por Marcelo Costa
Em sua terceira passagem pelo Brasil, os alemãos da Tusq trazem na mala seu terceiro álbum, “The Great Acceleration”, lançado no final de 2018 e que além de contar com a produção de Gordon Raphael (responsável por “Is This It”, dos Strokes) e arte do quadrinhista Eric Drooker (que já havia cedido sua obra para nomes como Faith No More e Rage Against The Machine) traz o guitarrista brasileiro Edgard Scandurra (Ira!) solando na música “Different Planet” (assista ao clipe no final da página).
Porém, o Tusq que agora retorna ao país surge bastante renovado. Após o dark e melancólico “Hailuoto” (2013), segundo disco que foi a base da turnê que os alemães fizeram no Brasil em 2014, a cozinha da banda foi desfeita e o grupo mudou a base de Hamburgo para Berlim. Dois novos músicos foram adicionados e a nova formação mergulhou no processo de adaptação e construção de uma nova sonoridade, mais próxima do pop e cativante álbum de estreia, “Patience Camp”, de 2010.
“Estou muito feliz por termos terminado ‘The Great Acceleration’, lançado e estarmos na estrada”, conta o vocalista Uli Sailor em conversa com o Scream & Yell (completam a formação Timo na guitarra, Michael no baixo e Matthias na bateria). Neste bate papo, Uli ainda conta como foi o processo de mudança de formação da banda, relembra shows em Maringá e Curitiba, fala como foi trabalhar com Gordon Raphael e revela que não é muito fã de cerveja artesanal: “Prefiro ficar com as tradicionais cervejas alemãs”.
Essa é a terceira vez do Tusq no Brasil, e a segunda principalmente (em 2014) foi um sucesso, com muita gente curtindo o show. Por que demoraram tanto a voltar?
Após a turnê, precisávamos de tempo, por vários motivos, para resolver algumas coisas. Nós nos separamos do nosso antigo baterista Holger e de nosso baixista Florian, bebês nasceram, e outras bandas entraram no nosso radar. Porém, algo que sempre foi crucial para a TUSQ foi que estávamos baseados em duas cidades diferentes: Timo (guitarra) morava em Hamburgo e eu em Berlim. Em 2015 decidimos, após seis anos em Hamburgo, mudar nossa base para Berlim, procurando um novo baterista e um novo baixista. Depois que encontramos Micha (baixo) e Matthias (bateria), começamos a escrever novas músicas, preparar um novo álbum, gravar, lançar, etc. Tudo isso levou muito tempo, porque realmente sentimos que precisávamos reinventar a banda! Então, se cinco anos parecem ser muito tempo para você, para nós, parecia que estávamos ocupados o tempo todo 😉
Já que você tocou no assunto: nesse intervalo de tempo vocês tiveram mudanças na formação da banda e gravaram o terceiro disco. Como vocês veem “The Great Acceleration” (2018) em comparação com os outros dois álbuns, “Hailuoto” e “Patience Camp”? O resultado saiu do jeito que vocês queriam? Aliás, o que vocês buscavam?
Com Micha e Matthias, encontramos realmente a formação perfeita em Berlim para escrever e gravar o novo álbum, “The Great Acceleration”. “Hailuoto” saiu bastante dark e melancólico, então queríamos contrapor essa atmosfera com músicas curtas e diretas, estruturas de músicas mais nítidas, riffs fortes e melodias pop. Na verdade, queríamos retornar ao som do nosso primeiro álbum, “Patience Camp”. Mas é claro que, no começo, o maior desafio foi integrar os novos membros à banda. Você precisa encontrar um groove que seja mútuo, algo que desenvolva o mesmo sentimento para que a banda se torne uma unidade. Acho que conseguimos isso muito rápido e foi ótimo escrever e gravar essas canções. Funcionou do jeito que queríamos? Isso é difícil de dizer, porque as músicas passaram por tantas idas e vindas durante o processo que realmente não consigo me lembrar do que esperávamos no começo. Tudo o que posso dizer é que estou muito feliz por termos terminado, lançado e o colocado na rua.
