por Marcos Paulino
2012 foi um ano bastante produtivo para Nasi. Primeiro, colocou nas livrarias a sua interessante biografia, “A Ira de Nasi”, em que detalha, sem pudores, os altos e baixos de sua ex-banda, o Ira!, e de sua vida pessoal, histórias de uma banda sempre marcada por dilemas e de um vocalista com dom para confusões (são épicas as histórias sobre a confusão com a família de uma ex-namorada e o imbróglio envolvendo o irmão).
Depois, Nasi colocou nas lojas o CD “Perigoso”, via selo Coqueiro Verde (que já havia distribuído “Vivo na Cena”, de 2010). Este terceiro álbum solo traz 10 faixas que escancaram suas influências, rock e blues, sobretudo. Cinco músicas são de sua autoria e a outra metade, regravações, entre elas “Dois Animais na Selva Suja da Rua” (Taiguara), “As Minas do Rei Salomão” (Raul Seixas) e “Tudo Bem” (Garotas Suecas).
O trecho final de sua biografia, finalizado no segundo semestre de 2012, inclui um capítulo colocado a pedido de Nasi, tratando de sua reconciliação com o irmão (e ex-empresário do Ira!), Júnior. Amigos reforçam no livro que Nasi agora está em paz, encontrou-se na umbanda, e vive seu melhor momento. Nesta entrevista ao PLUG, parceiro do Scream & Yell, ele conta que 2012 fechou um ciclo de sua vida. Confira.
Você está lançando seu disco logo após a sua biografia. Foi por acaso ou faz tudo parte de um mesmo pacote?
Não foi por acaso, tanto que a arte da capa do CD é baseada na arte do livro. Até queria que saíssem mais próximos um do outro, mas houve atrasos que fugiram do meu controle. Acho interessante que, num ano em que lanço um livro com a minha história, também apresente um novo capítulo musical. As músicas do disco são bem autorais, confessionais, refletem minha visão da vida neste momento.
Esse olhar do livro para o passado encerra uma fase da sua vida, e uma nova está sendo aberta com o disco?
Isso, esse foi o tom da minha vida em 2012. Dizer isso é um lugar-comum, mas não tenho melhor definição: este ano fecha um ciclo na minha vida. Houve o final das batalhas jurídicas, uma reconciliação familiar que pra mim foi importante, e isso se refletiu num momento de criatividade e de fechar as contas da minha vida até então. O disco também aponta pro meu rumo em direção a um trabalho autoral, que espero que seja bem fecundo.
Seu livro foi uma terapia em público. Nele, você escancarou as várias fases de sua vida pessoal e profissional. Como você está se sentindo agora?
Me sinto bem, cara. Sempre tive uma postura bem aberta sobre minha vida. Exceto algumas tramas que ficaram ocultas no livro, os altos e baixos da minha vida, seja a dependência química, sejam as crises pessoais, sempre foram abertos. Minha terapia sempre foi o palco. Dos anos recentes, este tem sido o que me sinto mais realizado, afinal de contas estou lançando dois produtos que estão sendo muito bem recebidos pelas resenhas e pelo público.
Neste disco você traz faixas de rock, com o qual esteve mais ligado na época do Ira!, e de blues, que marcou mais a sua carreira solo. Como você lida com ambos hoje?
Como você bem analisou, no Ira! desenvolvi minha vertente de roqueiro, que tinha desde garoto. O blues sempre ouvi muito, mas precisei chegar a uma fase da vida adulta pra interpretá-lo. Blues é uma música de uma intensidade emocional muito grande, que não dá pra garoto fazer. Precisa tomar alguns tombos, alguns porres, ter algumas desilusões para o blues fluir. Criei o Nasi e os Irmãos do Blues no início da década de 90 pra dar vazão a essa paixão. Neste momento de maturidade, não preciso mais desse apartheid na minha música. Hoje os dois rios que inundam minha alma de música, o do rock e o do blues, são confluentes. Essa é a marca definitiva do meu som.
Você disse que vive uma fase autoral, mas no disco nem todas as faixas são suas composições. Como você escolheu as músicas dos outros autores?
