entrevista por Bruno Lisboa
Tido como um dos precursores da sonoridade emo(core), os texanos da Mineral fizeram história nos anos 90 graças à boa repercussão de seus dois únicos discos lançados, “The Power of Failing” (1997) e “Endserenading” (1998), trabalhos que acabaram por influenciar gerações futuras. De forma meteórica, o quarteto encerraria as atividades ainda em 1998.
Durante o período de hiato, Chris Simpson (vocal / guitarra), Scott McCarver (guitarra), Jeremy Gomez (baixo) e Gabriel Wiley (bateria) seguiram apostando em projetos paralelos. Embalados por uma compilação lançada em 2010, a banda ensaiou o retorno as atividades que se concretizou em 2014, e de lá para cá tem feito apresentações esporádicas mundo à fora.
Já em 2019, ano que a Mineral completa 25 anos, o quarteto decidiu não só colocar novamente o pé na estrada como também lançou dois singles (“Aurora” e “Your Body Is The World”) e um livro. No entanto, a banda renega um possível terceiro disco: “A ideia é ocasionalmente intrigante de se pensar, mas não parece urgente”, comenta Chris Simpson em entrevista ao Scream & Yell
Na conversa abaixo, Chris ainda fala sobre o legado da banda, a carga emocional das letras, rotulação musical, a reconciliação do grupo, a malfadada era de governos ditatoriais como Trump / Bolsonaro e diz qual o melhor remédio para estes tempos: “Criatividade, inclusão e amor são os únicos caminhos a seguir. Também acredito que a humanidade e a natureza vencerão, mas temos que lutar por isso”.
Depois de todos estes anos, a Mineral criou uma espécie de legado. Você concorda?
Não tenho certeza de como, mas parece que sim. Às vezes acho que o legado é maior do que a coisa em si. Também não tenho certeza de qual é esse legado. Realmente não fizemos nada diferente de qualquer outra banda jovem. Fizemos alguns discos, fizemos uma turnê e depois dissolvemos. Mas a conexão que as pessoas fizeram e continuam a fazer com a música do Mineral é algo que estimamos e pelo qual somos extremamente gratos.
Um dos aspectos mais interessantes da banda é a carga emocional / pessoal nas letras. Depois de muitas transformações que a vida nos oferece (casamento, filhos, trabalho) você ainda se sente ligado a este período? Você considera a letra como sendo atemporal?
Sim, estranhamente. Já passei por tantas transformações nesse ponto e ainda me sinto conectado a essas músicas. Não que eu queira tocá-las o tempo todo ou não possa pensar em mais nada (como era quando estávamos criando-as ativamente), mas elas são intensamente pessoais e ressonantes para mim depois de todo esse tempo. Por mais que eu tenha me transformado, e por mais que meu tempo com a Mineral tenha sido curto, este repertório é uma parte importante de mim.
Algumas pessoas acreditam que a rotulação pode ser positiva de alguma forma, outras não. A música da Mineral está associada ao emocore. Essa associação te incomoda?
Claro, mas tanto faz. Não consigo controlar como as pessoas percebem ou rotulam nossa música. Isso me incomodou um pouco na época em que começamos, e me incomodou muito ao longo dos anos após a dissolução da Mineral, mas eu deixei tudo isso passar. É o que é. Não é a minha cena, nem o meu trabalho. Dito isto, eu sou eternamente grato a todos que tiveram uma conexão honesta ou ressonância com o Mineral, o que quer que eles chamem. É essa conexão que eu acho convincente.
Desde 2018 vocês têm lançado alguns singles. Produzir um novo álbum está nos planos da banda?
Não. Atualmente não há planos de continuar escrevendo ou gravando um álbum cheio. A ideia é ocasionalmente intrigante de se pensar, mas não parece urgente. Todos nós temos muitas outras coisas acontecendo, e eu não tenho certeza se estamos em um lugar para fazer algo assim, ou mesmo necessariamente interessados em fazer isso.
Como pai, estou muito preocupado com o futuro dos meus filhos devido à presença de governos ditatoriais, como os de Donald Trump e Jair Bolsonaro, que levantam bandeiras contra minorias. Sei que você também é pai (de quatro filhos). Como você encara este período? Este cenário afeta a sua produção musical?
É um momento aterrador, com certeza, e eu compartilho muito de sua preocupação. Há tanto racismo, ódio e medo fervendo a superfície em todos os lugares. As estruturas de poder de nossas nações, até mesmo a estrutura do mundo natural, estão começando a entrar em colapso e estamos vendo as pessoas que tradicionalmente tiveram um domínio sobre esse poder fazendo tudo o que podem para mantê-lo. Não diria que isso afetou particularmente a minha produção musical. Ainda acredito que criatividade, inclusão e amor são os únicos caminhos a seguir. Também acredito que a humanidade e a natureza vencerão, mas temos que lutar por isso.
Após o lançamento do segundo álbum, a banda encerrou as atividades e seguiu caminhos diferentes até 2014. Como vocês se reconciliaram? O que os motivou?
Acho que gradualmente me interessei mais em olhar para trás no Mineral começando alguns anos antes do reencontro em 2014. Apenas olhando para aquele período da minha vida em geral. E aceitar que, embora tenha durado apenas quatro anos, foi uma parte realmente grande e importante da minha jornada. Pediram-nos para fazer um show, e por qualquer razão o momento pareceu oportuno para falar sobre isso e, pelo menos, nos entreter com a ideia. E eventualmente entramos na sala juntos para tentar tocar alguma música novamente depois de todos esses anos. Depois envolvemos empresários e agentes e realmente começamos a entender a magnitude do interesse e expectativa que existia para a reunião. Então, pelo menos para mim, a motivação foi pessoal no início, para me reconectar comigo mesmo e com os outros caras e com o material, mas depois foi sobre conectar com todas as pessoas que mantiveram a música viva por todos aqueles anos.
Essa é a primeira vez que a banda vem ao Brasil. O que você sabe sobre o nosso país? E o que os fãs brasileiros podem esperar?
Eu honestamente sei muito pouco sobre o Brasil, a não ser que recebemos mais pedidos para ir ai do que em qualquer outro lugar do mundo, e estamos muito animados para tocar para nossos fãs daí.
– Bruno Lisboa é redator/colunista do O Poder do Resumão. Escreve no Scream & Yell desde 2014. A foto que abre o texto é de Peter Beste / Divulgação.