entrevista de João Paulo Barreto
A 17ª edição da Mostra de Cinema de Belo Horizonte – CineBH segue acontecendo até o dia 02/10 na capital mineira. Com tema central Territórios da Latinidade, a edição apresenta um panorama de mais de 90 filmes, estreia sua primeira mostra competitiva (a Mostra Território), além de trazer o 14º Brasil CineMundi, evento que promove encontros de mercado trazendo possibilidades de co-produção e servindo como ponte de apresentações de novos projetos de cinema que buscam parcerias para sua concretização. Trata-se de uma importante ferramenta para o alcance de uma plataforma de rede de contatos entre profissionais do cinema, como produtores, roteiristas e diretores, e potenciais parceiros que visam investir e concretizar em filmes produções que ainda estejam em seus estágios iniciais, bem como em outras fases mais avançadas de concepção.
Raquel Hallak, uma das diretoras da Mostra e da Universo Produção, conversou com o Scream & Yell e trouxe um pouco desse complexo planejamento visando os encontros que o Brasil CineMundi concretizará durante a semana da CineBH. “Temos uma equipe curatorial grande que se debruça desde o começo do ano, no Festival de Berlim, já tendo ideia de quais podem ser esses convidados que querem vir”, explica Raquel, pontuando as presenças no evento. “São representantes de fundos de investimento, produtores, distribuidores, agentes de venda, curadores de festivais, programadores que vêm para conhecer esses projetos do cinema brasileiro e começar aqui um, vamos dizer assim, grande namoro. E a partir desses encontros, o projeto sai fortalecido, preparado, para esse mercado audiovisual”, explica Hallak.
Ponto de passagem de diversos projetos que se tornaram filmes de sucesso de público e crítica no cinema nacional, a edição da Brasil CineMundi desse ano traz 50 projetos selecionados de um total de 285 inscritos, confirmando um fato de que, apesar das forças brutas oriundas de um governo passado contrário ao cinema brasileiro como indústria, que cancelou o Ministério da Cultura e parou de fomentar a Ancine (Agência Nacional do Cinema), a vontade de produzir era ainda maior que a força predatória do obscurantismo e do negacionismo. “Produções como ‘Bacurau’ (2019), ‘Benzinho’ (2018), ‘Amor, Plástico e Barulho’ (2013) e vários outros projetos passaram pelo Brasil CineMundi e se tornaram filmes. É um evento de mercado do cinema brasileiro. É um encontro internacional de co-produção, o maior que tem hoje nesse segmento da co-produção”, confirma Raquel.
A CineBH 2023 homenageará dois grandes nomes do audiovisual mineiro, o cineasta Rafael Conde e a diretora e atriz, Yara de Novaes. “Rafael Conde sempre representou uma geração aqui em Minas que é quase isolada. A maneira dele fazer cinema é muito única”, explica Raquel. “Yara de Novaes é, também, dessa geração. Ela e o Rafael são amigos desde sempre. E é uma geração que nasce, principalmente, na Rede Minas. Eles surgem ali, fazem jornalismo, nascem dentro da televisão. Para você ver como é que a Rede Minas, uma TV pública, chegou a ser o grande laboratório da formação dessa geração que hoje está aí com cinquenta e poucos anos. E o mais interessante é a fidelidade que se criou com essas parcerias entre eles. A trajetória são os dois juntos o tempo todo. Ele dirigindo e ela atuando. Quando ela não está atuando, está fazendo preparação de elenco”, pontua a diretora da CineBH.
Na seleção da Mostra Homenagem, diversos filmes que contam com a direção de Rafael Conde e a participação de Yara de Novaes, dentre eles “Samba-Canção”, longa de 2002 que reflete as auguras de um cineasta na busca de produzir seu primeiro longa, além do mais recente trabalho do diretor, “Zé” (2023), filme que aborda a história de um militante do movimento estudantil morto nos porões da ditadura militar.
Falecido em julho após sobreviver com queimaduras graves a um incêndio em seu apartamento e ter sido internado às pressas, o dramaturgo José Celso Martinez Corrêa também será homenageado pela CineBH com um recorte dentro da Mostra Diálogos Históricos que apresentará três obras: “Prata Palomares” (1970); “O Rei da Vela” (1982) e “Fédro” (2021), sendo que no primeiro co-assinou o roteiro e, no segundo, dirigiu e escreveu. Já no mais recente, escrito e dirigido por Marcelo Sebá, Zé Celso aparece sendo ele mesmo ao lado de um dos seus pupilos no Teatro Oficina, o ator Reynaldo Gianecchini.
Para Raquel, a percepção de Zé Celso como homenageado da CineBH surgiu justamente de suas multi-atividades dentro das artes. “Pesquisando a obra dele como um todo e não só no cinema, vimos um recorte em que ele, em um filme, é roteirista. No outro filme ele é diretor. No outro é ator. Essa coisa eclética da atuação que ele sempre trouxe, rompendo paradigmas, barreiras, e se lançando de corpo e alma para a cultura e para a arte. É isso que estamos trazendo para cá. E com participação de pessoas que trabalharam com ele, que o conheceram. Porque a obra dele é isso que você falou. Ela vai estar eternizada. Ela fica!”, finaliza Hallak.
No papo abaixo, a diretora da Mostra aprofunda o processo de desenvolvimento do evento.
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Conversamos em janeiro sobre a Mostra de Cinema de Tiradentes e em junho sobre a Mostra de Cinema de Ouro Preto. Lembro desses papos e de termos falado sobre a importância, também, de um foco no mercado, na indústria. Bom, a CineBH, junto com o CineMundi, vai focar nisso. Qual sua expectativa como organizadora do evento?
A expectativa é alta. Mostra CineBH falando de mercado audiovisual. Você já vê o tamanho do nosso desafio. Isso porque estamos nesse momento discutindo a regulação do VOD, discutindo esse novo comportamento e esse retorno pós pandemia do consumidor. O cinema foi uma das atividades mais afetadas com a pandemia. Hoje estamos discutindo, também, a cota de tela. Então, a gente está em um momento no qual eu acho que a mostra CineBH e o Brasil CineMundi vão ser muito importantes para que possamos exatamente voltar a esses trilhos, mesmo, do que está acontecendo hoje e do que estamos construindo para amanhã. Estamos falando de um evento para o qual trazemos parceiros que querem co-produzir com o Brasil. Isso em um momento da Lei Paulo Gustavo, que vai injetar um recurso considerável no mercado. Em um momento da inevitável, urgente e atrasada regulação do VOD. Teremos três debates importantes sobre esse assunto. Em uma capital como Belo Horizonte, que já teve 120 salas de cinema de rua e, hoje, tem apenas quatro. Daí dá para vermos a carência que é a questão e da necessidade urgente da política de difusão para dar conta da produção que vem por aí. Por isso, estamos aqui em um momento de grandes expectativas dessa troca que vai acontecer, dessa efervescência de notícias positivas. Tudo isso com um cenário e um futuro mais promissores, mas que cabe a nós, sociedade civil, junto ao Ministério da Cultura, junto a lideranças políticas, junto com a Ancine para que não percamos o foco necessário e urgente para o cinema brasileiro. E, ao mesmo tempo, estamos criando esse diálogo, esse cenário da América Latina, que é uma lacuna muito grande no Brasil. Da gente se aproximar desses países vizinhos. Nós temos os mesmos problemas, mas com peculiaridades diferentes. A própria temática do festival fala de Territórios da Latinidade exatamente para mostrar essa diversidade. Somos vinte países, 660 milhões de pessoas e temos uma convergência de histórias que se retratam na tela. Mas, por um outro lado, temos as nossas diferenças. Então, acho que juntos vamos mostrar essa cena que, muitas vezes, não chega na Europa, não chega até mesmo a alguns países da própria América Latina. Que filmes são esses que nos representam? É isso que buscamos mostrar.
Um dos aspectos que mais me chamaram atenção na escolha do tema Territórios da Latinidade é como ele se adéqua a uma questão atual e urgente em tempos de, por exemplo, votações de Marco Temporal. Um dos comunicados da mostra salienta essa importância relacionada à posse de terra e a construção de territórios simbólicos e identitários.
