por Andrea Fabiana
Outubro começou com tempo nublado e chuvoso na Cidade do México, mas nos dias 12 e 13 o sol saiu com toda sua forca para a alegria daqueles que compareceram à quarta edição do Corona Capital 2013, no Autódromo Hermanos Rodríguez. O circuito tem 4.421 km, mas nem toda a área é usada, sendo que dentro do local encontra-se o Foro Sol, que pertence a marca de cerveja concorrente da Corona. De qualquer forma, a dimensão do espaço é proporcional ao número de pessoas que atendem ao evento: 80 mil, de acordo com informações da organização.
No Corona Capital, o mapa de horários de shows é montado seguindo a fórmula europeia e norte-americana, com vários shows se chocando e obrigando o público a escolher entre um palco e outro (algo que o Lollapalooza Brasil 2014 acena testar). No sábado, assistir ao Dandy Warhols significava deixar de lado Conor Oberst enquanto ver Travis e The XX em sequencia significava perder Dinosaur Jr. No domingo, o catálogo de escolhas foi ainda mais cruel: Miles Kane batendo com Stereophonics, Vampire Weekend chocando com Breeders, Arctic Monkeys na mesma hora em que Sigur Rós e Savages, QOTSA num palco e Grimes no mesmo horário em outro. Não é fácil.
Ao acessar o portão 5, entrada do público geral, foi necessário andar uns bons 15 minutos até chegar aos palcos. Para os mais preguiçosos, que talvez quisessem economizar energias para desfrutar o festival inteiro, havia serviços de “transporte” até a porta principal, pelo valor de $40 pesos mexicanos (cerca de R$ 7). Diferente de outros lugares, nos festivais mexicanos é permitido a venda de produtos não oficiais dentro do autódromo (mas fora da área do festival), que ironicamente eram os únicos que tinham camisetas COM o line-up na parte de trás. Nas lojas oficiais, as opções eram vastas, mas sem esse detalhe.
Ao entrar, a primeira coisa que se vê são os vendedores de cerveja que abordam a todos que chegam: “Cerveza! Cerveza helada!”. Nada de fichas e filas extensas. Os vendedores ficam circulando com as bandejas de copos com cerveja apoiadas em suas cabeças e “manobram” de certa forma em seus dedos as notas para dar troco. Também havia a opção de ir ao bar, que era mais conveniente para quem queria o copo colecionável com a marca o logo do festival. Outra forma de amenizar o calor durante o dia eram as raspadinhas e os sorvetes, que incluíram as diversas opções de bebidas e comidas.
Os primeiros palcos visíveis eram o Corona e o Corona Light, com grama que convidava pra sentar ou até deitar, enquanto os palcos Bizco Club e Capital exigiam andar um caminho de asfalto e campos de terra. Foi no palco Capital que às 16h10 os nova-iorquinos de MS MR começaram sua apresentação. Acostumada a mudar seu cabelo, dessa vez a vocalista Lizzy Plapinger trazia seus cachos verdes com algumas pontas avermelhadas. Vestindo uma calça justa e uma blusa com cortes estratégicos que mostravam sua boa forma, a moça não poupou danças sensuais e interagiu bastante com o público, que cantou junto as músicas de seu disco de estreia, como “Fantasy”, “Think Of You” e “Bones”. Lizzy recomendou que, quem estivesse acompanhado, aproveitasse para beijar muito assim que a banda iniciou “Dark Doo Woop”. Seu parceiro Max Hershenow, que ficou a maior parte atrás do teclado e microfone, em ocasiões ia para a frente do palco e mostrou que também dança muito. A dupla encerrou com “Hurricane” a agradeceu o carinho do público, que esperou ansioso o hit.
Às 17h20, no Corona Light, The Dandy Warhols entrou para um show tranquilo, sem muitas surpresas, mas impecável em som, setlist e visão. Com a duração de 50 minutos, foi o show ideal para relaxar e curtir o pôr do sol, assistindo o mais próximo possível do palco ou no telão da área vizinha de descanso, com redes para deitar. O público, que não foi dos maiores comparado com outros shows que aconteciam no momento (Kurt Vile no Capital e PEACE no Bizco Club), parecia bastante satisfeito, e expressou maior empolgação ao reconhecer as primeiras notas de “Bohemian Like You”, “We Used to be Friends”, “The Last high” e “Godless”.