Quando digo trabalho autoral, não é só de compor a música, mas de escolher aquelas que digam o que eu gostaria de dizer. Numa banda, por mais que você lidere, às vezes tem que cantar músicas com as quais não tem grande empatia. É diferente de um trabalho meu, onde escolho todos os arranjos a partir da letra e do gênero musical. Escolhi pra este disco músicas de autores que gosto, que pude adaptar pro meu estilo e que principalmente dizem coisas que tenho sentido.
A geração que ouviu o Ira! te conhece bem. Mas como você sente a recepção do público mais jovem em relação ao seu trabalho?
Modéstia à parte, tem alguns artistas do rock, como eu, Lobão e Marcelo Nova, que são genuinamente roqueiros, que têm atitude de rock, que a garotada vê na gente uma referência. E a internet está quebrando barreiras que antes nós tínhamos. Se você não tocava no rádio, na TV, não era conhecido. Hoje um moleque pode conhecer tanto Led Zeppellin, que não toca na MTV, quanto eu e você. Se se interessa por Ira! ou Nasi, em algumas horas pode estar muito bem informado. Vejo isso no meu show, que tem também garotos de 20 e poucos anos. Quem gosta de rock vai procurar quem tem história.
Numa recente entrevista, respondendo sobre uma possível volta do Ira!, você disse que, se o Maluf apertou a mão do Lula, tudo é possível. Isso me parece mais um não que um sim. É isso mesmo?
(Risos) Percebi que quando dizia que não aconteceria nem se o Sol aparecesse à noite, parecia que ficava carregado de um ódio que escondia um amor. Hoje sou pragmático na minha resposta. Mas, depois da maneira como rompemos, acho que é praticamente impossível, e não tenho desejo nenhum nisso. Inclusive isso está totalmente na minha mão. A patente Ira! para discos e shows musicais está na minha mão. Então, se tem uma pessoa que pode dizer se o Ira! volta ou não, sou eu.
Vai ter uma turnê específica do “Perigoso”?
Minha intenção agora é divulgar o disco, e após o Carnaval sair Brasil afora com um show onde todas as músicas do disco novo serão apresentadas.
– Marcos Paulino é jornalista e editor do caderno Plug, do jornal Gazeta de Limeira. Foto de Patricia Barcelos.
Leia também:
– Entrevista Ira! 2007: A gente sempre acaba descobrindo um terceiro som”, diz Egdard (aqui)
– Entrevista Ira! 2001: “Procuramos fazer justiça com nosso repertório”, diz Edgard (aqui)
– Entrevista Nasi 2010: “Perdemos a oportunidade de dar um tempo”, diz sobre o Ira! (aqui)
– “Vivo na Cena”, Nasi -> “O Ira! está morto, mas Nasi está vivo… e rouco”, por Mac (aqui)
O livro é muito bom embora escrito com pegada de fã, o que compromete um pouco o resultado final. Que as coisas fluam pro Nasi.
O livro é realmente bem escrito, mas pecou muito por algumas passagens claramente um pouco fantasiosas. Não dá para digerir muito que uma ex-namorada de muitos anos atrás tenha sido causa para a separação da banda, por exemplo. Esperava mais.
O Nasi e os citados por ele Lobão e Marcelo Nova são três figuras de primordial importância não só na música, mas tb no campo das idéias desse cada vez mais bunda mole pop/rock brasileiro.
O Nasi por ter a cabeça aberta e me parecer o mais verdadeiro dos três é meu preferido. O Marcelo Nova é bacana, mas sua obtusidade(não sei se só pra galera) me incomoda.
Já o Lobão tem um lado Pelé(opina de acordo com as conveniências) insuportável.
Pese os graves defeitos dos dois últimos trata-se de gente pra se escutar.
Não só as músicas.
PS: E o Nasi nessa pequena entrevista não falou que comeu a Marisa Monte(quando ela era um filezinho chique), vejam só! rsrrsrs
Deve estar no livro.
Está 🙂
Dos três admiro mais o Marcleo Nova, gosto bastante do texto “dele”. Nasi me parece o mais sincero dos três, o menos compositor e mais centrado na posição de vocalista.
Concordo com o Ismael sobre a pegada de fã do livro, mas ainda assim é um livro bem bom.
Ah, sim, Mac. estava falando da persona dos três.
Em relação a música, a do Marcelo Nova(carreira solo) e a do Lobão são melhores que a do Nasi.
