entrevista por Pedro Salgado, de Lisboa
A ideia de fazer um disco solo não era nova para Maria Reis. Em 2017, após o lançamento do álbum “Casa de Cima”, do Pega Monstro, do qual é vocalista e guitarrista, Maria aproveitou um momento livre e gravou na sua casa, em fita cassete, um conjunto cativante de cinco canções que formariam o EP “Maria”. No álbum de estreia recentemente editado, “Chove na Sala, Água nos Olhos” (o título partiu de um episódio em que o teto da casa de Maria Reis ruiu e a artista associou esse momento com o fim de um relacionamento amoroso), Maria compôs todas as canções, gravou todos os instrumentos e estabeleceu parcerias com vários produtores (B Fachada, Leonardo Bindilatti e Rui Antunes, entre outros).
Para além da emotividade latente, o álbum percorre diversas correntes musicais, como o indie folk, o pop e algumas alusões à música popular portuguesa, mas Maria relativiza o distanciamento do disco comparativamente à sonoridade do Pega Monstro. “Não sei se será consciente a diferença de conceitos estilísticos. Acho que é um processo ligado à circunstância na hora de gravar as músicas. Toda a ideia de corrente sonora é de produção e não tanto na composição das canções”, conta.
Em temas como a irresistível “Odeio-te” (produzido ao lado de B Fachada) prevalece uma visão pop eficiente, mas a encantadora “Soror Mariana”, adornada com instrumentos de corda e a festiva “Um Ai” representam as etapas de maior intensidade lírica e sonora do trabalho, algo que Maria justifica de um modo global: “Tentei ser cuidadosa nas composições das letras de todas as canções, não repetindo palavras nem caindo em negações e procurei lutar contra as minhas próprias tendências de estilo para encontrar coisas novas para cantar”, refere.
Sobre o hype que o álbum tem tido nos últimos meses, Maria Reis prefere enveredar por um discurso pragmático: “Estou a trabalhar muito para que o disco chegue às pessoas e elas possam vir a gostar dele como eu gosto”, conta. Como resultado da onda positiva associada ao disco, a perspectiva de um investimento maior no seu percurso individual parece ganhar força: “Sim, mas sempre a colaborar com outros músicos e pondo-me à prova. Na música tento sempre fazer coisas que nunca fiz na esperança de assim nunca ficar aborrecida ou arrependida”, conclui. De Lisboa para o Brasil, Maria Reis conversou com o Scream & Yell. Confira:
Porque resolveu fazer um disco solo?
Era um desafio que já tinha planejado para mim própria há algum tempo. Em agosto de 2017 fiz o EP “Maria” que foi início desta aventura sozinha. O disco veio em continuação desta proposta pessoal.
O seu álbum aborda uma rutura amorosa. Foi-lhe difícil traduzir a emotividade que daí resultou em canções adequadas a esse estado de espírito?
Mais difícil será passar pelas emoções. Articulá-las em canções acaba por ser um processo terapêutico de relativizar e transformar os pensamentos.
Você escolheu “Odeio-te”, como primeiro single do novo trabalho, por apresentar os seus sentimentos numa forma musical mais leve?
Escolhi talvez por pensar que a contradição entre a leveza da canção e a dureza do que está a ser cantado é uma equação pop que a torna numa pérola ou num outro mineral com uma forma fechada. Acho engraçado o mistério dessa contradição.
Este disco contou com a participação de B Fachada, Leonardo Bindilatti, Rui Antunes e do seu irmão António Quintino, entre outros. Em que medida estes músicos influenciaram o rumo do disco?
Na verdade acabaram por definir a produção do disco. Todas estas colaborações abriram o espectro sônico das canções. Sem essas trocas de ideias o álbum ia soar completamente diferente daquilo que acabou por ficar. Comunicar é importante e para este trabalho foi imperativo.
O que podemos esperar do concerto lisboeta de apresentação do álbum que acontecerá em 12 de Fevereiro na Culturgest?
Será um espetáculo que só irá acontecer uma vez. Procuro juntar nele as fórmulas que se irão ramificar noutros espetáculos, no fundo um ‘all in’. Estou tocando com o Simão Simões e João Portalegre e também com o meu irmão António Quintino e um conjunto de cordas. Terá também uma componente cénica e visual na qual sou virgem e estou a aprender muito com isto tudo. O palco da Culturgest é enorme e com possibilidades infinitas de o transformar e é isso que queremos! Ideias simples e transformadoras.
A Maria gostaria de apresentar estas canções no Brasil?
Claro que sim!!! Adoraria voltar! Em 2016 fui lá com a minha irmã Júlia (integradas no Pega Monstro) e foi uma experiência inesquecível! Convidem-me que eu vou!
– Pedro Salgado (siga @woorman) é jornalista, reside em Lisboa e colabora com o Scream & Yell contando novidades da música de Portugal. Veja outras entrevistas de Pedro Salgado aqui. A foto que abre o texto é de Sara Graça / Divulgação.