Metaleiro Por Uma Noite

Metaleiro Por Uma Noite
Sob O CEL #16
por Carlos Eduardo Lima

Eu e minha esposa acabamos de ver o mais recente DVD do Iron Maiden, “En Vivo”. Engraçado esse reconhecimento das bandas de rock pesado para com seus públicos latino-americanos. O AC/DC lançou “Live at River Plate”, um petardo gravado no Estádio Monumental de Nuñez, em Buenos Aires. O Maiden gravou um concerto inteiro no Estádio Nacional de Santiago, no Chile, numa turnê que passou pelos quatro cantos do mundo.

No caso do Maindem, o DVD duplo “En Vivo” traz o show na íntegra, parte da turnê “The Final Frontier”, nome do último disco de inéditas da banda, lançado no ano passado. O outro disco mostra um documentário minucioso sobre a tal turnê, nos mesmos moldes do filme anterior, “Flight 666”. Aqui, o Ed Force One, avião que o Maiden utilizou para percorrer o circuito da turnê reaparece numa versão Boeing 757, com mais autonomia de voo e espaço para carga redefinido. Entre ajustes técnicos e comentários de Bruce Dickinson, vocalista e piloto comercial, a banda mostra uma dedicação fora do normal para levar o máximo possível em termos de espetáculo ao máximo possível de pessoas em cidades desprivilegiadas pelo roteiro habitual das turnês de rock como Belém do Pará e Jacarta, na Indonésia.

A dedicação da equipe e dos integrantes é espantosa, revelando uma cuidadosa infraestrutura por trás daquele teatro musical que levam ao palco. Isso me levou a uma digressão, sobretudo ao ver, mais uma vez, que o público dominante em concertos dessa natureza é masculino. Não há espaço para discoletes, intelectuais, hipsters, emos, sertanejos e rappers: o negócio é para ogros fãs de rrrrock. E, por mais que algum blasé venha tecer comentários antropológicos zona sul, Bruce Dickinson, Steve Harris, Dave Murray, Nicko McBrain, Adrian Smith e Janick Gers são acima de qualquer suspeita num palco, sendo que Harris é um dos mais conceituados baixistas do metal em todos os tempos. McBrain é um baterista virtuoso e o trio de guitarristas – Murray, Smith e Gers – ergue uma parede de 18 cordas a cada show. Resta a Dickinson, um boa praça nato, dono de um dos registros mais marcantes do rock, manter essa unidade tática operante ao longo do show. E ele consegue plenamente.

Engraçado que voltei minha atenção ao Iron Maiden após meu casamento. Minha esposa é baterista e fã da banda desde seus primeiros discos, ainda com o vocalista anterior, Paul Dianno. Quando fomos morar juntos, a coleção dela trazia um grande número de álbuns do Maiden, inclusive meus prediletos, “Powerslave” (1984) e “Seventh Son Of A Seventh Son” (1987). O primeiro é um clássico, já o segundo é visto com má vontade pelos fãs mais radicais porque tenta enfiar um virtuosismo progressivo aqui e ali. Mesmo assim, amigos, mantendo o meu grau de honestidade nesses relatos quinzenais aqui no S&Y, preciso confessar que nunca fui muito fã de heavy metal. Sempre tive um pensamento que aliava a música à harmonia, a sons eminentemente não-agressivos.

A partir de um determinado momento de adolescência tardia, fui começar a prestar atenção e coisas mais pesadinhas na década de 1990, via grunge e “And Justice For All” e “Black Album”, do Metallica. Isso me fez retomar um caminho aberto a duros golpes dentro de um sertão musical onde havia lugar apenas para sons leves, bonitinhos e harmônicos. Lá na minha aurora como ouvinte dedicado de música, ainda no início da década de 80, está arquivado um pequeno flerte com o universo heavy metal, típico dos sujeitos que estão se tornando homens, precisando provar para o mundo e para si mesmos, que são durões, mauzões, machões e capazes de tudo.

