Relançamentos: Três discos dos Inocentes

1000 Toques por Marcelo Costa

A Warner recoloca nas lojas os três discos essenciais que o Inocentes lançou pela gravadora entre 1986 e 1989.

“Pânico em SP, 1986”, Inocentes (Warner)
Revista Bizz, 1986: José Augusto Lemos, travestido de Claudette Poodle, provoca: “Os Inocentes fazem desde 1981 o que os Titãs estão tentando em 1986”. Um ano antes, de saco-cheio das brigas do movimento punk, o grupo resolveu se concentrar na música gravando uma fita demo (lançada em CD em 1999). A gravação chegou a Branco Mello, que levou a banda para a Warner e, junto a Pena Schmidt, entrou em estúdio em março de 1986 para produzir um mini-lp de seis músicas. A sujeira / tosqueira da demo foi lapidada e o som punk a lá Sex Pistols dos shows se transformou num rock’n’roll elaborado mais próximo de Clash e Buzzcocks. Porradas como “Rotina”, “Ele Disse Não” (que entrou na trilha sonora do programa Perdidos na Noite, de Faustão) e o hino “Pânico em SP” ainda soam contundentes e atuais mesmo 25 anos depois. Seis músicas gravadas em 2011 (incluindo regravações de “Os Vermes” e “A Face de Deus” em versão rockabilly) engordam este relançamento mostrando que o tempo passou, mas os Inocentes ainda são os mesmos.

“Adeus Carne, 1987”, Inocentes (Warner)
Revista Bizz, 1988: num grande debate sobre o rock nacional, Paulo Ricardo pergunta: “Os Inocentes perderam a inocência?”. João Gordo responde: “Perderam e viraram cafrengas”. Herbert Vianna atravessa: “Que isso? As guitarras de ‘Patria Amada’ são as mais pesadas e bem gravadas que já ouvi”. A revolta de João referenda a postura besta de punks radicais, que diziam que os Inocentes tinham se vendido para uma multinacional. “Adeus Carne”, no entanto, mostra uma banda ciente de seu discurso e som. “Pátria Amada” (com um break que os Titãs iriam copiar muito em “Jesus Não Tem Dentes”) arrepia já na linha de baixo da introdução. “Eu”, um poema subversivo de Maiakovski, ganha guitarras sujas. “Morrer aos 18” resume o Serviço Militar. “Em Pedaços” honra rodas de pogo enquanto “Tambores”, recheada de violões folk, e “Cidade Chumbo”, com piano, ampliam o alcance sonoro da banda. “Não é Permitido” foi ironicamente não permitida pela Censura Federal e “Pesadelo”, de Paulo Cesar Pinheiro, ganhou uma versão poderosa. O disco termina, acredite, em samba. Clássico.

Leia também:
– Debate da revista Bizz, 1986: Rock Brasileiro, que barulho é esse? (leia aqui)

“Inocentes, 1989”, Inocentes (Warner)
Em seu terceiro e último disco pela Warner, os Inocentes convocam Frejat (Barão Vermelho) para a produção e aparecem nus e algemados na capa. Canções antigas como “Mais Um Na Multidão” (cujo riff de baião segue o arranjo da demo de 1985) e o hino “Garotos do Subúrbio” (gravado em 1982 no histórico “Grito Suburbano” e aqui resgatado com guitarras no talo em 1m20s emocionais) convivem lado a lado com o rockabilly “A Lei do Cão”, o punk rock ecológico “A Marcha dos Máquinas”, o rock’n’roll com sotaque blues “O Homem Que Bebia Demais”, as influências de hip-hop e samba de “A Voz do Morro” e o baião rock “Promessas” (uma das grandes canções e letras do disco). O destaque, no entanto, é uma balada folk matadora com Frejat nos violões, “A Face de Deus”, em que a calmaria do arranjo valoriza a letra provocativa de Clemente – “Eu vi o Menino Jesus abandonado numa esquina / Francisco de Assis passando cocaína / Vi anjos espatifados por não saberem voar / Vi crentes no inferno por não aprenderem a rezar” – numa postura crítica que anda fazendo falta à música brasileira atual.

