por Leonardo Vinhas
“Superior”, Mark Millar, arte de Leinil Yu (Panini)
Depois de “O Procurado” e os dois “Kick-Ass” (para não falar de todos os filmes da Marvel, da série ‘The Walking Dead” e da trilogia de Christopher Nolan para o Batman), Mark Millar parece ter começado a criar suas HQs já pensando na adaptação cinematográfica – e a verdade é que o irlandês já perdeu a mão há um tempo, recorrendo ao choque fácil, à violência gratuita e às tramas formulaicas. ‘Superior” foge um pouco desse ritmo, trazendo certo espírito das eras de Ouro e de Prata dos quadrinhos para os tempos atuais ao contar a história de Simon Pooni, adolescente com esclerose múltipla que recebe a visita de uma entidade misteriosa que lhe confere superpoderes, transformando-o no Superior, herói de ficção que Pooni idolatra desde criança. O que um menino quase inocente faria com esses dons especiais, e o preço faustiano que ele tem a pagar por isso, são os elementos principais da trama. Como diversão ligeira, funciona – mas se arranhar um pouco além da superfície, o leitor encontra soluções fáceis, alguns clichês e uma lógica bastante infantil na resolução final do conflito de Simon com seu “benfeitor”. Já que o foco de Millar é no cinema, digamos que Superior é como uma Sessão da Tarde: obra simpática demais para você dizer que é ruim, mas que não passa de entretenimento rápido, espetaculoso e divertido.
Preço: R$ 56
Nota: 4,5
“Vizinhos”, Laerte (Cachalote)
Se descontarmos “Muchacha” (série de tiras que depois virou livro pela Companhia das Letras), “Vizinhos” é a volta de Laerte às histórias mais longas, que ele havia negligenciado em favor das tiras. O resultado é aquém do esperado, e não só por causa do traço mais sujo (que ora funciona a favor da história, ora depõe contra ela) e da indesculpável impressão porca. A trama é um embate entre um flanelinha e um solitário representante da classe média, cuja relação escala gradativamente para delírio e violência. A intenção parece ter sido criar uma alegoria sobre uma nova forma de luta de classes, um recorte no preconceito social que em São Paulo é mais violento que em qualquer outra cidade brasileira. Mas o saldo final é apenas uma boa história de terror psicológico. E convenhamos: Laerte pode fazer muito melhor que isso.
Preço: R$ 25
Nota: 6,5
Leia também:
– Entrevista: “Como disse o George Harrison, todas as coisas devem passar”, Laerte (aqui)
– “Bigodes ao Léu”: os gatos finalmente ganharam a sua vez (aqui)
“Fashion Beast – A Fera da Moda“, Alan Moore e Malcolm McLaren com Antony Johnston, arte de Facundo Percio (Panini)
Há cerca de 15 anos, Malcolm McLaren (o inventor do punk enquanto “cena”?) procurou Alan Moore, na época – e ainda hoje – o criador de HQs mais reverenciado dentro e fora de seu meio. A proposta não era fazer uma HQ, e sim um filme. Das ideias que surgiram no brainstorming embalado por duas mentes bastante fora da curva surgiu o roteiro de “Fashion Beast”, que nunca chegou a ser filmado. Anos depois, a editora Avatar encontrou uma cópia do roteiro, e com a benção de McLaren e Moore, transformou tudo em uma adaptação para quadrinhos. O resultado é impressionante: uma fábula sobre o mundo da moda, individualidade, auto-imagem e alienação social. A arte de Facundo Percio é elegante e cinematográfica (chega a dar tristeza o filme não ter sido feito), e consegue manter o ritmo tenso e energizante da obra original. Em “Fashion Beast”, a extravagância de McLaren e a contundência de Moore encontram o equilíbrio perfeito, e o resultado é um romance denso, comovente e algo assustador.
Preço: R$ 30
Nota: 9,5
– Leonardo Vinhas (@leovinhas) assina a seção Conexão Latina (aqui) no Scream & Yell
Muito boa matéria!
Valeu
Acabei de ler Fashion Beast e mais uma vez se prova que Alan Moore é a ” mão esquerda de Deus” ( quem ler o prefacio escrito pelo próprio vai entender). É interessante mencionar que o Malcolm MacLaren queria uma mistura de Christian Dior e a Bela e a Fera, e é por aí mesmo.