A extensa praça de alimentação trazia diversidade para todos os gostos: cachorro quente, “tortas” (sanduíches), chilaquiles (prato típico com totopos banhados em molho picante), pizzas, sopas (tipo cup noodles), salgadinhos e a opção mais popular, que tinha mais fila, porém sem demorar mais de 15 minutos: Tacos “al pastor” (com carne de porco), “campechanos” (mistura de carne de porco, linguiça e chicharron – torresmo picado) ou “de canasta”, com a tortilla de milho ao vapor e recheio variado: feijão, batata ou carne. Se perguntassem “Con salsa?”, talvez a melhor resposta para um não mexicano fosse “não”, pois apesar de não haver filas, deve ser desagradável uma dor de barriga em banheiros químicos no meio de um festival. Para quem não arranjava lugar nas mesas sob o toldo, havia a opção de sentar do lado da mesma barraca de tacos, na grama fofa e com sombra. Ao voltar aos palcos, era possível cruzar com os carrinhos de mezcal (um tequila mais rústica), vendidos em um kit: copinho, sachezinho com a bebida e frutinhas com pimenta em pó (que se comem após cada gole).
Na sequencia, os escoceses de Travis entraram no palco Light pontualmente às 19h e fizeram um show com hits, variando desde músicas do primeiro até o último álbum, entre elas “Writting to Reach You”, “Love Will Come Through”, “Driftwood”, “Closer” e “Sing”. Depois de algumas declarações ao público, fizeram questão de explicar o hiato de quatro anos da banda: “Somos todos pais, queríamos estar perto de nossas crianças, pois acreditamos que um filho é a música mais bonita que você pode criar”, disse emocionado Fran Healy. Com o público começando a sair para pegar um bom lugar no palco vizinho, que teria The XX em 15 minutos, uma cena bonita foi de ver o público dos dois palcos entoando “Why Does it Always Rain on Me?”, que encerrou o show de forma nostálgica.
Dizer que The XX foi uma agradável surpresa foi pouco. Algumas opiniões que circularam sobre shows anteriores tinham as palavras “entediante” e “sonolento” e foi impossível perceber ambos os adjetivos. Enquanto existem shows de outras bandas que desapontam quando não tocam a música da mesma forma em que foi produzida no álbum, The XX sabe como fazer diferente e agradar o público, ao ponto de provoca-los para dançar. O show começou devagar com “Try”, seguida de “Heart Skipped a Beat”, “Crystalised” e “Reunion”, mas aos poucos foi acelerando o ritmo, deixando a apresentação com um tom de baladinha indie, em suas versões mais rápidas e animadas de “Far Nearer” (cover do Jamie XX), “Night Time”, “Shelter”, “VCR” e “Chained”. No bis, o público aplaudiu muito ao reconhecer a famoso “Intro” da banda, que logo finalizou com “Angels”. Com voz tímida, a guitarrista Romy agradeceu curtamente ao público, enquanto Oliver afirmou que apesar de já ter tocado duas vezes anteriormente no México, o país continua sendo um dos lugares favoritos da banda para tocar. No fim, saiu de mãos dadas com Romy.
Phoenix começou na mesma hora em que The XX finalizava seu show, o que significava perder no mínimo três músicas da banda do marido de Sofia Coppola, devido à caminhada até o palco Capital, dificuldade amplificada com o aumento da multidão à tarde. Ao chegar, a quantidade de pessoas impossibilitava ficar mais à frente, mas graças à qualidade do som, o lugar no meio bastou. Os franceses tocavam “Lizstomania” no momento e já traziam o público pulando. A banda tocou a maioria das músicas do álbum “Wolfgang Amadeus”, de 2009, algumas de “It’s Never Been Like That” (2006), e apresentaram as novas de “Bankrupt”, incluindo uma mistura inusitada de “Love Like a Sunset” com “Bankrupt”, a última que o avançado do horário permitiu, pois M.I.A. começaria logo no Bizco Club.
