resenhas por Adriano Mello Costa
“O Triturador”, de Niall Leonard (Bertrand Brasil)
Finn Maguire tem 17 anos. É disléxico, tomou algumas decisões equivocadas na vida e trabalha em uma unidade dessas de fast-food como atendente. Não há muita esperança de melhora pela frente, a verdade é essa. Mora com o pai, um ator aposentado e pretenso roteirista que não consegue finalizar nada, com quem tem um relacionamento bom e amoroso. Ao chegar em casa num dia aparentemente igual a qualquer outro, Finn encontra o pai na sala em meio a uma poça de sangue. E então tudo muda. Com essas diretrizes iniciais é que se edifica “O Triturador” (“Crusher”, no original), livro publicado em 2017 no Brasil pela editora Bertrand Brasil, com 320 páginas e tradução de Ronaldo Passarinho. Lançado lá fora em 2012, “Crusher” é o primeiro trabalho do norte-irlandês Niall Leonard a chegar aqui. Roteirista de televisão e cinema, Niall usa dessa experiência para deixar a obra com ritmo em capítulos curtos que tem como principal objetivo não deixar o leitor se cansar ou se aventurar em discussões mais elaboradas. A partir do assassinato do pai, Finn Maguire se mostra disposto a achar as razões e os responsáveis. Inteligente e longe de ser um santinho, se aventura por uma Londres menos efervescente e conta com um golpe de sorte para cair exatamente onde pretendia estar. Entra então em uma gangorra de emoções que lhe afetarão de maneira bem delicada com o retorno de familiares sumidos e um romance cheio de questões obscuras batendo na porta. “O Triturador” tem como grande vantagem ser lido rapidamente, com trama ágil e eficaz no suspense simples que expõe. No entanto, não difere em nada de centenas de outras publicações do mesmo estilo, não apresenta nada que o torne especial se consolidando na típica história que depois de uns dias será esquecida completamente por quem leu.
P.S: Como curiosidade, o autor é esposo da escritora E. L. James de “Cinquenta Tons de Cinza”.
Nota: 5 (leia um trecho no site da editora)
“O Livro dos Baltimore”, de Joël Dicker (Intrínseca)
O suíço Joël Dicker alcançou o sucesso com o livro “A Verdade Sobre o Caso Harry Quebert” (2012), que vendeu mais de 3 milhões de cópias em todo o mundo. Vários superlativos lhe foram direcionados e mesmo que não fosse para tanto, a obra é realmente interessante e exibe diversas qualidades. Normal então conferir com certa expectativa se essas qualidades seriam mantidas no trabalho seguinte, “O Livro dos Baltimore” (“Le Livre des Baltimore”, no original), publicado na França em 2015, e que recebeu edição nacional no início de 2017 pela editora Intrínseca com 416 páginas e tradução de André Telles. Nele temos o retorno do personagem principal Marcus Goldman e a trama se desenvolve antes dos fatos narrados em “A Verdade”, e por mais que tenham relação indireta com esse, se constitui em uma história independente e diferente. Sai o policial e entra a crônica familiar, mas com o clima de mistério ainda presente. Enquanto se refugia na Flórida para escrever o novo romance, Marcus se depara com lembranças e coincidências que o remetem a infância e adolescência onde cresceu dividido na sua casa em Montclair e na casa dos tios ricos de Baltimore, onde criou grande afeição com dois primos e mais tarde com Alexandra, que se juntou a trupe até que o caminhar da vida se incumbisse de deixar esses dias mágicos cada vez mais no passado, culminando em um drama que mudou tudo. Em “O Livro dos Baltimore”, Joël Dicker transita pelo romance de formação em flashbacks constantes, enquanto por outro lado enverada pela busca de redenção e afirmação pessoal. Ira, segredos, ego, inveja e paixão são bem presentes no livro que, no geral, fica bastante aquém do seu antecessor, cansando em determinadas passagens e não resolvendo de maneira satisfatória as camadas que expõe, sendo, dessa maneira, apenas um livro comum como tantos por aí.
Nota: 6 (Leia um trecho no site da editora)
“Belas Maldições”, de Neil Gaiman e Terry Pratchett (Bertrand Brasil)
Um dos livros mais bacanas de Neil Gaiman ganhou reedição revisada nacional em 2017. “Belas Maldições” (“Good Omens”, no original) foi escrito em parceria com o já falecido Terry Pratchett e exibe 350 páginas nesta nova edição da editora Bertrand Brasil com tradução de Fábio Fernandes. A obra virará série de TV em 2018 e contará com David Tennant e Michael Sheen no elenco vivendo os protagonistas: o demônio Crowley e o anjo Aziraphale. Na trama, o fim do mundo está próximo e o apocalipse final já é daqui a alguns dias. Tanto o anjo quanto o demônio sabiam que um dia isso iria acontecer, que a contenda final entre bem e mal chegaria, mas eles não querem nada disso pois se habituaram a vida que levam e aos prazeres que tem na vida terrena. Por estarem a tanto tempo em solo defendendo os interesses de cada lado, os dois acabaram por estabelecer uma relação de respeito, consideração e até mesmo amizade. Por isso se unem para impedir o anticristo de provocar o derradeiro ato. Um detalhe: o anticristo tem somente 11 anos, não sabe disso e foi criado na família errada. Nessa aventura contra o tempo recheada com muito bom humor, acidez, sátiras e críticas a tudo que é coisa, os autores inserem personagens coadjuvantes tão interessantes quanto os principais como o caçador de bruxas Newton Pulsifer, o sargento Shadwell e a jovem Anathema Device, descendente de uma antiga profeta da qual vive recitando passagens oriundas de um velho livro. Destaque também para os quatro cavaleiros do apocalipse e suas representações. A parceria de Gaiman e Pratchett em “Belas Maldições” publicada pela primeira vez em 1990 na Inglaterra ainda diverte bastante, contudo, algumas das piadas perderam o sentido com o decorrer do tempo e não funcionam mais tão bem. Mesmo assim é leitura bem recomendável.
Nota: 7,5 (leia um trecho no site da editora)
– Adriano Mello Costa assina o blog de cultura Coisa Pop: http://coisapop.blogspot.com.br