entrevista por Renan Guerra
Na ativa desde 2011, o Terno Rei já tem um bom caminho trilhado, porém parece que 2019 é o ano de uma nova guinada para a banda de São Paulo: o lançamento do terceiro disco, “Violeta” (2019), tem recebido elogios da crítica e tem feito a banda chegar a novos públicos, através de um pop quase torto, que versa o amor de forma bastante única. 11 canções curtinhas, tristes porém dançantes, fazem de “Violeta” o álbum mais redondinho do grupo, que deixa o lo-fi um pouco de lado e abraça possibilidades como o synthpop, o dream pop e o pós-punk, abusando dos sintetizadores e flertando com possibilidades eletrônicas.
“Violeta” é como um olhar sobre o amor, as separações, a solidão de São Paulo e outras coisas usuais que parecem renovadas sob a perspectiva dos quatro integrantes: Ale Sater (baixo e vocal), Bruno Paschoal (guitarra, vocal e sintetizadores), Greg Maya (guitarra e sintetizadores) e Luis Cardoso (bateria). Produzido por Gustavo Schirmer e Amadeus de Marchi, com mixagem e masterização de Vinícius “Nico” Braganholo, o novo disco foi gravado entre final de 2017 e início de 2018 e chegou aos ouvidos do público agora em janeiro de 2019, lançado pelo selo Balaclava Records.
Compondo e criando de forma realmente coletiva, o grupo já parece encantado com a resposta que o disco vem recebendo e busca agora expandir ainda mais o universo de “Violeta”. Com previsão de lançar novos clipes, a banda quer levar seu show para os diferentes cantos do Brasil. Batemos um papo com o Terno Rei sobre todas essas questões: produção, resposta do público, composições, estética e outros. Nossa entrevista rolou antes do show de lançamento do disco, no Z Carniceria, em SP, numa noite de ingressos esgotados, em que o público já sabia cantar todas as músicas à plenos pulmões. Confira abaixo:
Vocês produziram o disco entre o final de 2017 e o início de 2018, e o disco só saiu no começo de 2019, ou seja, demorou um tempo pra sair. Qual o motivo?
Luis: Eleições. (O cenário) estava muito conturbado e achamos que o disco ia passar batido, até porque foi uma eleição bem tensa. Então a gente não quis competir por atenção com grandes eventos assim e resolvemos adiar. Achamos melhor esperar.
Greg: E também porque o último disco (“Essa Noite Bateu Com um Sonho”, de 2016) que a gente lançou saiu no fim do ano e não foi tão bom, virou o ano e ele já era disco do ano passado. Não foi uma experiência tão boa e a gente queria fazer direitinho dessa vez.
Bruno: E foi bom segurar, porque a gente conseguiu trabalhar singles e aumentar o hype, sabe?
Mas vocês tiveram que ficar segurando…
Bruno: Sim. Os caras ficaram mó ansiosos.
Luis: A gente ficou quatro meses com o disco pronto.
Ale: Eu fiquei na pior.
Luis: Ele ficou na pior, bem na bad.
E esse disco foi produzido em São Paulo e Curitiba. Como foi esse processo de produção?
Bruno: Ele foi produzido mesmo mais em Curitiba.
Greg: Na verdade, os moleques (Gustavo Schirmer e Amadeus de Marchi) vieram aqui uma vez.
Ale: A primeira pré-produção foi aqui, no carnaval, entre nós. Daí teve outra vez em São Paulo que eles vieram, a gente ficou um final de semana enfurnado no estúdio, ajeitamos bastante as músicas, escolhemos as que iríamos gravar e depois a gente foi umas três ou quatro vezes pra Curitiba, em feriados. A gente ficava cinco dias no estúdio com os caras.
Luis: 12, 13, 14 horas por dia.
Bruno: O dia inteiro, de imersão.
E vocês levaram as músicas já prontas, as composições?
Bruno: Sim. A gente já tinha composto e tal, e fizemos a produção com eles, acertando as coisas, os detalhes, mas também teve muita coisa que surgiu na hora do estúdio. Foi uma mescla. Se for juntar toda a produção, foi um ano.
Greg: Teve música que na hora que a gente gravava não soava bem e a gente falava: “Meu, tem que soar bem”. Por isso teve música que mudou quase tudo no arranjo…
Ale: Tipo, saiu a guitarra inteira.
Luis: E a base era a guitarra.
Bruno: Letra mesmo não mudou, (se mudou) foi bem sutil, mas de instrumental, arranjo e produção, teve umas coisas que mudaram muito.
Ale: E todo mundo estava presente em todas as gravações! A gente estava os quatro juntos no mesmo estúdio, exceto raras exceções.
Luis: Essa foi a diferença, pelo menos, em comparação com os outros dois discos que a gente fez: todo mundo estava quando todo mundo estava gravando. Nas outras vezes ele [Ale] gravava o vocal sozinho, ninguém conseguia acompanhar. Mas dessa vez todo mundo participou de todas as decisões que foram tomadas.
E isso serve também para as composições? Como funciona o processo de composição entre os quatro?
Bruno: Geralmente alguém traz uma ideia, uma base e a gente vai tentando arranjar dentro da banda, vai maturando os quatro juntos, cada um vai botando seu dedo ali na composição, até todo mundo estar gostando.
Esse é um disco mais pop e vocês até lançaram uma playlist com as influências da banda, pois elas são muito diversas. Como é organizar todas essas referências dos quatro?
Greg: A proposta da menina da Balaclava Records que pediu pra gente a playlist era pra cada um escolher seis músicas, até por isso ficou diversa. A gente gosta meio que da mesma coisa, mas…
Bruno: Mas cada um com suas identidades.
Aliás, foi intencional essa guinada mais pop no som do disco?
Greg: Foi totalmente intencional. A gente é muito lo-fi, as gravações eram muito lo-fi e mesmo a gente tentando ser mais pop, ainda soa lo-fi, só que dá pra perceber que é mais pop. E o lance da produção deixou o som e tudo mais aberto.
Bruno: Era uma coisa que a gente estava buscando mesmo, até pra dar uma mudança.
Greg: Até por isso que a gente caiu nesses produtores, e pelo que a gente estava ouvindo na época, tipo a gente começou a ouvir coisas mais digitais, mais eletrônico, mais synth.
E vocês acreditam que com o “Violeta” vocês podem chegar a um público novo e diferente?
Greg: Já está rolando isso.
Por que vocês já tiveram uma resposta muito boa do disco logo que ele saiu, né?
Greg: Está rolando pra caralho isso, está até vindo uns haters. Antes era muito nichozinho, “ah, indie, legal, tal”, não saia muito dali, mas agora a gente tá sentindo que está saindo bem.
Ale: Ah, isso é bom, né, sei lá, o artista quer que…
Greg: …atinja mais pessoas o possível.
Apesar da melancolia, esse pode foi visto por muitos como um disco mais esperançoso e solar em comparação aos anteriores, concordam?
Ale: Acho que tem um lance de beats também. As músicas são mais rápidas.
Luis: De beat e de gravação porque gravar um som em full HD já faz soar outra coisa (diferente) do que você gravar com seu microfone antiguinho. A mesma música muda totalmente.
Ale: A gente gravou a batera dele [Luis] de forma bem detalhada, com vários microfones, testando as caixas. A minha voz está mais pra frente, está mais alta no disco.
Greg: As músicas são mais curtinhas também. Antes fazíamos umas músicas mais cabeçudinhas, a gente largou um pouco a mão disso nesse álbum.
Uma coisa que as pessoas também falaram é que “Violeta” seria uma pessoa e que o disco seria em torno dessa pessoa, de um relacionamento com ela. Existe alguma pessoa ou muitas pessoas que influenciaram o disco?
Ale: Essa é mais difícil.
Greg: Na verdade não é isso! Quando falaram para a gente, ah, já que a pergunta foi meio aberta, ficamos pensando: “Mano, quem seria a Violeta”, tá ligado?
Ale: Pensei numa menina tímida, tinha uma descrição boa…
Bruno: A gente gostou de descrever a Violeta tipo assim, uma pessoa que ao passar do tempo você vai conhecendo ela vai ficando mais bonita, pelo fato da personalidade dela, você vai gostando mais da pessoa.
Ale: Sabe essas pessoas que, sei lá, não são tão bonitas, mas você vai conhecendo, ela vai ficando mais bonita?
Greg: Ah! E tem a Nina, que é a menina da capa. Ela participa de um clipe e, a partir dessa ideia, haverá mais um clipe com ela. Será como se fosse um filme em que está tudo amarrado. Ela está na camiseta, ela representa, de certa forma. Ela gosta da banda e isso é legal.