Como foi trabalhar com Gordon Raphael e como se deu o convite para o Eric Drooker criar a capa do “The Great Acceleration”?
Foi apenas uma ideia que parecia passageira e que tivemos no começo do processo de produção. Sabíamos que Gordon morava em Berlim, mas achávamos que não haveria chance de trabalhar com ele. Porém, eu tinha um amigo que nos apresentou a ele e, de repente, ele estava em pé na nossa sala de ensaios, ouvindo nossas músicas. Ele trouxe sua personalidade cintilante para as gravações e foi ótimo ter alguém com essa experiência no estúdio. No vídeo abaixo, ele fala um pouco sobre a gravação. Já o contato com Eric foi muito curto, via internet. Ainda assim, ele fez questão de checar a nossa banda e ouvir as músicas, e gostou da nossa atitude e do conceito de “The Great Acceleration”. Por tudo isso, decidiu licenciar sua obra para nós. As letras deste álbum são, novamente, bastante políticas e nos sentimos muito honrados de ele nos ter dado a sua permissão. Sua arte fez deste um álbum completo!
Uma das novidades do disco é a participação do guitarrista brasileiro Edgard Scandurra na canção “Different Planet”. Como vocês se conheceram e como rolou o convite?
Em 2014 tocamos com o Ira! na Virada Cultural Paulista, e conheci o Edgard. Ele é um guitarrista fantástico, e quando escrevemos a música “Different Planet”, achamos que seria uma combinação perfeita ter ele solando. Escrevemos para ele e ele topou. Ficamos muito felizes com essa colaboração porque ela trouxe uma nova vibe para a música. É uma das minhas favoritas do novo disco!
Aliás, no nosso papo anterior, você contava que adorava o “Ventura”, dos Los Hermanos, e também de Dead Fish (que acabou de lançar disco novo). Nesses cinco anos, os amigos que vocês fizeram nas turnês pelo Brasil te atualizaram de bandas novas brasileiras?
Não, infelizmente não descobri nenhuma banda nova do Brasil que tenha me chamado a atenção, mas aceito dicas
Cinco anos desde a última passagem de vocês por aqui e o Brasil mudou tanto (para o bem e para o mal): o que vocês esperam encontrar dessa vez? Desta vez, a turnê passará por cinco cidades. Nas anteriores vocês chegaram a tocar em Maringá e Curitiba?
Sim, já tocamos nas duas cidades antes! Em Curitiba tocamos em 2011 num pequeno bar. Me lembro muito bem porque cinco minutos antes de começarmos, nosso técnico de som sentiu indigestão. Ele veio correndo até o palco e disse: “Pessoal, tenho que sair agora! Desculpa…”. Ficamos bastante surpresos, mas ainda assim tivemos uma grande noite. Nosso técnico de som infelizmente não, mas merdas acontecem (hahaha). Já em Maringá fizemos um festival muito legal e tivemos um dos nossos melhores shows. Então, estamos ansiosos para voltar. Mas, é claro, estamos muito animados para fazer todos esses shows no Brasil!
Uma das coisas que evoluíram no Brasil nestes cinco anos foi nossa cena cervejeira, com muitas cervejarias artesanais fazendo cervejas incríveis. Sei que vocês (como qualquer estrangeiro no Brasil) adoram caipirinha, e sei que alemães, em geral, adoram cerveja. Dai queria saber se essa coisa de cerveja artesanal rola em Hamburgo. Dai só chegou para nós a St. Pauli Girl, que é bem básica (mas há algumas cervejas da Freigeist, de Aachen,que são sensacionais)…
Sim, o movimento Craft-Beer é muito popular na Alemanha e em todos os lugares aqui criam-se pequenas cervejarias que produzem diferentes variações de cerveja. Mas, para ser honesto, não sou um grande fã da cerveja artesanal. Tentei algumas, mas elas nem tinham gosto de cerveja :-0 Prefiro ficar com as tradicionais cervejas alemãs. Neste momento estou muito interessado no estilo “Helles”, que vem da Baviera. Há muitos rótulos diferentes, mas meus favoritos são a Bayreuther Helles e a Tegernseer Helles.
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne.