isso. Em 2007, lançamos um disco de inéditas chamado “All My Life”, um disco muito legal, que contou inclusive com participação do vocalista Andre Matos na música “Love is All”. A banda tinha outra formação, com Ricardo Bocci no vocal, Renato Graccia na bateria e Val Santos na outra guitarra, mas mesmo assim é um disco muito bom. A razão de não ter continuado é que continuamos levando em paralelo outros projetos profissionais e musicais, então o Viper acabou ficando um pouco de lado.

Parece que a química entre vocês continua intacta. Isso indica uma volta definitiva da banda?
Com o Viper a gente nunca sabe o que pode acontecer… Seria muito legal ter uma volta definitiva, mas continuamos com nossos projetos profissionais e musicais paralelos. Eu lancei um disco (“FM Solo”) e estou fazendo shows com a minha banda, o Andre Matos tem a banda dele, o Guilherme Martin tem o Toyshop… Enfim, o Viper sempre volta definitivamente até uma nova pausa para abastecer as baterias.

“Soldiers of Sunrise”, que está ganhando versão remasterizada pra comemorar os 30 anos de seu lançamento, envelheceu bem?
Muito bem, principalmente em termos das composições. O som do disco ficou melhor com a remasterização, mas ele tinha uma qualidade limitada à tecnologia da época, que era bastante rudimentar. Em 1987, quando o disco foi gravado, não existia uma cultura de rock pesado no Brasil, então era difícil encontrar profissionais e estúdios acostumados a gravar esse tipo de música. Por outro lado, as canções são atemporais, algo que temos visto nos shows em que tocamos o repertório inteiro do disco.

Quando vocês sobem no palco hoje, quarentões, se sentem como os adolescentes que lançaram aquele disco cultuado até hoje?
Não, nos sentimos como quarentões mesmo. É claro que quando tocamos o repertório do “Soldiers” vem aquela nostalgia, algumas memórias da época… Mas a música não tem tempo, ela é feita de notas e melodias que impõem sua força no momento em que são apresentadas. Com o público é a mesma coisa: tem muita gente que ouvia o disco na época, então é uma forma de lembrar do passado com carinho, mas nunca de revivê-lo, porque isso seria impossível.

Os fãs podem esperar um disco de inéditas?
Com o Viper tudo é possível. Mas não há planos para isso no momento.

Aliás, quem são os fãs do Viper hoje: aqueles que viram o início da banda, os jovens que conheceram depois ou ambos?
Acho que ambos. Tem muita gente que vai atrás dos sons que ouvia quando era mais jovem, outros querem ver a banda porque ouviram falar. O legal é que todo mundo parece gostar. E, pra gente, é isso que importa.

Marcos Paulino é editor do caderno Plug (www.mundoplug.com), da Gazeta de Limeira.

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