Entrevista por Tomaz de Alvarenga
Foto por Marcelo Costa
Marcelo Gross é membro fundador, guitarrista, compositor e backing vocal da Cachorro Grande, banda formada em Porto Alegre em 1999 – sem contar um período em que assumiu a bateria do amigo Júpiter Maçã, na turnê do álbum “A Sétima Efervescência” (1997). Ao lado da Cachorro, Marcelo Gross gravou seis discos – o mais recente, “Baixo Augusta”, é de 2011 – e decidiu, em 2013, estrear solo.
Com o nome de “Use o Assento para Flutuar”, o debute de Marcelo Gross não significa uma pausa da Cachorro Grande. “Muitas músicas estavam na gaveta, pedindo pra sair. Eram (canções) mais pessoais, (que) não tinham muito a ver com a Cachorro Grande”, explica o cantor sobre a opção de reservar um repertório para este novo projeto, que conta com Clayton Martin na bateria e Fernando Papassoni no baixo.
Cansado e sem dormir, Marcelo Gross desembarcou em Goiânia após tocar em Natal, divulgando seu álbum de estreia, que está sendo lançando em CD e em vinil – além de estar disponível nos portais de streaming. Em um papo descontraído, na beira da piscina do hotel, antes do seu show no Goiânia Noise Festival, o guitarrista do Cachorro Grande fala sobre este novo projeto da carreira. Ouça o álbum e confira o papo abaixo:
Por que o álbum se chama “Use o Assento para Flutuar”?
Eu viajo todo final de semana para tocar e me chamou a atenção aquele aviso que tem no avião, com seu duplo sentido. Percebi uma certa poesia ali. Usei com este propósito, que tem a ver com o disco, de viajar sem sair do lugar. Acho que a música e meu disco proporcionam isso. É uma viagem. É algo que faço em casa e que as pessoas não costumam mais fazer: sentar e ouvir música. Portanto remete ao passado, quando as pessoas se reuniam para ouvir música. Hoje isso se perdeu, com as pessoas escutando nas caixinhas do computador e tal… A música virou só um pano de fundo e não o que de fato a pessoa consome. Com “Use o Assento para Flutuar” trago à tona esta ideia.
As músicas deste CD são canções “de gaveta” que você considerava que não teriam oportunidade com a Cachorro Grande? Ou são mais pessoais?
As duas coisas. Várias músicas eu compus especialmente para o disco. Eu sempre quis tocar com o Clayton (baterista), que é meu amigo há muitos anos. E muitas músicas estavam na gaveta, pedindo pra sair. E elas eram mais pessoais, não tinham muito a ver com a Cachorro Grande. Nem tentei colocá-las por lá. Escrevo em grande quantidade, sou meio compulsivo. Então eu já tinha um bom material que há muito tempo eu pensava em fazer algo com ele. Estou muito orgulhoso pelo resultado.
O álbum é bem rico musicalmente, com vários instrumentos. Como você pretende transportar isso para o palco, com uma formação mais enxuta nos shows?
Gravamos o álbum no porão da casa do Clayton. Foi de uma maneira bem maluca: a gente decidiu gravar ao vivo toda a parte de guitarra, baixo e bateria, sem metrônomo e quase sem overdub de nenhum outro instrumento. Mais tarde, acabei adicionando sopro, piano e teclado, mas em um primeiro momento vamos atacar de power trio, como eram os power trios do jeito que sempre gostei. Basta ouvir os primeiros álbuns do Hendrix e do Cream… Neste primeiro momento será o esqueleto da proposta. Mais adiante eu incremento.
Em relação ao Cachorro Grande, você acha que a diferença do seu trabalho está mais no teor, na mensagem e letras e menos na melodia?
Essas semelhanças, principalmente na melodia, ocorrem porque a maioria das canções da Cachorro Grande sou eu quem escrevo. Então, claro que tem semelhança. É natural. O som da Cachorro Grande, de certa forma, fui eu que moldei. É igual você ouvir um disco dos Rolling Stones e do Keith Richards. O disco do Keith, obviamente vai ter muito de Stones, mas é outra parada. Principalmente por causa da voz, que é diferente, e tendo outros músicos, há outro approach. O Clayton toca bem diferente do que o Gabriel (baterista do Cachorro Grande).
Como você vai conciliar seus shows com a agenda da Cachorro Grande?
A ideia é aproveitar alguma brecha da agenda da Cachorro Grande, que costuma ter shows sempre. Mas, às vezes, em algum final de semana, tenho uma sexta ou sábado livres, então eu aproveito. Se não abrir a brecha, eu pego as quintas-feiras e os domingos. A ideia é não parar de tocar e ficar na estrada sempre.
– Tomaz de Alvarenga (@tomazalvarenga) é jornalista e escreve sobre música e pão de queijo
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