Leia também:
– Scream & Yell entrevista Clemente, por Marcos Paulino, em 2006 (leia aqui)

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15 thoughts on “Relançamentos: Três discos dos Inocentes

  1. “Adeus Carne” mudou a minha vida apesar de eu ter nascido um ano antes. Quando eu o descobri em plena forma adolescente passei a ver ele como o melhor álbum nacional, ate eu ampliar meus horizontes musicais.

  2. Pânico em SP e o Concreto Já Rachou da Plebe são EPs, mas valem mais como discos cheios. Clássicos! Para o meu gosto eu preferia o EP original, sem enxertos.
    Pô, Mac, vc pegou no pé dos Titãs, hein? Acho os Titãs – do Cabeça ao Titanomaquia – os melhores dos anos 80. Eles podem até ter copiado o som aqui e ali dos Inocentes, mas a temática/letras da banda é bem superior aos Inocentes.
    Com esse terceiro disco e apoio(jabá) da Warner os Inocentes foram parar na Xuxa!
    Lembro exatamente do meu espanto ao vê-los lá – eu via a Xuxa pra vê-la de shortinho, coisa de adolescente :>) – eles tocaram Promessas e a cara de bocó que a Xuxa fez ao ouvir o refrão da música, que dizia: “Merda, é o que a gente recebe. Merda, é o que a gente merece” é inesquecível e impagável.

    Esse vídeo dos caras é muito bom.
    http://www.youtube.com/watch?v=C0LMsDj0TZA

  3. Zé Henrique, acho que eles foram remasterizados na primeira vez que sairam em CD na série da Warner Arquivos uns anos atrás (o terceiro saiu ‘escondido’ numa coletânea dupla chamada “E-Collection”). Os Titãs tem discos muito fodas nessa época, mas assim como o Sérgio Brito assumiu em uma reportagem da Bizz que copiou na cara de pau o Gang of Four em “Corações e Mentes”, eles poderiam falar que também emprestaram das Mercenárias a temática de “Igreja” e “Polícia” (elas tinham uma “Polícia” e uma “Santa Igreja”), né. 🙂

  4. Se o Brito assumiu o lance do Gang of Four não tinha porque não assumir a cópia das Mercenárias. Acho que foi inconsciente coletivo. rsrsrsrsrrsrs
    Além do mais, quando a cópia sai melhor que o original é caso de perdão, né? :>)

  5. Hehehe, mas assumiu porque foi pressionado pelo repórter, e não tinha como negar, né: “Seu beijo é tão doce, seu suor é tão salgado” e “Your kiss so sweet, Your sweat so sour”.

    Mas concordo no caso das Mercenárias: “Policia” e “Igreja”, dos Titãs, batem de longe “Policia” e “Santa Igreja”, das Mercenarias.

    Já comparando com os Inocentes, pau a pau em termos de rock e punk rock (“Pátria Amada”, “Rotina”, “Eu”, “Pânico em SP” equivalem “Estado Violência”, “Porrada”, “Bichos Escrotos” e “Lugar Nenhum”). A vantagem dos Titãs são coisas como “Diversão” (até hoje, pra mim, um dos hinos do rock nacional), “Comida”, “O Que” e “Miséria”, quando eles brincavam com a eletrônica, sabe.

    E em shows tinha o lance dos Titãs repetirem a qualidade do álbum, o que por um lado pode ser um mérito (qualidade de execução) ou um problema (falta de criatividade na hora de recriar para o ao vivo. Legião era péssima ao vivo, mas o Renato salvava qualquer noite. O Ira!, em diversas vezes, superou as canções dos álbuns. Os Inocentes eram bem mais sujos, mais porradas…

  6. Essas músicas que vc elencou de um e outro são mesmo equivalentes.
    A vantagem dos Titãs não é pouca coisa. Eles eram mais poéticos, outro nível.
    Nunca vi os Inocentes – sou de Recife e nessa época só vinha mainstream pra cá – ao vivo e os Titãs eram de fato uma banda foda no palco.
    Eu fico com a opção qualidade de execução.