Às 22h05, o Bizco Club tornou-se uma grande pista de dança que reuniu os mais animados, e a rapper M.I.A. logo sentiu o clima dos mexicanos. O palco, com decoração colorida que lembrava um mini parque de diversões, contrastava com as roupas laranja da cantora, que apesar de nunca parar de dançar, mantinha a voz característica, inclusive quando se jogou na plateia, mais de uma vez, causando a alegria dos que estavam mais à frente. Com uma intensa presença de palco, M.I.A. encantou ao cantar seus hits “Bucky Done Gun”, “Come Walk With Me” e “Boyz”, e encerrou com “Paper Planes” e “Bad Girls” – tristeza para quem precisou sair antes para conseguir pegar o metro. Sair do Autódromo depois da meia noite significa ficar um bom tempo tentando sair das avenidas que cercam o autódromo.
O segundo dia do festival exigiria uma maior energia. A decisão de chegar um pouco mais tarde deixou uma lição: não fazer isso. Por motivos de segurança e para melhorar a organização, demorou-se um pouco mais entrar ao festival pela porta de imprensa, pois era necessário esperar um transporte e depois ser guiada por um dos seguranças que garantia a entrada, o que resultou na perda do show de Jake Bugg, que durou apenas 40 minutos. Ainda deu pra ouvir o fim de “Two Fingers”, de longe. Ao chegar, as muitas camisetas de Arctic Monkeys que circulavam pelo local indicavam qual seria o show mais esperado da noite.
Mas muito antes teve Capital Cities, cujo single “Safe & Sound” foi a trilha oficial do trailer do evento. Os californianos foram logo elogiando a cidade. “México, this is THE capital city!”, gritou Ryan Merchant. No setlist da dupla três covers, abrindo com “Breathe”, do Pink Floyd. Depois foi a vez das faixas dançantes de seu álbum de estreia, “In A Tidal Wave of Mystery”, como “Kangaroo Court” e “Center Stage”, seguida do segundo cover: “Staying Alive” do Bee Gees, em versão eletrônica. Depois de “Safe & Sound”, que levantou o público presente e quem começava a chegar perto do palco, o último cover foi “Holiday”, da Madonna, finalizando novamente com “Safe & Sound”, remixada, com Sebu e Ryan chamando todos pra dançar e sacudir seus casacos e camisetas no ar, culminando em um fato engraçado, quando a dupla pediu, falando em espanhol: “Quiero ver muchas chaquetas!”, que causou muitas risadas, pois “chaqueta” é uma gíria mexicana para masturbação. O show finalizou como uma rave, mas com gente dançando e rindo ao mesmo tempo.
No mesmo palco, alguns minutos depois, o inglês Miles Kane entrou trajando uma camiseta da seleção mexicana e iniciou com “Bombshell”, para um número de pessoas que foi aumentando aos poucos. Na sequencia vieram “Taking Over”, “Don’t forget Who You Are” e You’re Gonna Get It”. “Give Up” surgiu mixada com “Sympathy for The Devil”, dos Rolling Stones. Um perfeito fim de tarde, pelo menos para aqueles que não tinham em seus planos assistir ao show de Fun. Nos telões do palco Corona era possível ler o anúncio: “Por motivos de saúde, Fun. cancela sua apresentação no CC13 programada de 19h às 20h”. No mesmo horário haveria Vampire Weekend, o primeiro atraso da noite.
Com quase meia hora de atraso e impossibilitando aqueles que acreditavam ter tempo para assistir um pouco de The Breeders, os mocinhos de Vampire Weekend apareceram e logo o público, que parecia reunir o Corona Capital inteiro, em sua maioria mulheres, perdoou a banda. O frio foi espantado com os pulos dos mexicanos que cantaram juntos as conhecidas “Cousins”, “Horchata”, “Giving Up The Gun”, “Diane Young” e “Oxford Comma”. O mais sensato foi permanecer ali mesmo e esperar os Arctic Monkeys. Com a noção do atraso da banda anterior, foi possível notar uma maior rapidez na montagem do palco para os britânicos. Sérios e elegantes, o grupo liderado por Alex Turner cumprimentou o público e fez o melhor show da noite. Atrás da banda, um grande “AM” decorava o palco, e as músicas do álbum com o mesmo nome foram recebidas com maior entusiasmo. Claro, não faltaram os gritos em “Don’t Sit Down ‘Cause I’ve Moved Your Chair”, “Reckless Serenade”, “I Bet You Look Good on the Dancefloor” e “Fluorescent Adolescent”. O bis demorou tanto que surgiu a dúvida se realmente seria o fim, mas não podia faltar “R U Mine”, “Knee Socks” e “505” que, para surpresa de todos, teve Miles Kane como convidado especial.
