entrevista por João Paulo Barreto
Nona de uma série de 9 entrevistas sobre o Mercado Cinéfilo de Mídia Física n Brasil
Iniciado na segunda metade dos anos 2000, após alguns vídeos que exibiam edições importadas de DVD ganharem notoriedade em comunidades do Orkut, o Blog do Jotacê foi um modo que o colecionador Juliano Vasconcellos encontrou de levar para fora da então (e menos tóxica) rede social seus vídeos comparativos das edições nacionais e as importadas. “Lembro que a primeira edição que eu comprei importada foi a do primeiro filme do ‘Homem Aranha’ em DVD. O nosso DVD nacional tinha a tela cortada. O formato era aquele mais quadrado, 4×3. Lá fora tinha a versão widescreen. No Orkut, esses vídeos ficavam somente lá dentro. Não eram indexados pelas busca. Se colocássemos no Google ‘DVD Homem Aranha Formato de tela’ ou algum outro termo relacionado, essas coisas todas não apareciam na pesquisa”, explica Juliano, que nesse período ainda tinha o Blog do Jotacê instalado em uma plataforma do wordpress.
Em um período no qual os vídeos de divulgações de produtos especiais, tanto em DVD, quanto blu-ray, bem como de livros e quadrinhos, eram raros ou inexistentes (lembrando que YouTube ainda engatinhava), o Blog do Jotacê foi ganhando uma dimensão importante e de relevância dentro do cenário do colecionismo no Brasil. “Realmente, era um diferencial. E como o Blog do Jotacê ensinou a como importar os produtos, foi uma tempestade perfeita. Porque foi quando começaram os blu-rays e, aqui no Brasil, tinham poucos e eram caríssimos. Já o dólar estava baixo. A Amazon enviava rápido. Os filmes eram na nossa região e muitos tinham legendas em português do Brasil. Enfim, foi uma tempestade perfeita para todo mundo comprar”, relembra Celso Menezes, roteirista e colecionador que colabora como redator e é parte da equipe editorial do Blog do Jotacê desde o final dos anos 2000.
Nessa entrevista ao Scream & Yell, Jotacê e Celso falam a respeito do mercado de mídia física em um 2020 que, para esse nicho, foi surpreendente em termos de vendas e lançamentos. Ouvi-los nesse contexto de coletar visões de diversas áreas desse mercado ilustra aquela que é a principal voz a ser ouvida pelas empresas: a do colecionador. Mas aquele colecionador consciente de que sua voz tem força e deve ser usada com responsabilidade. Confira o papo!
Juliano, você iniciou o Blog do Jotacê na segunda metade dos anos 2000. Como se deu essa ideia de um veículo de comunicação dedicado à coleção de filmes em mídia física?
Juliano Vasconcellos (Jotacê) – Eu queria começar com algo que já falei em outras entrevistas, mas tentando detalhar um pouco mais. Pelo caráter da matéria e pesquisa, eu acho que cabe. Eu comecei a colecionar justamente quando percebi que o conteúdo que vinha nos DVDs não era só o filme. Quando percebi que havia outro material, e, principalmente, material de bastidores. Sempre tive muito interesse por bastidores, mas nunca imaginei que colecionando DVDs, eu pudesse ter acesso a este tipo de material em uma época na qual o YouTube não existia. Os extras sempre foram um diferencial para mim, além de ser uma coisa rara no VHS. A partir disso, me lembro que aluguei um DVD da Pixar, “Os Incríveis”, e o disco de extras foi o que me catapultou para começar a colecionar. O primeiro item de coleção que eu comprei foi um box da Pixar, com “Procurando Nemo” e “Monstros S.A”., que eu não conhecia, mas que também tinham extras muito legais. Nessa época, o Orkut era muito forte no Brasil, e eu entrei em uma comunidade chamada “Viciados em DVD”. Comecei a conhecer essa comunidade e a ver que existia uma enorme gama de questões que faziam parte desse hobby. Eu já colecionava outras coisas. Adolescente, colecionava adesivos. Foi uma época muito forte de coleções para mim. Colecionava adesivos de marcas de skate. Figurinha, também, dentre outras coisas. Mas a internet facilitou muito nesse acesso à informação da parte de filmes. Na época, eu frequentava muito o cinema. Muito mais do que hoje. Então, comecei a colecionar DVDs essencialmente por causa dos extras. Logo em seguida, junto a esse início, comprei um home theater. E foi também muito impactante ter um “cinema em casa”. Foram duas coisas, então: os extras e a tecnologia. Coisas que, até hoje, me movem na hora de comprar. O material adicional e a parte técnica, também. A parte de áudio sempre me interessou muito. Até porque nesse início, o meu aparelho de TV era bem simples, mas o home theather dava um poder para a percepção da qualidade do áudio. Encher a sala, ter surround. Junto com isso, sempre fui muito interessado em arte gráfica, produção gráfica. Até hoje, editei 12 livros de Arquitetura. Nesses livros da universidade, sempre estive à frente dos projetos gráficos. Sempre tentei trazer, dentro dessa coleção, unidade gráfica. Dentro do projeto sempre procurei alguma coisa visualmente interessante. E nessa parte da qualidade gráfica, a questão da apresentação das edições dos filmes sempre me chamou a atenção. Então, a primeira vez que eu vi uma luva, a primeira vez que eu vi uma apresentação diferenciada, um box com um estojo digipack, essas coisas todas que a gente valoriza em termos de apresentação, foi algo bem impactante.
Qual foi o primeiro vídeo que você criou divulgando um item de sua coleção pessoal de filmes?
Juliano Vasconcellos (Jotacê) – Lembro que o primeiro vídeo que fiz foi em 2007. Tinha um ano de YouTube no Google. 2007 é a pré-história dos vídeos na internet. Eu fiz um unboxing dos Simpsons, que era uma coisa que as pessoas gostavam muito. Tinha uma apresentação muito bacana com as ilustrações. A maneira como era embalado não era um estojo comum. E Simpsons sempre teve uma apresentação muito, muito especial. Não só no Brasil, mas em outros lugares, também. E isso chamou atenção. O pessoal dentro da comunidade do Orkut começou a curtir essa ideia de fazer vídeos. Acho que eu fui um dos primeiros a fazer vídeos de coleção no Brasil para o YouTube. Comecei fazendo na comunidade, e depois decidi subir para o YouTube. Comecei a curtir o processo. Eu já tinha um blog pessoal desde 2000. Mas em 2008, eu resolvi lançar no YouTube. Porque tudo o que a gente lançava no Orkut, era fechado. Ficava lá dentro. E apesar do Orkut ser do Google, nunca foi indexado [para pesquisa futura] pelo Google. Tudo o que a gente reclamava sobre uma edição vir sem extra ou sem legenda, ou um DVD que vinha com formato de tela errado, essas questões técnicas, não surgia em buscas. Nunca fui um resenhista profundo, mas sempre gostei de fazer comparativos. Daí comecei a importar filmes do exterior. Lembro que a primeira edição que comprei foi a do primeiro filme do “Homem Aranha” em DVD. O nosso DVD nacional tinha a tela cortada. O formato era aquele mais quadrado, 4×3. Lá fora tinha a versão widescreen e eu queria conhecer o filme em widescreen em DVD. Importei o DVD. Então, comecei a fazer essas comparações dentro do Orkut, mas elas ficavam somente lá dentro, não eram indexadas pelas busca. Se colocássemos no Google “DVD Homem Aranha Formato de tela” ou algum outro termo relacionado, essas coisas todas que a gente fazia dentro da comunidade não apareciam na pesquisa. Eu já tinha certa experiência de uns sete, oito anos de blog pessoal. Por isso, resolvi abrir um no WordPress, um sistema que, na época, era bastante popular (e até hoje é), com esse conteúdo. Exatamente a mesma coisa que eu fazia no Orkut, passei a fazer lá. Como era aberto, tudo publicado era automaticamente indexado pelo Google e as pessoas iam conseguir começar a ver esse conteúdo que eu produzia. Foi aí que nasceu o Blog do Jotacê. Ainda em uma plataforma dos servidores do WordPress. As pessoas começaram a gostar da abordagem que não era só sobre o filme. Nunca fui cinéfilo. E não me considero cinéfilo, no sentido da palavra que define uma pessoa que curte tudo o que envolve filmes, que assiste a quase todos os gêneros. Que fica contando os dias pra uma estreia ou que sabe quem fez o que, e que assiste a vários filmes numa semana. Sou uma pessoa só curiosa, mas nunca estudei cinema. Então, não me considero cinéfilo. Não acompanho vorazmente as notícias de Hollywood. Mas curto a coleção. E percebi que a minha abordagem, como ela não levava em consideração qualidade do filme, mas, sim, qualidade da edição, era uma abordagem que as pessoas começaram a curtir. Pois independia da minha opinião a respeito do filme. Nunca fiz crítica cinematográfica em todo esse tempo. Faço crítica de forma e de conteúdo das edições como colecionador. E essa abordagem atraiu públicos de todos os gostos de cinema. Sem nenhum tipo de julgamento a respeito da produção em si. E nisso esse pessoal começou a acompanhar o Blog do Jotacê e a gerar muita curiosidade, principalmente pelos importados. Os importados que eu mostrava e com os quais eu fazia os comparativos. As pessoas queriam saber onde eu comprava aquilo.