  7. que ironia eu li essa BIZZ, quem diria que anos depois o Joazinho gordo radical e tals estaria no Mainstrean MTV e Record, “Adeus carne” é sem duvida e um dos grandes albuns do rock brasileiro

  8. A vantagem dos Titãs era o empresário Manoel Palodian e ter a Globo como aliada.
    Mercenárias e Inocentes eram e são muito melhores que Titãs, punks tardios no já tardio punk brasileiro.
    E a maior cópia pra mim não era nem dos Inocentes, mas das Mercenárias. Chega a ser insultante. Deveria ter rolado processo por plágio contra os oito “titânicus”.
    Parece que os de pinto menor aparecem na frente na foto da capa do 3º disco dos Inocentes.

  9. A confissão sobre o Gang of Four nem precisava ser feita, pois a letra é toda traduzida. Deveria ter rolado outro processo, mas a banda inglesa não teve conhecimento do surrupiamento.

  10. Finalmente vou ver esses discos por ai.Gosto muito da banda, e o Clemente é uma puta figuraça. Minha amiga que foi ver o show deles no Hangar Bar aqui em Curitiba que a diga. No caso dos discos, só fui conhecer mesmo o Embalado a Vacuo que tem o “Cala a boca, não enche o saco”. Patria Amada é um hino, e o clipe ainda passa na mtv volta e meia. Também lembro dos 50 momentos impagáveis do rock nacional na revista Bizz que dizia que pagaram mico com a capa do terceiro disco, considerada hedionda. Fora que a banda tava merecendo uma reedição dos discos, ao mesmo tempo que o Ultraje a Rigor.

    Mac, onde você achou esses discos da coletânea? Nunca vi esses, nem a dupla.

  11. O Poladian era mesmo forte, mas até onde eu sei nunca fez letra de música.
    Quanto a Globo, os Inocentes, como eu relatei acima, frequentaram até a Xuxa na época que a Warner resolveu investir. Portanto…
    É como dizer que Senna e Ronaldo Traveco não eram bons porque eram protegidos do Plim Plim.
    Uma coisa não exclui a outra.

  12. Fernando, a E-Collection foi uma série de coletâneas duplas que a Warner lançou em 2000. A ideia deles era reunir os sucessos de determinado artista no disco 1 e raridades no disco 2. Sairam Ultraje a Rigor (que, entre as raridades, tinha “Filha Daquilo”, versão ‘sociedade’ de “Filha da Puta”, mais “Nós Vamos Invadir Sua Praia” instrumental e remix, “Atirei o Pau no Gato” e “Inútil” ao vivo), Titãs (dezenas de remix mais várias sobras do “Jesus” e do “O Blesq Blom” – http://pt.wikipedia.org/wiki/E-collection_%28Tit%C3%A3s%29) Ira! (“Should I Stay Or Should I Go” e “Tarde Vazia” ao vivo mais alguns remixes) e Lulu Santos (com várias versões instrumentais e raridades do Vimana e de quando ele assinava Luiz Mauricio).

    A do Inocentes saiu nessa leva (ainda tinha, se não me engano, Jorge Ben Jor, Ed Motta e Os Novos Baianos) e tinha os três discos lançados pela Warner em dois CDs (inexplicavelmente cortaram a instrumental “Adeus Carne”) mais duas faixas do “Estilhaços”. Bati no Google agora e ele está custando uma pequena fortuna no Mercado Livre. http://produto.mercadolivre.com.br/MLB-178310424-cd-duplo-inocentes-e-collection-sucessos-raridades-_JM

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