Com o efeito dominó dos atrasos não houve a brecha dos 20 minutos entre o fim do Arctic Monkeys e o começo de Queens of the Stone Age, o que provocou uma cena que remetia a filme de apocalipse: uma multidão enorme dirigindo-se ao mesmo lugar com passos rápidos. Alguns correndo, o que de fato é a melhor alternativa em um festival de este porte. Ao chegar mais próximo do palco Corona, ouviam-se as primeiras notas de “No One Knows”. A banda ganhou os mexicanos com as músicas de seu álbum mais recente “…Like Clockwork”, mas também fez cabeças sacudirem ao som de “Little Sister”, “Burn the Witch” e “Go With the Flow”, além da suavidade de “Make it Wit Chu”. Antes de iniciar “My God is the Sun”, Josh Homme pediu para ligar as luzes em direção ao público: “Quero ver todo mundo, vocês estão incríveis essa noite. Hoje nós subimos na Pirâmide do Sol, e foi incrível. Bom, nosso Deus é o sol”, disse Homme, que foi ovacionado de começo a fim e encerrou o palco Corona com chave de ouro. A noite acabou com as compras dos produtos da marca, que já iam abaixando seus preços para se desfazer da mercadoria, pois CC2013 já foi. E não é para os fracos. Quer chegar a tempo nos shows em diferentes palcos? Corre. Literalmente. Mas agora só em 2014. Esteja em forma.
– Andrea Fabiana (@deafabiana) é jornalista. Todas as fotos por Divulgação / OCESA (exceto as fotos 02, 03 e 05, por Andrea)
Festivais 2013:
– Brasil: Festival Planeta Terra garantido até 2016 (aqui)
– Brasil: Lollapalooza Brasil 2014 em Interlagos (aqui)
– Holanda: Best Kept Secret passa no teste da estreia (aqui)
– Portugal: Primavera Porto acerta no tom revivalista (aqui)
– EUA: SXSW, Difícil não querer voltar nos próximos anos (aqui)
– Chile: Primavera Fauna anuncia line-up para 2013 (aqui)
tirando poucos problemas que já aconteceram por aqui (atraso em shows), esse festival parece ser muito bom… uma pena que fica tão longe do Brasil, pelos custos, talvez valha mais a pena ir no ACL que nele
Igor, ano passado eu fui ao Corona e mesmo comprando tudo meio em cima da hora, super valeu a pena. A Cidade do México está constantemente presente nessas listas de cidade mais feia do mundo (e não é lá grandes coisas longe do centro) mas a experiência de visitar um dos maiores parques arqueológicos do mundo, tomar Mezcal em qualquer bar ali baratinho, visitar Teotihuacan, aproveitar a diversidade cultural (tem MUITO turista de todos os lugares do mundo) e visitar museus e centros culturais incríveis (da Frida, do Diego e seu mural maravilhoso sobre a história moderna do México)… enfim, além do festival, a cidade pode ser amplamente conhecida em, sei lá, 4 dias (contando uma passagem rápida por uma lucha libre). São muitos motivos para ir ao Corona, além de todos esses acima, o festival tem uma buena onda inimaginável, o clima é ótimo, a comida tem um preço justo e se você gasta um pouquinho a mais e compra o ingresso VIP ainda tem uns 4 bares vendendo bebidas maravilhosas por um precinho camarada.
O Corona Capital é um puta custo benefício massa e vale muito a visita <3
(além do mais, mexicanos são baixinhos e a gente vê o show sem problema nenhum hahaha)
Que dificil fazer um festival desses,hein,Brasil?