por Otávio Augusto
Indicado a 11 Oscars e forte candidato na categoria de Melhor Diretor. “Invenção de Hugo Cabret” (“Hugo”, 2011) traz aos holofotes novamente Martin Scorsese, diretor pra lá de consagrado em todos os quesitos, que desta vez embarca em uma aventura pelos primórdios da sétima arte. Scorsese dispensa comentários. Recebeu um Oscar tardiamente por “Os Infiltrados” (2007) – em uma disputa que merecia ser vencida por “Pequena Miss Sunshine” – mas é um dos (principais) responsáveis pela geração sexo, drogas e rock’n roll que salvou Hollywood nos anos 70.
Depois de “A Ilha do Medo” (2010), um terror psicológico que dividiu opiniões, Scorsese decidiu fazer uma homenagem ao cinema, uma celebração a arte de fazer filmes, conduzida de modo imperdível e não negando tudo que a tecnologia permite. “A Invenção de Hugo Cabret” é o cinema do futuro dando uma piscadela para o cinema antigo, um filme que todos os apaixonados pelo sétima arte deveriam ter como obrigação assistir.
A história do menino Hugo Cabret (Asa Butterfiled) se passa na Paris de 1931. Após a morte do pai (Jude Law), ele passa a morar na estação ferroviária de Montparnasse, ajudando o tio bêbado na manutenção dos relógios. O pequeno órfão tem seu caderno de anotações apreendido pelo velho George (Ben Kingsley), dono de uma sempre vazia loja de brinquedos onde Hugo costuma furtar engrenagens, com as quais ele tenta consertar um velho autômato do século XIX que seu pai achou nos porões de um museu. Hugo acredita ser sua missão consertar a máquina.
Surge em cena Isabelle (Chloe Grace Moretz), sobrinha do velho George e uma leitora assídua, com sede de aventura. Ela transforma toda a história (do menino Hugo e, consequentemente, do filme) em uma viagem mágica pelas origens da arte que em seu início era chamada de “atração de feira” e ao longo do século XX tornou-se a melhor forma de criar sonhos: o cinema. Isabelle decide ajudar Hugo a recuperar seu caderno e assim tem inicio a aventura.
Pesquisando sobre a origem dos filmes, Hugo, Isabelle e a plateia encontram os Irmaõs Lumière – os primeiros a exibirem um filme, isso em 1895 (em uma cena cômica e, ao mesmo tempo, poética) – e George Mélies, um mágico que se tornou obcecado pelo cinema. Os Irmãos Lumière fotografaram o mundo como ele realmente era e não acreditavam que o cinema podia ter futuro. Georges Méliès foi além e, por isso, é o grande herói do filme.
Méliès não fazia apenas cinema, mas criava sonhos através de filmes fantásticos como “A Viagem a Lua”, e transformou o cinema em seu palco, construindo seu próprio estúdio e tornando um genial produtor de filmes de fantasia e mágica (além de ator, montador, fotógrafo e tudo mais) chegando a filmar mais de 300 obras, que lhe conferiram certa fama, mas pouco dinheiro. Quando veio a Primeira Grande Guerra, o genial cineasta perdeu tudo, desabou e afundou na obscuridade.
A história do filme remonta o período entre 1900 e 1930, mas os efeitos perfeitos em 3D são o que de mais novo a tecnologia permite, a começar pela deslumbrante cena inicial, quando a câmera viaja por entre as pessoas da estação na hora do desembarque, e coloca o espectador em poucos segundos dentro do ambiente mágico da história, ou as representações de James Joyce, Winston Churchill e Salvador Dalí. Basta um grande diretor para extrair de um formato tudo o que ele tem de melhor, e a “A Invenção de Hugo Cabret” tem um dos melhores diretores da história no comando.
Baseado no livro homônimo de Brian Selznick (edição brasileira da SM, 2007) e com roteiro assinado por John Logan, “A Invenção de Hugo Cabret” é emocionante, tocante, uma bem sucedida declaração de amor ao cinema (não à toa, um dos pontos simbólicos do filme é uma chave em formato de coração) e uma defesa da sétima arte como um local de sonhos para crianças e adultos. Em “Hugo”, qualquer apaixonado pela sétima arte terá sua dose de emoção.
– Otávio Augusto (siga @otavioacunha) é historiador e fã de cultura pop
Leia também:
– “Os Inflitrados”: Um cinema sem muita esperança, por Marcelo Miranda (aqui)
– Bob Dylan, Martin Scorcese e a História Universal, por Marcelo Costa (aqui)
– “No Direction Home”: é tudo raridade e uma aula de rock and roll (aqui)
– “O Aviador” é um filmaço, mas não é o melhor de Martin Scorsese (aqui)
– A era mais criativa de Hollywood, por Gabriel Innocentini e Ismael Machado (aqui)
– “Shine a Light”: show de rock é para se ver ao vivo, não no cinema (aqui)
Nenhum comentário? Que absurdo!
“Hugo” é um filmaço que, ao mesmo tempo, celebra o cinema pelo que possui de lúdico e fantástico e faz valer a pena a tecnologia 3D.
Nem mesmo “Avatar” soube utilizar tão bem essa técnica.
E os atores estão todos ótimos (exceto o Sacha Baron Cohen, mas esse não passa de um provocador fuleiro).
Recomendo a todos que assistam a “Hugo” em 3D. E legendado, por favor!
Nada de fomentar essa onda de dublagens que contaminou o cinema e está fazendo estragos na tv paga.
“Hugo” é um Scorsese legítimo, para os que conseguirem enxergar além dos estereótipos.
Enfim, é isso.
Obrigado André, pelo primeiro comentário para O hugo!
Foi o filme que eu mais gostei de ver em 3D, perfeito!.
Abç!
Pois eu gostei muito do filme mas achei q o 3d estragou. Acho que a tecnologia ainda não é boa, me dá a sensação de tela pequena, sei lá. Enfim, concordo q é um grande filme e vou tentar ver de novo no cinema sem ser 3d.
Assisti o filme tardiamente. Ontem, na 13″ do meu Mac. Mas foi o suficiente para viver 126 minutos de pura emoção. Maravilhoso!!
E Otávio Augusto, seu texto foi preciso. O filme é realmente uma declaração de amor ao cinema. O Scorcese brilhou do início ao fim.
Direção, fotografia, elenco… tudo perfeito!
Trilha sonora magnífica de Howard Shore (Senhor dos Anéis, O Aviador…) também!!
Infelizmente não vi em 3d. Mas confesso que não gosto muito. Também não considero a tecnologia “pronta”.