A questão do território é primordial. Onde nós estamos, como vivemos, como nos organizamos. A questão da geografia, da política, a questão social. Que imagens são essas, como eu disse, que estão nos representando? Que cinema é esse da América Latina? E nós estamos fazendo um recorte de apostar em novas autorias. Um pouco do que fizemos em Tiradentes, com a Mostra Aurora de novos autores. Dar visibilidade para esse cinema que é uma cópia fiel de como a gente se organiza e como que a gente vive. Então, acho que esses oito filmes que integram a Mostra Território, uma mostra competitiva que estamos introduzindo esse ano, e os vinte e quatro filmes que representam essa Latinidade de Territórios, vamos dizer assim, eu acho que vai dar um recorte muito interessante dessa filmografia recente da América Latina.
Essa decisão de inserir uma mostra competitiva partiu dessa percepção da necessidade de se trazer esse cinema de uma forma mais evidente, mais destacada, também?
Sim, exatamente. É uma mostra competitiva diferenciada porque, aqui, vamos trabalhar três categorias. A categoria do Melhor Filme, eleito pelo júri oficial; a categoria Melhor Presença Humana, em que o júri vai poder olhar para o filme e destacar aquilo que ele considera forte nele. E, também, o que seria o destaque do júri, que pode ser desde uma categoria até um profissional. Pretendemos trabalhar esse olhar do júri sobre esses filmes muito nesse sentido, de ter uma mostra que vai dar visibilidade, que vai apostar em novos realizadores. Que vai falar assim: “aqui está a América Latina retratada de uma certa forma nessa atualidade.” Esses territórios e essa organização social-política-geográfica que é a identidade nossa e que o cinema cumpre muito bem esse papel.
O cineasta Rafael Conde e a também diretora e atriz Yara de Novaes representam muito bem uma sintonia de um cinema feito em parceria, algo que a CineBH e o Brasil CineMundi têm como símbolos. Com foi a escolha de ambos como homenageados na Mostra?
Rafael Conde sempre representou uma geração aqui em Minas que é quase isolada. A gente tem o Helvécio Ratton e aí vem ele, que tem uma filmografia muito interessante. A maneira dele fazer cinema é muito única. Depois vimos nascer uma outra geração que é a da Vídeoarte. Minas Gerais sempre foi um estado da Vídeoarte. Tem o Eder Santos, o Cao Guimarães, que é um outro viés de linguagem, de narrativa. Depois, vimos nascer essa geração que surgiu em Tiradentes, que são os coletivos. E aí começa o Coletivo Teia, que hoje cada um tem a sua produtora, a Luana Melgaço, a Clarissa Campolina. Vários coletivos brasileiros são fruto da Mostra de Cinema de Tiradentes. E depois eles foram fazendo pares. Deixaram de ser necessariamente coletivos, mas trabalhando juntos. E a Yara de Novaes é, também, dessa geração. Ela e o Rafael são amigos desde sempre. E é uma geração que nasce, principalmente, na Rede Minas. Eles surgem ali, fazem jornalismo, nascem dentro da televisão. Para você ver como é que a Rede Minas, uma TV pública, chegou a ser o grande laboratório da formação dessa geração que hoje está aí com cinquenta e poucos anos. E o mais interessante é a fidelidade que se criou com essas parcerias entre eles. E a Yara com o Rafael é o tempo todo. A trajetória são os dois juntos o tempo todo. Ele dirigindo e ela atuando. Quando ela não está atuando, está fazendo preparação de elenco. E uma das coisas que a gente discute muito em BH, falando em mercado, é que se rompeu essa barreira de se falar: “Isso é só cinema”. Quando a gente ainda estava na pandemia, trouxemos a temática de mostrar justamente isso: “O que é audiovisual?” O que é cinema em um momento no qual vimos indo para as telas as lives todas de música, de teatro? Então, essas linguagens se complementam. E os dois representam muito isso. Porque eles se encontraram no cinema, mas, também, no palco, na literatura, com a palavra, com a forma de trabalhar. E formaram uma dupla que dialoga muito com essa proposta que a gente traz para a CineBH. A proposta da cooperação, da parceria, do intercambio. O que isso representa quando a gente fala do Brasil CineMundi de buscar parceiros para o evento? Então, é uma parceira, uma dupla parceira fiel e coerente desde os anos 1980. A escolha desse fazer artístico mineiro, em uma cena do Rafael, principalmente, que muitas vezes as pessoas desconhecem, mas que seus filmes são amados quando assistidos. Trazer o “Samba Canção” (2002), por exemplo, que vamos exibir em película. Uma série de curtas. Cada um mais interessante e instigante que o outro, sabe? Lógico que ele tem uma forma muito cuidadosa de trazer a música para dentro do cinema. Tudo dele é muito pensado e planejado artisticamente. E a contribuição que a Yara dá, que ela imprime na qualidade da atuação dessa obra. É mostrar isso. O fazer artístico mineiro através do tempo em que a Yara vai para São Paulo e ganha o mundo. Uma hora ela está na televisão, uma hora ela está no palco, uma hora ela está fazendo série, uma hora ela está fazendo teatro. O Rafael com a coerência dele, da identidade, do caminho que ele escolheu percorrer no cinema. E a simbologia que existe entre os dois. Eu acho que é uma dupla inspiradora.
