por Marcelo Costa
Começando uma seleção de variáveis de IPA por Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, com a Brut IPA da Cervejaria Pratinha, que leva o nome de Marifasa Lupina. De coloração dourada, cristalina, e creme branco de média formação e baixa retenção, a Pratinha Marifasa Lupina apresenta um aroma levemente frutado com remissão a maçã e percepção de doçura. Há pouca sugestão de picância, uma das características do estilo. Na boca, doçura de calda de maçã no primeiro toque seguida de mel e açúcar e maçã. A sensação é que a receita focou no Brut (mantendo características de fruta e doçura, mas ausentando na picância) e se esqueceu completamente do IPA. O amargor é baixo, a textura é leve e, dai pra frente, um conjunto de Brut (timidamente) IPA, com bastante presença de fruta, de doçura, mas baixo amargor, baixo caráter frisante e quase nada de lupulagem IPA. No final, maçã e doçura. No retrogosto, mais frutado, mais doçura.
A segunda vem de Itupeva e é de uma das linhas de cerveja da Startup Brewing, a Unicorn, que marca presença aqui em sua versão American IPA tradicional, numa receita que destaca os lúpulos Magnum, Saaz e Cascade. De coloração âmbar translucida com creme bege clarinho, quase branco, de boa formação e permanência, a Unicorn IPA apresenta um aroma que combina doçura de mel e notas frutadas cítricas que sugerem abacaxi, laranja e maracujá, todos de maneira bem suave. Na boca, o frutado cítrico salta à frente sem muita definição (parece uma mistura de laranja e maracujá), mas a doçura de mel retorna suavemente na sequencia em meio a doses médias de frutas tropicais. O amargor que surge é moderado, 40 IBUs modestos. Já a textura é cremosa e picante. Dai pra frente, o conjunto segue oferecendo uma American IPA interessante, com todos os atributos em seu devido lugar. No final, amargozinho leve e laranja. No retrogosto, amargozinho, refrescancia e frutado.
Na sequencia, outra de Itupeva e outra Brut IPA, desta vez da Blondine. Lançada no final de 2018 (com incentivo de marketing para as festas de fim de ano), a Blondine Sparkling Brut IPA destaca os lúpulos Nelson Sauvin e El Dorado num conjunto que apresenta uma bela coloração dourada cristalina com creme branco espesso de excelente formação e longa retenção. No nariz, suavidade frutada (abacaxi, pêssego, manga) e um toquezinho distante e delicioso de vinificação além de leve doçura. E é a doçura que surge no primeiro toque, com um leve traço de mel, seguida de secura e frutas muito mais suaves do que no aroma (pêssego e manga bem discretos). O amargor é comportado (35 IBUs), a textura é levemente frisante com delicada cremosidade. Dai pra frente surge uma Brut IPA muito bem resolvida e com as características devidas do estilo seguidas a risca. No final, doçura e secura. No retrogosto, mel, secura, refrescancia e leve frutado.
De São Paulo para o Distrito Federal, ainda que a cigana Activista, de Brasília, produza suas receitas na fábrica da Klaro, em Goiânia. Trata-se, assim que a cerveja é despejada na taça já é possível perceber, de uma Caramel IPA, de coloração âmbar caramelada com creme bege claro de boa formação e média alta retenção. No nariz, uma combinação de notas herbais (pinho) com doçura caramelada dos maltese, ainda, sugestão de balinha de hortelã. Na boca, o caramelo chega antes no primeiro toque, e a lupulagem corre atrás na sequencia para tentar equilibrar a contenda com sua porção herbal e a bala de hortelã – a doçura, no entanto, se sobressai. Até por isso, a sensação de amargor fica longe dos 70 IBUs adiantados pela casa (50 seria um número mais redondo). Já a textura é cremosa e levemente picante. Dai pra frente segue-se o perfil exato de uma Caramel IPA, um modelo antigo de como se fazer India Pale Ale, mas que aqui chega redondinho. No final, doçura caramelada e amargor leve. No retrogosto, balinha de hortelã.
