A Vida Útil das Bandas
por Carla Navarrete
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12/05/2005

Eles já foram bons. Fizeram clássicos que entraram para a história do rock. Ou mais importante ainda: mudaram sua vida. Hoje, você ainda compra os CDs deles, como que por inércia. E até gosta de alguma coisa. O trabalho tem seu mérito. Mas não move mais a mesma paixão.

Não, não se trata de nenhuma banda específica. Mas de várias que podem ser enquadradas na categoria “das que já poderiam ter acabado”. Até por uma questão de dignidade. Será que vale a pena para um grupo continuar mesmo após já ter chegado ao auge e se dado conta de que nunca mais vai conseguir alcançar a essência de seus melhores tempos?

O exemplo mais claro desse tipo de banda é o U2. Nos anos 80, veio a explosão do grupo irlandês com álbuns como Joshua Tree e Rattle and Hum. E não se pode deixar de dar crédito a eles. Quando todos esperavam que seu som estivesse datado, o U2 lança em 91 Achtung Baby e mostra que é capaz de se auto-renovar. Mas, depois de algumas mega-turnês e alguns singles, o que de novo eles apresentaram? Será que Bono não acrescentaria mais à humanidade se ficasse só com seus projetos para que as nações ricas perdoem a dívida das mais pobres? Quem sabe ele não ganharia até um Prêmio Nobel da Paz...

Muitas outras bandas seguem o mesmo destino. O Oasis não fez nada demais depois do segundo álbum. O Blur degringolou depois que Graham Coxon o abandonou. Sem contar a banda-que-já-deveria-ter-acabado-mor: os Rolling Stones. Eles tocam os mesmos sons há uns 40 anos, mas parece que ainda estão longe da aposentadoria.

Mas há aqueles que preferem não cair na mediocridade e ser lembrados pelo que fizeram de melhor. Tratam-se das bandas que você fica arrependido de não as ter visto enquanto existiam. E sente aquela dor no peito quando ouve suas melhores músicas. Por exemplo, qualquer um lembra com grande nostalgia de Smiths, Smashing Pumpkins e Mutantes, ou mesmo um dos que se separaram mais recentemente como o Suede. Sem contar aqueles que acabaram e não há chances de vê-los de novo por causa da morte de integrantes, como os Ramones, The Clash, Nirvana ou Joy Division.

O fato de uma banda terminar antes que fique ruim ainda traz outro benefício a longo prazo: a turnê da volta. Com shows que com certeza estarão lotados, esta é sempre uma garantia de um dinheirinho a mais para os ex-integrantes. Ou você não considerou seriamente vender sua alma ao diabo para ver novamente Pixies ou Happy Mondays?

Não se pode esquecer ainda da categoria de bandas que nunca se sabe se acabaram ou não, como o New Order, Jesus and Mary Chain, The Cure e o Kraftwerk. Você ouviu por aí que os caras tinham terminado. Faz anos que não sai um CD deles. De repente, saem do limbo, lançam álbum novo e anunciam a mais recente turnê. Quando você se dá por si, todo seu corpo já está formigando de expectativa. Nunca falha.

No fim, é como a teoria que o personagem Sick Boy defende em Trainspotting: "Numa época você está com tudo, depois você perde, e aí é para sempre". Ou seja, uma vez que um artista atinge o topo, daí para frente é só descida. É o ciclo natural das coisas. A pergunta que fica é: O que é melhor na vida de um músico: Envelhecer com maturidade sabendo que você fez algo bom ou viver na sombra daquilo que já foi?

Leia mais:
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Happiness In Magazines de Graham Coxon, por Jonas Lopes
The Cure, do The Cure, por Jonas Lopes
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