texto por Leonardo Vinhas
fotos por Fernando Yokota
“Problems… You know, we have some problems here”. Essas são as primeiras palavras de uma Donita Sparks completamente puta da cara na primeira apresentação do L7 em terras brasileiras. No dia 20 de outubro de 2023, ela, mais as parceiras de sempre Suzi Gardner (voz e guitarra), Jennifer Finch (voz e baixo) e Dee Plakas (bateria) subiram ao palco do Carioca Club para iniciar a tour sul-americana “The Best of L7”, que passará ainda por Ribeirão Preto, Curitiba, Porto Alegre, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, antes de seguir para Buenos Aires, Santiago e Bogotá.
Problemas, de fato, havia. Era o som – que começou péssimo e, apesar de alguma melhora, seguiu ruim até o fim da apresentação. Durante as quase duas horas de show, não se ouviria a guitarra de Suzi Gardner, enquanto a de Donita oscilava entre ficar chôcha ou apitando. E – pecado maior, talvez – o baixo de Jennifer Finch vinha sem peso em muitas músicas, tirando boa parte da força e do atrativo delas.
Mas isso estava longe de ser um problema para os fãs que encheram (mas não abarrotaram) a casa noturna paulistana. Por uma simples razão: fã não sai de casa para se incomodar, mas sim para celebrar o encontro com seus “ídolos” – ou pelo menos, com um pedaço querido de seu presente (ou passado). O fã – de qualquer gênero musical, de cinema, de teatro, do que quer que seja – vai ali pra se esgoelar, cantar junto e, no caso da noite em questão, transformar a frente do palco em uma espécie de passarela onde era “obrigatório” fazer alguma micagem antes de partir para o stage dive.
Estão “errados”? Isso é algo que não cabe à reportagem avaliar. Mas é possível avaliar o show, e esse foi bastante frustrante para qualquer um que não se encaixasse na persona descrita no parágrafo acima.
O som mal ajustado evidenciou uma característica do L7 que mesmo seus admiradores menos apaixonados já haviam se ligado: em termos de composição, a banda não é lá essas coisas. “Bricks Are Heavy”, álbum de 1992 que deu fama ao grupo, tem algumas das canções mais redondas da banda, mas isso se deve em grande parte à produção de Butch Vig, que soube polir arestas e limpar a sujeira excessiva sem tornar o som domesticado ou asséptico.
“Monster”, “Shitlist” e “Wargasm”, algumas das faixas mais emblemáticas do disco, dificilmente teriam sido hits se não tivessem tido um tratamento sonoro que as prepararam tanto para as rádios da época como para shows de arena. Outras, como “One More Thing” e “Slide”, são roquinhos genéricos, que qualquer Gang Green da vida faria, e que devem ao talento de Vig o fato de serem um tiquinho mais distinguíveis. Quem é Gang Green, você pergunta? É exatamente este o meu ponto.
Só que Vig não é o técnico de som do show, e ao vivo, a coisa não demorou muito a ficar genérica. Não ajudava o fato de Donita abraçar com gosto alguns clichês à Spinal Tap (“vocês estão nos fazendo trabalhar muito aqui, estamos tendo que suar a camisa” / “é bom ver ‘dirtbags’ como nós no público”, esse tipo de coisa). Ajudou menos ainda que boa parte do repertório não seja da altura de “Bricks Are Heavy” (que cedeu 9 das suas 11 faixas para o setlist).”Andres”, “Fuel My Fire” e “Shove” são algumas das poucas que se destacaram na sequência de rocks genéricos.
Esse “brilhantismo disperso” não seria problema se estivéssemos diante de uma banda que conseguisse botar convicção nessa sonoridade. E o quarteto de Los Angeles foi essa banda durante boa parte de sua carreira – quem já as viu ao vivo em outras ocasiões sabe muito bem disso. O L7 nunca se destacou por genialidade, mas sim pelo punch, pelo volume e pelo vigor. Só que essas três coisas estiveram em falta na noite paulistana. Sim, o vigor também foi sumindo: lá pela metade do show, a baterista Dee Plakas começou a perder significativamente o andamento e a velocidade de suas batidas, “segurando” as canções como um freio de mão semi-levantado. E no terço final, foi a voz de Donita que foi começando a perder alcance e volume. Quando chegou a hora de “Shitlist” – a última antes de saírem pro bis – estava mais pra cantora de bar em fim de noite que pra Donita Sparks.
Claro que o L7 tem “direito” a sentir a passagem do tempo. Donita, Suzi e Jennifer tocam juntas desde 1985 (Dee entraria em 1989), ou seja, são quase 40 anos de carreira nas costas. E é razoável supor que ninguém na plateia, fã ou não, estivesse esperando por uma jovialidade ilusória e forçada – como eu disse, o fã estava lá para gritar, suar, pular, ou simplesmente encher a cara enquanto ficava apontando o celular pro palco. Mas era só prestar um pouco de atenção em Jennifer Finch e Suzi Gardner para perceber o descompasso entre a estamina delas e a da dupla supracitada. Nem a idade – Jennifer tem 57, e Suzi, 63 (!) – impedia que as duas, cada qual a seu modo, fizessem o possível para manter a dinâmica do show. E, não fossem os onipresentes problemas de som, é provável que essa perda de gás no final fosse um problema menor, talvez a nem ser levado tão em conta. Mas o tempo não volta atrás, e o resultado final foi um show muito aquém do que poderia ter sido.
– Leonardo Vinhas (@leovinhas) é produtor e assina a seção Conexão Latina (aqui) no Scream & Yell.
– Fernando Yokota é fotógrafo de shows e de rua. Conheça seu trabalho: http://fernandoyokota.com.br
Nada como diminuir o valor de uma banda de rock, hein,Leonardo? Esse texto é uma vergonha .
Pode ser que esteja o som ruim,mas quantos shows não foram assim e foram bons?
Leonardo você é uma vergonha! VSF!!!