1000 toques por Marcelo Costa
“Deserter’s Songs –Deluxe Edition”, Mercury Rev (V2)
Lançado em setembro de 1998, “Deserter’s Songs” logo foi alçado ao topo das listas de melhores do ano colecionando cotações máximas de bíblias musicais. Não era à toa. Em “Deserter’s Songs”, Jonathan Donahue conseguiu o melhor equilíbrio entre o mundo de fantasia que tem em sua cabeça com a melhor sonoridade dream pop que se pode prensar em um disco de vinil. A influência clara eram os anos 60 (Garth Hudson, da The Band, leva todo mundo para o passado com sua linha melódica de sax). Esta reedição traz o álbum remasterizado e um CD bônus com 13 curiosidades entre registros caseiros (de “Goddess on a Hiway”, retirada de um cassete e em péssima qualidade, e números que ficaram de fora como “A Soft Kiss (For Waking Up)” e “Night On Panther Mountain”), primeiras versões (“Opus 40” mais pesada; “Delta Sun Bottleneck Stomp” ainda mais agitada e com uma bela linha de baixo) além de um remix de Bill Laswell para “Holes” que, por serem rascunhos, fazem a alma ter ainda mais vontade de ouvir o disco original.
Nota: 9
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“Dirty Power”, Iggy and The Stooges (Music Brokers)
O catálogo de bootlegs do senhor James Newell Osterberg é famoso e extenso. Os obrigatórios “Metallic K.O.”, de 1976 ou os boxes “Night of Destruction”, de 1991 com seis CDs, e o recém-lançado “Roadkill Rising”, com quatro CDs que cobrem dos anos 70 aos 00, são itens tão fáceis de serem encontrados quanto o disco novo da Britney Spears. “Dirty Power” flagra (no primeiro CD) ensaios dos Stooges na fase podraça que a banda viveu entre 1972 e 1973, sem grana, sem comida e sem futuro (período retratado de forma brilhante em “Mate-Me Por Favor”, de Legs McNeil e Gillian McCain). Porradas como “Tight Pants”, “I Got a Right” (tudo que o Sex Pistols sempre quis ser) e “Cock in My Pocket” jogam esporro no ventilador, mas ainda há espaço para blues toscos (e inéditos) como “Till The End of The Night” e “Jesus loves The Stooges”. O CD 2 avança até 1977 flagrando demos toscas e inspiradoras de hinos como “Search and Destroy”, “I Wanna Be Your Dog”, “Lust For Life”, “The Passanger” e “China Girl”. Sujeira é isso. Essencial.
Nota: 9
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“Let Love In” / “Murder Ballads” / “The Boatman’s Call” / “No More Shall We Part”, Nick Cave and The Bad Seeds (Mute)
A série que já tinha revisitado os sete primeiros discos de Cave alcança mais quatro álbuns do bardo no mesmo padrão: no CD, o tracking list original remasterizado e no DVD todos os b-sides do disco em MP3, todos os videoclipes em MP4 e o ótimo documentário “Do You Love Me Like I Love You”, em que membros da banda, jornalistas e famosos falam sobre cada disco. “Let Love In” (1994) traz cinco faixas bônus (entre elas as ótimas “That’s What Jazz Is To Me” e “Where The Action Is”); de “Murder Ballads” (1996) surgem quatro obscuridades interessantes (a trava língua “King Kong Kitchee Kitchee Ki-Mi-O”, o exercício “The Ballad Of Robert Moore And Betty Coltrane” e as ótimas “Knoxville Girl” e “The Willow Garden”); de “The Boatman’s Call” (1997) são cinco faixas a mais, nenhuma no clima lírico e temático do disco, mas ainda assim boas. Por fim, “No More Shall We Part” traz oito faixas bônus (quatro delas ao vivo, “God Is In The House” inclusa) que engrandecem ainda mais um álbum absolutamente perfeito.
“Let Love In”: 8,5
“Murder Ballads”: 7
“The Boatman’s Call”: 9,5
“No More Shall We Part”: 10
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caro mac,
inveja batendo por aqui: meus nick caves ainda não chegaram, apesar de ter feito pre order…
bem a propósito do tema reissues: comecei a ler nesta semana e estou te indicando o livro novo do Simon Reynolds – “Retromania, pop culture’s addiction to it’s own past”.
desnecessário dizer que o livro é brilhante, aborda questões pertinentes ao passado sempre presente, a um presente que parece não ter o que acrescentar e a uma ausência de futuro (no future!!!!).
bom domingo!
rodrigo p.
Rodrigo, grande indicação. Eu estava em Londres na semana do lançamento, e o Simon havia escrito um caderno (!) no Guardian explicando/adiantando o livro:
http://www.guardian.co.uk/music/2011/jun/02/total-recall-retromania-all-rage
E no podcast de sexta, no Guardian, o Symon falou mais sobre o livro:
http://www.guardian.co.uk/music/musicblog/audio/2011/jun/17/music-weekly-simon-reynolds-retromania-bonjay-audio
Ps. eu ainda acredito em revoluções, que algo possa mudar, mas a pensata do Simon é sensacional.
excelente, mac… já dei uma conferida nos links!!
gracias!!
ps: concordo com o teu 10 para o “nmswp”, acho o disco simplesmente perfeito, melhor inclusive do que o “tbc”, que mesmo sendo considerado “o” disco da carreira do nick, como uma unidade (conjunto de canções ou de idéias) me parece 0,5 mais fraquinho do que o “no more”
abraço!
Mac,com relação ao Deserter’s Songs,parece que alem dessa deluxe edition dupla,existe uma tripla,que vem com dvd.Vc sabe ou viu isso em algum lugar? Abç.
Não vi essa com DVD e não achei na Amazon informação sobre ela. Uma versão que tinha para vender na Espanha era essa dupla acrescida de um disco ao vivo, o “Beyond The Swirling Clounds”, que veio encartado na revista Rockdelux. Ou seja, é uma edição tripla, mas só vendida em alguns lugares. Como eu já tinha comprado a Rockdelux nem me preocupei em pegar essa edição com o disco ao vivo. Outro lançamento é o “Deserter’s Songs-Instrumental”, mas esse saiu separado: http://amzn.to/kAY2bJ
Adoro esses discos do Nick Cave, principalmente quando ele toca piano.
Olá Mac,só pra constar.A edição tripla do Deserter’s Songs não vem com dvd.É exatamente essa que vc viu lá na Espanha.O terceiro disco é o ao vivo “Beyond The Swirling Clouds”.Encomendei essa edição tripla e chegou agora.Grande abç!