Nada disso, no entanto, estava na minha mente quando dei de cara com a capa de “Powerslave” numa tarde qualquer do segundo semestre de 1984. Imagino que esse contato tenha acontecido numa livraria do Leblon, chamada Tempos Modernos, que, claro, não existe mais. Acho que estava com meu grande amigo na época, Claudio Ratton, que morava em frente à livraria. Nós dois e outro amigo, Jaime Biaggio, éramos fãs de Queen e estávamos ouvindo música “mais a sério” e empreendendo certa imersão no universo nascente dos clipes, até então novidade absoluta na programação televisiva brasileira. Víamos o FM TV (Manchete), Clip Clip (Globo) e os programas BB Videoclip e BB Videoroll (ambos da Record, se não me engano). Jaime gravava os clipes em fitas Betamax e nos reuníamos na casa dele para assisti-los com direito a comentários e outras nerdices. Era uma época de expectativa pelo Rock In Rio, cuja escalação contemplava o temível Dia do Metal, a se realizar em 19 de janeiro de 1985 quando se apresentariam Scorpions, Whitesnake, AC/DC e Ozzy Osbourne.

Nesse contexto surgiria o termo “metaleiro”, usado pela Globo para denominar o fã dessas bandas. O AC/DC nem poderia ser considerado uma formação de heavy metal, nem o Whitesnake, tampouco o Scorpions, estando os três muito mais para o terreno do hard rock e suas diferentes abordagens. O Iron Maiden (que abriria o festival em 11 de janeiro), sim, poderia ser chamado desse jeito. As letras satânicas, o sucesso do disco anterior “The Number Of The Beast”, cuja faixa-título era hit, as capas com variações sinistras do personagem simbólico do Maiden, Eddie, mostravam que havia algo ali.

Quando digo “havia algo ali”, significa que o simples ato de comprar “The Number Of The Beast’ era, de certa forma, transgressor. Você podia comprar “Back In Black” (AC/DC) ou “Love At First Sting” (Scorpions) sem qualquer problema. Comprar “The Number…” era um buraco mais embaixo. Nunca comprei o terceiro disco do Maiden. Nem “Powerslave”, o quinto, cuja capa eu estava vendo na Tempos Modernos ao lado do Ratton. Nela está uma pirâmide egípcia totalmente “from hell”, cujas estátuas de deuses foram substituídas por imagens sinistras do Eddie, além de detalhes tão pequenos de nós todos, como um impagável “Indiana Jones was here” e uma figura do Mickey Mouse, ambos pichados numa das estátuas. Aquilo era legal. Valia a pena ter uma camisa da banda com aquela imagem sensacional da pirâmide. Vejam, eu tinha 14 anos de idade. E ter essa idade em 1984/85, é muito diferente de tê-la hoje.

Em novembro daquele 1984, após algumas reuniões na casa do Jaime para ver mais clipes, surgiu a ideia de estragarmos a festa de aniversário de uma amiga da irmã mais nova do Ratton, Renata. Seria no playground do prédio do Jaime e era a chance para debutarmos como agentes do caos, da desordem e do mais puro mal heavy metal. Os três, devidamente paramentados, mais outro amigo do colégio, Fábio, nos organizamos para desarticular a festa, mas, sem saber exatamente como. Festinhas de playground eram a maneira nascente de celebrar aniversários e unir as turminhas de colégio e se dividiam em músicas rápidas – pra dançar – e músicas lentas, para tentar se dar bem com as meninas. No nosso caso, o contato com meninas no colégio era recente, datando do ano anterior, uma vez que o Santo Agostinho era uma instituição que deixara de aceitar apenas alunos do sexo masculino em 1983, abrindo sua sétima série para meninas. Eu, por minha vez, era um perfeito imbecil, preferia meu Autorama e minhas revistas de aviação militar, algo que Ratton também preferia. Estávamos então, talvez, descontando nossa invencibilidade nas festinhas, seja na hora da música rápida – porque tínhamos a desenvoltura de postes de luz dançando – ou da música lenta, na qual não arrumávamos absolutamente nada nem ninguém. Mas, você pode perguntar, como destruímos a festa e desempenhamos nossa função não-declarada de agentes do caos?

Limitamo-nos a aparecer no meio dos colegas da irmã do Ratton, que deviam ser uns dois anos mais novos que nós, vestidos com camisas do Iron Maiden. A simples aparição de meninos maiores que a média de convidados da festa, sobretudo trajados daquele jeito hediondo, deveria causar pânico e temor. Não causou. Não tivemos nem a criatividade de sabotar o preparo de algum salgado ou cortar o fio do aparelho de som, dois atos que, certamente, atrapalhariam de fato o andamento da festa. Em vez disso, acabamos num canto, nos entreolhando e decidindo amealhar alguns salgadinhos restantes na cozinha.