Falando de clipe, vocês lançaram o de “Solidão de Volta” e é a primeira vez que vocês colocaram a cara de vocês num vídeo. Como foi isso? Qual foi a decisão de, tipo assim, “vamos aparecer no clipe”?
Bruno: Foi uma decisão consciente. A gente nunca apareceu.
Greg: (Mas) Vamos aparecer, agora. A gente estava a um ano guardado, fazendo clipe, fazendo álbum, então, mano, agora é a hora, vamos fazer a música e só mostrar a gente. Por que você percebe na internet que as pessoas adoram ver a pessoa que está por trás. Se eu posto uma foto que eu acho bonita, dá tipo 100 likes, se eu posto uma selfie dá 700, tá ligado?
Você falou dos outros clipes, vocês já têm uma previsão de quais irão sair?
Greg: A gente tem um clipe de “93”, que está pronto, só estamos esperando o corte final.
Luis: Vamos fazer mais dois.
Greg: E vamos fazer um clipe de backstage da gravação.
Luis: É isso. Tem mais dois clipes pra sair.
Aliás, essa preocupação estética é um ponto importante da banda, desde o encarte até os merchandisings – tanto que vocês soltaram um ensaio específico do “Violeta”. Como funciona isso pra vocês?
Bruno: Cara, é uma coisa bem importante pra gente e hoje em dia uma banda tem que ser 360 graus, não adianta só você ter o som. Hoje o artista vive do show, vive do merch – você dobra o cachê com o merch, vendendo camiseta. Eu trabalho com moda, o Greg também, então a gente tem um know-how para desenvolver produtos que a gente considera legais. E é bom que a gente já resolve isso dentro da banda. A gente tem o cuidado de realmente dividir como uma empresinha: ele cuida do financeiro, ele cuida disso…
Ale: Mas além de tudo a gente gosta, né? Esse lance da estética tem a ver com as bandas que a gente ouve. Eles têm marca [apontando para Bruno e Greg], está na essência de quem a gente é, além de ser útil. O útil e o agradável.
Falando nesse sentido de empresa, todos vocês têm outros empregos. Como vocês entendem que é fazer música independente atualmente: isso gera algum lucro pra vocês ou o que vem retorna para a banda?
Luis: A gente investiu tudo que a gente ganhou na banda, foi assim que a gente conseguiu gravar nosso último disco. Foi assim que a gente viabilizou algumas viagens que poderiam sair no zero a zero, mas a gente estava apostando, porque a gente queria atingir o público, ir pra lugares que a gente nunca tinha ido. E foi um caixa mesmo que a gente nunca encostou, nunca vimos um real.
Ale: Agora quem sabe
Luis: Vamos ver se agora a gente pelo menos para de pagar o ensaio do bolso.
Greg: Esse ano está bem otimista. Já começou a chegar tipo esse sold out de hoje (no Z Carniceria), o Sesc que tem cachês melhores.
Vocês também estão escalados para o Balaclava Fest desse ano. Quais são as outras previsões de vocês para turnê?
Ale: Sul, Nordeste, alguns festivais do Brasil que a gente quer muito tocar, mas precisamos ser convidados. O Sudeste também, o Rio de Janeiro é uma cidade que pede bastante, BH é uma cidade que não pedem tanto, mas sempre que a gente faz show lá é legal pra caramba. Então é meio que rodar o Brasil e de repente, um sonho seria, sei lá, tocar de novo em Portugal ou Japão, Canadá, seria legal.
Greg: Mas acho que o lance vai ser rodar o Brasil, porque tem muita gente pedindo.
Bruno: É, uma procura boa, a gente está sentindo que com esse álbum realmente expandiu bem e tem muita gente buscando a banda, agora é só uma questão de viabilizar mesmo.
No seu caso, Ale, você já tinha uma carreira solo e até lançou o EP “Japão” em 2016. Você tem pretensão de lançar mais coisas de forma solo?
Ale: Tenho sim, (mas) falta tempo. Tenho umas músicas e… falta energia, gente pra me ajudar e querer mesmo. Na hora que você decidir que você quer, a coisa acontece. Porém agora estou mais focado aqui com os meninos, na Terno Rei, que é a minha banda de coração. Lancei o solo ao longo do Terno Rei, na verdade, mas é uma coisa que eu quero voltar sim.
– Renan Guerra é jornalista e escreve para o Scream & Yell desde 2014. Também colabora com o site A Escotilha.
Esse disco é um marco pro Dream Pop nacional