Legal a entrevista, quanto a relevancia dos três citados, Lobão, Marcelo e o proprio Nasi, tenho uma queda pelo Nasi pela historia pessoal dele e junto ao Ira, mas respeito e gosto muito dos outros dois
ele conta, zé, ele conta. e tem a marisa orth tb na lista. e uma ex do alex antunes que deixou o cabra mordido pra sempre…
Ismael, essa ex do Alex deve ser a melhor, hein!
Das Marisas eu preferiria ter no currículo a Monte.
Aquele arzinho “não me toque” dela dá o maior tesão.
É bom pegar uma teteiazinha assim e fazê-la gemer sem sentir dor. 🙂
PS: Vou dar uma filada nesse livro do Nasi.
Eu achei o livro um porre, tangto que estou levando meu exemplar pro sebo. Se alguém quiser, vendo baratinho (rs). Mal escrito pacas, com floreios desnecessários, informações incongruentes ou faltantes, e um ritmo que não engrena. As anedotas são divertidas, mas ate aí, o Nasi sempre tem tiradas legais.
Agora, Mac, desculpa aí, Marcelo Nova não dá! (rs) Um dia a gente toma umas e eu te explico em detalhes por que. Mas ele é, como disse Milton Leite sobre outro mala, “chato pra caralho”.
Tanto com o Camisa quanto a carreira solo do Marcelo Nova tem coisas muito, muito boas. Ele é chato pacas (aliás, os três citados por aqui são chatos pacas), mas dos três o que mais gosto de ouvir é o Nova (e o Lobão, mas coisas pescadas aqui e ali na carreira dele, pérolas esquecidas). Quanto a chatice costumo dizer que artista tem todo o direito de ser chato, desde que não seja na minha mesa de boteco.
O livro acabou como um arremedo do que seria, o começo mostra o bom trabalho de pesquisa que estava sendo feito pelo Petillo, depois não há continuidade. O próprio fato do final ter sido reescrito às pressas, por causa da reconciliação dos irmãos, acabou demonstrado que muita coisa foi omitida/editada. O livro do Lobão deu de mil.
A chatice é musical no caso do Nova, Mac. Não consigo ouvir o cara, mesmo. Acho muita picaretagem, é tanto clichê levado a sério que eu não consigo escutar. O “Blecaute” até é bem bacana, mas não consigo encarar o resto, principalmente o Camisa.
Já Nasi eu não acho tão mala, e gosto muito do “Vivo na Cena”, embora ache o primeiro solo bem irregular – como é a obra do Ira!, aliás. E prefiro ele se assumir como um intérprete criativo do que insistir em composições meia-boca.
Lobão… bem, como “personalidade”, é intolerável. Mas não dá para você ignorar o cara que compôs “Meu Abrigo, Meu Abismo” e “A Queda” – embora ele também tenha composta “Presidente Mauricinho” e outras muxibas. Digamos que faço uma coletânea, apago a imagem mental que tenho da figura e aí dá para curtir! (rs)
Pode ser chato pra ti, Leo 🙂
Não que ele esteja bem atualmente: o show no Lolla do ano passado foi deprimente, mas pelos arranjos que ele está impondo às velhas canções. Ainda assim, pra mim, ele tem um dos melhores textos desse país. “Galope no Tempo”, o último álbum, tem coisas sensacionais. Do Camisa há muita coisa foda. Tu pode não gostar, mas há.
Do Nasi só consigo admirar os trabalhos com os Irmãos do Blues. Batendo no liquificador os três discos solo dele não consigo ver um álbum inteiro (falarei disso numa resenha que tá vindo junto com o novo do Nando e o disco do Capital). Nesse novo tem umas letras meio ridiculas, que não cabem na métrica da canção, mas ele enfia os versos à força, e não funciona.
E de maneira alguma ignoro Lobão. Acho um baita compositor e um excelente intérprete de suas próprias canções. E vai muito além de uma coletânea – principalmente após “O Inferno é Fogo”, onde as boas canções que ele compõe passaram a ter uma boa produção (mas dai nem é tanto culpa dele: se questionarmos produção nos anos 80 não sobra quase nada, né)
Ah, não disse que você ignora o Lobão, quem tenta ignorá-lo sou eu! (rs) E quando digo “fulano é chato”, evidentemente é uma opinião pessoal e “de bar” – jamais vou ter este tipo de postura quando analisando uma obra de forma séria. É que gosto de pensar nos comentários das matérias como um bar sem bebidas, e não como uma saraivada de sérias cagações de regras.