O que quero dizer com esse episódio pra lá de micoso é que o heavy metal é um estilo musical que permanece como sinônimo de um ‘coming of ages’ na vida dos jovens nerds nascidos a partir da década de 1970. É aquele signo que usamos para mostrar aos outros que crescemos e/ou estamos ficando mais velhos, fortes, maus e capazes de lidar com a vida. Mais do que você, imbecil. Isso nem sempre dá certo, como o relato pode facilmente comprovar. O que nos une em 1984/85 aos sujeitos da plateia lá do Estádio Nacional de Santiago em 2012 é a mesma coragem de nos expormos diante de um ambiente estranho, usando uma espécie de armadura musical. Tem a ver com ser jovem, com ser ingênuo, com a impressão de que rock pode (ou poderia) nos libertar dos fracassos com o sexo oposto, com a fase pré-alcool, pré-drogas, pré-mundo adulto. Às vezes a gente fica pensando que deixou algumas coisas pelo caminho, certo? E as acha lá no meio do show do Maiden no Chile.

PS: Malditos padres agostinianos recoletos que, somente após nossa passagem pelo colégio, admitiram integralmente as meninas no Santo Agostinho. FDP’s!

CEL é Carlos Eduardo Lima (siga @celeolimite), historiador, jornalista e fã de música. Conhece Marcelo Costa por carta desde o fim dos anos 90, quando o Scream & Yell era um fanzine escrito por ele e amigos, lá em sua natal Taubaté. Já escreveu no S&Y por um bom tempo, em idas e vindas. Hoje tem certeza de que o mundo como o conhecíamos acabou lá por volta de 1994/95 mas não está conformado com isso.

LEIA OUTRAS COLUNAS DE CARLOS EDUARDO LIMA NO SCREAM & YELL

Leia também:
– Pagando uma dívida para Steve Harris e Iron Maiden, por Marcelo Costa (aqui)
– As muitas faces de Eddie pós-Derek Riggs, por Renato Beolchi (aqui)
– Em “The Final Frontier”, o Iron Maiden surpreende… por quatro minutos (leia aqui)
– Saiba como foi o show do Iron Maiden em Belém, por Adriano Costa (aqui)
– Um Adolescente Nos Anos 80: “The Number Of The Beast”, Iron Maiden (aqui)

39 thoughts on “Metaleiro Por Uma Noite

  1. Desde os meus 15 anos, usar camisa do Iron Maiden sempre foi algo mais do que simplesmente vestir uma camisa de banda. Depois que eu passei da fase de ouvir só heavy metal, a camisa do Maiden se transformou num ícone pessoal do despertar da minha personalidade. Quando eu tinha uns 17 e já tinha migrado do “metal” pro “punk”, continuava usando a camisa preta com a capa do “Best of The Beast” só pelo prazer de ver a cara atônita dos meus amigos, com suas camisas de Ramones e Clash, tentando fazer piada de mim. Mas eu sei que eles tinham é inveja. As camisas do Iron Maiden são as mais ‘cool’ de todas as camisas de bandas.

  2. Legal o texto, principalmente por ter sido publicado num espaço que não dá muita bola pro estilo. Só uma coisa: Powerslave foi o quinto disco de estúdio do Maiden. O quarto foi o Piece of Mind.

  3. Vc acertou em cheio no cerne da questão, Cel. tão bem exposto no último parágrafo.
    Eu quando vejo alguém com mais de 30 com uma camisa do Maiden tendo achar que trata-se de um imbecil, um ogro acéfalo. É um pré-conceito/preconteito que tenho.
    Algumas bandas – Ramones, Iron Maiden, Kiss, AC/DC – são coisas de “meninos buchudos”.
    Não à toa Beavis & Butthead estampam AC/DC e Metallica em suas camisas.
    Ficaria bem estranho eles com Bob Dylan e John Lennon em suas camisetas, por exemplo.

    Pra mim fazem parte do rock ruim, babaca.
    Não vejo diferença entre o Kiss e Ivete Sangalo, por exemplo.
    Já o Maiden e afins são tão caricaturais que acabam virando brincadeira de criança. De “minino buchudo” como disse acima
    Inofensivos como o poodle da minha vizinha.
    Tem coisa mais ridícula que um Manowar da vida?
    Embora super distintos em som e visual o Heavy Metal difere muito pouco do Axé.

  4. Valeu pela correção, Fábio. “Piece of Mind” é um dos meus prediletos pelas duas que fecham o lado A (“Flight of Icarus” e, principalmente, “Die With Your Boots On”) e “The Trooper” (sempre fui chapado nos breaks que eles faziam nessa e em”Hallowed Be Thy Name” )

    Abraço

  5. Rock. Ponto. Pode ser apenas voz e violão, de Dylan nos primeiros tempos. Pode ser camadas e camadas de guitarra, como Iron e congêneres. Há o rock bom e o rock ruim. Simples. essas bandas fazem parte do lado bom do rock;

  6. Tô com vc, Zé Henrique. Heavy Metal, de modo geral, é um grande circo. Também acho que Kiss e Ivete Sangalo, conceitualmente, não diferem muito. A diferença é que o Kiss já virou bonequinho, canequinha, chaveirinho e a Ivete ainda não KKKKKKKK. E, não, as camisetas do Iron Maiden não são nada legais… São horríveis…

  7. Paulo Diógenes, a adolescência é um grande circo. Conceitualmente há um abismo de eras entre Kiss e Ivete Sangalo, nem dá pra começar a discorrer sobre o assunto e, sim, as camisetas do Iron Maiden em 2012 podem ser horríveis. Em 1984, no entanto, era uma declaração de intenções.

  8. Conceitualmente(acho que o Paulo não empregou bem a palavra sobre o que quis dizer) há mesmo um abismo entre axé e Heavy Metal. Mas na prática são iguais – machistas, conservadores, acéfalos…
    O que torna risível é justamente isso.

    PS: As camisetas do Maiden, asism como as capas, eram mesmo uma declaração de intenções/guerra em 84. No entanto, são feias e bem bregas em qualquer época. Aliás, capa de disco de Heavy Metal é um troço pra lá de ridículo.

  9. Abismos, planetas e galáxias diferem Ivete do Kiss ou o Kiss da Ivete mas sinceramente acho que isto nem vale a pena ser discutido até pelo fato que o Kiss nunca foi Heavy Metal na minha opinião e já foi disco enfim, lamentáveis os comentários.

    Cel, grande texto, pra variar.

  10. Interessante texto, e sobre os comentários, gostaria de discordar do Zé Henrique.

    Dizer que heavy metal é machista, conservador e acéfalo mostra que a pessoa, no mínimo, não se interessa em conhecer um pouco do estilo.

    O metal é provavelmente a vertente mais ampla do rock e engloba milhares de bandas que vão muito além dos clichês de um Manowar da vida – aliás, o próprio Manowar hoje em dia é rejeitado pela maioria dos fãs do estilo.

    Enfim, é tudo questão de ponto de vista. Eu acho parte do público indie (generalizar é sempre burrice) mais risível, com sua postura blasé, gosto musical volátil e altamente influenciável e o pior: já vi muita gente pagar ingresso caro pra ir ao show e mal olhar pro palco, preferindo fazer social.

    Voltando ao texto, a ideia do jovem nerd que joga RPG e ouve heavy melódico representa apenas uma minúscula fração do público.

  11. Verdade, Gustavo, esse tipo de comportamento indie tb é bastante risível.
    Em tempo: Não me considero nem um pouco indie. Em termos de rock gringo parei no Nirvana.
    Arlen, tb concordo com vc. O Kiss nunca foi Heavy Metal no som. São babacas na postura. Foi mais por isso a associação.
    Quando adolescente já ouvi muito do estilo – Accept, Metal Church, Iron… Hoje em dia só escuto e respeito o Sabbath – pelos seus riffs que vão e vem e grudam na cabeça.
    É claro que muito da energia do rock(e todos seus afluentes) vem de uma certa fúria idiota, mas quando se tem só isso pra mostrar, depois de um certo tempo, fica bem grotesco.
    Enfim, é só minha opinião.

  12. Para quem não entendeu: obviamente, dizer que kiss e ivete sangalo são conceitualmente equivalentes, trata-se mesmo de uma provocação, uma gracinha pra irritar fanzocas radicais… Ou melhor, apenas uma forma de expressar o quanto a maior parte do universo heavy metal (ok, óbvio que o Kiss está mais para o hard rock que para o metal, apenas peguei carona no comentário do Zé) me soa datado, inócuo e “espalhafatoso”, no pior dos sentidos e do mal gosto. Do mesmo modo, poderia dizer que os palcos e cenários do Iron Maiden são, conceitualmente, um versão from-hell de uma escola de samba: muita luz, figurino, brilho, coreografias ensaiadas, alegorias e fantasias de montão pra marmanjos de preto (que merda, os caras deliram quando entra um Eddie grandão no palco rodopiando que nem louco KKKKKKKK). Mas, calma lá. Não é poque eu acho tudo isso muito tosco que vcs não podem gostar ou discordar de mim. Cada um cada um. Mas, na boa, não dá pra levar a sério a parada não. É tudo muito caricato, infantilóide. Chega a dar medinho do escuro, medinho do escuro…

  13. Zé Henrique, citei indie apenas como um exemplo, pois normalmente o pessoal indie esnoba um pouco o metal, diz que é uma coisa infantil, etc. Sobre a fúria idiota, normal, faz parte do DNA do rock. No caso do heavy metal, existem trocentas bandas que vão além disso e que fazem trabalhos com bastante conteúdo, diferentes influências, etc.

    Sobre o que disse o Paulo: vi um dia desses o documentário sobre músicos punks que são pais, e aliás recomendo a todos. Eles discutem o paradoxo de cantar letras agressivas e ao mesmo tempo ter que dar um bom exemplo aos filhos, a ausência no dia-a-dia da família por causa de tours, as responsabilidades financeiras, etc. No meio disso alguém disse uma grande verdade: toda banda é um pouco Spinal Tap. Os músicos vivem rotinas parecidas e são verdadeiros atores, pois precisam mostrar que estão felizes por fazer um show e por cantar uma música que muitas vezes eles mesmos passaram a odiar.

    O que me leva a seguinte conclusão: o importante não é levar a sério, e sim gostar ou não da música pela música. Eu sou fã do Kiss e ouço os discos clássicos deles até hoje simplesmente pelo som. Aliás, eu preferia muito mais ver o Kiss fazer um show “normal”, sem maquiagem em alguma casa tipo Via Funchal, do que aquele circo todo.

    Não sei se consegui me fazer entender, mas é aquilo de sempre: gosto é gosto. Perder tempo com algo que você não gosta é burrice. No blog do Finatti, ele sempre classifica o metal como datado, acéfalo, etc. Aí em seguida o cara vai lá e elogia alguma banda gótica oitentista que fez algum show caça níquel tosco, tocando alguns hits velhos sem tesão algum, só por causa do contra-cheque. Vai entender, gosto é que nem c* mesmo.

  14. A idéia do texto é fazer uma associação entre aquela época da vida da gente em que precisamos mostrar mais do que somos. Mais ou menos como o músico que precisa vestir o personagem (como bem disse o Gustavo aí em cima). O heavy metal é a trilha sonora desse tempo, quando essa necessidade surge pela primeira vez. Das outras vezes, disfarçamos dizendo que gostamos de blues, de art-rock, de jazz, de mpb de raiz, ou seja, qualquer outro estilo que faça com que sejamos vistos como intelectuais, potenciais comedores, malandrões, enfim, é assim desde sempre. Para o sonorizar o primeiro momento, no entanto, o metal parece ser uma escolha mais ou menos usual.

  15. Até que enfim um texto bom seu, CEL.

    E falando sobre o metal, dá pra curtir o estilo depois da adolescência tranquilamente, tanto bandas antigas quanto atuais (“curtir o estilo” é diferente de ser “metaleiro”). E Zé Henrique, no boa, esse negócio de que só escuta e respeita o Sabbath é algo bem esdrúxulo.

  16. Zé Henrique e Paulo Diógenes: vocês são hilários! Parabéns!

    Arte não é geladeira, nem grife, nem carro. Arte não fica “datada”. Arte não precisa estar em arranjo com o seu tempo.

    Daí um dos dois campeões citados na primeira linha vai dizer: MAS METAL NÃO É ARTE! METAL TEM CAPA FEIA.
    Daí eu vou achar bem engraçado (sem sacanagem, vou mesmo) e ouvirei um disco do Sabbath, que isso sim é respeitável!

  17. Vamos lá:
    Gustavo, pelo seu comentário(lúcido) vc deveria preferir o Kiss de máscara – com o circo montado.
    Quanto a se levar a sério, gosto muito de uma frase de Chico Science, que dizia:
    “Brincadeira levada a sério”
    Cel, essa tua carapuça aí não serviu em mim. Só digo que gosto do que realmente gosto. Sem teatrinho, sem personagem.
    Mas, realmente, ela serve em muita gente.
    Valeu, Wellington. Mas devo dizer que vc é um pouco mais. Não tanto quanto um Kiss da vida, claro, Mas mais.