De Brasília para o Largo da Batata, em São Paulo, local que abriga o tap room paulistano da Goose Island, de Chicago, que apresenta aqui sua Fresh Hop IPA, uma American IPA produzida no local apenas para o mercado brasileiro e que traz como diferencial a utilização de lúpulos frescos colhidos menos de 24 horas antes da fabricação da cerveja e cultivados em fazenda de Taguaí, cidade do interior de São Paulo (por isso a denominação de estilo Wet Hop IPA, que caracteriza as IPAs que utilizam lúpulo fresco). De coloração âmbar turva creme bege claro de boa formação e média alta retenção, a Goose Island Fresh Hop IPA apresenta um aroma com forte tendência herbal, trazendo ainda remissão a chá e pinho além de doçura caramelada bastante suave na base. Na boca, herbal suave no primeiro toque com acentuação da sugestão de chá na sequencia seguida de um amargor médio, 40 IBUs apenas. A textura é leve caminhando para ser cremosa e, dai pra frente, uma IPA interessante, bastante puxada para o herbal e levemente amarga. No final, herbal. No retrogosto, pinho, chá e refrescancia.
De São Paulo para Blumenau com a Capivara Double IPA, da Cervejaria Blumenau, cuja receita combina os lúpulos norte-americanos Chinook, Equinox, Cascade e Citra. De coloração âmbar alaranjada com creme branco de boa formação e média alta retenção, a Blumenau Capivara Double IPA apresenta um aroma que traz frutado cítrico (abacaxi em primeiro plano, e maracujá e laranja um pouco mais tímidos) e doçura de caramelo, mas sem pender para uma Caramel IPA (os lúpulos dão as cartas e o caramelo só amacia a pancada). Na boca, abacaxi e maracujá juntos no primeiro toque seguidos de bastante doçura, ainda que sem descaracterizar o perfil, e mais frutado cítrico. O amargor é bastante potente, 65 IBUs que dizem a que vieram. Já a textura é levemente picante, de amargor e, principalmente, dos 8.2% de álcool que dançam sobre a língua (mas só aparecem aqui!). Dai pra frente, uma American IPA caprichada com muito frutado, um pouco de doçura, de amargor e uma pancadinha de álcool. No final, amargor e doçura. No retrogosto, caramelo, abacaxi, maracujá e laranja.
De volta a Brasilia com outra cigana que produz na fábrica da Klaro Microcervejaria, em Goiânia, desta vez, a Cerrado Beer, que já tem cinco rótulos lançados no mercado, incluindo a Lobo Guara, uma Double IPA que recebe adição de rapadura local. De coloração âmbar acastanhada com creme bege bem claro, quase branco, de ótima formação e média alta retenção, a Cerrado Beer Lobo Guará exibe um aroma que combina doçura maltada caramelada com a potência herbal (em primeiro plano) e cítrica dos lúpulos, trazendo sugestão de pinho e maracujá. Na boca, doçura caramelada leve no primeiro toque seguida de perto por uma pancada intensa de amargor, 90 IBUs cobrando seu preço com bastante capricho e deixando na poeira as sugestões de herbal e cítrico, que soam atropeladas. Já a textura é suave com picância alcoólica menor do que o esperado. Dai pra frente segue-se uma Double IPA extrema, mas bem caprichada, que não cede espaço para a doçura imperar. No final, amargor e leve herbal. No retrogosto, mais amargor, leve caramelo, herbal e cítrico.
Mantendo-se em Brasília com a Corina Conic, uma Double IPA que, assim como as outras duas IPAs da capital federal nesta série, também é produzida na fábrica da Klaro, em Goiânia. De coloração âmbar translucida com creme bege bem clarinho de ótima formação e média alta retenção, a Corina Conic apresenta um aroma que combina doçura caramelada bem sútil com uma pancada forte de lúpulos que trazem tanto sugestão cítrica (maracujá, laranja e toranja) quanto resinosas, antecipando a potência de amargor que virá. Na boca, doçura caramelada bem suave chega antes no primeiro toque trazendo consigo, no microssegundo seguinte, frutado cítrico intenso (maracujá e toranja) seguido de amargor intenso, daqueles que descem o sarrafo no bebedor e o deixa no chão, 85 IBUs incríveis. A textura é suave, cremosa e picante. Dai pra frente, uma Double IPA potente que não perdoa, amarga. No final, amargor e um traço dos 9% de álcool. No retrogosto, resina, toranja, maracujá, caramelo e amargor.