Posto isso: gosto do Nasi, não gosto muito de Lobão e não gosto mesmo do Marcelo Nova. E nesses casos todos, pensando mais na música que nas letras. Até porque Lobão é provavelmente o melhor letrista dos três. Sempre abominei o Camisa pela profusão de covers não-assumidos – lembremos que o Nova detonava bandas covers no começo dos 1990. Quer plagiar? Vai fundo, mas dá crédito. Existem cópias excelentes por aí. Mas não caga regra, como Marcelo cagava.
Tudo isso, repito, é pura subjetividade.
E insisto que (e novamente é só opinião e preferência) “Vivo na Cena” é um ótimo disco: pesado, direto, com repertório bem escolhido e cheio de energia. A regravação de “Por Amor” é uma beleza, e a produção do disco valoriza a execução sem apelar muito para a fuleiragem. Sem contar que eu me divirto pacas nos shows dele – coisa que é meio difícil nos do Lobão, já que o figura esquece que tem que cantar e tocar guitarra e fica berrando a maior parte do tempo! (rs)
Mas perae, Leo, o que o Camisa faz não tem nada a ver com banda cover, e tem que detona-las mesmo. O que a Camisa faz é roubo e apropriação. Os Stones construiram a carreira deles assim, e só tiveram que dar crédito uma vez (antes de ir pra Justiça). Led Zeppelin teve que reconhecer na Justiça, e perdeu. Bob Dylan, por sua vez, criou uma termo: expedicionário musical. Ele vai lá, pesquisa, rouba, se apropria e recria. Exemplos temos aos montes. Quem ouve “Só o Fim” não pensa “estou ouvindo Doors”. Quem ouve “Passatempo” não pensa “estou ouvindo The Jam”. O mesmo com “O Adventista” (“I Believe”, do Buzzcocks) e dezenas de outras. É apropriação na cara de pau. O Titãs fez pior, que foi se apropriar do som e temática das bandas que estavam ao seu redor. E tai “Cabeça Dinossauro” sendo festejado após 30 anos. 🙂
Pegar idéias aqui e acolá não é pecado. Ainda mais se fizer melhor, como foi o caso dos Titãs, que as fontes.
Os Titãs do Cabeça ao Acústico foram os melhores de sua geração.
Antes do Cabeça eles eram ruins por ingenuidade e depois do Acústico tornaram-se ruins por esperteza.
Coisas da vida.
E, concordo com o Mac, o Galope do Tempo é um disco bem bom e bonito.
Rock adulto.
Até porque ficar coroa fazendo rock como se tivesse quinze anos é bem ridículo.
Que o diga Dinho Ouro Preto.
PS: O DVD novo do Velho Lobo está muito bom! Recomendo al Leo e a todos.
Acho o Nasi um cara meio Charlie Sheen, um tipo que suas “aventuras” pela vida despertam mais interesse nas pessoas do que sua arte.
Não deveria comentar… porque, dos três, apenas conheço o trabalho do Lobão, mas… lá vai…. a importância do Lobão transcende a musical. Ele, o Lobão, em seu mais novo trabalho literário, como ele mesmo disse, executa uma “invasão” no Manifesto Antropofágico e dialoga com Oswald de Andrade. Adiantou-me ontem no facebook um trechinho… espetacular… Ou seja: além de ser o artista musical mais contestador da História brasileira, ele ainda vai arejar a cultura brasileira… e isso vai muito além da música; pporque provocar algo tão cristalizado dentro da cultura brasileira é simplesmente ousado, arrojado, transformador. Por isso considero Lobão tão importante.
Ira! é foda, ou melhor, o Edgard Scandurra é foda.
Petillo e Mauro Beting, né? Passo.
Sempre gostei do Ira, mas sempre achei Nasi um péssimo vocalista.
Acho isso até hoje. Acho que Nasi pode, no máximo, falar. Cantar, jamais.
Fora isso, o cara é gente fina demais.