por Marcelo Costa
“O Poderoso Chefinho”, de Tom McGrath (2017)
Tim Templeton é um garotinho amável de 7 anos de idade, o rei do lar sendo mimado pelos pais todo santo dia com histórias e até uma canção, “Blackbird”, dos Beatles, que ele acredita ter sido escrita especialmente para ele. Seu reinado, porém, é ameaçado com a chegada de um irmãozinho, um belo bebê que usa terno, gravata e não se separa de uma maletinha. Com o nome de Boss Baby (título original do filme em inglês inspirado no livro de mesmo nome de Marla Frazee, lançado em 2010), o irmãozinho de Tim, na verdade, é um espião da empresa responsável por colocar os bebês no mundo (não, os bebês não saem de um repolho, de uma cegonha ou de uma barriga de mãe, eles saem da Baby Corp.) que está na Terra para tentar descobrir os planos de uma empresa concorrente, a Puppy Co., que trabalha com bichinhos de pelúcia e planeja dominar o mercado (e o mundo) visando extinguir os bebês do planeta. Os irmãos Tim e Boss Baby não se dão bem, mas precisaram se unir para salvar seus pais, a humanidade e restaurar a ordem no mundo. Simplório e tolinho, “O Poderoso Chefinho” é a mais fraca das cinco animações indicadas ao Oscar 2018, um tapa buraco milionário (custou US$ 125 milhões e já faturou US$ 500 milhões) que diz tanto sobre a falta de animações de qualidade no mercado quanto sobre os conchavos da indústria: trata-se de uma produção DreamWorks Animation com um baita elenco encabeçado por Tobey Maguire, Alec Baldwin, Steve Buscemi, Jimmy Kimmel e Lisa Kudrow. A indicação ao Oscar por si só já é um prêmio para uma animação esquecível (que vai ganhar continuação).
Nota: 4
“O Touro Ferdinando”, de Carlos Saldanha (2017)
Escrito em 1936 por Munro Leaf com desenhos de Robert Lawson, “The Story of Ferdinand” causou uma enorme polêmica na época por ser um livro… pacifista: a Espanha (país onde se passa a história) do ditador Francisco Franco baniu o livro e a Alemanha de Adolf Hitler o jogou na fogueira. No entanto, sua primeira adaptação para o cinema, como curta de animação, ganhou o Oscar em 1938. Lá se vão 80 anos, e “O Touro Ferdinando” (apenas “Ferdinand” no original) retorna aos holofotes da Academia com direção do brasileiro Carlos Saldanha. A trama se passa na fazenda Casa Del Toro, próxima a Madrid, um estabelecimento que prepara touros para touradas. O pequeno bezerro Ferdinand sofre um bullying danado dos amiguinhos bezerrinhos porque prefere cheirar flores a lutar numa arena. Certo dia, o pai de Ferdinand é escalado para uma tourada, e não volta. Desnorteado, Ferdinand foge da fazenda, acaba entrando em um trem de cargas, se acidenta e é acolhido por uma família de floricultores, que o permitirá viver no ambiente que mais ama. Porém, nem tudo (são flores) é perfeito, e já crescido e tornado um imenso touro (ainda que a alma permaneça bondosa e pacifista), Ferdinand descumpre uma ordem da família de não ir à cidade, assusta todos os moradores e é capturado e entregue ao dono da fazenda Casa Del Toro, que já tem planos futuro para ele. Produção cuidadosa da Blue Sky Studios com a 20th Century Fox Animation, “Ferdinand” é tanto um emocionante libelo pacifista quanto uma obra delicada contraria a matança de animais e, ainda, uma sutil defesa da diversidade sexual, e só não coloca um imenso sorriso no rosto de Morrissey porque para o ex-Smiths, “The Bullfighter Dies”. Ponto para o touro.
Nota: 8
“Viva – A Vida é uma Festa”, de Lee Unkrich e Adrian Molina (2017)
Fragmentos de um texto anterior: “A Pixar não erra. No mínimo, quase acerta. Dentre seus 19 filmes lançados (este incluso) há desde obras primas incontestes (“Ratatouille”, “Up”, “Toy Story 3” e “Divertida Mente”) e filmes excelentes (“Monstros S.A.”, “Os Incríveis”, “Procurando Nemo”) até uma longa lista de animações muito boas, mas menores”. Se “Procurando Dory” (2016) encaixava-se no último grupo, “Coco” (título original de “Viva – A Vida é uma Festa”) faz parte do segundo, o grupo dos filmes excelentes. Com uma história comovente e lírica que se passa no Dia dos Mortos no México, “Coco” apresenta ao público Miguel Rivera, um garotinho apaixonado por música que vive numa família que aboliu canções de seu cotidiano depois que o patriarca abandonou esposa e filha (a avó Coco) para tentar a sorte com a música, e nunca mais voltou. Violonista de mão cheia numa família humilde que fez fama produzindo sapatos (e proíbe qualquer melodia em casa), Miguel se vê justamente no Dia dos Mortos sem um violão (após a avó ter despedaçado seu instrumento numa discussão) para participar do tradicional concurso da cidade. Ele planeja, então, roubar o violão do mausoléu dedicado a Ernesto de la Cruz, o mais famoso violonista mexicano da história. Porém, na hora em que ele tenta furtar o instrumento, é transportado para o mundo dos mortos, e começa uma saga divertida, poética e religiosa de sonho e descoberta. O lado musical é um dos destaques do filme (que concorre ao Oscar 2018 como Melhor Animação e Melhor Canção Original), mas sua poesia e a maneira particular com que trata religião, vida após a morte e família transformam “Coco” em mais um grande acerto da Pixar, daqueles que adultos aproveitam muito mais do que crianças. Para ver, se emocionar e lembrar-se dos mortos.
Nota: 9
– Marcelo Costa (@screamyell) edita o Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne