por Marcelo Costa
“Percebi algo ouvindo esse disco”, comento com Natália sobre “Não Sei Fazer Canção de Amor” (2017), seu segundo álbum, que chega três anos após o disco de estreia. “Seu primeiro disco foi gravado todo em São Paulo, mas soa bastante Pará, tem muito mais conexões com o estado do que este novo, em que a gestação e produção foi toda em Belém. Então, para mim, o seu disco feito em São Paulo me soa Belém, e o seu disco Belém me soa cosmopolita”, opino, e Natália comenta: “Queria fazer o caminho inverso. E fiz em todos os sentidos”.
Assistida por Léo Chermont (do duo Strobo), que assina a produção e a acompanhou durante um ano num processo de imersão e troca de referências, Natália Matos abraça o pop classudo em “Não Sei Fazer Canção de Amor”, um disco que amplia horizontes para sua musicalidade, principalmente porque em “Natália Matos”, de 2014 (download aqui), ela se posicionava como interprete (das 11 canções do disco, ela assinava apenas três), e em “Não Sei Fazer Canção de Amor” ela se assume autoral assinando 9 das 10 faixas (o conterrâneo Antônio Novaes – cujo primeiro EP solo foi disponibilizado aqui no Scream & Yell – de estreia marca presença com “Roseado”).
“A ideia de fazer um disco todo autoral veio da certeza de que nada mais legitimo, coeso, nada que me represente melhor do que o que sai naturalmente de mim”, explica Natália Matos, o que demonstra uma preocupação que perpassou todo o processo de feitura que resultou em “Não Sei Fazer Canção de Amor”, uma álbum que reúne um grupo de canções que já nasceram pop, e cujo trabalho de Léo e Natália foi tira-las do óbvio, “mas sem desvirtua-las, respeitar o caminho natural pra onde elas apontavam”, observa Natália.
Nascida em Belém, onde estudou piano na Escola de Música da UFPA, e com uma temporada de oito anos vivida em São Paulo dividindo-se entre estudos em Canto Popular (na ULM), Arquitetura (no Mackensie) e rodas de choro em bares interpretando Aracy de Almeida, Adoniran e cantoras da Era do Rádio, Natália parecia, no primeiro disco, querer se aproximar de sua terra natal, numa declaração de amor para a musicalidade local. “Não Sei Fazer Canção de Amor”, no entanto, traz Natália ampliando fronteiras e olhando (e querendo) o mundo.
Primeiro single do disco, “Vamos Embora” foi a última canção a entrar no álbum. Tem vibe leve e praieira. Começou reggae, mas foi se transformando numa faixa delicadamente pop, dançante, exalando frescor. Natália convidou Pratagy para produzir essa faixa: “Ele tem muita referencia de anos 80 e chegou com esse arranjo lindo. Quisemos manter esse flerte e Léo tocou uma guitarra a lá Nile Rogers”, conta Natália. A música nasceu após um carnaval em Ubatuba, litoral de São Paulo: “Dias lindos de leveza, sonhos e convicção monogâmica”, conta.
Já “A Cura” é uma das quatro canções de “Não Sei Fazer Canção de Amor” que Natália divide autoria. “É uma letra linda que Ana Clara me mandou”, diz Natália. “Sou muito fã do trabalho da Clarinha, e a melodia me veio intuitivamente romântica, melosa”, ela explica. “Fiquei com vergonha de mostrar por estar pop demais, mas ela adorou quando ouviu e já cantamos juntas algumas veze em shows”, revela Natalia sobre uma das canções mais delicadas do álbum, que ganha força no violão de aço tocado por Sabbá Neto e no solo forte de guitarra de Léo.
A faixa título foi uma das primeiras compostas por Natália para o álbum e o arranjo explicita a influência do Daft Punk enquanto a letra adentra um universo que ela achava desconhecer. “Juro que não imaginei que o disco fosse ser de amor. Eu nem imaginei que soubesse fazer canção de amor. E talvez não saiba. Mas quando dei por mim tinha feito um o disco todo falando de amor e dos outros sentimentos que o rodeiam”, explica. Nessa toada, “Não Sei Fazer Canção de Amor”, a música, busca resignificar o amor, seu peso e seu valor: “Amor tem que fazer bem”, acredita Natália.
“Não Sei Fazer Canção de Amor” é daqueles álbuns aconchegantes que o ouvinte começa a ouvir e, quando percebe, está se mexendo, dançando, e não quer tirar do repeat. “Esse é um disco despretensioso e honesto. E, talvez por isso, me faz sentir livre, convicta e dona dos próprios caminhos”, comenta. “Este ano, depois de muito negar, descobri que sou romântica. Agora estou curtindo isso. Ser livre, ser romântica nesse mundo doente é o que, hoje, me dá esperança. Agora sou romântica com convicção”, avisa.
Financiado por crowdfunding e disponível para audição e download em www.nataliamusica.com e nos demais portais de streaming (Spotify incluso), “Não Sei Fazer Canção de Amor” exibe uma busca pessoal que realiza um desejo artístico, o feliz encontro de uma interprete com sua própria autoralidade, com a magia que brota da criação, e depois flutua no universo em busca de amplitude. “Fazer arte nos dias de hoje é resistir. É não endurecer”, justifica Natália. “Mais do que nunca, eu acredito na música que faço. Agora sigo com esse trabalho ora dançante, ora denso, com a meta de brindar, cantar e conectar por aí afora”, ela deseja. Ela fez a parte dela. Agora é a hora de você fazer a sua. Play.
– Marcelo Costa (@screamyell) edita o Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne