Três discos: Matheus VK, Pabllo Vittar, MC Linn da Quebrada

por Renan Guerra

“Purpurina”, Matheus VK (Sony)
Matheus VK tem uma carreira de mais de 10 anos, já assinou Matheus Von Kruger e já transitou por caminhos mais MPBísticos, se assim pudermos dizer. Vocalista do bloco carioca Fogo & Paixão, especializado em versões carnavalescas de clássicos do brega popular, e compositor do bloco Bangalafumenga, Matheus vem investindo nessa onda mais carnavalizada desde 2015, mas mesmo assim o artista ainda parece restrito ao universo da boemia carioca. De caráter pop, o novo lançamento dele, “Purpurina”, traz faixas que parecem feitas para essa ressurgência dos blocos de rua que tem dominado o carnaval do Sudeste. De humor sutil, as faixas se comunicam com marchinhas clássicas de carnaval ou mesmo com os flertes de Gil e Caetano com as faixas carnavalescas na década de 70. Nisso, Matheus parece um lobo solitário em meio aos hits mais explícitos ou nonsense que têm dominado os últimos carnavais, pois seu trabalho é de certo modo sutil demais. De qualquer maneira, entre erros e acertos, destaca-se o calibre pop da faixa “Pélvis” e a participação de Simone Mazzer em “Retocada”, que fecha o disco. “Purpurina” até tem boas faixas, mas há certa formalidade, um bom mocismo que mina a naturalidade e a leveza que deveriam ser a chave de um trabalho como esse e, no final das contas, tudo soa muito pré-fabricado para bloquinhos de carnaval hipster.

Nota: 5,5

“Vai Passar Mal”, Pabllo Vittar (BMT Produções Artísticas)
Sucesso no Youtube e vocalista da banda do Amor & Sexo, programa da Rede Globo, Pabllo Vittar é certamente uma das drag queens que mais se comunica com os diferentes públicos. Sua estreia em disco, “Vai Passar Mal”, é produzido pelo duo Brabo, formado por Rodrigo Gorky, do Bonde do Rolê, e o jovem produtor Maffalda e, além disso, conta com a produção de Diplo na faixa “Então Vai”. Bebendo na fonte pop-funk de Anitta e Ludmilla, Pabllo cria um disco acessível, que tem fôlego para se comunicar com diferentes públicos e com potenciais hits, não se prendendo apenas ao universo LGBT, ainda que reúna no disco participações de pessoas importantes no atual cenário musical LGBT: o rapper Rico Dalasam, a drag Lia Clark, Mateus Carrilho, da Banda Uó, e Laura Taylor, do Bonde do Rolê. “Todo dia”, faixa ao lado de Dalasam, é talvez a melhor do disco e já se tornou um potencial hit do carnaval 2017, tanto que a funkeira Ludmilla já incluiu um cover da faixa em alguns de seus shows. Mixado e masterizado no The Castle Studios, em Los Angeles, nos Estados Unidos, por Gorky e Turbotito, que já trabalhou com Azealia Banks e Ke$ha, “Vai Passar Mal” é uma aposta grande, que em alguns momentos é certeira, mas em outros parece um tanto quanto morna. Em menos de 30 minutos, Pabllo aponta inúmeros caminhos em um disco nem sempre coeso, mas mesmo assim bastante divertido.

Nota: 7,5

“MC Linn da Quebrada no Estúdio Showlivre”, MC Linn da Quebrada (Showlivre)
“Bixa Molotov”, Linn Santos chega metendo o pé na porta, mas, claro, calçando uma plataforma altíssima. Sob a alcunha de MC Linn da QUebrada, a cantora já possuía dois singles, “Enviadescer” e “Talento”, porém esse seu ao vivo no Estúdio Showlivre é o seu primeiro registro com maior duração, o que dá conta da sua multiplicidade e da complexidade de seu trabalho. Linn é herdeira dos versos mais desbocados de Tati Quebra-Barraco e Deize Tigrona, aqui utilizados para versar sobre personagens bem específicas: a bixa preta afeminada, as transexuais e o homem-macho-discreto. Linn não busca ser palatável, nem faz concessões para o público, seu trabalho é ser afrontosa mesmo, falando de sexo, violência e preconceito com muita viadagem sim! De faixas fundamentadas no batidão até outras mais minimalistas, quase que apenas com sua voz, Linn traz nestes 40 minutos de disco uma perspectiva distinta das figuras marginalizadas, que não busca a compaixão ou a piedade do ouvinte, mas sim a compreensão e o respeito a essas personagens. MC Linn da Quebrada faz de sua persona um manifesto pela liberdade sexual e de gênero, tudo isso com muito bate-bunda. Além de suas composições primorosas, vale ressaltar a releitura de “Prostituto”, de Deize Tigrona, que aqui aparece num medley com a ótima “Pare Querida. “MC Linn da Quebrada no Estúdio Showlivre” é um disco corajoso de uma artista em ebulição!

Nota: 9

Renan Guerra é jornalista e colabora com o sites You! Me! Dancing! e Scream & Yell.

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