Em conversa com Marcelo Miranda, curador da Mostra Diálogos Históricos, falamos sobre a escolha do Zé Celso como homenageado. Ele que nos deixou de forma tão trágica recentemente, mas sua obra é perene, eterna. Ele falou sobre como foi natural a escolha dele nessa homenagem.
Sim. Verdade. E a Diálogos Históricos é uma mostra que eu amo. Ela faz parte da CineBH desde a segunda edição do evento. Já tem quinze anos. E a escolha dele nela vem exatamente de um recorte que fazemos da História. Geralmente são os críticos de cinema que escolhem, ou a curadoria, qual será o personagem ou qual será o cinema que vai ser destacado nesse recorte histórico. E essa ideia do Zé Celso veio, exatamente, supernatural. Porque tinha acabado de acontecer essa tragédia e nós vimos toda a comoção e mobilização da classe artística. E a gente começou a pensar nele e na sua contribuição para o cinema. Às vezes, as pessoas desconhecem. E aí, pesquisando a obra dele como um todo e não só no cinema, vimos um recorte em que ele, em um filme, é roteirista. No outro filme ele é diretor. No outro é ator. Ou seja, essa coisa eclética da atuação que ele sempre trouxe, rompendo paradigmas, barreiras, e se lançando de corpo e alma para a cultura e para a arte. É isso que estamos trazendo para cá. E com participação de pessoas que trabalharam com ele, que o conheceram. Porque a obra dele é isso que você falou. Ela vai estar eternizada. Ela fica. E essas tragédias remontam tempos, décadas, reflexões. Mexem com as pessoas em todos os sentidos. Do outro lado, desperta pesquisas e conhecimento que as pessoas muitas vezes não têm do outro. É um recorte que a gente não podia deixar de trazer para essa Mostra Histórica nesse momento em que o Zé Celso permanece tão vivo não só na história, mas na vida da cultura brasileira. A importância que ele teve nessa construção toda de lançar talentos, de lançar novas linguagens, de lançar novas narrativas. E a atuação eclética dele no audiovisual.
Começamos o papo pincelando um pouco o Brasil CineMundi, mas eu queria voltar a esse tópico para aprofundar melhor, pois é um dos pontos principais da CineBH. Como foi o processo de preparação para os encontros?
Estamos na 14ª edição do Brasil CineMundi. Quando completamos dez anos, chegamos a fazer uma pesquisa para ver, inclusive, quais eram os projetos que tinham se tornado filmes. Se as nossas apostas estavam dando certo. Vou te dizer: foi surpreendente. Porque desde filmes como “Bacurau” (2019), “Benzinho” (2018), “Amor, Plástico e Barulho” (2013) e vários projetos passaram pelo Brasil CineMundi e se tornaram filmes. Então, o Brasil CineMundi é um evento de mercado do cinema brasileiro. É um encontro internacional de co-produção, o maior que tem hoje nesse segmento. Nessa edição, são 50 projetos selecionados de 285 inscritos. Por aí você já vê um panorama de que, mesmo na pandemia, o cinema não parou. Porque tivemos 285 projetos inscritos tanto na categoria de desenvolvimento, quanto no work in progress. Então, desses 50 projetos, 40 são projetos em desenvolvimento que é o viés principal para a gente conseguir trabalhar a partir da ideia, do argumento, da pré-produção com os profissionais do audiovisual. Eles passam por laboratórios de desenvolvimento, por laboratórios de audiência. Eles são preparados para já vir ao Brasil CineMundi com uma visão de mercado. É importante porque a gente está falando justamente de um evento de mercado. Então, eles estão vindo com uma visão de indústria. Com uma postura profissional de como que eu posso conseguir um parceiro para o meu filme. Porque mesmo que não seja nesse momento da produção, o próprio distribuidor já assume o compromisso quando ele está desde o início do filme, do projeto. É mais fácil para você conseguir um distribuidor, selar essa parceria e ele investir no projeto em algo que já se possa selar ali, na fase de desenvolvimento. Já é nessa aposta. Então, é um ambiente de negócio, é um ambiente de mercado em que teremos esses profissionais com os nossos convidados, com essa plateia especializada.
