entrevista por Bruno Lisboa
Felipe Bueno é músico, professor e pai de dois filhos. Sua trajetória no meio musical inclui performances junto as bandas The Parking Lots, McQuade, Name it Yourself e Os Compactos. Porém, desde 2021 o músico paulistano vem se dedicando a carreira solo.
Fruto de um período conturbado de sua vida pessoal, no EP “Até Que a Morte Nos Separe” (que será lançado de forma gradual entre abril e julho) Felipe aborda as agruras do fim de um relacionamento duradouro e a necessidade inerente de seguir em frente.
Esta temática pode ser percebida no recém-lançado single “Eu Não Estava Lá”, que já está disponível nas plataformas de streaming. O lançamento é uma parceria com a Maxilar Music, selo capitaneado por Gabriel Thomaz, dos Autoramas.
Na entrevista abaixo, concedida por e-mail, Felipe fala sobre sua formação musical, o seu lado professor, as nuances políticas / confessionais de suas canções, a parceria com a Maxilar e muito mais.
Primeiramente gostaria que você contasse como foram os seus anos de formação musical e de que maneira isso contribui para que hoje você se tornasse um músico profissional.
Agradeço a gentileza, mas acho que não me enquadro nessa categoria de músico profissional. Sou professor do Ensino Fundamental e é assim que pago minhas contas. Acho que quase ninguém que faz música de qualidade com influências estadunidenses ou britânicas no Brasil – gente muito mais talentosa que eu, como Frank Jorge, Ratos de Porão ou Henrique Badke, pra citar só três – vive exclusivamente de música. Com relação à minha iniciação musical, ela foi totalmente DIY. Fiz umas três aulas de baixo e minha mãe me tirou do curso porque minhas notas na escola não melhoraram. Aprendi a tocar guitarra no violão depois de ver o acústico do Nirvana. Roubei um headset da escola onde estudava e colocava ele abraçando o corpo do violão, plugando na entrada para microfone do PC: saía um som sujo horrível que pra mim parecia Stooges – eu achava lindo. Toquei ao longo dos anos em bandas de hardcore (Name It Yourself), power pop (Os Compactos), alt-country (McQuade) e ainda toco no The Parking Lots (folk-punk com country).
Esse teu lado professor, você acha que interfere / contribui pro teu fazer artístico?
Ótima pergunta. Acho que mais é o oposto: eu sou professor por conta de quem eu sou, por conta do meu posicionamento político e do modo como concebo as relações humanas. É meio brega dizer isso, mas pra mim política e amor são a mesma coisa. Nesse sentido, de um modo dialético, ser professor está no “fazer artístico” desse disco sim. Isso não quer dizer que eu não meta os pés pelas mãos nas relações, muito pelo contrário – parte dessas músicas têm a ver com isso. Apesar de eu ter posições políticas humanistas, comunistas, socialistas, (chame como quiser), fiz merda no meu casamento, na criação dos meus filhos, nas relações que estabeleci com meus amigos, no meu trabalho. Falo isso sem autocomiseração. Ao longo da minha formação profissional, aprendi bastante sobre política (teórica e prática), e isso certamente se reflete nas letras que escrevo pro The Parking Lots ou pro extinto Name It Yourself. Mas nesse disco solo, a onda é diferente. Tem mais a ver com psicanálise, autoconhecimento, processos inconscientes, autocrítica. Não sei se respondi à sua pergunta, mas ela me fez pensar bastante. Gostei!
Os singles e o EP sairão sob a chancela da Maxilar, selo capitaneado pelo grande Gabriel Thomaz (Autoramas). Como se deu esta ponte e qual a importância da formalização dessa parceria nessa nova fase?
Pra início de conversa, é uma honra imensa lançar esse disco pelo selo do Gabriel, ídolo e patrimônio imaterial do underground brasileiro. Eu soube que ele sabia que eu existia quando indicou “All The Things”, do The Parking Lots, na categoria Hit do Ano no Prêmio Gabriel Thomaz de Música Brasileira. Quase caí da cadeira quando um amigo me mandou a lista de indicados, abri um whisky e fiquei bebendo umas duas horas, sem acreditar. Depois disso, a gente passou a conversar sobre lançar o próximo EP do The Parking Lots (que ainda não gravamos) pela Maxilar e foi natural contatá-lo sobre esse trabalho solo. Nesse meio-tempo, também fiz uma versão acústica da linda “A História Da Vida De Casa Um” (dos Autoramas) e ele gostou da versão. Acho que foi meio isso. Ele topou lançar sem ter ouvido o disco, disse que conhecia e gostava do The Parking Lots e fechamos.
– Bruno Lisboa escreve no Scream & Yell desde 2014. A foto que abre o texto é de André Rosa.