Happiness In Magazines, Graham Coxon (EMI)
Lançamento Nacional
27/11/2004


Por mais que os admiradores de Damon Albarn discordem, a alma do Blur sempre foi Graham Coxon. Porém, talvez até por sua personalidade discreta e sua timidez, o guitarrista nunca foi tão bom de autopromoção quanto Albarn. O ex-companheiro e atual desafeto é quem geralmente acabava levando a fama de cérebro do grupo, mas era Graham quem mais brilhava nos discos dos ingleses, com seu estilo todo particular (e eficiente) de tocar. Coxon, inclusive, ditou praticamente todo o direcionamento musical dos dois últimos trabalhos que gravou com a banda (Blur e 13).

Paralelamente, Graham iniciou uma carreira solo em 1998, dando vazão à sua introspecção e ao excesso de criatividade reprimido pela divisão de idéias do projeto principal. Fã de alguns artistas alternativos americanos (Sonic Youth, Beck, Pavement) e de Syd Barrett, Graham preferiu seguir o caminho independente, distante da fama do Blur. Apostou na sonoridade lo-fi, alternando lamentações folk e guitarras barulhentas, e gravando quase tudo sozinho em um estúdio particular. Por seu micro-selo lançou quatro discos que, apesar de bons, ficaram restritos a poucos.

Happiness In Magazines (é impressão minha ou há uma ironia direcionada nesse título?) é o segundo álbum de Coxon após sua conturbada saída do Blur. Enquanto o anterior The Kiss Of Morning tentava se desamarrar do lo-fi de forma ainda bastante acanhada, aqui a ruptura é brutal. A primeira música, Spectacular, é de uma urgência quase punk. Contudo, mais do que a sujeira, o que chama a atenção é a produção impecável, que ressalta a força das guitarras. Os vocais desafinados de outrora agora transmitem segurança. A pulsante Freakin' Out, com bateria mixada lá em cima e guitarra vigorosa, parece nascida pro sucesso nas pistas do mundo todo. Outro rock, Homeless Friend, prova que Graham anda ouvindo a ótima dupla Quasi.

Mas nem só de barulho vive Happiness In Magazines. A gostosinha Bittersweet Bundle Of Misery é incrivelmente pop e lembra os momentos mais calmos dos Kinks, influência antiga do Blur. Na balada All Over You saltam aos olhos as cordas, que dão um estigma todo sofisticado à canção. Uma parte da responsabilidade deste rebuscamento vai para o produtor Stephen Street, que trabalhou nos 5 primeiros discos do Blur. E, na verdade, essas mudanças não significam necessariamente perda ou acréscimo de qualidade. Graham continua tão bom quanto antes. Só que agora mais gente vai poder ouvi-lo.

Por Jonas Lopes
Yer Blues