As importações que você fazia eram através da Amazon dos Estados Unidos. Inclusive, você chegou a fazer uma parceria com eles, que trouxe a outras parcerias com lojas do Brasil. Como foi esse processo?
Juliano Vasconcellos (Jotacê) – Sim. A parceira da Amazon dos Estados Unidos foi a que veio primeiro. Os blu-rays fabricados lá são da nossa região. Têm compatibilidade e alguns até com o nosso idioma. Surgiu essa coisa de fazer uma parceria com a Amazon ainda em 2008. Isso permitiu que, a partir daí, eu pudesse importar mais e retroalimentar o site. Depois de um ano, a coisa tinha crescido muito, e resolvi abrir o site em um servidor próprio, com domínio. Nesse momento, as lojas brasileiras começaram a me procurar e propor parcerias. A Saraiva foi a primeira que me procurou e foi uma parceria muito legal. Talvez uma das melhores até hoje, em termos de parceria, mesmo. Quer dizer, você propor coisas, promoções, e até edições, e a loja trazer com exclusividade para quem era leitor do site. Depois, a partir daí, veio a parceira com o UOL, que surgiu a partir de uma conversa que tive com o André Forastieri. Eu escrevia para uma revista em que ele era o editor. O André me perguntou se eu queria ser parceiro do UOL, assim como ele era com a revista. Aceitei e isso deu mais visibilidade ainda ao site. Ganhou força e trouxe, além da visibilidade, ainda mais credibilidade, pois era uma coisa que estava dentro do portal do UOL. E aqui estamos hoje. Depois de altos e baixos, a questão dos importados perdeu um pouco de força em 2012, quando os lançamentos nos Estados Unidos começaram a sofrer a cobrança antecipada de impostos já no carrinho. Antes, era feito por amostragem quando chegava ao Brasil. Eu, inclusive, talvez tenha colaborado para o aumento do volume de importações de filmes em mídia física no Brasil. Talvez, não. Com certeza. Porque a gente fez uma página no site muito famosa, que era o Guia de Compras no Exterior, e as pessoas aprenderam a importar a partir das coisas que a gente publicava no site, pelos vídeos que fazíamos, e com esse Guia de Compras no Exterior. Essa, talvez até hoje, seja uma das páginas mais acessadas no Blog do Jotacê. E um dos momentos de maior impacto para o aumento de volume da Amazon dos Estados Unidos nas vendas aqui foi a Black Friday de 2011. A Black Friday sempre foi O Evento Anual do site em termos de cobertura. Eu costumava virar a noite. Era uma coisa muito intensa e de muito interesse do nosso público. Nessa, em 2011, o volume de e-commerce dos brasileiros gerou uma série de problemas com as encomendas, que acabavam atrasando. As pessoas reclamando dos atrasos. A partir dessas reclamações dos atrasos, a Amazon resolveu mudar o método de envio.
Celso, você acumula alguns anos de experiência como colaborador do Blog do Jotacê, bem como o fato de ter vivido bem esse período de alta nas importações citado pelo Juliano. Como foi esse seu começo como colaborador, bem como, para você, esse período?
Celso Menezes – Participei algumas vezes do Jotacast nessa época, em 2012. Nesse período, inclusive, o G1 nos procurou para uma matéria sobre os atrasos, sobre a “Maré Vermelha“, que é uma coisa que ficou muito marcada, um momento de transição para o pior, quando retiveram milhares de encomendas e até hoje a maioria delas nunca chegou aos donos. O Jota me indicou como fonte para essa matéria do G1. Eu já tinha essas participações pontuais no Jotacast. Inclusive, esses dias descobri que a gente fez um JotaCast com o [editor do Pipoca & Nanquim] Daniel Lopes. Nem lembrava que havia feito um Jota Cast com o ele. Eu tinha o conhecido por causa do Jambocks! (N.E. Quadrinho temático da Segunda Guerra Mundial escrito por Celso). O Pipoca & Nanquim acho que foi o primeiro grupo a me entrevistar. Isso há muito tempo. Enfim, tiveram esses momentos pontuais. Eu estava trabalhando muito em São Paulo e acompanhava o site, mas acho que era algo pontual. Quando eu falava alguma coisa para o Jota, como quando eu estava em contato com o Fernando Meirelles, ou algo do tipo. Eu acho que devo ter mandado um ou outro e-mail.
Juliano Vasconcellos (Jotacê) – No levantamento que fiz, Celso, você começou a colaborar em 2009. Então, você só perdeu um ano de site. Não sei se você acompanhava antes.
Celso Menezes – Com certeza acompanhava. Porque, assim, não falo com a pessoa ou com a empresa se eu achar que não tenho nada a agregar. Então, fico quieto. Desde o começo, fui acompanhando, mas não tinha o que falar. Naquele caso específico que você resgatou e eu não me lembrava, que foi sobre “O Senhor dos Anéis”, eu julguei como uma informação que era relevante. Com certeza eu acompanhava desde o começo, mas ficava quieto. Se não me engano, vai fazer quatro anos, que foi quando eu comecei a fazer a Coluna da Criterion. Não lembro quem fazia antes.
Juliano Vasconcellos (Jotacê) – Era o Renato Silveira, jornalista de Belo Horizonte.
Celso Menezes – Isso. E eu até acompanhava todos os meses a coluna. E aí não sei porque (risos), o Jota perguntou se eu poderia continuar com ela, pois essa pessoa ia sair. Falei que podia, sim. Até porque eu lia a coluna, entrava no site da Criterion, da Amazon dos Estados Unidos, no Blu-ray.com. Esses foram hábitos que os colecionadores pegaram justamente porque o Jota fez todo esse trabalho de mostrar o caminho das pedras para importar filmes.
