por Marcelo Costa
“Chasing Yesterday”, Noel Gallagher’s High Flying Birds (Warner)
Em meio a boatos de reunião do Oasis (com Noel, que já se “inspirou” em tantas canções de Paul McCartney para compor seu repertório, pedindo um single na cara de pau) chega ao Brasil – com três meses de atraso – o segundo álbum da Noel Gallagher’s High Flying Birds suscitando questões sobre a estratégia de vendas da major brasileira: disponível nas principais plataformas digitais desde fevereiro (nas extras oficiais um pouco antes), a que tipo de público uma edição simples de “Chasing Yesterday” é destinado no Brasil? Fãs de Noel e do Oasis já compraram (e receberam) suas edições deluxe importadas (com quatro faixas a mais na Europa e EUA mais uma quinta, “Leave My Guitar Alone”, exclusiva para o mercado japonês), e fora estes fãs quem compra CDs hoje no país? Questões mercadológicas à parte, “Chasing Yesterday” não avança um milímetro na trajetória proposta por Noel no bom álbum de estreia, de 2011, o que decepciona. Em um disco de zona de conforto, Noel toca um mundo de coisas (guitarra, baixo, melotron, piano, teclado, percussão), escala Johnny Marr pra fazer uns riffs na dançante “Ballad of the Mighty I” enquanto Amorphous Androgynous assina a produção das duas faixas mais “diferentinhas” (sem serem tão diferentes assim). Tirando as guitarradas de “Lock All the Doors” (uma canção de… 1992!), as outras nove faixas são soníferos poderosos. Entre as “descartadas”, a beatle “Leave My Guitar Alone” é a mais engraçadinha, mas não salva um álbum apenas mediano. Volta, Oasis, volta.
Nota: 5,5
Preço: R$ 35 em média
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“The Sound ’59”, The Gaslight Anthem (Hearts Bleed Blue)
Formado em 2006 em New Brunswick, New Jersey, o Gaslight Anthem começou a galgar espaços exatamente com este álbum, então o segundo disco do grupo, de 2008, que chega só agora ao Brasil juntando-se a outros dois já lançados pelo selo Hearts Blend Blue (“American Slang”, 2010, e “The B-Sides”, 2014). “The Sound ’59” melhora o que já era bom em “Sink or Swim” (2007), o álbum de estreia, mantendo a vista as principais influências do grupo: o punk rock emocional (que não tem nada a ver com a bundamolice emo) de bandas como Social Distortion e Buzzcocks com o rock de arena elevado a religião por Bruce Springsteen (preste bastante atenção nas letras) e Tom Petty. A sensação que o álbum passa é de que o quarteto nasceu na época errada (para sorte dos ouvintes do novo século): “Eu sempre sonhei com carros clássicos e telas de cinema”, canta Brian Fallon em “Old White Lincoln” (os carros clássicos retornam em “High Lonesome” trazendo Elvis consigo). Já “Great Expectations”, que abre o álbum com o som de uma agulha percorrendo um vinil, Fallon conta que está à espera “cantarolando uma canção de 1962”. Já “Here’s Looking at You, Kid” (em algum lugar, Humphrey Bogart sorri) poderia estar presente em “The River”, de Springsteen, e manteria o nível do disco alto. Em “Miles Davis & The Cool”, o vocalista diz que “nunca teve muita coisa boa, mas sempre teve o blues”. A faixa título disserta sobre suicídio, com Brian resumindo: “Garotos e garotas não deveriam morrer em um sábado à noite”. Discaço.
Nota: 8,5
Preço: R$ 27 em média
“A Paixão segundo Cabaret”, Cabaret (Independente)
Gravado entre 2009 e 2010 no Rio e masterizado em Abbey Road, o segundo disco do Cabaret ficou cinco anos circulando de forma extraoficial devido a problemas internos da banda carioca. Lançado finalmente em dezembro de 2014 (o atraso não tirou o frescor nem a força das canções), “A Paixão segundo Cabaret” é um disco conceitual, de natureza pretensiosa, que ousa discutir a paixão. As 13 canções do álbum trazem subtítulos que ambientam o ouvinte na trágica história de um personagem, que começa negando o amor na poderosa faixa título, um prólogo de riff cortante e refrão grandioso, buscando avisar (tolamente): “Mas eu não vou me apaixonar, nunca mais vou deixar o amor entrar”. Dai o personagem conhece alguém em “Animal, ou a Atração” e a via-crúcis romântica é seguida com as manhãs seguintes retratadas de “Um Dia no Paraíso, ou a Obsessão” (com a voz de Marvio dos Anjos afundada na mixagem) até os sete minutos climáticos de “A Persistência da Memória”. Os grandes destaques do álbum são a grudenta “Não É Mulher pra Você, ou o Arrependimento” – difícil não cantarolar o refrão embalado pela metaleira –, a porrada punk “Nada Vai Ser Amor, ou a Terceirização” e a intensa “Dentro de Você, ou o Rancor”, com participação empolgante de Ney Matogrosso cantando o refrão poderoso: “Dentro de você nada melhor do que eu”. Movido por guitarras furiosas, com produção afiada de Iuri Freiberger, o amor é revisto de forma estilosa em “A Paixão segundo Cabaret”. Para ouvir alto e temer se apaixonar.
Nota: 9
Preço: R$ 20 (com o próprio vocalista)
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Eu, ao ouvir Chasing Yesterday, já peço o contrário: não volta, Oasis, não volta! rs
Esse site é um dos poucos que eu sempre estava conectado, mas depois dessa, sobre o álbum do Noel, não se ainda tem o mesmo valor. O álbum é ótimo! Recomendo a todos.
Continuo recomendando o álbum pra quem tem insônia. Rola dormir antes de chegar na terceira música.
Rafael, deixa de mimimi ridículo. Tu pode até discordar da opinião do Mac sobre o álbum, direito teu, mas mimimi-adolescente-não-brinco-mais é foda. Oasis já é meio porcaria e superestimado, disco solo então….
Gostei do novo disco do Noel, de primeira não gostei muito, mas com o tempo comecei a curtir mais. Incrível como o Noel ainda tem essa capacidade de escrever singles, musicas que grudam no ouvido mas sem soar enjoadas.