Think Tank - Blur
faixa a faixa
por
Marcelo Costa
maccosta@hotmail.com
12/05/2003
Ser Damon Albarn não deve lá
ser muito fácil, pelo menos nos últimos dois anos. O vocalista
carregou por quase dez anos a posição de frontman de uma
das principais bandas inglesas (e, talvez, representante de 40% do britpop
inteligente) em seis álbuns que culminaram no bom (e multifacetado)
"13" de 1999.
De lá para cá, Albarn
encarnou o projeto Gorillaz que, sozinho, vendeu mais que todos os álbuns
do Blur juntos. O Gorillaz virou febre mundial e ícone pop trazendo
fama e fortuna para Albarn, mas criando sérios pontos de atrito
no Blur. Em sessões de estúdio em Londres e no Marrocos,
o bicho pegou. Pior baixa: o guitarrista Graham Coxon, membro fundador
e músico influente no som da banda, pediu o boné e distribuiu
farpas contra Albarn. Tudo prenunciava o pior.
Cerca de um mês e meio antes
de seu lançamento oficial, "Think Tank" caiu na internet. A banda,
por sua vez, aprovou a divulgação extra via web. O primeiro
single do álbum, "Out Of Time", uma baladinha bonitinha (mas ordinária)
com um toque de latinidade entrou e sumiu das rádios sem dizer a
que veio. O segundo single, "Crazy Beat" (com mão do Fatboy Slim
Norman Cook e grau de parentesco elevado com o mega-hit "Song Two") anda
tocando até em rádios paulistanas. E "Think Tank" pulou direto
para o primeiro lugar da parada inglesa.
A rigor, são quatro canções
muito boas ("Ambulance", "Out of Time", "Caravan" e "Sweet Song") e várias
outras medianas. Bobagem bobagem mesmo apenas umas duas faixas.
E o 'presente'. Yep, isso mesmo. Como
o disco vazou inteiro, a banda resolveu presentear o público colocando
uma faixa a mais em "Think Tank". Mas daí você vai, olha no
encarte, na capa (alias, a arte do CD é genial) e não encontra,
certo? Certo. E errado. A faixa escondida está antes da primeira
música e não aparece no contador do cd player. Você
precisa colocar o CD no aparelho e voltar menos 5m46s. Pena que o trabalho
não valha a pena. A faixa é fraquinha.
A pergunta que fica é: o que
significa "Think Tank" para o Blur?
Com 14 anos de existência e
mudanças sonoras perceptíveis desde o álbum amarelo
(o "Blur" de 1997), o Blur de "Think Tank" não passa na primeira
audição, nem com muita boa vontade, principalmemte de fã.
Soa preguiçoso, desleixado, distante, cansativo. E, principalmente,
não soa Blur. Mas se você tomar coragem e ouvir mais umas
duas ou três vezes, o risco de vício é bastante alto.
Mais do que qualquer coisa, a influência
pós Gorillaz no 'novo' Blur é clara. E a falta de Graham,
com Albarn asssumindo timidamente todas as guitarras no álbum, faz
com que o baixo de Alex James venha a frente, sinuoso, e os teclados ganhem
mais espaço nos arranjos (impossível imaginar "Ambulance",
a faixa 1 do CD, sem eles). Assim, "Think Tank" seria a seqüência
natural de "13" influenciado pelo Gorillaz (como opinou o vocalista da
Bidê ou Balde, Carlinhos, no Cabra
Cega para este site).
Aquela banda britpop que todo mundo
conhecia como Blur acabou. Viva o novo Blur.
Ambulance
Baixo e bateria abrem "Think Tank".
A introdução deixa escapar algo de africano (e de Kraftwerk)
até surgir a voz de Albarn, muito acima dos instrumentos. Teclados
fazem a cama para o vocalista declamar uma letra esperançosa. Guitarras
surgem só como efeitos. Um break no meio alterna vocais com um baixo
marcante até seu termino. Psicodélica até não
poder mais, "Ambulance" abre o CD com estilo.
Out of Time
Primeiro single do álbum. Uma
baladinha ritmada com toques de ritmos latinos, ou seriam marroquinos?
Sim, é essa a canção que conta com a participação
de um grupo regional de Marrakesh. Melodiosa. Vocal imponente de Albarn.
O solo de violão é algo que, anos atrás, talvez fosse
impossível imaginar no Blur, com um cravo fazendo a marcação
por baixo. Lindinha.
Crazy Beat
Segundo single. Com produção
de Norman Cook, mistura um vocoder com um riff de guitarra fortíssimo.
Não a toa, o baixo carrega a canção, mais que as guitarras
(imagina esse formato em "Song Two"? Sim, é isso ai). Guitarra com
wah wah e refrão cool com vários "yeah yeah yeah". Roqueira
e para a pista (o que dizer de "I love my brothers on a Saturday night"?),
mas o vocoder torra o saco, principalmente na parte final.
Good Song
Duas guitarras preguiçosas
abrem essa canção rancheira (espacial) cheia de efeitos.
Bonitinha e perfeita para se ouvir no fim de tarde.
On The Way Club
Sabe o Blur? Aquela banda 'das antigas'
começa a dar o ar de sua graça aqui. Bateria eletrônica
repetida ao infinito e uma linha de baixo matadora. Efeitos e um vocal
preguiçoso. Poderia estar em "13" ou em "Blur", fácil fácil.
Brothers and Sisters
Com abertura bluesy e vocal dobrado,
é outra que lembra um Blur mais Blur. É ouvir o coro e reconhecer.
Caravan
Uma das grandes canções
de "Think Tank" e nem é porque o vocal de Albarn está meio
desfigurado. Construída em cima da linha de baixo e efeitos, segue
arrastada, desconstruída. Uma guitarrinha safada bate cartão
no canal esquerdo do fone de ouvido. A letra (muito boa) conclui: "Sometimes
everything is easy". Se o blues tivesse surgido hoje em dia seria assim.
We’ve Got a File On You
Bobagem de menos de um minuto. O título
da canção é repetido ao infinito tendo como pano de
fundo uma base punk rock. Tolinha.
Morrocan Peoples Revolutionary
Bowls Club
Baixo mandando novamente. Com bateria
quebrada (influência africana clara) e o típico vocal em dobro
a lá Blur, "Morrocan" é outra das grandes canções
do CD. Parece mais uma jam session do que música finalizada. O solo
de baixo no meio da canção é de matar.
Sweet Song
Outra baladinha (prima de "Caravan")
inspirada. Essa faz jus ao seu título. Piano e efeito e a voz de
Albarn e backings docinhos. Para se ouvir vendo neve cair. :)
Jets
Durante seis minutos de (d)efeitos
você só irá ouvir a frase "Jets are like comets at
sunset". Quando surgem uns "yeah" ao fim de cada riff de guitarra você
descobre que eles não estão levando a canção
a sério. Faixa menor, para preencher espaço.
Gene By Gene
A outra canção produzida
por Fatboy Slim em "Think Tank", Repetições, vocoders, efeitos,
desconstrução, e blá blá blá...
Battery In Your Leg
Vocal perdido no meio da mixagem.
Baixo e bateria a frente, ritmo pesado e reto. Deve ganhar uns bons remixes.
E ponto final. (ou seriam reticências?)
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