Juliano Vasconcellos (Jotacê) – Arrisco dizer, Celso, que em 2008 não existiam sites parceiros da Amazon no Brasil. Eu acompanhava sites de tecnologia, de inovações tecnológicas, que são coisas que sempre acompanhei. E não me lembro de nenhum site brasileiro de tecnologia parceiro da Amazon, por exemplo. Não lembro de nenhum site sobre livros, sobre crítica literária, que fosse parceiro da Amazon Não me lembro de nenhum site sobre quadrinhos parceiro da Amazon. Pelo menos com a visibilidade que demos aos produtos, sempre indicando ao final do post quais eram. Por exemplo, uma edição especial de “O Senhor dos Anéis” que só existe nos Estados Unidos e eu colocava o link da Amazon ao final. Com essa intensidade, arrisco dizer que fomos o primeiro no Brasil.
Celso Menezes – Ah, com certeza. Eu navegava muito na internet nesse período e nunca via nada parecido em termos de parceria com empresas de fora. Realmente, era um diferencial. E como você ensinou a como realizar essas compras, na verdade, foi uma tempestade perfeita. Porque foi quando começaram os blu-rays e aqui no Brasil tinham poucos e eram caríssimos. Já o dólar estava baixo. A Amazon enviava rápido, os filmes eram na nossa região, muitos tinham legendas em português do Brasil. Havia até um site, o Blu-ray Legendados, que avisava quais as edições do mundo ‘que tinham legendas em português’. Enfim, foi uma tempestade perfeita para todo mundo comprar. Todo mundo que se interessa por filmes e por coleção. E eu estava no meio. Enfim, há uns quatro anos, essa coluna da Criterion ficou disponível, e o Jota me chamou para assumir. Eu fazia pesquisas grandes para saber o que tinha saído. Para saber quais desses títulos da Criterion já tinha saído no Brasil, por qual distribuidora, como era a edição. Às vezes, o tamanho do texto que saia não refletia o tamanho da minha pesquisa. Ela era muito grande. Eu sempre resumia. Por exemplo, o Jota tem essa linha editorial de não falar dos filmes, e acho acertadíssima. Já tem milhares de pessoas que falam de filmes. Vai ser mais um, na verdade. E não tem ninguém que fale das edições. Ou quase ninguém. Ou não tinha até então. Hoje, há um monte de canais no YouTube. O que é ótimo. É bom ver as pessoas felizes quando chega uma encomenda e elas mostram. Quantas pessoas que eu estou vendo agora, em 2020, que falam que por causa do Blog do Jotacê estão voltando a colecionar. Ou que está começando uma coleção. Então, essa mobilização, que já era importante, se tornou fundamental para o mercado. Essa mobilização das pessoas se sentirem parte de algo e quererem compartilhar isso com as outras.
Celso, você citou essa busca pelos títulos que a Criterion lançava lá fora e por onde os mesmos títulos haviam saído no Brasil. Esse foco nos lançamentos nacionais se desenvolveu de que modo?
Celso Menezes – Logo depois que eu comecei a fazer a coluna da Criterion, me perguntei: “A gente fala da Criterion, que é lá de fora, por que não falar das que são daqui?” Aí eu perguntei ao Jota o que ele achava de procurar as distribuidoras nacionais. Ele achou uma boa ideia. Então, fui perguntando. Se não me engano, a primeira que aceitou foi a Classicline. Eu lembro que a Obras Primas disse que já tinha uma cota e que, naquele momento, não poderia enviar. Aí depois procurei a Versátil. Foi justamente quando a Versátil quase fechou. Mas, após uns dois meses, eles enviaram alguma coisa para divulgarmos. Depois disso, a própria Obras Primas viu que nós estávamos fazendo um trabalho regular e sério, e começaram a enviar também. Se não me engano, em janeiro vai fazer quatro anos que faço textos sobre os lançamentos das distribuidoras. As majors não mandam, mas as menores, sim. A intenção das colunas sempre foi, também, avisar quais eram os lançamentos. E com as lives, agora, isso também acontece. Estamos sempre deixando abertos a quem quiser comunicar os lançamentos via Blog do Jotacê. Com a adição das lives, que surgiram de repente, tem ajudado na divulgação. Engraçado que quando o Jota me convidou para participar de uma live em uma sexta-feira, eu achei que era “uma live em uma sexta-feira”. Não imaginava que ia ser uma live toda sexta-feira. (risos)
Juliano Vasconcellos (Jotacê) – Verdade. As lives todas as sextas-feiras se transformaram em algo muito maior do que a gente pensava no início. Inclusive, o Celso, nessas participações iniciais no Blog do Jotacê, fazia não somente a coluna Criterion. Ele sempre participou ativamente como uma pessoa que opinava forte sobre a linha editorial. E hoje cada vez mais forte. O Celso não é mais um redator apenas. Ele faz parte da equipe editorial do site. Muitas das informações que chegam através do Celso, acabam indo para o site e para os outros canais que trabalhamos sem, às vezes, que apareça o nome dele. Ele se tornou uma figura importantíssima para o Blog do Jotacê. Nem gosto desse nome “Blog do Jotacê”, mas pegou. (risos) E é uma coisa que já tentei mudar, mas não consegui. Tentei mudar uma vez.
Celso Menezes – Ah, foi? Você queria mudar para qual nome?
Juliano Vasconcellos (Jotacê) – Tentei mudar porque o que eu pensei na época em que criei era um blog no qual eu expressava as minhas opiniões. Por isso o nome Blog do Jotacê. Mas depois que começou a ter colaboradores, começou a ter outra abrangência, eu quis mudar. Afinal, são dezenas de pessoas que passaram pelo site como colaboradores. Dezenas! Eu achava, então, que personificar em mim era uma coisa que não fazia sentido. Só que não teve jeito. O nome pegou e já tinha um monte de coisa indexada, também. Na hora de mudar o nome, isso ia acabar sendo “resetado”, praticamente. Hoje, o Google é mais ágil nesse sentido. Mas na época em que eu pensei em mudar pela primeira vez, além de que seria uma mão de obra, íamos perder muita audiência com essa mudança de nome. E, no fim, continua Blog do Jotacê. Mas não gosto. (risos) É uma coisa que deixa muito pessoal. É muito anos 2000. (risos)
Caso você mude para Blog do JC, pode dizer que é de Juntos Colecionamos… (risos). Bom, e sobre a logomarca? Como foi esse processo de criação?
Juliano Vasconcellos (Jotacê) – Esse logotipo criei em um intervalo de uma aula. Acho que nunca falei sobre isso exatamente assim. Mas criei o logotipo entre uma aula e outra. A ideia era justamente ser sintético a respeito do DVD e do blu-ray. São dois disquinhos no logotipo. Na verdade, é o mesmo disquinho, só que girado. E eles eram para representar o DVD e o blu-ray. Uma coisa também que poderia se absolutamente modificada na hora que surgisse uma outra mídia. Eu também acabei travando isso. Mas, por sorte, mesmo o 4K ainda é um disco de blu-ray. Então, os dois disquinhos ainda servem. E a ideia de um adesivo no logotipo é uma citação à minha primeira paixão em coleções, que eram os adesivos. Engraçado que a minha mãe diz que eu, desde de pequeno, tenho uma fixação pela cor laranja e eu não sabia. Quando criei o site todo baseado no laranja, eu não sabia disso. Que era uma cor que eu tinha como preferida desde muito pequeno. Tudo o que era da cor laranja, me atraia.
Durante a live que participei com vocês acerca da dificuldade das pessoas em aceitarem críticas, eu citei algumas vezes a ideia de não ser leviano em opiniões. A responsabilidade que vocês dois têm e a das outras pessoas que colaboram para o site é a de não trazer uma postura hater, para usar uma expressão comum à internet. Há uma responsabilidade como meio de comunicação que é perceptível. Eu gostaria de abordar essa questão da responsabilidade do Blog do Jotacê como veículo de informação, seja na criação de abaixo-assinados, seja na criação de boicotes a empresas, seja com a ideia de levar ao fabricante essa forma de mostrar que não se está feliz com um produto por razões bem embasadas que vai além do pessoal “gostei ou não gostei” e na ideia de levar a crítica como uma oportunidade do fabricante melhorar seus produtos.
Juliano Vasconcellos (Jotacê) – Certamente, tem alguma influência, mas eu, desde os dois anos de idade, frequentei o estúdio de rádio onde meu pai trabalha. Ele é radialista. E me lembro de, desde pequeno, estar dentro do estúdio e vendo como era a abordagem dele a respeito de notícias. Não sei até hoje porque não enveredei pelo lado do Jornalismo, tendo toda essa influência. Mas, enfim, a minha carreira toda é na Arquitetura. Porém, sempre tive a consciência a respeito da abordagem independente que o Blog do Jotacê teria. Quando criei o site, eu sabia que ia dar voz para uma comunidade e que, com isso, por exemplo, eu nunca ia ter patrocínio de estúdio nenhum. E até hoje, depois de 12 anos, nunca tive patrocínio de nenhum estúdio. Ao mesmo tempo, as pessoas me perguntavam se eu não achava que eu era imparcial demais. E eu, conscientemente, sabia que não era. Estou dando voz a uma comunidade, mas sendo responsável. Só que, no início, eu tinha muita dificuldade. Não é como hoje, que consigo conversar com os donos das lojas, com os donos de uma independente, ou falo com um executivo de um grande estúdio. Lá no início, mesmo que quisesse, eu não conseguia a palavra de ninguém que fosse responsável por algum lançamento. Por isso que, aparentemente, há certa parcialidade no que escrevo, mas, na realidade, esse mercado nunca esteve muito acostumado com isso que a gente faz. Até hoje, é muito difícil receber crítica. Mas mudou bastante. Melhorou muito em termos de diálogo. Principalmente esse ano de 2020. Mas sempre fui muito responsável no sentido de “gostei ou não gostei”. E para mim isso foi muito fácil, porque, como a abordagem é técnica, é muito fácil de comprovar certas coisas. Por exemplo, uma imagem mutilada de um filme, ou uma edição que vem com informações erradas na capa, tudo isso é muito óbvio. Não precisa se um grande especialista ou um expert para detectar essas coisas. Mas estou consciente de que, na origem, não era um Jornalismo em que se busca a palavra dos dois lados em termos de se concluir alguma coisa a respeito disso. Era para tirar o conteúdo que estava dentro de uma rede social para que as pessoas pudessem ter acesso a essas informações. A partir disso, a gente começou a mobilizar a comunidade. Esses boicotes que começaram primeiro com a Warner, depois teve Fox, depois teve Disney (praticamente todos os grandes estúdios acabaram sofrendo boicotes), eu nunca coloquei como sendo uma ação do site, mas, sim, da comunidade. Porque, aí, através das redes sociais, a gente começava a ver que a recepção era a mesma; E nós só liderávamos o boicote. Nunca era uma coisa só do site, mas, sim, envolvendo a comunidade. Por isso sempre trouxemos palavras de outras pessoas. Essa coisa de muita gente escrevendo para o site, também, fazia parte. Até hoje tem o post do leitor. A pessoa escreve, me manda, eu analiso; pergunto para o Celso se ele tem alguma dúvida, pergunto para outras pessoas se tem alguma dúvida, apuro se é verdade ou não, reviso e vai para o ar. A ideia é de que a gente não seja também a única fonte dessas informações é uma coisa que está no DNA do site. E os boicotes, inclusive, são de repercussão internacional, porque já conversei com pessoas de fora, empresários, e que me disseram que em nenhum lugar do mundo se faz o que a gente faz no Brasil. E isso, lá fora, é muito valorizado em termos de força de veículo. Mas tenho consciência de que não sou jornalista. Não sei porque não sou (risos). As coisas da vida acabaram me colocando em outra trajetória de carreira profissional, mas sempre soube dessa responsabilidade. E talvez essa convivência desde o início com fatos jornalísticos e abordagens que vi o meu pai fazer na rádio podem ter me dado essa consciência.
Celso Menezes – Eu vou fazer uma ligação com o que o Jota estava falando, que é sobre algo sintomático para a razão do mercado estar falando conosco, colecionadores, agora: o mercado está acabando e eles não viram a gente antes. E esse é um dos motivos. Se eles tivessem ouvido a gente lá atrás, o mercado não estaria como está hoje. O Blog do Jotacê já apontava os problemas e as soluções faz tempo. Porque não adianta você só apontar o problema. Você tem que apontar as soluções. E o Blog do Jotacê já falava: “Olha, isso está errado e esse é o caminho certo”. E isso com base em informações. Não era algo que saiu da cartola. “Gostei, não gostei”. Não. É isso aqui porque lá fora isso foi feito e deu certo. Acho que aconteceu a mesma coisa com a indústria fonográfica. Não ouviram os fãs, não ouviram quem consome. E essas pessoas, às quais nós três nos incluímos, temos algumas noções mais amplas do que apenas algo específico. Por exemplo, um executivo da Universal pode entender às vezes muito da Universal. Mas ele não tem noção, às vezes, das coisas que acontecem ao redor. Nós, como fãs, consumimos de todo mundo. E achamos padrões. Podemos orientar o que está legal em uma distribuidora, podemos indicar as que trabalham com arte interna, as que lançam extras, o que pode ser melhorado nas que não oferecem essas opções a mais. E essa questão, o que eu tento (agora indo para sua pergunta), é fazer essa análise observando que não é todo produto que é para todo público. E me encaixo dentro de alguns públicos. E mesmo quando não me encaixo, quando é alguma coisa que não me interessa, tento entender a razão daquilo existir. Quem que se interessa por aquilo. É engraçado eu e o Jota termos essa vibe meio jornalística. Na verdade, eu passei até na faculdade de Jornalismo, só que, na hora, resolvi fazer Publicidade por achar que era o mais próximo de Cinema. Mas passei em Jornalismo. Eu tive que tirar o MTB por causa do tempo em que eu trabalhei em TV, e era necessário. E lhe dou até essa sugestão, Jota, de tirar o MTB, que é algo bem simples. E quando eu digo que é muito simples, eu me refiro ao fato de que qualquer pessoa pode tirar o MTB hoje. E isso, muitas vezes, faz com que toda a bagagem de um jornalista formado se equivalha a alguém que não tem bagagem nenhuma. E isso é terrível. Mas eu acho que quem sabe utilizar isso, deve tirar. E acho que foi por isso que foi aberto o MTB para mais pessoas, especialistas principalmente. Por exemplo, o Dr. Dráuzio Varela. Ele é uma sumidade em saúde. Um cara que se expressa muito bem. Ele não poderia escrever colunas se não fosse, digamos assim, jornalista. Então, acho que sabendo utilizar com responsabilidade e conhecimento, deve ir atrás do MTB, sim. E todos nós do Blog do Jotacê tentamos fazer um trabalho jornalístico. O que a gente segura de informações, o que a gente debate antes de falar sobre isso. Vemos sempre os prós e contras. Momentos em que o Jota nos consulta sobre alguma decisão. Então, tem um debate. Não é como eu falei antes, de que a gente tira da cartola a informação, vou falar e se danem as consequências. Sabemos que uma palavra fora de contexto, ela tem uma força. E nesse mercado pequeno em que a gente está, dependendo do que você falar, você acaba com uma empresa, com a pessoa, com o mercado. Eu lembro que falei para o Jota esses dias que, nos bastidores, tivemos quase que uma “crise dos mísseis de Cuba”, sabe? Podia acabar tudo, o mundo podia acabar e ninguém estava sabendo. Só a gente. E nós estávamos torcendo para que o navio voltasse para a Rússia. E aparentemente ele voltou. Não sei se ele está vagando por aí, mas aparentemente ele voltou para a Rússia. Mas temos a responsabilidade. São furos enormes que a gente daria, mas o custo disso às vezes é o custo do próprio mercado. Então, a gente analisa o que vamos falar, do jeito que vamos falar. Até instintivamente. Temos tanto cuidado na nossa vida pessoal, e aí, quando vamos falar com mais pessoas, tomamos mais cuidado ainda.
Juliano Vasconcellos (Jotacê) – Acho que já passou até o momento de dizer que o site não é a atividade principal de nenhum de nós. Muita gente acha que somos profissionais disso, mas não somos. Continua sendo um hobby. Parece profissional, mas não é. Infelizmente, não é.
Celso falou a respeito de ter furos de reportagens e avaliá-los com responsabilidade. Nesse período cobrindo esse tema da mídia física, foram diversas as polêmicas com as quais eu me deparei. As pessoas com quem conversei que pediram off. Nesses momentos, desliguei o gravador, escutei e guardei para mim. E foram momentos que me fizeram perceber que o mercado funciona de uma forma que não é tão romantizada assim. Friso aqui que essa é uma pauta panorâmica. Não é uma pauta investigativa ou caluniosa. Não é uma pauta para colocar ninguém em zona de guerra. É uma pauta que visa entender o mercado para que as pessoas possam ler isso e perceber que esse mesmo mercado tem que permanecer. Essa união e diálogo é necessária ao mercado. Haver uma responsabilidade entre distribuidores, entre lojas, entre colecionadores, entre grupos de redes sociais. Mesmo que os colecionadores sejam pessoas de diversos nichos, diversas classes, diversos acessos à cultura ou não, diversos temperamentos, formas de expressar e se expor na internet. Mas em termos de profissionais dentro de distribuidoras, é importante que haja essa parceria para o mercado acontecer. Fiz esse preâmbulo para perguntar a vocês dois acerca dessa responsabilidade do mercado em si. Em perceber que é preciso haver um diálogo entre todo mundo para que ele seja permanente. Claro que quem ler isso vai perceber que a razão de eu pontuar isso é por conta de ter havido atritos entre distribuidoras, entre canais, entre colecionadores, e é preciso que, para 2021, isso seja repensado para que o mercado dure para 2022, 2023, e por mais 10, 15 anos. A gente não sabe o que vai acontecer com o streaming. Eu acho que o ponto de 2020 principal para o nosso mercado é percebê-lo como um ano de virada, nesse sentido. Considerar 2020 como um ano de virada e observar os próximos tendo em mente a não repetição de erros e de estratégias furadas.
Juliano Vasconcellos (Jotacê) – Existem duas abordagens absolutamente distintas do nosso mercado de homevideo. Existe a abordagem dos grandes estúdios e a abordagem “caseira”, vamos dizer assim, das empresas independentes. Os grandes estúdios são mais frios, são mais distantes da gente. Falando isso nesse momento da entrevista é até complicado porque, no momento em que estamos falando (N.E. Entrevista realizada em 02/11/2020), tem um estúdio só oficialmente no Brasil. Só a Warner está ativa no Brasil. A Disney foi embora com a Fox, e a Sony, Universal e Paramount ainda estão sem contrato de marketing e distribuição no Brasil. Mas acho que é muito importante fazermos essa distinção tendo, inclusive, como uma abordagem editorial no site. Porque, por essa proximidade que o ano 2020 nos permitiu, essa aproximação que aconteceu tanto na parte das independentes quanto nos grandes estúdios, ainda assim há diferenças de tratamento do mercado. As independentes aprenderam nesses últimos meses a lidar com o colecionador. Nós tivemos a crise das livrarias que… Bom, primeiro, antes de tudo, antes da crise das livrarias, vale falar das locadoras. Elas sempre comandaram o mercado. Desde 1977, as locadoras eram as protagonistas, vamos dizer, como consumidores. Toda a tiragem, tudo era pensado para locadoras, porque, enfim, era realmente um cliente dos estúdios e das independentes muito maior. Então, acabaram as locadoras como elas eram. Ainda existem no Brasil, mas não têm a mesma força nem perto do que era na década de 1980 e 1990. E com a crise das livrarias, o colecionador virou o principal financiador do mercado. Não tem mais a locadora que comprava muito, em volumes muito grandes. E não tem mais as principais livrarias e lojas como as Americanas vendendo mídia física. É a crise da venda presencial de mídia física tanto nas livrarias quanto nas outras lojas que fecharam nesse meio tempo, também. Hoje, todo mundo que compra é colecionador e compra on line. Isso é uma mudança enorme no mercado. Enorme! Acho que não foi dado ainda o devido destaque para essa mudança de comportamento de consumo. Então, toda essa introdução é para dizer que existe uma visão de mercado das independentes, e existe uma visão de mercado dos grandes estúdios. Os grandes estúdios são executivos que, na maioria dos casos, às vezes nem entendem de coleção e nem de cinema. São apenas pessoas que fizeram MBA, especialização em Marketing, e, na maioria dos casos, não têm o conhecimento sobre coleção. Nas independentes, as pessoas já estão se dando conta disso. E abrindo um diálogo com a comunidade, estão aprendendo muito sobre. Algumas mais e outras menos. E é isso que vai definir o que você está perguntando, JP. Essa questão do diálogo entre as independentes. E das independentes com o nosso público é que vai definir o futuro: se isso vai permanecer ou não. A pandemia, infelizmente, sendo uma pandemia, é que catalisou isso. É que precipitou, de certa forma, esse diálogo. Espero que quando isso tudo acabar, que essa coisa não volte a ser como era antes. Eu acho que não. Acho que vai continuar tendo esse diálogo e esse tipo de reconhecimento na nossa comunidade como o único financiador do mercado. Não há mais grandes livrarias, não há mais grandes lojas e não há mais as locadoras para financiar. Por isso que o mercado é nichado, como eu sempre digo. E cada vez mais compactado. E cada vez mais denso. Se tinha uma coisa pulverizada, entre públicos casuais de livrarias, público de locadoras, e público colecionador, hoje, só restou um. Então, compactou, diminuiu, condensou e nichou mais. E esse diálogo que você menciona entre as empresas ele só vai ser útil se continuar ouvindo o colecionador. Porque se as empresas se isolarem de novo, vai voltar a ser o que era. E será fatal para quem trabalha com isso, produz, distribui, enfim. E eu gostaria muito, como desejo de alguém que está envolvido com a cobertura desse mercado, que os grandes estúdios tivessem a mesma abordagem que as independentes. Nesse sentido do diálogo. Alguma coisa a gente já tem, mas é muito incerto. Em 2 de novembro de 2020, é muito incerto o que vai acontecer com relação aos grandes estúdios no Brasil. Porque dois deles estão fora, Disney e Fox. E junto com tudo isso, Pixar, Marvel, Star Wars. E três importantíssimos como Sony, Universal e Paramount ainda não têm destino definido (N.E. Entrevista realizada em 02/112020). Para um mercado nichado, de poucas tiragens, acredito que o futuro é de tiragens pequenas, mas com apresentação e conteúdo um pouco mais sofisticados. Ou bem mais sofisticados. E isso vai encarecer. E tenho muito medo de que o nosso mercado se torne elitista demais. Acho que são esses os receios que tenho neste momento. Por ser mais caro ou por ser mais restrito a um certo público. E eu acho que já está. Não é mais tão popular. As pessoas não conseguem mais comprar um blu-ray a R$9,90 em uma promoção. Isso porque a tiragem diminuiu, o preço aumentou, e tudo isso vai acabando por mudar o perfil de quem coleciona. Eu não gostaria que a gente estivesse em um mundo em que esse ato de colecionar filmes fosse uma coisa para poucos. Isso é muito ruim para todo mundo.
Celso Menezes – Eu acho que o ideal seria um equilíbrio entra a forma como agem as majores e como agem as independentes. A maioria das pessoas nesse mercado, tanto majors como fora de majors, não é cinéfilo, por exemplo. E não é colecionador. E acho isso muito complicado. Porque se não há um interesse pessoal, aquilo vira apenas uma opção. “Ah, não deu certo isso aqui, vou procurar outro emprego”. Com essa linha de raciocínio é muito fácil abandonar todo o mercado. Deixar fechar, mesmo. “Acabou, acabou. Não me interessa, mesmo. Não coleciono, porque eu vou me preocupar com isso?” E aí é muito discrepante a atuação das majors e das menores. As majors são muito frias e as menores, por muitas vezes, são muito amadoras. Às vezes a impressão é que se o dono da distribuidora acordou de mau humor, as decisões vão ser por um lado. E essas decisões que ele vai tomar afetará outro distribuidor menor, que vai afetar outro. É uma reação em cadeia e tudo depende do estado de humor das pessoas. E isso nas majors pode acontecer, também, mas como tem muitas travas envolvendo muitas pessoas e decisões acima ou de fora, é como se tivesse uma espécie de regulamentação interna que impede de chegar a alguns pontos. Mas com as menores, chega. Então, o ideal seria a junção dos melhores mundos. A proximidade com que as independentes estão falando com os colecionadores é um diferencial. Isso delas estarem participando das lives é uma coisa que era impensável. Eram empresas que a gente não visualizava o que era exatamente. A gente está descobrindo junto. Eu e o Jota fazemos perguntas pra caramba para as pessoas das empresas, por exemplo, como funciona esse lance dos direitos autorais. Como funciona? Como é o trâmite de compra? Porque estamos tendo acesso a essas pessoas e aproveitando tais oportunidades. Mas é um processo que é muito calcado na personalidade de cada um. E isso é complicado, porque e ai? Sai aquela pessoa e quem vai ficar no lugar dela? Vai ser uma pessoa melhor ou pior? Vai falar mais ou menos? Então, sinto muito que falta um nível mínimo de profissionalismo. Um patamar. “A partir daqui, não vamos anunciar filmes se a gente está com essas dúvidas”, por exemplo. Mas ao mesmo tempo a falta de interesse total no diálogo das majors… parece que falam da SUP na Festa do Catálogo e não é total. Mas na verdade eles estavam querendo pagar os salários deles. A Festa do Catálogo foi a tábua de salvação para eles pagarem os salários. E que ótimo que a gente pôde fazer isso e eles receberem por causa disso. Mas isso não pode ser a mola propulsora. Ou aquilo de: “se eu não fizer isso, eu não vou receber o meu salário” Não. A motivação tem que ser a de lançar os melhores produtos, porque as pessoas querem ter os melhores produtos. Então, é muito complicado você ficar dependendo de majors, porque elas não estão nem aí. Acabou o mercado para elas, e o executivo, pessoalmente, já está falando com os contatos no Linkedin e pronto. Já achou outro trabalho para ele. Mas para a gente, acaba o mercado. Vamos supor que acontece uma coisa terrível e a SUP (Sony, Universal e Paramount) não volte mais? Não vai acontecer, mas, e aí? O que acontece com o mercado? Entra em colapso. Eu não sei, e pelo o que converso com o Jota, ele também não sabe, de executivos que são colecionadores, ou apaixonados pelo mercado. Que era o que a gente via muito nas locadoras. No documentário “Cinemagia”, vemos uma paixão por aquilo. De alguma forma, cada um era dono do seu reino ali. E isso bastava. Porque, na verdade, eram reinos que não eram pequenos. Cada locadora contava com centenas, às vezes milhares de títulos. E aquilo lá era um mercado em si. Mas sinto muito a falta de colecionadores no comando. Se tivesse um colecionador em uma major, ele ia ter que se coçar e os outros iam ter que se coçar para alcançar esse aí. Então, o mercado cresceria por causa de um colecionador obviamente capacitado para estar em um cargo como esse. Se tivesse um colecionador capacitado, com poder, o jogo mudaria. Acho que abriria novos espaços,. Porque a gente vê tantos erros sendo cometidos há décadas, e a gente avisando. “Está errado. Olha aqui o modo certo”. Os boicotes feitos através do Blog do Jotacê eram isso. Era a última opção de todas. A gente cansou de avisar que estava errado, então, vamos fazer um boicote. Mas é triste que o mercado tenha que funcionar com a espada ali nas costas, e não porque quer o melhor para as pessoas.
Após o fechamento da NovoDisc, que também replicava DVDs, sobrou a RiMO como a única replicadora a trabalhar com as distribuidoras no Brasil. Além disso, em entrevista com Valmir Fernandes, do Obras Primas, ele comentou os atrasos nas entregas por conta da demanda de fabricação de CDs de material educacional encomendados para RiMO pelo governo. Esse risco de monopólio na replicação de mídias é algo que precisa ser refletido pelas distribuidoras. Gostaria de saber a opinião de vocês dois em relação a isso, lembrando que, ao mesmo tempo, não há mais a fabricação de players no Brasil.
Juliano Vasconcellos (Jotacê) – A questão dos players é a mais importante. É a questão chave. Sem player, não adianta colecionar mídia física. Não é a mesma coisa que colecionar livros. Nós dependemos de player. Se não houver, não adianta. Pode esquecer. Não adianta ter grandes lançamentos, não adianta a comunidade ser unida, não adianta as empresas conversarem entre si amavelmente e pensando em um bem comum, mesmo em um sistema capitalista de todo mundo ter o seu público. Nada disso adianta se não tiver player. Então, essa é a questão mais importante. Sobre a RiMO, que foi a primeira coisa que você mencionou, de se ter uma replicadora só no Brasil, na realidade, tem duas, mas uma parece que é fechada e não atende todo mundo. Uma coisa que poderia mudar. Ou seja, a gente tem duas principais replicadoras hoje em dia, a RiMO e a Solutions 2 Go. A RiMO tem que fazer parte da produção fora do país, porque não tem todo maquinário (N.E. Conforme explicou Valmir Fernandes, do selo Obras Primas, em sua entrevista), e a Solutions 2 Go tem tudo no Brasil. Pode fazer o stamper do disco no Brasil. Mas ela está fechada só para alguns estúdios. E é de se repensar isso. Inclusive, o próprio Valmir já me disse que é possível tentar fazer alguma coisa com eles. Mas, curiosamente, é uma empresa maior, uma empresa canadense, a Solutions 2 Go, que tem todo maquinário no Brasil, mas parece que está ocupada fazendo games e outras coisas. Não entendo muito bem isso, preciso ainda estudar melhor. Mas todo esse aspecto, seja de replicação quanto de players, está no contexto nacional e na nossa situação de desindustrialização que é muito crítica. Muito preocupante. O país tem níveis de industrialização menores do que os do final da década de 1940, inicio da década de 1950. Esse contexto nacional de desindustrialização reflete no nosso mercado. Alguns responsáveis por independentes já me disseram que procuraram, inclusive, fazer replicação em algum outro lugar da América Latina e não conseguiram. Acho que acabou inclusive as questões de importação complicando. Há uma matéria de 2011 no site com mais de uma dúzia de replicadoras, em sua maioria de DVDs. E hoje nós estamos nessa situação. Há um problema na economia nacional, e na industrialização do Brasil, que está se refletindo no nosso cenário do mercado de mídia física. E vejo poucas pessoas falando sobre isso. Contextualizando isso numa coisa maior. A gente não pode olhar só para o mercado de mídia física como se ele fosse uma ilha. Como se ele não fosse uma coisa que estivesse dentro desse contexto de desindustrialização. E isso para ser revertido precisa de muita ação do estado. Infelizmente, nós não estamos vendo essa ação, pelo menos nesse momento. Não há uma expectativa de se reverter isso. Nós estamos em um momento de muita exploração do capital, mas temos um capital de pouca produção realmente no país. Talvez o agronegócio seja ainda a principal atividade econômica forte no Brasil. E isso, voltando, por exemplo, à era JK, de Juscelino, é absolutamente anacrônico pensar que nos anos 1950 nós tínhamos uma situação de industrialização muito mais pujante. Eu queria colocar essa questão maior para a gente tentar entender algo que não me parece ser um fato real que esteja acontecendo, esclareço, mas é muito maluco a gente imaginar que parece que há um boicote ao pólo da Zona Franca de Manaus. Porque Sony vai embora, vai ficar só a produção de vídeo games (que acho que vai ser só montado no Brasil). E tem uma série de outros problemas. Para além do problema da pandemia, parece que há um desmanche do pólo da Zona Franca de Manaus. E essa coisa das replicadoras que estão lá. Todas as duas estão lá. Isso é muito perigoso. Ou seja, não temos mais players. Daqui a pouco uma dessas replicadoras vai embora. O mercado encolhido do jeito que está ou em termos de filmes e séries no Brasil. Eu não sabia desse dado de que a RiMO fabrica CDs para o governo. Talvez essa seja a resposta de por que a RiMO ainda está em atividade. Porque se não fosse isso, não sei. O ano de 2019, principalmente, que houve uma retração absurda no mercado, quando não chegou a ter 70 lançamentos de títulos em blu-ray no Brasil. Não sabemos se hoje, se fosse só esse mercado, teria como se sustentar nesse cenário que vinha se desenhando. Mas é isso. Eu queria muito destacar essa questão da economia e da desindustrialização do Brasil nesse cenário para o nosso mercado.
Celso Menezes – A live do Blog do Jotacê sobre a questão da fabricação do players me trouxe uma coisa que deveria ser o nosso foco: pegar uma empresa nacional para fabricar. E a que tem mais cara para faze isso é a Tec Toy, porque ela já tem todo o projeto pronto. Ela tem arquivado em algum lugar como se faz um player de blu-ray de qualidade. Eu acho que para ela é excelente, porque ela não vai ter concorrentes no mercado. Vai ser só ela. E para a gente é excelente, pois teremos essa opção para o caso de quebrar o aparelho que já temos e podermos comprar um novo. Para mim, está bem simples essa questão. Não vejo as empresas grandes se interessando em fazer player de blu-ray, porque virou uma coisa de nicho. Mas para uma empresa nacional, fabricar uma coisa que a gente sabe que é de qualidade, pode ser possível. E digo que é de qualidade porque só agora, depois de 10 anos, que o meu player Tec Toy está dando pau. Ou seja, funcionou por quase 10 anos. Acho que, em relação aos players, o caminho é esse. Já em relação às replicadoras de mídias, como o Jota citou, houve essa procura de algumas distribuidoras quanto a países vizinhos. Numa dessas, tem algum país vizinho que tenha algum acordo para importação de mídia que vale a pena e pode acontecer. Óbvio que a gente vai ter que esperar um pouco mais para chegar a mídia, mas também não acho impossível que isso aconteça. Por exemplo, se a RiMO fechar, acabou o mercado? Não. Há outros países ao redor. O Brasil como um país continental que faz divisa com vários países, e numa dessas a gente descobre que na Bolívia, na Colômbia, por exemplo, dá para fazer isso com qualidade, com preço baixo e que viabilize. Mas isso, claro, é uma especulação minha aqui.
Durante esse papo, falamos algumas vezes sobre a saída da Disney do mercado de mídia física na América Latina. Gostaria de aprofundar a opinião de vocês dois nesse registro. Como vocês avaliam essa decisão deles?
Juliano Vasconcellos (Blog do Jotacê) – Tenho refletido muito e o Blog do Jotacê foi o primeiro a dar essa notícia. Por isso, estou sendo muito procurado para opinar a respeito. A primeira coisa que acho que tem que ser dita aqui sobre essa ação da Disney de ir embora da América Latina, decidir não mais produzir mídia física na América Latina é uma decisão que tem a ver com as suas estratégias de distribuição do seu conteúdo. Não tem nada a ver com a “morte da mídia física” ou com qualquer outra teoria da conspiração. É muito claro, inclusive, porque o seu serviço de streaming estreia nos próximos dias no Brasil, daqui a duas semanas (N.E. Entrevista realizada em 02/11/2020). Isso me parece que a Disney pensou dentro de uma lógica dos Estados Unidos, em que a pirataria é bastante combatida e reprimida. Os torrents são bastante fiscalizados lá. E a Disney pensou em tudo isso seguindo uma lógica do mercado americano, o maior conglomerado de entretenimento do mundo com uma visão tão caolha. Ela pensou com a sua lógica dos Estados Unidos e, com isso, aplicou para toda a América Latina essa restrição para ver no que ia dar. Acho que é um teste para ver o que vai acontecer. Nós todos torcemos muito que isso seja revertido o mais breve possível, mas ainda teremos algum tempo, eu acho, com essa situação. Isso dependendo da resposta do mercado. E seja como for essa resposta, esse período sem mídia física da Disney no nosso território vai ser maior ou menor. Mas não há nenhuma relação com a desindustrialização do Brasil. Não há relação nenhuma com a contração do mercado e com o nichamento do mercado. Não há relação nenhuma com questões estritas da mídia física na América Latina, mas, sim, com estratégia de distribuição e forçar, a partir da saída da mídia física, que todos que tenham interesse no seu conteúdo, assinem o seu serviço de streaming. E é uma estratégia muito cruel e radical. Muito cruel com todo mundo que é fã das produções da Disney. Então, nesse sentido, é importante, na minha visão, desvincular isso de uma “crise do mercado de mídia física”, até porque a Disney estava indo muito bem aqui. Os títulos da Disney sempre foram sucesso. Star Wars é campeão de vendas em todas as lojas com as quais nós conversamos. Eu duvido muito que isso dure até o grande primeiro lançamento. Duvido muito, por exemplo, que os próximos filmes de Star Wars não sejam lançados em mídia física no Brasil. Ainda tem um tempo para que o próximo filme da franquia saia, mas acredito que vai ser planejado para que na volta dos filmes da Lucasfilm seja marcante, também, o retorno da Disney para a mídia física. Sabe-se lá como, se vai ver uma coisa com distribuição no Brasil, ou se será apenas importando, ou vai voltar a ser como era no início do blu-ray no Brasil. Mas é preciso um contrato de distribuição e marketing para se fazer isso. Acho que o público brasileiro, o latino-americano, foi jogado novamente no colo da pirataria. Porque, no Brasil, a cultura da pirataria é muito forte. É diferente de outros lugares, de outros países, e me parece que foi uma decisão super equivocada. Como se houvesse uma vinculação dos colecionadores, de quem coleciona mídia física, com quem consome streaming. Muitos de nós, a maioria, inclusive, faz as duas coisas. E essa radicalização da Disney, para mim, foi um erro crasso.