Lembro de ter feito uma cobertura do Brasil CineMundi em 2018, entrevistando pessoas da Bahia que estavam presentes no evento. Realmente, deu para ter uma ideia dessa estrutura.
Então, como você já cobriu o CineMundi, deve ter visto que a gente forma uma grande família. Não é um evento gigante. Eu não estou aqui trabalhando com números. Eu estou trabalhando com qualidade. Por isso, temos uma equipe curatorial grande que se debruça desde o começo do ano, no Festival de Berlim, já tendo ideia de quais podem ser esses convidados que querem vir. São representantes de fundos de investimento, produtores, distribuidores, agentes de venda, curadores de festivais, programadores que vêm para conhecer esses projetos do cinema brasileiro e começar aqui um, vamos dizer assim, grande namoro. E a partir desses encontros, o projeto sai fortalecido, preparado, para esse mercado audiovisual. Então, você começar um novo projeto com essa ideia de que você não quer que o seu filme fique na prateleira, que você não vai fazer mais um filme, mas que você vai fazer “O” filme. O seu filme. Entender o nicho de mercado, entender onde ele vai ser lançado quando ficar pronto. Qual é o caminho e a estratégia melhor de lançamento. Tem projetos, por exemplo, que a cara deles é na Mostra de Tiradentes. Tem outros que é melhor ele começar um caminho internacional. Tem outros que vai escolher (o Festival de) Gramado como glamour ali, porque vai dar um prêmio de R$50 mil, enfim. Essa estratégia é muito importante você já pensar na concepção. Eu não conheço nenhum outro evento de mercado que trabalhe tão fortemente essa raiz. Da formação, da preparação desse filme para ser apresentado. Nessa apresentação que vai acontecer aqui durante o evento, que são os encontros individuais, cada projeto terá 30 minutos para apresentar para esses convidados internacionais. Além de participar, também, do CineMundi Lab, que já é um programa aberto ao público e que vai reunir debates, workshops, experiências em co-produção na América Latina, na Europa, no Canadá. Vamos ter, também, um workshop da Ancine falando exatamente quais acordos existem no Brasil, como eu faço para selar uma co-produção, quais são os caminhos e os órgãos que eu tenho que caminhar para que seja possível receber apoio ou até mesmo receber recursos diretos, que ás vezes vem de um produtor que investe diretamente lá. Eu fico muito empolgada com o Brasil CineMundi porque, a cada edição que a gente faz, temos resultados muito satisfatórios. Queria ter dinheiro e espaço para poder fazer com mais projetos. Mas a gente nunca tem o cenário perfeito. Mas essas parcerias que temos conquistado estão fazendo toda a diferença na trajetória desses filmes. Então, vamos ter esse escopo de programação. Todos os dias tem meeting na tenda e tem debates acontecendo, tudo ali no Palácio das Artes. E a agenda de relacionamentos onde todo mundo vai ter acesso nessa troca de informações com os convidados que estarão aqui. E tudo puramente cinema, né? Um dia, quando tivermos mais fôlego vamos abrir para séries, para TV, mas, por enquanto, estamos primando pela qualidade e focando no cinema.
– João Paulo Barreto é jornalista, crítico de cinema e curador do Festival Panorama Internacional Coisa de Cinema. Membro da Abraccine, colabora para o Jornal A Tarde e assina o blog Película Virtual.