introdução por Marcelo Costa
Faixa a faixa por Meneio
Formado no interior de São Paulo em 2013, o quarteto Meneio já lançou dois álbuns – “Meneio”, de 2015, e “Movediço”, de 2019 – e agora chega com um EP de três faixas bastante especial, pois “Excerto” (2022) une as experimentações com trip hop, post rock e trilhas sonoras do grupo com as colaborações efetivas de Alzira E, Sandra-X, Nathalia Leal e A1219, integrante do grupo. Uma das músicas também possui a fala sampleada de Sueli Carneiro.
Como boa parte das obras que estão vindo à tona recentemente, “Excerto” foi gestado ao longo da pandemia, fruto do distanciamento físico entre os integrantes, que fez com que eles continuassem a colaborar compartilhando produções que tomavam corpo em seus home studios, o que também influenciou na sonoridade do trabalho, trazendo baterias eletrônicas, baixos sintetizados, samples, guitarras processadas e inúmeras outras texturas.
As letras de cada canção criam uma sequência narrativa atualíssima: mergulhos internos, enfrentamentos e ressignificações. Adeniran Balthazar (baixo/ eletrônicos), Eduardo Rodrigues (sintetizador/ sample), Jovem Palerosi (guitarra/ eletrônicos) e Zé Guilherme Aquiles (bateria/ eletrônicos) ainda contaram com a colaboração do artista plástico Leo Daruma que, por meio de colagens analógicas, criou paisagens visuais e texturas conectadas com as composições.
Abaixo, conheça as três faixas do EP em texto e imagens!
FAIXA A FAIXA EP “EXCERTO” POR MENEIO
01) Pálpebras: Esta composição surgiu no início da pandemia, foi nossa primeira composição à distância e é muito marcada por esse momento de reflexão interna, pelas entranhas dos sentimentos. A base foi construída com instrumentos eletrônicos e foi ganhando uma aura misteriosa, como se estivéssemos em um túnel e ainda não soubéssemos o que haveria do outro lado. Surgiu então a ideia de convidar Alzira E, uma de nossas cantoras e compositoras favoritas, dona de uma história e discografia fantástica. A letra e sua voz áspera combinaram perfeitamente com a atmosfera da música, como se tivessem nascido juntas. Fomos tocados profundamente por sua energia e generosidade para criar juntos. Sentimos que a música transmite toda essa potência.
02) Hábito: A faixa constrói uma sonoridade dinâmica que remete a nuances de uma paisagem urbana composta por tensões de alegrias, opressões, aspirações e batalhas cotidianas. Aliada à batida, essa sutil complexidade já carregava uma narrativa em que estes elementos se sobrepunham como em um filme ou um sonho surrealista, o que se torna mais nítido conforme as palavras proferidas por A1219 se entrelaçam às vozes instrumentais. Como numa caminhada pelo centro de uma cidade populosa, o cenário invade um pensamento que divaga sobre lugares visitados e caminhos a serem percorridos.
03) Infinitude: A música que encerra o álbum pode ser considerada o marco inicial deste projeto, já que participam dela Sandra-X e Nathalia Leal, artistas com que tivemos uma intensa vivência em Paraty na semana anterior ao início da pandemia. Foi com elas que fizemos nosso último show antes de entrarmos em isolamento social. As duas artistas ainda não se conheciam, mas criaram uma ligação intensa tendo a palavra como centro de percepção e foi natural convidá-las para seguir colaborando conosco. Essa composição tem uma simbologia de elo, uma união esperançosa e crítica da realidade que nos cerca, um sopro de esperança e luta através da reconexão com nosso interior, com nossos ancestrais, na busca por uma profundidade infinita simbolizada pelo mar. É uma ode que nos convoca a pensar e enfrentar o presente para colher futuros coletivos que ultrapassem limites materiais e espirituais.
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne. A foto que abre o texto é de Haxatag!