entrevista por Marcos Paulino
São bem comuns os textos sobre a Daparte que, logo após o nome do quinteto, colocam vírgula e informam: “banda do filho de Samuel Rosa, do Skank”. O filho em questão é Juliano Alvarenga, de 19 anos, primogênito do vocalista e guitarrista Samuel, líder de uma banda que, óbvio, dispensa apresentações. Cientes de que o parente famoso abre portas, a galera da Daparte não se importa que o vínculo seja lembrado a cada reportagem.
Mais que isso, os mineiros têm aproveitado essa proximidade com o Skank pra ganhar uma exposição extra, como o vocalista e guitarrista João Ferreira admite nesta entrevista. Inclusive, foi ao abrir um show de Samuel Rosa e companhia que a garotada resolveu levar esse lance de música mais a sério. Partindo de influências comuns aos cinco – além de Juliano e João, a banda conta com Bernardo Cipriano (voz e teclado), Túlio Lima (voz e baixo) e Daniel Crase (bateria) –, aí incluídos do mineiríssimo Clube da Esquina ao rock inglês dos anos 90, a Daparte mistura sem cerimônia guitarras distorcidas, teclados nervosos e grooves.
Formada em 2015, em Belo Horizonte, a banda trabalhou nos últimos três anos nas 10 faixas de seu disco de estreia, “Charles”. O álbum, recém-lançado, tem produção de Renato Cipriano, engenheiro de som vencedor de um Grammy, que é pai de Bernardo. Ou seja: tome mais genética da boa no sangue da Daparte!
É verdade que a Daparte nasceu quase por acaso, para se apresentar durante um St. Patrick’s Day?
Sim. A banda que o Ju e o Bê tinham foi convidada, mas não poderia tocar, então os dois chamaram o Daniel e o Túlio pra fazer o show com eles. Fiquei sabendo e pedi pra entrar na festa também.
E de onde veio o nome da banda?
Estávamos num show do Lô Borges e do Samuel Rosa e lá estava sendo vendido um livro de casos do Clube da Esquina. O Túlio e o Daniel leram sobre o apelido que o Lô e seu irmão Márcio Borges se davam e nos sugeriu que o usássemos de nome. O apelido é “Daparte”. Como somos apreciadores do Clube e gostamos da sonoridade, resolvemos usar esse nome.
A banda cita influências como Clube da Esquina e Oasis. O que mais entra nesse caldeirão que mistura pop, groove e rock?
Ultimamente, temos escutado muito Supergrass, Vulfpeck, O Terno, Tim Bernardes, Boogarins e Devise.
A banda surgiu em 2015 e o primeiro disco está saindo três anos depois. Como foi esse período de maturação até vocês acharem que estavam prontos pra gravar?
Foram três anos de muita convivência. Tocamos em muitos bares e casas de show menores em BH e fomos convidados pra tocar em festivais grandes, como o Planeta Brasil e o Festival de Inverno, mas o ponto de virada mesmo foi a abertura que fizemos pro Skank, em 2016. A partir dali, começamos a dar mais atenção à banda, ensaiar mais e nos dedicar às composições. Todo esse investimento emocional nos foi crucial pro crescimento pessoal, artístico e profissional.
Como é o processo de composição da banda?
Em alguns casos, alguém chega com uma composição de voz e violão já quase pronta e nós adicionamos a cara da banda; em outros, a gente senta junto e trabalha as ideias nos ensaios. Compomos muito por WhatsApp também. [Risos]
Contar com quatro integrantes que cantam é um diferencial que dá mais versatilidade à Daparte?
Ter quatro timbres e quatro formas de interpretar uma canção é uma baita caixa de ferramentas! Além do mais, sempre há espaço pra uma harmonização vocal aqui ou lá.
Vocês tiveram a oportunidade de fazer abertura pro Skank até pelo parentesco que une as duas bandas. Essa proximidade é boa para trazer mais exposição?
Com certeza. A procura por nossa banda acontece pela influência indireta do Skank muitas vezes. As pessoas tomam conhecimento da gente através da exposição que o Skank, que já é consagradíssimo, tem e acaba nos procurando também. E às vezes há também uma influência direta na nossa exposição. Como o único show que abrimos pra eles, em 2016, e as postagens eventuais que os integrantes fazem carinhosamente nas redes sociais deles.
Por outro lado, ter um integrante filho de um músico consagrado aumenta a cobrança sobre a banda?
Vemos isso como uma oportunidade para crescermos. Tentamos sempre superar as expectativas que são criadas em torno de nós. Procuramos inovar em arranjos ou em composições e sempre estamos nos empenhando para melhorar mais o que já temos. Ensaiamos três ou quatro vezes por semana em certas ocasiões, com ensaios que acabam de madrugada. Essa expectativa que se cria em torno de nós nos motiva a trabalhar até o nosso limite físico e mental.
O primeiro single de trabalho, “Guarda-Chuva”, ganhou clipe e vai acumulando visualizações. Outras faixas também terão vídeos?
Sim! “Aldeia” já tem clipe gravado e será nosso próximo lançamento. O resto é surpresa por enquanto.
Vocês vão sair em turnê para divulgar o disco? Por onde pretendem passar?
Vamos demais! Inicialmente, estamos planejando tocar em cidades do interior de Minas e capitais de outros Estados, como SP, RJ, ES, RS… Mas sempre estamos abertos a convites para tocar em qualquer cidade. As datas serão divulgadas nas nossas redes sociais.
– Marcos Paulino é jornalista editor do site Mundo Plug (www.mundoplug.com)
Gostei do som dos caras. A influência dos caras já é meio caminho andado, Clube da Esquina é foda…