  18. Pô, Chico Science, cara? Sério mesmo? Aí fica difícil.

    Paro por aqui, mas digo, e agora sem sarcasmo: você e o Paulo Dioégenes deram lenha pra um bom debate aqui. Tomara que continue. Volto mais tarde pra conferir.

  19. Ah, esqueci de comentar o mais importante: Não há nada mais ridículo do que esse negócio que Kiss, Maiden e afins são “rock ruim, babaca”.

    Mas tbm, o que mais se pode esperar de alguém que acha que a última banda realmente relevante foi o Nirvana?

  20. A discussão está ótima e os diferentes pontos de vista são muito válidos. Na minha adolescência, o rock e o metal serviram não tanto como forma de me mostrar aos outros, mas como algo que eu encontrei e que tinha a ver comigo: guitarras, cerveja e pessoas que não se encaixavam muito nos padrões normais da sociedade, mas que na verdade eram (na maioria das vezes) educados, tranquilos e pacíficos (posso contar nos dedos quantas brigas vi em shows de metal).

    Hoje trabalho com música, então me deparo com todos tipos de público, de diversos estilos e faixas etárias. As histórias são muito parecidas, mas o cara que gosta de metal, mesmo depois de se “adequar à sociedade” (casar, cortar o cabelo e arrumar um emprego concursado), carrega pra sempre aquela chama. Isso que eu acho o mais legal e que diferencia os headbangers (galera não gosta do termo “metaleiro” rsrs).

  21. Sem dúvida, Gustavo. Os headbangers, como vc diz, são fiéis como um cão.
    Mês passado teve o Abril Pro Rock aqui em Recife e no mesmo fim de semana foi anunciado, um mês antes, dois shows de Paul MacCartney.
    O Abril Pro Rock tem um dia dedicado ao rock pesado e o produtor do evento disse: Paul MacCartney pode roubar público do outro dia(como de fato roubou), mas do dia do Metal ele não tira ninguém – como de fato não tirou.
    No mais, casar, cortar cabelo e arrumar emprego concursado foi sensacional! Rsrrsrsrssrsr

    PS: Falou, Wellington. Citando novamente Mr.Science: Um passo a frente e vc já não está mais no mesmo lugar.
    E pegando uma carona novamente no comentário do Gustavo – sobre a mesmice de certas pessoas de continuarem por anos a fio com a mesma roupa, o mesmo som. Mesmo com cabelos e empregos diferentes – Que tal darem um passo pra frente?

  22. O Ismael não sabe o que falar porque na discussão/troca de idéias o Cel ficou meio que margem – agarrado a cerne do seu texto – e ele ficou sem ninguém pra bajular.
    Como diria Carlota: Acontece. 🙂
    Aliás, no samba há gente bem mais rock’n’roll que em 90% das bandas de Heavy.
    Um Candeia ou um Nelson Cavaquinho fazem um Kiss da vida parecer um chaveirinho. rsrsrsrs

  23. Sim, Ismael. Queira você, ou não, está rolando um debate aqui.

    Em relação ao que disse o Science, Zé Henrique: é uma boa frase de efeito, sem dúvidas. Mas, será mesmo necessário dar um passo à frente? Admiro artistas (Dalton Trevisan, James Grey, Cézanne, Angus e Malcom Young) que, de modo geral, nunca saíram do lugar. Que tem como desafio artístico retrabalhar incessantemente os mesmos temas, as mesmas obsessões, a mesma forma. Pra mim há uma beleza enorme nisso. Quantas variações são possíveis fazer, dentro dos limites de um conto, por exemplo, sobre a narrativa de um casal de velhos, por exemplo? Esses caras trabalham com limites auto-impostos, possuem uma visão de mundo absolutamente convicta e tem a coragem de fincar os pés no lugar e dali não sair, não importa o quão forte vente ou em que escala Richter vibre o solo. As vezes, isso é bem mais difícil do que dar um passinho à frente. Que fique claro: eu disse “as vezes”.

  24. Muito boa essa visão, Wellington. De fato há mérito nisso.
    Mas uma visão de mundo absolutamente convicta eu não gostaria de ter nunca.
    Meio emburrecedor, não?
    Acho mais enriquecedor dar passos para frente, para o lado, para trás…
    Enfim, respirar novos ares.
    Dar limites a vida me parece pouco inteligente e, ao contrário do que vc disse, nada corajoso.
    Como diria Raul: Tem tanta estrela por aí.

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