por Bruno Capelas
A banda Selton vive hoje um momento diferente em sua carreira: depois de tocar Beatles em parques de Barcelona para ganhar trocados, fazer seu nome no circuito mainstream italiano de música e, já bem-sucedidos, voltar à pátria com um disco cujo título é uma das mais portuguesas das palavras (“Saudade”, lançado em 2013), o grupo se prepara para seguir em frente com seu quarto álbum, “Loreto Paradiso”, previsto para 2016. O primeiro passo para o paraíso foi dado na última semana, com o lançamento de “Cemitério de Elefante”, primeiro single do disco, liberada para download gratuito no http://seltonmusic.com.
“A música fala sobre a jornada solitária que todos fazemos em direção à morte, com nossos medos, dilemas e expectativas”, conta o guitarrista e vocalista Ramiro Levy, em entrevista rápida ao Scream & Yell, na ponte aérea Milão-São Paulo. Para promover o single, que havia sido apresentado em primeira mão em março passado no Coala Festival, a Selton – que conta ainda com Ricardo Fischmann (voz, guitarra e teclados), Daniel Plentz (voz e bateria) e Eduardo Stein Dechtiar (voz e baixo) – apostou em um meio diferente, convidando os ouvintes a baixar a canção após curtirem um game com visual retrô, bem ao estilo 8-bits.
O vocalista Ramiro Levy dá pistas sobre o futuro álbum. “Se Saudade falava do sentimento de não pertencer a lugar nenhum, “Loreto Paradiso” fala de aceitar o lugar onde estamos e buscar nele o nosso paraíso”, diz ele, que faz o convite: “Venham [aos shows]! Afinal, a vida é longa, mas encurta a cada dia”.
Por que lançar um single com a ajuda de um game em 8-bits? E quais são os games favoritos de vocês?
Sempre gostamos de ter ideias diferentes para cada material que lançamos: às vezes, isso ajuda a canção a ir mais longe e fazer mais sentido para as pessoas. Quando estávamos pensando em “Cemitério de Elefantes”, nos veio à mente o jogo escondido do Google Chrome, que descobrimos poucos dias antes. Acabamos ligando uma coisa na outra e resolvemos substituir o dinossauro do jogo original pelo elefante, protagonista da nossa música. Graças aos amigos Riccardo Forina e Andrea Dal Passo (que nos ajudaram com a programação do game), essa ideia maluca acabou se tornando realidade. Para nós, fez todo o sentido: a música fala sobre a jornada solitária que todos fazemos em direção à morte, com nossos medos, dilemas e expectativas. A aventura do elefante no jogo não deixa de ser uma representação bem humorada disso. Sobre os jogos, pessoalmente sempre fui muito fã de Super Mario Bros. 3 e do Sonic. Não sei por que, mas jogos de aventura sempre estiveram muito à minha cabeça. Meu primeiro videogame foi um Atari, e já naquela época Pitfall era um dos meus games preferidos.
O que é o “Cemitério de Elefante” e o que essa música representa na carreira da banda? Tem alguma coisa a ver com Rei Leão ou é só a semelhança da expressão mesmo?
Não nos inspiramos no “Rei Leão” quando escrevemos a letra (risos). Na verdade, “Cemitério de Elefante” é uma expressão que está no imaginário coletivo. A música fala de um sentimento que mais cedo ou mais tarde todos enfrentamos na medida em que crescemos. Estamos falando sobre colocar as próprias expectativas, medos e frustrações na balança e aceitar as escolhas que fazemos. Aceitar que algumas certezas que cultivamos desde pequenos talvez não se realizem. “Cadê Zessé, cadê Cecília? Vou ficar velho e não vou constituir família” é uma frase que sintetiza um pouco essa sensação.
O que dá para esperar para “Loreto Paradiso”, o novo disco de vocês?
Apesar de ter alguns pontos em comum com o nosso disco precedente (como a variedade de idiomas), acreditamos que “Loreto Paradiso” seja uma evolução notável em relação ao “Saudade”, tanto na estética quando na temática. Quer dizer, nossas escolhas estéticas se intensificaram e as letras também apresentam um amadurecimento importante. Se Saudade falava do sentimento de não pertencer a lugar nenhum, “Loreto Paradiso” fala de aceitar o lugar onde estamos e buscar nele o nosso paraíso.
– Bruno Capelas (@noacapelas) é jornalista e assina o blog Pergunte ao Pop.
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