texto por Bruno Lisboa
fotos de Flávio Charchar
Desde a sua reabertura em abril desse ano (com um show antológico de Tom Zé) A Autêntica tem prestado um grande serviço à música brasileira. Mas essa sina não é de hoje! Afinal desde 2015 a já tradicional casa de shows belo-horizontina tem cedido espaço as mais variadas manifestações artísticas.
A mudança de endereço, para o local que abrigava o antigo Lapa Multishow, fez com que o espaço alçasse voos ainda maiores que permitiram trazer o que de melhor a nossa música tem produzido na atualidade. Em consonância a essa aposta o público local tem comparecido em massa em grande parte das apresentações, muitas delas com todos os ingressos vendidos (caso de Liniker, Franscisco El Hombre, Marina Sena e o já citado Tom Zé). E a noite do dia 13 de maio não foi diferente.
Dando início a programação dedicada ao rock, DJ Babi Bowie esquentou a pista com hinos indies de ontem e de hoje. Na sequência veio Elizia, banda formada em 2014, fruto da cena local efervescente, que tem como proposta mesclar peso, melodia e letras existenciais que casam de forma precisa com os potentes vocais de Ana Sarmento.
O quarteto subiu ao palco por volta das 23h30 e ao longo do curto, mas coeso setlist, mesclou faixas do EP “(Des)construir / Efêmero” (2016) com singles recentes (“Não Baixar a Cabeça”). A bela cover para “Pulsos”, de Pitty, e a faixa “Blues dos Amantes” foram os pontos altos de uma apresentação condizente e a altura do que a noite pedia.
Por volta de uma da manhã de sábado foi a vez da Fresno iniciar uma histórica apresentação em solo mineiro. Ao longo de duas horas, a banda gaúcha capitaneada por Lucas Silveira não poupou esforços e entregou uma performance visceral.
Vivendo o que pode ser considerada a fase mais criativa do grupo, acertadamente o quinteto privilegiou o repertório presente em seu disco mais recente (“Vou Ter Que Me Virar”, que figurou na lista de melhores do ano do Scream & Yell em 2021), mas soube de forma pontual pincelar clássicos presentes em outros discos.
Assim como outros shows da nova turnê, iniciada com uma festejada apresentação no Lollapalooza 2022, os trabalhos foram iniciados com a faixa “ESSA COISA (ACORDA – REPETE-MANTÉM)” que daria o clima que perduraria por toda noite: canções cantadas em uníssimo em total sinergia com a performance do grupo.
O ritmo da apresentação oscilou entre momentos de catarse (“FUDEU!!!” e “Diga pt2”) e calmaria (“Eu Sei” e “Cada Acidente”). A alternância também se deu na escolha entre hits de ontem (“Quebre as Correntes” e “Milonga”) que conviveram de maneira harmoniosa com sucessos de hoje (“Já Faz Tanto Tempo” e “Casa Assombrada”).
Outro ponto interessante da nova turnê é o mini set solo na segunda metade do show, no qual Lucas, munido apenas de sua guitarra, revista em formato cru as faixas “Onde Está?” e “Desde Quando Você Se Foi”, canções pinceladas, respectivamente, da fase inicial do grupo de álbuns como “O Rio, a Cidade, a Árvore” (2004) e “Redenção” (2008).
O tom político da apresentação se fez presente no intervalo entre uma canção e outra com o grito de palavras de ordem como “fora Bolsonaro!” e cânticos pró Lula.
Na reta final, a banda agradeceu a organização do evento e rememorou as primeiras apresentações em BH no Matriz e no finado festival Pop Rock Brasil no início dos anos 2000.
“Revanche” veio no bis e colocou números finais a uma apresentação coesa e memorável que coloca a Fresno em evidência como uma das melhores bandas ao vivo da atualidade. O coro entoado pelos 1500 presentes com dizeres “puta que pariu é a melhor banda do Brasil Fresno!” parece fazer sentido.
– Bruno Lisboa escreve no Scream & Yell desde 2014.