Celso Menezes – Concordo com o que o Jota falou. Isso de erro crasso é uma coisa que a gente está acostumado a ver. E acho incrível que não importa o tamanho da empresa, e a Disney é a maior de todas, e a gente continua a ver decisões equivocadas como essa. Acho que só com o lançamento de “Mulan” eles já deveriam ter aprendido a lição, vendo que não tem como dar certo um negócio desses. Eles vão querer empurrar para o Disney+. E lembrando que eles tinham a política do cofre, né? Dos títulos irem para o cofre e depois de alguns anos saírem. Nada impede deles falarem no futuro: “Olha, colocamos no cofre e agora estamos tirando de novo”. Tem esse precedente. Falei em uma live que o 23 do D23, o fã clube da Disney, vem do ano de 2023, que é quando a Disney fará 100 anos. Acho que é uma ótima oportunidade. Acho até que eles não devem aguentar até lá. Até porque, sem a renda dos cinemas, acho que pode ser antes que eles voltem por precisarem de dinheiro. É uma coisa que dava dinheiro. É engraçado isso. Você resolver cortar uma fonte de renda quando nós colecionadores, como o Jota falou, consumismo das duas formas. São formas diferentes de consumo. E retomando um pouco nessa questão dos erros de quem está no comando, observo muito a evolução do mercado de quadrinhos. Como foi o contrário. Quadrinhos não tinha nada há até bem pouco tempo aqui no Brasil. Era Marvel, DC, Disney capegando e Turma da Mônica. Obvio, saia umas graphic novels aqui e ali, mas, a meu ver, a evolução do mercado de quadrinhos no Brasil foi uma junção de três fatores: o ProAC, que todos os anos viabiliza de 10 a 20 produções nacionais. E essas produções têm que escoar e acaba fazendo que as editoras se interessem. E como os autores são do Brasil, acaba criando notícias. Você, mesmo, JP, fez matérias sobre projetos nacionais porque isso agora é notícia. Antes, não tinha. As notícias se restringiam a Laerte, Angeli e Glauco. E essa mudança, esses 10 anos de ProAC, é um fator muito importante. O segundo fator são os eventos, tipo CCXP, que têm o “Artists’ Alley“, que é o ápice, eu acho, para um artista estar ali. E isso é muito legal. De você valorizar o artista. Fazer pessoas que não são ainda quererem ser artistas porque vão ser reconhecidas. Antes não existia, também. Tipo, o cara hoje vai na CCXP, vê que aquele tal artista tem uma mesa lá e pensa: “um dia eu quero ter uma mesa dessa”. Quantas pessoas já não ouvi falando isso? Quantas pessoas que foram pela primeira vez e tiveram uma mesinha no Artists’ Alley e que falaram como aquilo foi uma conquista importante? E é mesmo! Porque a quantidade de inscrições é gigantesca. Tem uma seleção de quantas pessoas vão poder estar lá. E o terceiro fator é o selo Pipoca & Nanquim. Aí é que está a diferença. O que é Pipoca & Nanquim? São pessoas do negócio de quadrinhos e que são colecionadores. Que são apaixonados por aquilo. Isso faz toda a diferença. Porque você vai entregar o produto o melhor que você puder. Porque você consome aquele produto. Então, acho que são esses três fatores. Principalmente o terceiro, o Pipoca & Nanquim, por ser uma coisa regular, todos os meses têm lançamentos que você já sabe como funciona, em que a pré-venda é mais barata, que a qualidade é a melhor possível. Tem edições do selo Pipoca & Nanquim que a melhor edição do mundo é a deles. A edição do Alan Moore, por exemplo, a editora Dark Horse comprou o material que eles produziram para edição brasileira do Alan Moore, que ninguém mais tinha. Recuperaram coisas que ninguém mais tinha. Então, essa preocupação, esse carinho, aliados a uma forma de trabalhar correta, mostrou qual é o caminho. Na verdade, nós, como colecionadores, sempre soubemos qual era o caminho. Quando tinha uma edição especial, não durava. A gente vê que não dura o estoque. As pessoas vão lá e compram. Então, eu acho que falta essa paixão que não existe, não existe mesmo, no mercado de filmes, de homevideo. Infelizmente, é muito triste dizer isso. E nos quadrinho, existe em todos os lugares porque todo editor de quadrinho não está ali por causa do dinheiro. Todos eles estão ali pelo amor, mesmo. Tipo, “eu vou tentar ganhar uns trocados com quadrinhos” . Óbvio que o ideal é não ser assim. O ideal é fazer como o Pipoca & Nanquim. E aí você vê como teve essa virada. Quadrinhos não eram nada no mercado e hoje é uma força muito grande, a ponto da Panini começar a lançar encadernados de R$350,00, que são os omnibus. E eles não vão lançar omnibus a R$350,00 se não tiver um público para isso. Os caras são gigantescos. Eles pensam muito no público e no que eles vão lançar para esse público. E tem os outros títulos deles, que custam por volta de R$100,00. Então, é um mercado que nunca esteve tão forte e aquecido como está hoje. É muito doido isso. Não tem como a gente culpar alguma coisa assim: “ah, é uma coisa geral, é a pandemia”. Não! Os quadrinhos estão indo muito bem. Eu vi esse dias uma entrevista de um autor dizendo que ficou espantando que lançou uma tiragem de uma obra dele agora, e a editora informou que esgotou. Ele disse que, antes, demoraria dois, três anos para esgotar aquele material. E agora esgotou em dois, três meses. Então, eu acho que temos exemplos bem sucedidos de mercados ligado a Cultura, e tínhamos, na mídia física de filmes, que aprender mais com eles.
https://youtu.be/z6xx4MB95Ok
– João Paulo Barreto é jornalista, crítico de cinema e curador do Festival Panorama Internacional Coisa de Cinema. Membro da Abraccine, colabora para o Jornal A Tarde e assina o blog Película Virtual.
Panorama do Mercado Cinéfilo de Mídia Física em 2020 no Brasil
01) Fábio Martins – Loja FAMDv
02) Fernando Luiz Alves – Loja The Originals
03) Classicline, 1Films e Vídeo Pérola
04) Valmir Fernandes (Obras Primas do Cinema)
05) Igor Oliveira (CPC UMES Filmes)
06) Daniel Herculano (Clube Box)
07) Gleisson Dias (Rosebud Club)
08) André Melo e Fernando Brito (Versátil)
09) Juliano Vasconcellos e Celso Menezes (Blog do Jotacê)