por Marcos Paulino
Fabio Brazza gosta de dizer que faz “hip hop popular brasileiro”. Em sua música, mistura rap com berimbau, pandeiro e cavaquinho. “Posso dizer que virei mais patriota assim que comecei a morar fora”, contou ele em sua primeira entrevista ao Plug, parceiro do Scream & Yell, publicada em 2014.
Na época, Fabio Brazza divulgava seu álbum de estreia, “Filho da Pátria” (2014), e agora chega com um novo disco em mãos, “Tupi, or Not Tupi”, seu segundo álbum, que conta com participação de Arnaldo Antunes, da cantora Isadora Morais e da embolada de Caju e Castanha. E, a exemplo do álbum de estreia, “traz novamente uma declaração de amor pelo Brasil”.
Autodiagnosticado como viciado em rimas, Brazza provavelmente ficou mais conhecido nas batalhas e entrevistas que fez na internet do que propriamente na música. Por isso, deixou o programa boleiro “Desimpedidos” para se dedicar exclusivamente ao hip hop, como conta nesta entrevista, na qual, não por acaso, perguntas e respostas são rimadas.
E aí Brazza, tudo certo, firmeza? Tá lançando um disco novo, que beleza! Neste momento, já vou te desafiando: responda as perguntas, uma a uma, rimando. O disco se chama “Tupi, or Not Tupi”. Por que escolheu esse nome, vamos lá, explica aqui.
O meu álbum teve a influência intelectual de Oswald de Andrade e sua Antropofagia Cultural, de maneira natural, trouxe nas músicas essa mistura e precisava encontrar um nome à altura. Ao fazer a leitura de Oswald, eu descobri essa frase mágica, que me deixou em frenesi. Logo eu pensei “Pronto, é isso aí”, o álbum vai se chamar “Tupi, or Not Tupi”!
Quem ouviu “Filho da Pátria”, e de repente virou fã, também vai gostar do novo, ou vai ficar meio tantã?
Quem curtiu “Filho da Pátria” vai curtir este também, pois musicalmente acredito que neste álbum fui além. Quem não curtia meu trabalho, agora vai curtir, e espalhar para os amigos “Tupi, or Not Tupi”. Alguns podem ficar tantã ou entrar para o fã-clube, outros vão procurar pelos meus vídeos no YouTube. No fim, acho que será uma grande epidemia, então antes de ouvir, cuidado, porque o rap vicia!
De lá pra cá foram dois anos, mas muita coisa aconteceu. Você continua o mesmo, ou acredita que amadureceu?
Obviamente, houve um amadurecimento natural, não só em questão de letra, mas de composição musical. Eu acredito que este álbum tenha mais qualidade, pois nele pude experimentar a minha identidade. As parcerias musicais também foram fundamentais, como Arnaldo Antunes, Caju e Castanha, Isadora Morais. Aprendi nestes dois anos coisas muito especiais, e espero no próximo álbum evoluir ainda mais.
Você já morou no Tio Sam e na Ásia, muito tempo na gringa, mas fala sempre do Brasil, do nosso povo e da ginga. Morar em outro país, faz um brasileiro aqui se sentir mais feliz?
Não necessariamente faz a gente mais feliz, mas acredito que faz a gente valorizar nossa raiz. Morar fora me deu uma referência, para que eu enxergasse, nesta experiência, o que é ser brasileiro em sua essência. Comecei a ver nossas falhas e qualidades, e do meu povo e minha cultura eu nutri muita saudade. Voltei de lá com a missão e obrigação moral de contar o que aprendi neste intercâmbio internacional, do quão especial é nosso povo e nosso país e que não é fora, mas só aqui, que eu posso ser feliz!
Sua participação nos “Desimpedidos” foi da hora. Te deu a chance de rimar pra caras como Ronaldo, Ronaldinho e Ceni, todo mundo da bola. O quanto isso alavancou sua carreira? Tá cada vez mais maneira?
Trabalhar no “Desimpedidos” me deu visibilidade e fez vários sonhos virarem realidade. Mas na verdade conhecer os meus ídolos da bola mais queridos foi como repórter da Florida Cup e não nos “Desimpedidos”. O futebol e as rimas alavancaram minha carreira e me trouxeram reconhecimento, de uma tal maneira, que eu tive vídeos viralizados pela nação inteira. Mas isso também me limitou a essa prateleira. Hoje tento mostrar que sou mais que um mero repentista, e que mais do que Youtuber, eu sou um artista. Esse álbum é minha maneira de mostrar esse outro lado meu, mas sou grato ao “Desimpedidos” e à chance que ele me deu!
No vídeo “Brazza e a Doença da Rima”, você fala de uma fixação. Em algum momento as rimas te dão um tempo? Ou é claro que não?
A rima é uma doença e desde moleque fui dando indício, hoje é tudo que a mente pensa e virou um grande vício. Às vezes é difícil, porque não paro um segundo, em outras entro em transe e me transporto desse mundo. Todo lugar em que eu vou, me pedem pra rimar, tem horas que eu acho que a cabeça vai pifar. Preciso maneirar e ficar ligado, você também tome cuidado, pra não ficar viciado. É um caminho sem volta, uma doença sem cura, e se não for vigiada, pode te levar à loucura!
Você já travou batalhas de rimas com muita gente, na rua, na net e na TV. Então conta aqui, não mente, como faz pra te vencer?
Pra me vencer tem que ser um oponente à altura, que goze de muito talento e uma nobre cultura. É preciso ser de fato um rimador de renome, do contrário acho mais fácil, eu perder para o meu clone! [Risos]
Obrigado pelo papo, desculpe as rimas ruins. Deixe um salve bem alto, pros leitores e pra mim.
Um abraço pros leitores e também pra este jornalista, que em questão de rima, se mostrou especialista. Espero que curtam o trabalho deste artista, e obrigado Marcos, eu adorei a entrevista!
– Marcos Paulino é editor do caderno Plug (www.mundoplug.com), da Gazeta de Limeira.