De Brasília para Ribeirão Preto com mais uma cerveja da linha Brasil com S, da Colorado, desta vez a número 6, a IPaçoca, uma English India Pale Ale que recebe adição de paçoca. De coloração âmbar levemente turva com creme bege claro (da cor de um paçoca) de boa formação e média retenção, a Colorado IPaçoca apresenta um aroma com sugestão delicada de amendoim sobrepondo-se a doçura maltada, também perceptível. Na boca, doçura amendoada no primeiro toque seguida de acentuação da presença de amendoim, que domina completamente a percepção, tornando-se essa English IPA quase uma Brown Ale. A textura é leve com discreta cremosidade. Dai pra frente, uma Brown Ale com amargor até acentuado para uma English IPA (45 IBUs) e conjunto dominado completamente pela adição de paçoca num resultado interessante. No final, doçura e amendoim. No retrogosto, caramelo e paçoca.
A 10ª cerveja dessa série mantém-se no interior de São Paulo com a Japas Cervejaria, que produziu essa New England IPA na fábrica da Dádiva, em Várzea Paulista. Com adição de Dekopon (fruta cítrica híbrida do cruzamento de kiyomi e pokan desenvolvida no Japão em 1972), lúpulos Citra, Amarillo, Belma e El Dorado, e nome que homenageia Kasato Maru, primeiro navio com imigrantes japoneses a chegar ao Brasil, essa NE apresenta coloração amarela bastante turva, tal qual um suco, e creme branco espesso de ótima formação e média alta retenção. No nariz, notas cítricas deliciosas em abundancia sugerem toranja, bergamota e laranja acompanhadas de leve doçura cítrica. Na boca, um caprichado replay do aroma puxado mais para doçura cítrica da bergamota no primeiro toque e com leve aceno de grapefruit na sequencia (mas a bergamota e a doçura continuam se sobressaindo, incríveis). O amargor é delicioso e aconchegante (40 IBUs). A textura é suave e levemente picante. Dai pra frente, um incrível suco de frutas cítricas alcoólico que equilibra com primor a doçura da fruta com o amargor dos lúpulos. No final, doçura cítrica. No retrogosto, algo de casca de laranja, doçura cítrica e refrescancia.
Fechando esse time de India Pale Ale com o quinto lançamento da linha Flow, da cervejaria paulistana Dádiva, a Aloha Flow, que une os lúpulos Sabro e HBC472. De coloração amarela, juicy como um suco de laranja, e creme branco espesso e extenso, de longa permanência. No nariz, uma pancada incrível de frutas com destaque para abacaxi e pêssego, mas também maracujá, manga e uma discreta sugestão de coco. Há, ainda, um chulezinho brett que talvez não tivesse aqui (mas deixou o conjunto ainda mais interessante). Na boca, abacaxi incrível no primeiro toque acompanhado de leve presença herbal (e do azedinho brett delicioso). Na sequencia, percepção (também) deliciosa de pêssego e amargor suave, uns 50 IBUs bem amigáveis. A textura é suave, com leve picância. Dai pra frente surge uma New England IPA absolutamente incrível, a melhor das três (de quatro) Flow que passaram por aqui (e o nível é alto), muito por esse herbal meio azedinho meio brett, mas muito também pelo frutado incrível. No final, pêssego e abacaxi. No retrogosto, refrescancia, herbal, frutado, cítrico e um azedinho. Uou!
Pratinha Marifasa Lupina
– Produto: Brut IPA
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 4.8%
– Nota: 3.09/5
Unicorn IPA
– Produto: American IPA
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 6%
– Nota: 3.18/5
Blondine Sparkling
– Produto: Brut IPA
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 7.8%
– Nota: 3.42/5
Activista American IPA
– Produto: American IPA
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 7.2%
– Nota: 3.00/5
Goose Island Fresh Hop IPA
– Produto: Wet Hop IPA
– Nacionalidade: EUA
– Graduação alcoólica: 5.5%
– Nota: 3.16/5
Blumenau Capivara Double IPA
– Produto: Imperial IPA
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 8.5%
– Nota: 3.31/5
Cerrado Lobo Guará
– Produto: Double American IPA
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 9%
– Nota: 3.17/5
Corina Conic
– Produto: Double American IPA
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 9%
– Nota: 3.61/5
Colorado Ipaçoca
– Produto: English IPA
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 4.5%
– Nota: 3.22/5
Japas Kasato Maru
– Produto: New England IPA
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 6.5%
– Nota: 4.01/5
Dádiva Aloha Flow
– Produto: New England IPA
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 6.1%
– Nota: 4.09/5
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– Top 2001 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
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