Resenhas por Renan Guerra
“111”, Pabllo Vittar (Sony Music Brasil)
O terceiro disco de Pabllo Vittar foi lançado de forma antecipada, depois que as faixas vazaram ilegalmente na internet. Inicialmente, a drag queen havia anunciado o lançamento de 11 faixas, mas “111” chegou ao público com apenas 9 – Pabllo já deixou claro que deve lançar ainda esse ano uma versão deluxe com músicas inéditas. A forma de lançamento é um tema que pode gerar outros debates, visto que na data oficial apenas 3 músicas eram realmente inéditas no disco: singles como “Parabéns” e “Amor de Que”, por exemplo, já haviam sido sucessos do carnaval de 2020. Inéditas ou conhecidas, o curioso de “111” é como Pabllo segue fazendo misturas e colagens inesperadas ao lado do Brabo Music Team – coletivo formado por Arthur Marques, Maffalda, Pablo Bispo, Rodrigo Gorky e Zebu. Cantado em português, espanhol e inglês e com participação de Ivete Sangalo, Thalía, Charli XCX, Jerry Smith e Psirico, o disco fica no limite do caótico, mas é essa espécie de bagunça que mostra o charme de Pabllo em brincar com gêneros, indo do pop internacional ao tecnobrega regional, passando pela PC Music, pelo trance e até flertando com o gospel. Para além dos hits anteriores, “Lovezinho”, ao lado de Ivete Sangalo, é uma surpresa saborosa, pois soa divertida e charmosa, deixando uma curiosidade por um possível clipe com as duas artistas. De todo modo, é fato que a coisa mais arrebatadora de “111” é “Rajadão”, o trance-gospel que fecha o disco e que mistura louvor com bate-cabelo, perfeito para as pistas do pós-quarentena.
Nota: 8
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“Future Nostalgia”, Dua Lipa (Warner Records)
Depois do sucesso de seu disco de estreia, em 2017, a britânica Dua Lipa fez parcerias com nomes diversos, como Major Lazer e Calvin Harris, que poderiam apontar um diálogo mais forte dela com esse pop feito de singles curtinhos e gigantescas listas de feats, do tipo que esquecemos na próxima estação. Porém, o lançamento de “Future Nostalgia” mostrou uma artista bem mais madura e segura de sua escolha: sem feats, com uma linha muito bem construída e um disco que tem cara e corpo de disco. Explicando melhor, “Future Nostalgia” funciona de forma bastante coesa enquanto álbum, com início-meio-fim, diferente de inúmeros discos pop que soam como uma compilação de singles. Aqui Dua Lipa flerta com a disco music e com os graves e as batidas dos anos 70 e 80, tudo perfeito para a pista de dança e para as coreografias – tanto que uma das faixas virou hit dentro do Big Brother Brasil 20. Esse reencontro com o passado era outro risco, pois como não soar datado ou mesmo um pastiche dessas referências? Construído com mais de dez produtores diferentes, “Future Nostalgia” se saiu bem nesse retorno ao passado, pois criou-se um amálgama de referências e de sonoridades que podem ser pinçadas ali dentro – ABBA, Donna Summer, Madonna, Moloko –, mas quando se ouve qualquer uma das faixas, se reconhece o disco e a marca de Dua Lipa. Esse segundo trabalho mostra que Dua Lipa tem a personalidade forte e a gana de uma artista que consegue produzir um disco sólido, divertido e interessante mesmo dentro de um esquemão que busca as paradas de sucesso de forma matemática.
Nota: 8
“I’m Your Empress Of”, Empress Of (Terrible Records / XL Records)
Terceiro disco da artista norte-americana Lorely Rodriguez sob o codinome Empress Of, “I’m Your Empress Of” é, certamente, o seu disco mais coeso e complexo. Produzido em apenas dois meses, de forma praticamente solitária, com Rodriguez sendo responsável por todas as letras e a maioria dos beats, “I’m Your Empress Of” é uma forma que a artista encontrou de olhar para si própria, a sua existência e a construção de sua família. Empress Of faz parte da primeira geração de estado-unidenses dentro de uma família de imigrantes de Honduras, sua mãe, inclusive, faz participação no disco com a leitura de diferentes textos – logo na abertura ela explica que é a “Empress Of Mom” e que não foi nada fácil aprender inglês do nada em um país diferente. Tudo isso poderia resultar em um disco mais introspectivo, mais fechado em si mesmo, mas pelo contrário: “I’m Your Empress Of” é um disco que pulsa, grita e pede os sentimentos de quem o ouve. Ele é um álbum sobre as experiências íntimas de Rodriguez e sobre as complexidades de ser mulher, latina ou outros epítetos em um mundo que tenta constantemente te testar. E por isso mesmo é um trabalho fácil de se identificar. O mais interessante é que Empress Of fala disso tudo através de muito auto-tune, batidas estridentes e um ritmo perfeito para as pistas de dança. É curioso que o álbum mais pop de Empress Of seja aquele em que ela mais se mostra difusa, complexa e interessante. “I’m Your Empress Of” é aquele tipo de disco feito para que a gente fique caçando cada letra no Genius, fique buscando os não-ditos e depois dance e cante ele em alto e bom som, de forma libertadora.
Nota: 9
– Renan Guerra é jornalista e escreve para o Scream & Yell desde 2014. Também colabora com o Monkeybuzz.